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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

au bonheur des dames 611

mcr, 31.01.24

 

 

 

 

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ligar o complicador

mcr. 31-1-24

 

 

Um pacote de livros expedido fez na passada segunda feira três semanas chegou finalmente ao destinatário, Hoje, porque ontem o dedicado e diligente carteiro entendeu deixar um papelinho na caixa do correio cominando-me que o fosse levantar hoje numa papelaria. 

Note-se que o devotado trabalhador dos CTT  entrou no prédio e teve a trabalheira de ir colocar o aviso cominatório na minha caixa de correio. Poderia ter tocado para o meu apartamento ou mesmo, esforço tremendo ter tomado o elevador para me entregar os livros. 

Eu sei que usar o elevador (e no prédio são 4) é algo de ousado, de perigoso, de maçador mas, enfim, já que cá estava dentro... 

Vinte e dois dias  para cobrir a distância Lisboa Porto parece-me um feliz regresso ao sec XVIII no tempo do senhor Rei D João V  quando as estradas eram perigosas e as pessoas prudentes preferiam fazer a viagem de barco.

Devo dizer que, por incúria da vendedora, os livros (que eram razoavelmente valiosos ) não vinham com registo. Mesmo assim, mesmo que os CTT entendam que essa falta deve ser punida, vinte e dois dias, três semanas passante, parece punição exagerada sobretudo para o destinatário.

Todavia, os livros chegaram o que, dado alguns antecedentes, já foi uma proeza. Com efeito, uma encomenda de França, da Amazon também de livros e no valor de cerca de 250 euros nunca me chegou às mãos. Quando, avidado pelo vendedor, reclamei  os CTT jraram que tinham entregue o embrulho a uma tal Elisabete (sic). Na falta de Elisabete  na minha morada voltaram à carga com uma Elisa, Nem esse desconto de letras serviu porque aqui nunca viveu nenhuma Elisa. A pandemia meteu-se de permeio e já não disseram mais nada, Provavelmente ainda tentariam, sempre na mesma lógica de redução do nome, com alguma Eva.  Nada! 

Com este antecedente, foi uma vitória ter recebido os livros. Mesmo sem registo. Vivam os CTT, abnegados recoveiros do sec.XXI!

 

Na cidade do Porto, o Metro ou quem nele manda entrou numa euforia de obras que pôs o trânsito em pantanas. Bão contentes com obras numas linhas multicores , eis que descobriram a Avenida da Boavista. Melhor dizendo, redescobriram-na pois já há um par de anos tinham olhado embevecidos para uma artéria que liga o centro (ou quase...) ao mar. Vencidos na primeira investida por um movimento cidadão que explicou e provou que aquilo era um desparrame de dinheiro para um escasso número de futuros utentes, , roeram o freio mas entenderam voltar à carga. E agora com um "metrobus" que, a meio do caminho se divide em dois percursos de também duvidosa utilidade.

E vai de começar a obra. E de começarem os atrasos, claro está. A avenida está num estado caótico que só não é horrendo porque felizmente foi planeada com largura. 

Do que está feito verifica-se que se manterão os dois sentidos e no meio a passagem do metrobus.

Por razões que ninguém entende, os cavalheiros metrobusianos entenderam complicar, reduzindo  a sua largura os acessos laterais a outra ruas. Tmbém acharam que deviam sacrificar pequenas zonas reivadas e/ou  arborizadas. Iremos ter, em contrapartida passeios mais largos, faixas de rodagem mais estreitas e ainda é discutida a questão das paragens. Tudo isto com o tradicional atraso nacional e indígena. Porém, mesmo que os trabalgos se concluam em Julho, o metrobus não funcionará porque os veículos só chegaão (é o jornal que o afirma em duas inteiras páginas!) lá par o fim do ano!

Ou seja ,seis meses depois da alegada (e usada!) previsão do fim das obras. E provavelmente um ano ou ainda mais se os prazos iniciais se cumprissem.

No meio desta feira de vaidades, convém sublinhar que a partir do meio do percurso, o metrobus servira duas zonas de vivendas isoladas por jardins  seja em que sentido for. Imagino a alegria dos proprietários ricos dessas mansões  a babarem-se de gozo com a possibilidade de, uma que outra vez, deixarem os carros na garagem e misturarem-se com o povo que, no caso, também é sobretudo classe média alta! 

Vai ser um fartote! Mas vamos ficar parecidos com Nantes em França. Poderia pensar-se em Lyon, Marselha ou Bordéus, quiçá, mesmo, Toulouse, mas só nos cabe Nantes...

estes dias que passam 879

mcr, 29.01.24

inspectores a mais, água a menos

mcr, 29-1-24

 

Eu deveria (?) atrever-me a opinar sobre aquela espécie de invasão da ilha da Madeira como eventualmente o antigo soba do arquipélago a designaria.

300 inspectores, aerotransportados em aviões da Força aérea (a mesma que não tem pilotos de helicóptero suficientes para operações de salvamento...)mais uns misteriosos jornalistas que terão "adivinhado" aquele "dia D em época eleitoral, é obra.  Temos menos soldados em operações militares no continente africano e, note-se que lá os insurrectos jihadistas ou similares tem armas!

Consta que terão feito imensas buscas e trazido para o "continente" muitos documentos e dois presos.  Logo se verá se aquilo foi pesca útil ou apenas um tiro n água. 

A única coisa que já é clra é que esta operação estraga bastante a vida ao PPD/PSD. E provocará para gáudio de um senhor Cafofo eleições na região. Esta segunda consequência vem um pouco em contrmão com as declarações do sr Presidente da República mas isso também já nõ exactmente uma novidade.

Porém, eu estou, neste momento, mais preocupado com o drama da seca no Algarve ou, melhor dizendo, com a escassez absoluta e infame de medidas para a reduzir.

Vejamos: perde-se 30% (trinta por cento, um terço!!!...) da água que as redes camarárias destinam ao consumo humano. Pelos vistos, perde-se e continuará a perder-se pois não se ouve voz que anuncie trabalhos urgentes nessas mesmíssimas redes. Por outro lado, penalizam-se os agricultores a começar pelos produtores de laranja  que  serão atingidos por cortes no abastecimento  que, tudo indica, trarão a falência a muitas explorações. 

Hoje, o sr dr Macário Correia, reconhecidamente uma autoridade na matéria, algarvio ainda por cima, vem dizer em artigo no "Público" que há duas barragens projectdas há mais de 15 anos que teimam em não sair do papel; que há um par de ribeiras em que ninguém e deixam as suas mansas águas correr livremente para o mar; que haveria uns projectos de transvase de água que também nunca foram levados a cabo.

Eu não sei nada destas matérias e já é tarde para aprender. Todavia, lá vou estando atento ao mundo e poderia aqui desfiar um rosário completo de ºrojectos conseguidos e eficazes de levar água de um lado para o outro. em diferentes países do mundo, Europa incluída!

Aliás, e justamente, a Europa está recheda de canais e ligações aquáticas edificadas desde os finais do século XVII à unha, de pá e pica, muito esforço humana e pouco mais. 

Hoje em dia há uma tecnologia imensa que permitiria fazer isso com uma perna às costas mesmo se, como se sabe, custasse dineiiro. Portugal tem água a mais no norte e a menos em partes do sul. Ouvi, de resto, gente do Alqueva anunciar um ano excepcional de afluxo de água , e só se contabilizava a chegada até meados de Dezembro! aquilo era um número  medonho de hectómetros cúbicos (se é que de hectómetros se falava). Fiquei com a noção que mesmo que a torrente parasse (e garantia-se que não, pelo menos para já)  havia água para três anos.

 

Não chove no Algarve, ou chove apenas quando Deus está distrído. As barragens existentes estão coitadas à mínfua, uma desolação completa. Será que com algum critério, bastante bom senso, estudo sério nõ se poderia trazer água para estas barragens já pronta enquanto por outro lado se procederia à edificação das já longamente pensadas e anunciadas? 

O Algarve, "o reino dos Algarves" nunca foi bem Portugal mesmo agora com as praias a rebentar de turistas, os campos de golfe apinhados, o aeroporto entupido de aviões. Faltam médicos, faltam professores, falta gente para trabalhar nos hotéis, falta mais sei lá o quê... 

E falta quem queira tornar aquela pequena hipótese de paraíso  uma coisa viável, boa também para portugueses fartos do frio do Norte,  sobretudo das águas frias do Atlântico boas para as sardinhas mas bravias e pouco convidativas para um mergulho

No pais que sonha com um tgv ( e eu também me incluo no lote  para poder deixar de me massacrar com três longas horas de automóvel, caras, chatas e perigosas) não há quem queira pensar nestas coisas mais comezinhas. o Algarve tem poucos deputados nem sequer é atractivo desse ponto de vista. 

No entanto, traz fartos dividendos graças aos turistas que vem de todo o lado ansiosos por "sol sal e sul" Nem isso, pelos vistos comove o poder lisboeta, nacional. 

em boa verdade, o "que está a dar" é invasão da Madeira. Pelo menos para já. 

E ainda por cima com jornalistas convidados numa operação que estava qualificada de secreta! 

 

(antes que me tomem por amigo da Madeira, devo advertir que por mim, o arquipelago era independente. E digo isto desde o tempo em que Jardim esbracejava e nos chamava cubanos, Cubano a p que o paru!)  

 

Au bonheur des dames 610

mcr, 26.01.24

 

 

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noutra esplanada, o mesmo sol de inverno e os anos 60 a insistirem 

mcr. 26-1-24

 

Faço parte da minoria que ainda lê jornais pelo que as culpas da crise da imprensa escrita não me atingem se bem que me preocupem e aflijam  mais do que as peripécias da vida política nacional que, justamente, vegeta por falta de leitores atentos e capazes de se indignar.

O "Público" de hoje (26 de Janeiro) ataca em várias frentes um caudal de recordações  que me remete para os anos da minha inquieta juventude, essa década que persiste  como se verá na  continuação deste arrazoado.

Comecemos, fugindo a qualquer cronologia, com a notícia da morte de Melanie, uma cantora que hoje estará, por cá, terra desmemoriada, esquecida mas que brilhou intensamente nesses sessentas e culminou no Woodstock de 69, num dia de chuva à luz de milhares de velas de resistentes ao tempo que fazia. Melanie cantava "Lay down" que mais tarde terá passado a "lay down, canfles in the air)" devido justamente a esse dia glorioso no festival dos festivais cuja música ainda hoje é ouvida em múltiplas rádios.

Longe de casa, é-me impossível verificar se os seus LP ainda constam da minha discoteca ou se,  por razões alheias à minha vontade, habitam outros imerecidos lares. 

E já que me dá vontade de saber por onde andam peças que, por vezes com sacrifício,  comprei deu-me para  ir por um grande livro de James Baldwin, cuja leitura devo à Maria João Delgado,  "The fire next time" ou, agora, em recentíssima tradução, "Da próxima vez o fogo"  (Alfaguuara). Não foi o primeiro livro sobre a questão negra americana que li  (lembro-me do grande enorme, Richard Wrigh, "Os filhos do pai Tomás", "Filho nativo;  de Ralph Ellison, "O homem invisível" e de Landgston Hughes de que li uma antologia de poemas e a versão francesa do "Simple" que é simplesmente admirável. E para terminar um autor branco: Erskine Caldwell e o poderoso "Motim em Julho". Tudo isto porque o livro de Baldwin é agora traduzido para português.

Outra tradução: "Dersu  Usala" de Vladimir Arseniev. Foi no Festival de Cinema da Figueira que tive a sorte de ver o filme de Kurosawa com o mesmo título. Neste festival que revelou grandes cineastas e deu oportunidade a muitos realizadores portugueses,  conheci um bom par de amigos de que destaco o Francisco  Belard, fino conhecedor da melhor literatura  e cinema do nosso comum tempo e que bem poderia publicar uma antologia dos seus mais significativos textos aparecidos no "Expresso"

Foi por essa altura, início de 70 que, neste festival. tive  oportunidade de conhecer o Zé Fonseca e Costa,  o Lauro António (que com o Eduardo Prado Coelho, outro excelente amigo) já por cá não estão. 

Vivos que eu saiba ainda por aí andam o Eduardo Geada e o Luís Filipe Rocha mas há muito que os não vejo. Como também não verei a Marguerite Duras que também esteve na Figueira e de quem guardo uma imagem estranha e fortemente alcoolizada.  Por isso tardei bastante tempo em me aproximar do seu universo literário que agora tenho em muito boa conta. 

Ainda no mesmo "Público" deparei-me com mais um belo texto de Ana Cristina Leonardo que refere dois outros autores que comecei a ler nesses sessentas: Borges e Mrguerite Yourcenar. Para não variar, agora apenas vivem pelos extraordinários livros que nos deixaram.

Porém, deixei para o fim deste desfiar de memórias de descobertas a razão que tudo isto une. Uma leitora que, pelos vistos se dedica à escavação arqueológica, escreve-me sobre um texto meu publicado em 2006 (e não em 2005 como ela refere) e que tem por base mesmo que o não refira o "When I'm sixty four" e que se chamou "carta a um amigo que entra  na 3ª idade, Diário Político  33, 30 de  novembro de 2006

 A dita entrada  como se sabe ocorria aos 65 e não aos 64 como os Beatles eventualmente anunciavam. Ora este fraco rosário de lembranças literárias, musicais e cinéfilas tem por base o , para mim, ano de todos os assombros, 1960 altura em que, carregado de ilusões e ingenuidade cheguei à Faculdade de Direito de Coimbra.

 Há exactamente 64 anos...

 

vai esta em memória da prima Maria Manuel Viana, e do filho,  Manuel Viana Abrunhosa., 

E com um abraço, ao felizmente vivo, Francisco Bélard, amigo há mais de cinquenta anos e que muita falta  faz ao jornalismo cultural e de opinião.

 

 

na vinheta: Langston Hugres, um grande escritor, um lutador pelos direitos civis e um grande americano. Para quando uma edição portuguesa do  "The best of Simple" ?   

Estes dias que passam 878

mcr, 26.01.24

Polícias: a "longa marcha"

mcr, 25-1-2024

 

 

Faço parte de uma geração que não tem especial simpatia pelas forças policiais, sejam elas quais forem. No Portugal em que a nossa juventude começava a mexer-se (falo do ano 1960 e seguintes) a polícia, a psp,  era o inimigo mais próximo e aquele que primeiro nos espancava, que nos prendia, que directa e visivelmente nos vigiava.

Só depois aparecia a PIDE e mais tarde (2m 1969) chegou a Judiciária (crise académica de Coimbra) que vinha aureolada por uma eficaz campanha de caça  e desbaratamento da LUAR. 

Não vale a pena fazer aqui a história dessa acção policial desencadeada pelo Ministério da Educação  e que teve algum êxito, mesmo se limitado, na identificação, encarceramento e processo de  algumas centenas de estudantes. todavia o movimento estava tão ramificado, era tal a quantidade de jovens que se tinham envolvido na crise que o resultado final (traduzido, ao que creio em mais de 25 volumes de processo) não teve nem especial significado, nem repercussão tento mais que em 1970, uma espécie de paz dos bravos eduziu o conflito coimbrão graças a meia dúzia de medidas governamentais entre as quais se destacam algumas pela sua imensa e impensável amplitude. Para começar, nenhum estudante foi alvo de sanções académicas ou outras. Permitiram-se exames em épocas especiais para substituir os que a greve tinha inutilizado; tnenhum os estudantes presos sofreu represálias; as dezenas de activistas e dirigentes quem entretanto, tinham sido incorporados nas forças armadas e chamados para Mafra, regressaram  e prosseguiram os seus estudos. Evidentemente m,ais tarde, dentro dos prazos, habituais, tiveram de voltar às "escolas práticas" da tropa, cumpriram o serviço militar  tendo a grande maioria sido mobilizada para África. A Associação Académica foi reaberta, as eleições académicas foram realizadas sem constrangimentos (mesmo se alguns, bastantes, dos eleitos não foram "homologados" pelo ME (no que a mim toca ,tive a honra de ser notificado da não homologação logo que passados foram três dias da eleição para a Direcção Geral da Associação Académica (é uma pequena medalha de que não prescindo dada a "carinhosa" atenção governamental. Os restantes eleitos foram muito depois avisados do mesmo destino).  Também é verdade que terei sido o estudante que mais tempo este entregue aos maternais cuidados da "judite" que me manteve nos calabouços do Tribunal de Coimbra cerca de três meses. Suponho que devo a minha libertação apenas ao facto de estarem cumpridos e possivelmente  ultrapassados os prazos legais, e até nisto se verifica como esta polícia era diferente da outra, da política. Estou à vontade para o afirmar porquanto também fui alvo, e repetidamente, das atenções da pide, primeiro, da dgs, depois.  

Finalmente (e depois do parágrafo mais pessoal) caíram todas as autoridades académicas de Coimbra, foi escolhido um Reitor claramente simpatizante dos estudantes grevistas, mudaram os directores de faculdade e, milagre digno de recordar!..., até o Ministro foi mandado embora. 

A terceira força policial que também conheci ainda que apenas por um par de horas de retenção no quartel  de Coimbra foi a GNR. Depois desse episódio, tive o que costumo chamar a minha estreia na turma dos mais crescidos, tendo sido enviado para Caxias com mais 43 colegas e amigos. Lá penei (penámos) algumas semanas sem consequências de maior mesmo se a repressão à cris académica de 62 tivesse sido proporcionalmente muito mais violenta na academia coimbrã. Disso já, neste blog, dei conta, há largos anos, pelo que não vale a pena voltar ao tema. 

Tudo isto, para explicar, a minha escassa empatia com as forças policias ainda existentes e que nos casos da GNR, PSP e guardas prisionais (que obviamente fui obrigado a conhecer) estão agora em luta. 

E no caso em concreto sou obrigado a reconhecer que não lhes faltam razões. Em primeiro lugar, suponho que ninguém duvidará que são eles quem, em primeira mão, garantem a tranquilidade das ruas. É a eles que nos dirigimos por mil e um motivos, são eles que sobem à primeira linha no combate à criminalidade. E são eles  os primeiros a sofrer as consequências desse combate como qualquer leitor que leia jornais sabe. 

Este conflito que estava latente desde há muito tempo, basta pensar nas condições de muitas esquadras, na falta mais elementar de pessoal e viaturas, nos baixos salários auferidos, no facto pungente de serem continuamente deslocados para longe das famílias  para não citar mais um rosário de falhas que parece ser pensado à medida o conforto de quem infringe a lei. 

Como se sabe, a questão que destapou 

 a panela que já fervia foi a dos subsídios de risco concedidos aos agentes da Judiciária. Em termos simples é pelo menos cinco ou seis vezes superior a quem diariamente anda na rua, faz patrulhas, acode a toda a espécie de sarilhos ou de situações onde se reclama a presença da psp ou da gnr. 

Pelo que vou lendo e ouvindo, a medida aplicada à PJ e que tem efeitos rectoactivos a Janeiro do ano passado, foi apresentada pela Ministra da Justiça que nunca terá pensado (se a senhora porventura se arrisca a tão incomodo exercício) que  a medida, sem prever as restantes forças de segurança,  era uma imprudência ou pior uma tola provocação. 

E se refiro o termo provocação é porque o polícia solitário que iniciou o protesto a sentiu como tal . 

Devo acrescentar, mesmo sem a tal empatia que um passado longínquo mas relembrado provoca em quem   passou mais de uma dúzia de anos a fugir com pouco êxito  da guarda avançada do regime..

No país que sonha com tgv e aeroportos e mais um par de coisas provavelmente necessárias conviria lembrar que todos esses sinais de progresso são incompatíveis com forças de segurança desiludidas, desmotivadas, mal pagas e com uma aberrante falta de meios para levar a cabo a sua tarefa.

Parece que foram muitos os milhares de polícias que ontem, com calma e  civismo desfilaram até ao Parlamento. 

Fala-se numa greve marcada para o mesmo dia em que uma manifestação da Direita irá protestar contra a presença muçulmana em Portugal!!! 

Vai ser instrutivo... 

O Governo tem-se refugiado no facto de entender que uma mudança  nos suplementos policiais ó será possível depois das eleições.  Esperemos que os próximos dias não obriguem a modificar tais projectos. 

E que a calma (e o civismo) demonstrada até ao momento  não comece a ser desbaratada pela surdez  um tanto ou quanto hipócrita de que o Governo tem dado mostras.

De todo o modo, há a possibilidade de os directórios dos partido políticos se encontrarem muito brevemente com a plataforma de sindicatos que surgiu. Todavia, o tempo escasseia  ao mesmo tempo que a crescente adesão de profissionais ao movimento o torna mais vulnerável a posições radicais.

 

 

estes dias que passam 877

mcr, 23.01.24

resposta a um leitor (in)transigente

mcr, 22-1-24

...de jornais, isto e de calúnias

de jornais, ou seja de lixo

em cada coluna a insídia

em cada parágrafo, uma suspeita... 

Marina Tsevietaieva  (15-11-1935)

Cai a palavra de pedra

sobre um peito ainda vivo

não é grave , estava preparada

aprenderei a viver de novo

Ana  akmatova  (A sentença in Requiem 22-6-1939)

Melhor dizendo isto nem sequer é uma resposta mas apenas aquilo a que se poderia chamar uma declaração de interesses.

E começo por declarar que as posições "russistas" cabem na minha compreensão mesmo se as considere intelectualmente intoleráveis. Passei muitos anos a ver textos meus cortados (desde a Vértice até ao "Comércio do funchal" para aplaudir uma qualquer censura a pessoas que até podem estar de boa fé. 

Compreender, porém, não significa, de modo algum, aceitar.  

V., leitor, quase me diz que eu sou um horrendo inimigo da Rússia  porque persisto em afirmar que uma invasão é uma invasão e não um gesto de cortesia ou uma bondosa tentativa de livrar um povo escravizado por Zelensky e capangas à r sujeito à mais brutal nazificação que o mundo conheceu; 

percebo que, eventualmente, V ainda veja a Rússia de Putin como um eco da URSS, país que para muitos era o sol da terra, a terra do leite e do mel, a fraternidade operária no seu mais alto grau , o último e milagroso grau da libertação do proletariado. 

Lamento dizer-lhe que nada disso foi, sequer  por breves momentos, verdade, mesmo se o suicidado Maiakovsky o por outro breve instante o sonhou. 

A URSS logo depois da revolução de Outiubro tornou-se uma espécie de capital da "revolução mundial" coisa que durou largos anos mesmo se o principal teórico desse evento maior (Trotsky) tivesse sido obrigado a exilar-se., perseguido sem descanso pelos homens de mão de Stalin

De resto não foi preciso sequer chegar ao quinto aniversário da revolução para se verificar que havia .que arrepiar caminho no que toca à economia (e inventar uma, também curta, NEP)  ao mesmo tempo que a chamada "ditadura do proletariado" acabava com toda e qualquer veleidade de independência dos sindicatos e dos societs  que, de resto, também já estavam moribundos depois da proibição de todos os restantes partidos mesmo aqueles cujo progressismo ninguém, no exterior da URSS, punha em causa.

Não foi por acaso que, logo em 1918, Lenin sofreu o atentado que finalmente, anos mais tarde o ajudou a morrer, não foi por acaso que um certo Djugatchivilli, conhecido por Stalin, se foi tornando o mais forte e poderoso membro do politburo, nem foi por acaso que os partidos comunistas nascidos sob a égide da 3ª internacional se tornaram e desde a nascença meras correias de transmissão do Komintern, tendo até, ao lado das direcções legais e públicas, outras instancias secretas que as controlavam e penas respondiam perante a Internacional

Essa URSS que ia crescendo, viu-se obrigada a abandonar a ideia de revolução internacional ainda em tempos de Lenin e se é verdade que concitou desde a origem a hostilidae dos governos "burgueses" também é verdade que alguns destes ainda tentaram auxiliar a desordenada contra-revolução que durante dois ásperos anos fez perigar a nova república. De resto, esta sobreviveu não só graças ao esforço dos seus militantes mas também porque a divisão dos adversários impediu que a ""Rússia branca" triunfasse.

Curiosamente, é com o consulado (a ditadura) de Stalin que ao trucidar milhares de responsáveis comunistas em processos delirantes terá como que garantido aos capitalistas que a URSS se tornara um Estado quase normal  mesmo se nesse percurso tivesse sacrificado alguns milhões de cidadãos (isto sem falar no "holospodeor" ucraniano que sangrou esta república entre três e cinco milhões de habitantes que nem sequer puderam fugir da fom imposta por se lhe terem fechado todas as fronteiras internas). 

Antes da eclosão da 2ª Guerra, a URSS celebrou com o IIIº Reich um pacto infame que permitiu a Hitler ficar com as mãos livres para travar a guerra na frente ocidental ao mesmo tempo que permitiu à URSS ocupar os países bálticos e metade da Polónia. 

quando a Alemanha invadiu a URSS , esta só aguentou o primeiro embate graças a uma ajuda gigantesca dos EUA (no estes dias 685 de Maio de 2022 forneço uma reduzida mas significativa lista dessa ajuda)

Terminada a guerra, a URSS conseguiu que na ONU tomassem lugar duas repúblicas socialistas e soviéticas (a Bielorússia e a Ucrânia) o que, a luz do Direito Internacional poderia significar que estas eram países independentes. 

A partir do fim das hostilidades o Exercito Vermelho ocupou os países que tinha libertado desde a Polónia à Checoslováquia, da Bulgária à Roménia, mantendo  entretanto os países bálticos sob o anterior controlo. Apenas escapou a Jugoslávia, apesar de ter um país socialista (transviado) que graças a Tito conseguiu libertar-se a si próprio com forte ajuda britânica.

Entre o 17 de junho berlinense (1953) e o esmagamento da primavera de Praga, a URSS interveio na Hungria e manteve todos os restantes membros do pacto de Varsóvia sob estricto controle com poderosas guarnições estacionadas em cada país. Não vale a pena relembrar o bloqueio de Berlin ou o muro que matou mais de 800 cidadãos que só queriam fugir.

A URSS implodiu como se sabe sem precisar de qualquer ajuda ocidental ou da NATO.

Os países ex-socialistas saíram sem qualquer  contrariedade  daquele colete de forças e ao que se vai vendo mesmo sem a NATO, que dormia o sono dos justos, e logo mostraram um a forte animosidade ao antigo protector/libertador/ocupante

Por dentro a Rússia viu evaporar-se o partido comunista que agora é apenas uma espécie de pequeno auxiliar de Putin. para as tarefas menos reluzentes. Existe apenas porque é tolerado. Os seus antigos quadros mais capazes ou mais ousados devotaram-se à tarefa de criarem colossais fortunas tomando de assalto as antigas empresas estatais da URSS.

No meio disto tudo, desta dolorosa transformação, que vai de Leningrado a S Petersburgo,  uma vítima há: o povo russo que vive pior que os seus antigos súbditos ora encarniçados "ocidentais" e possíveis "agressores" enquanto membros da NATO

Faço parte de uma geração que ou se deslumbrou com a URSS ou pelo menos, no meu caso, sempre admirou a grande cultura russa, o seu cinema, a sua música, a sua poesia e alguns dos mais extraordinários romances dos dois últimos séculos.  Até gosto, e muito, da música religiosa ortodoxa que,  meu ver, só tem comparação, com o milagroso e belíssimo canto gregoriano. Ateu sim, mas nunca no capítulo da música.

Percebo que para os saudosos de um regime que se suicidou ou se deixou morrer por falta de força anímica, de energia, de aceitação popular, a ideia de regressar à glória da autocracia czarista ou da ditadura soviética  passe, para já, pela conquista da Ucrânia (e depois, logo seguirão os bálticos)

A famosa operação militar especial era para durar suas, três ou até quatro semanas de um quase passeio triunfal  por um país que amava estremecidamente a "mãe russa" (para citar o inesquecível Stalin e os seus ainda vivos admiradores). 

Infelizmente, maldosamente, o raio da Ucrânia ou o seu povo não estiveram de acordo apesar da gigantesca desproporção de meios, de armas, de soldados. 

Vir dizer que é a NATO ou os ocidentais que estão na origem deste "diferendo" é absurdo, é, perdoará, má fé. A Ucrânia resistiu  não pelas armas que tardaram e tardam sempre em chegar, não pelos belos olhos de Biden ou Macron ou da senhora von der leyen. Resistiu sozinha o tempo suficiente para se começar a perceber que queria, quer, ser independente. Independente como os solenes tratados entre ela e Rússia reconheciam sem limites. 

Para "soberania limitada" bastou  a história do bloco socialista e do Pacto de Varsóvia  que cunhou essa expressão. É delirante e cabe na categoria de teoria da conspiração permanente a ideia que foram os americanos e os seus aliados que se deslocaram para a praça Maidan para fazer cair um regime que, aliás, estava a armado, matou e só caiu por verificar que não tinha qualquer apoio popular. 

A ideia de que um par de agentes mal intencionados pode provocar tais levantamentos é, para quem queira ler as actas dos processos de Moscovo, uma repetição da História e conviria lembrar que esta pode repetir-se mas com resultados sempre trágicos. 

A Rússia tem problemas bem mais importantes para resolver. Basta recordar a quebra da natalidade russa ao contrário da dos povos não russos no seu interior, a fraca produtividade da sua economia,  a falta de apoio internacional (ainda que a Eritreia, a Venezuela ou a coreia do Norte  a apoiem!,,d) A referência à Coreia do Norte, e já agora, ao Irão como fornecedores de armas diz muito  de como as coisas estão. A outra ideia (do finado Prigogin) de ir buscar soldados às prisões também merece ser citada apenas para se perceber como um erro de cálculo e de perspectiva pode gerar uma catástrofe.

Putin era apenas um coronel da Polícia política e secreta. Continua a ser isso mas em mais velho e mais poderoso graças ao encarceramento dos seus oponentes e à fuga de um número impressionante de cidadãos jovens, qualificados que desertaram em número gigantesco de uma situação sem futuro. 

E, por último:

estou a escrever isto diante de uma estante carregada de livros de História russa, soviética e de tempos mais remotos. Não citei nunca, nem citarei, wikipédias duvidosas. e redes sociais que não frequento. Desde os anos sessenta venho assistindo, debatendo, lentando informar-me do que se passa no mundo. Sem antolhos ideológicos. Conheci demasiado bem (aliás mal ou mal para mim)  a vaga caricatura de regime autoritário que me levou trinta e cinco anos de vida, para agora embandeirar  em loas seja a que regime for. Os factos e só eles e a verificação da sua autenticidade são os pilares de que me socorro para escrever e estão neste blog mil e muitos texto (eventualmente até quase dois mil) a provar o que afirmo. Mas se for preciso uma só frase bastará esta: há neste caso um agredido e um agressor. com um pequeno apêndice: a história dos agressores está sempre pejada de justificações mas  para o agredido basta uma: Está a ser atacado. Tudo o resto é conversa.

Leitor, V pode ser  intransigente com a Ucrânia mas leva a sua infinita transigência com a Rússia a limites admiráveis- É obra!

os dois excertos de da autoria de Marina Tsevietaieva e de ana Akmatova permitem "ver" o universo concentracionário em que viveram. Marina, suicidou-se  nos anos 40 depois da ter estado presa e da execução do marido. Ana foi tardiamente reabilitada mas passou muitos anos sem poder publicar.

o leitor (im)penitente 263

mcr, 21.01.24

 

 

 

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3 gordos, 1 elegante outro magro e 1 obeso (demasiadamente)

mcr, 20-1-24

 

O título não é feliz mas, garanto, é apropriado. Mesmo, insisto, quando se fala de livros como éo caso. 

Comecemos pelo obeso que por razões várias mas não de estética me recusei a comprar.

Trata-se de "O Mundo uma história da humanidade" de Simon Sebag Montefiore, obra que atraiu a atenção de vários jornalistas e teve honras de sucesso editorial.  Se é ou não sucesso é o que as vendas dirão. Todavia, o editor português (seguindo provavelmente o primeiro editor) entendeu publicar este tijola de 1296 pp num só volume o que traz a qualquer leitor aflições várias: O peso, em primeiro lugar; depois a difuculdade em ler seja em que posição for um tijolo deste tamanho e espessura. Finalmente, a hipótese mais que provavel do livro "se partir" sobretudo deas páginas estiverem como penso apenas coladas. Capa mole ainda por cima! A mancha gráfica também não será famosa mas isso depende dos olhos de cada leitor. Para mim, só com a máquina grande de ler com o inconveniente da espessura do livro e da dificuldade em o manejar facilmente. Desisti da compra  sem especial desgosto.

Passemos à secção dos "gordos" e das razões porque vale a pena arriscar. 

comeceos pelos "poemas 1934-1961" de Pedro Homem de Melo (Assirio e Alvim uma editora de referência e de grande mérito, bastaré lembrar que também estão a publicar a obra de António Ramos Rosa da qual já sairam dois volumes igulmente espessos mas bem encadernados)) um poeta que vai saindo do inferno em que imerecidamente caiu ou, melhor, para onde foi empurrado por maus leitores e piores ideólogos. que PHM nunca foi um lutador anti-fascista é um facto. Porém, no panorama da literatura portuguesa do século XX isso nunca foi a excepção sendo até provável que tenha sido a regra (cito apenas Agustina que entretanto teve boa imprensa crítica por parte de alguns estudiosos de Esquerda. De resto PHM também teve gente de Esquerda a notar e avisar sobre o seu talento. No entanto, a sua colaboração na tv sobre folclore (que de resto é razoavelmente segura e decente) valeu-lhe antipatias ferozes e nem sempre isentas. 

Este é primeiro volume e traz copiosa informação crítica de notável qualidade. PHM é o autor da célebre frase dirigida a Amália Rodrigues quando da criação musical de "povo que lavas no rio" (a minha poesia na voz extraordinária de Amália tinha subido ao povo). Há mais poetas de mérito (Junqueiro, José Duro, Augusto Gil ou Sebastião da Gama) que merecem "ressuscitar" e voltar a ser lidos.

O segundo cavalheiro ora editado (em edição bilingue e notas de grande interesse) é Horácio. É uma edição da Quetzal que, aliás também está no quadro de honra , Basta lembrar as edições da Ilíada, da Odisseia, da Bíblia ou dos Evangelhos apócrifos para já não falar das "bucólicas" de Virgílio. 

Não havendo dois sem três, eis que a Imprimatur termina a sua edição monumental  de Gargantua e Pantagruel de Rabelais numa tradução que me parece exemplar.  E com o aliciante de ser ilustrada com as ilustrações de Doré! eu sou um rabelaisiano fanático, tenho mesmo a obra na lingua original, saborosíssima para alé..m de outras edições em "tradução" para um francês mais ou menos moderno. Imperdível e imperdoável não correr a comprar este grande livro um dos que , na minha pessoal opinião, faz parte da dúzia de textos imperdíveis daquela época.

O quarto autor que quero apontar é Leonardo Padura com muitas obras traduzidas por cá.  Desta feita é "Gente decente" em edição da Porto editora. Vale a pena lembrar o meu especial e antiquíssimo amigo Manuel Alberto Valente que durante muitos anos dirigiu a Asa e depois a Porto editora. A ele se devem várias grandes descobertas e, neste caso,a  de Padura um olhar lúcido, melancólico, crítico sobre o país (Cuba) onde nasceu e onde vive. 

Padura é já um velho conhecido m Portugal onde esteve por várias vezes em festivais literários. eu já era seu leitor pois sempre que ia até à Galiza trazia o seu último livro publicado. Partilha com o siciliano Andrea Camilleri  aquilo que, para mim, representa o melhor e o mais inteligente (e crítico) da literatura policial moderna. Para fechar quero referir "Eu vi uma flor selvagem" (Gradiva) de Hubert Reeves um astrofísico de grande fama com vários livros publicados por cá. Desta feita HR passeou-se pelo campo e oferece-nos a descrição de uma quantidade de flores humildes que, na maioria dos casos, quase nem é olhada por uem passa. O livro é muto ilustrado a cores e merece estar a par de edições   bem mais antigas  (finais do sec XIX, inícios do XX) e francesas que fazem parte da extraordinária colecção "Bilbliotheque de poche du Naturiste" que abrange pelo menos duas dúzias de belos libros encadernados e ilustrados sobre História Natural. Tive a sorte (coisa que me deu muito trabalho...) de encontrar boa parte deles em alfarrabistas portugueses  e a preço de daldo vil ( 5€!!!) 

Devo esta descoberta a uma cronista Público, (no suplemento Ipsilon)   Ana Cristina Leonardo, cujos textos, com a primeira bica do dia, constituem  o meu prazer das sextas feiras  pela manhã. ACL escreve bem, muito bem, é inteligente, culta, tem humor e, sobretudo, consegue dizer o que quer numa linguagem limpa e perceptível por qualquer leitor de jornais. Isto de descobrir livros passa muito pela recomendação ou simples alusão de alguém em quem se pode confiar. entretido neste caso partilho com o meu irmão este pequeno prazer matinal. Recorto o artigo e, na minha ida mensal a Lisboa, entrego-lhe os textos de ACL.  Durante largos minutos ele nem abre a boca, melhor dizendo, lê os textos com um breve sorriso e guarda-os cuidadosamente.

 

(para uso de ACL e seus émulos eis a lista dos livros de botânica da colecção citada  que anda cá por casa:

atlas des fleurs des jardins les plus faciles a cultiver

les fleurs de laCôte d'Azur

flore du litoral mediterraneen

nouvelle flore des alpes e des Pyrenées

atlas des plantes des prairies et des bois

flore des montagnes de la Siusse

les  fleurs des bois

Atlas des plantes utiles des pays chauds

les fleurs des montagnes

atlas des arbustes et arborisseaux)

a vinheta: os livros aqui existentes da citada coleccção biblioteca de bolso do naturalista

 

 

 

 

estes dias que passam 876

mcr, 18.01.24

As eleições estão já a rodar

mcr, 18-1-24

Quando digo eleições quero apenas referir a este período febril antes de se ir meter o voto na urna, ou seja à desenfreada corrida ao voto que os partidos, todos eles, sem excepção, levam a cabo.

Sou pouco dado a referir o Chega organização que deu forma clara a um profundo sentimento que em Portugal como na Europa sempre existiu e se vai engordando graças as tropeções dos partidos democráticos e também, e muito, da extrema Esquerda.  

E se cito esta é porque ela é responsável por uma frenética corrida para a frente e de olhos fechados para ultrapassar a lenta mas constante "reforma" a que ela antepõe a "revolução".

De nada serve tentar usar o argumento sólido e irrefutável do progresso das sociais democracias, maxime, das escandinavas que modificaram expressivamente as mentalidades, a qualidade de vida, o grau de segurança, conforto, felicidade  de países que nunca foram ricos e que sempre suportaram condições desfavoráveis. 

É claro que lá, também, a direita mais radical consegue aparecer mas nunca sob o fácies grotesco e ameaçador das suas congéneres da Europa ocidental.

No caso português, andou-se por aí a jurar que udo o que estivesse vagamente "à direita" do PCP era fascista anti popular, anti espírito do 25 de Abril , sei lá que mais. 

Todavia, mas ao mesmo tempo, jurava-se que o "fascismo", a herança da longa noite de quarenta e oito anos, estava desaparecida, sepultada graças ao bom senso popular, às "conquistas de Abril" (muitas delas entretanto e na altura da sua proposição foram combatidas por pífias e contra-revolucionárias). Salazar estaria morto e enterrado, mesmo se, num inquérito popular,  realizado há um par de anos, fosse votado como o mais o mais popular. 

O aparecimento do Chega só surpreendeu quem nunca olhou a sério para a restante europa. O fenómeno não se restringiu à França ou à Alemanha mas alastrou por todos os retantes países par já não falar nos "ex-socialistas" onde quase se pode dizer  que a Direita substituiu aquela espécie espúria de Esquerda que desapareceu sem deixar rasto ou, melhor dizendo, deixando um rasto de ineficácia económica e de pobreza que só alguns exaltados distraídos não reparavam. Os adeptos do paraíso socialista eram de uma miopia extraordinária logo que saíam da fronteira portuguesa. 

Entretanto a direita mais radical só esperava um porta-voz e o sr Ventura apareceu, bem falante, doutorado, inteligente e completamente despudorado. 

só assim se explica que na "convenção" tenha prometido tudo e mais alguma coisa desde o bacalhau a pataco até á promessa de fazer os bancos pagarem todas as benesses com que acena. Nisto, nesta súbita ojeriza ao capital tem farta companhia. ao ouvi-lo só consegui lembrar-me do célebre slogan "os ricos que paguem a crise" que na sua infinita verborreia juntava os banqueiros, qualquer criatura que tivesse alguns escassos bens.

Eu não sei se este argumentário terá sucesso no público que mais vota no Chega e que, pelos vistos, é menos instruído.

De todo o modo nem sequer a educação, os estudos, garantem votantes capazes pois em certos pequenos círculos educados a tentação de votar p mais à esquerda possível releva do mesmo desconhecimento da realidade nacional. dos anseios da generalidade da população e das possibilidades que se oferecem a quem aqui vive. 

como os últimos dados revelam uma enorme sangria de portugueses jovens que nos últimos anos emigraram à procura de melhores condições de vida e como muito certamente esses expatriados ou não votam cá dentro ou votam nos círculos da Europa, temos que neste campeonato duvidoso sejam os partidos mais populistas, os candidatos mais vociferantes que angariarão os votos.

Resta-me aguentar estes dois meses tremendos e tapar tanto quanto possível os ouvidos. 

 

Um ano de incertezas

José Carlos Pereira, 18.01.24

Na edição de hoje do jornal "A Verdade", publico um texto de opinião acerca da situação política nacional e internacional que temos pela frente:  

"Entrámos em 2024 com poucas certezas sobre o que nos reserva o futuro próximo. A nível internacional, o novo ano fica marcado por eleições em dezenas de países. Do Parlamento Europeu aos Estados Unidos da América (EUA), da Rússia à Ucrânia, da Índia ao México, da Bélgica, no coração das instituições europeias, a Portugal. Sem esquecer as eleições em Taiwan, ocorridas já na semana passada, e que deram a vitória a um candidato repudiado por Pequim e defensor de uma crescente aproximação ao Ocidente. A importância de Taiwan no contexto internacional releva do facto de ser um potencial foco de conflito entre a China, que reclama a reunificação com Taiwan, e os EUA, defensores do regime democrático da ilha. Acresce que o facto de Taiwan ser o principal produtor mundial de semicondutores poderia provocar um autêntico bloqueio da economia mundial em caso de disputa militar.

Em termos económicos, o ano transacto terminou melhor do que aquilo que se podia perspectivar no início de 2023. Na realidade, os preços do petróleo e do gás natural baixaram significativamente, a inflação desceu, as bolsas estão em alta e a economia global cresceu na ordem dos 3%. A confiança dos investidores aumentou e a taxa de desemprego na Zona Euro, em Novembro de 2023, fixou-se em 6,5% (6,6% em Portugal).

Poder-se-á dizer que a economia andou, de certo modo, em contraciclo com a realidade geopolítica. À invasão da Ucrânia pela Federação Russa, uma guerra prestes a completar dois anos e que tem motivado um grande esforço financeiro e militar dos países ocidentais no apoio à Ucrânia, acrescentou-se em 2023 um novo foco de guerra entre Israel e o Hamas, que administra a Faixa de Gaza, com repercussões graves nos restantes territórios da Palestina e também no Líbano. Os recentes ataques de rebeldes Hutis, do Iémen, a navios no Mar Vermelho são uma consequência da escalada militar na região e já motivaram resposta por parte dos EUA e do Reino Unido. A rota do Mar Vermelho é fulcral para a logística e as cadeias de abastecimento globais e não pode ficar refém de investidas terroristas.

Neste quadro internacional difícil, Portugal tem também o seu quinhão de incerteza com a realização de eleições legislativas antecipadas. Marcelo Rebelo de Sousa decidiu-se pela dissolução da Assembleia da República e pela marcação de novas eleições para daqui a menos de dois meses.

O Governo de António Costa cessa funções, segundo o Banco de Portugal, com um crescimento económico de 2,1% em 2023, um dos mais elevados na Zona Euro. Registe-se também a redução da dívida pública para um valor que deve ficar situado abaixo de 100% do PIB, o crescimento das exportações e do emprego e um novo excedente orçamental.

A marcação de eleições para Março apanhou os partidos de surpresa e fez com que todos tivessem de ajustar rapidamente protagonistas e estratégias, designadamente os que aspiram a liderar o próximo governo de Portugal.

O PS elegeu Pedro Nuno Santos como secretário-geral, numa disputa interna aguerrida com José Luís Carneiro. A eleição de Pedro Nuno Santos deixa claro que o partido terá mais facilidade em voltar a entender-se com os partidos à sua esquerda, em caso de necessidade, muito embora o novo secretário-geral socialista venha dando mostras de querer mitigar o “radicalismo” de que o acusam. Seja nas questões orçamentais, na relação com o Presidente da República ou nos contactos mantidos com empresários, Pedro Nuno Santos tem vincado uma linha de continuidade com os anteriores governos socialistas, naturalmente com o impulso renovador próprio de quem inicia funções.

Do lado do centro-direita, o PSD trouxe para o seu lado o CDS e o PPM para recriarem a Aliança Democrática (AD). Mais de quarenta anos depois da constituição da AD original, nada é igual. As lideranças, a energia e a novidade que caracterizaram a AD de 1979 não são repetíveis. Luís Montenegro sabe que as próximas legislativas são o tudo ou nada para a sua liderança e a aposta na AD procura galvanizar eleitorado que tem estado afastado do PSD e dos seus parceiros de coligação.

No momento em que escrevo, todos os partidos estão a ultimar as suas listas de candidatos a deputados, um processo sempre delicado e que costuma abrir algumas feridas internas. Seguir-se-ão os programas e a campanha eleitoral, que se deseja esclarecedora.

A vida será mais simples para o PS do que para o PSD. Se ganhar, Pedro Nuno Santos deve poder contar com os partidos à sua esquerda para viabilizar uma solução de governo, apesar de acreditar que é mais provável o PS vencer as eleições do que a esquerda no seu todo alcançar a maioria absoluta. Se perder, desde que não seja com um resultado catastrófico, que não se vislumbra, ninguém exigirá a sua cabeça.

No caso da AD, Luís Montenegro está obrigado a ganhar. E, sem maioria da AD, passa a ter no meio da sala um elefante chamado Chega. Será capaz de manter o seu “não é não!” ao Chega? Resistirá à pressão da maioria dos militantes e dirigentes, que certamente defenderá nesse caso um acordo com o Chega para se alcandorar ao poder? No caso de sair derrotado, Montenegro não terá alternativa à demissão e a dar lugar ao líder seguinte."

estes dias que passam 875

mcr, 15.01.24

Singularidades do Tribunal Internacional

(ou dos queixosos, tanto faz...)

 

mcr, 15 de Janeiro 2024

 

Por razões que me abstenho de qualificar, sequer de entender, A África do Sul entendeu levar ao Tribunal Internacional dependente da ONU uma queixa contra Israel por "genocídio"

Por enquanto estamos nos preliminares de um julgamento que pode durar anos  onde em primeiro lugar se verificará a legitimidade do Tribunal, depois a veracidade do genocídio e tudo o resto. 

Não tenho informação suficiente sobre se o Tribunal irá verificar os antecedentes, mormente o ataque de 7 de Outubro perpetrado por três mil guerrilheiros que invadiram o sul de Israel e se cevaram cobardemente em centenas, quase duas mil, vítimas civis e que, era sabido por todos defendiam o direito dos palestinianos a uma pátria. Há mesmo entre os mortos, alguns dos mais conhecidos defensores dos dois Estados e da causa árabe.

ao que abe a imensa maioria dos mortos (onde há  mulheres e crianças em quantidade) estava desarmada para já não falar nos milhares de jovens que tinham chegado ali para um festival de música e que , também eles, foram atacados como ratos, mortos, feridos ou raptados.

Também ninguém desconhece que as mulheres israelitas foram quase todas violadas e muitas delas depois assassinadas. 

Isto, caros leitores, não é nunca foi, nunca poderá ser um acto de guerra  mas apenas uma infâmia (como não é um acto de guerra um colono judeu na Cisjordânia matar um palestiniano à queima roupa depois de uma mera troca de palavras.)

Também convirá lembrar que, até à esta enésima invasão das tropas israelitas, Gaza não estava isolada. Não só havia 25000 trabalhadores do enclave que diariamente iam trabalhar para Israel como também entravam diariamente em Gaza centenas de camiões pela fronteira egípcia. 

Aliás era de Israel que vinha a internet, a electricidade, a água muitos alimentos  e outros produtos incluindo combustíveis.

Foi o ataque de Outubro que desencadeou a política israelita de cerco e isolamento totais que até à data não existia.

Julgo que também estes dados serão aceites pelo Tribunal  para determinar quem iniciou este horror que agora se abate sobre uma população que conta 50% de menores de 18 anos. Cinquenta por cento! Não há mais nenhum país, mais nenhuma comunidade organizada que atinja esta proporção pelo que s imagens terríveis de todos os dias com crianças e jovens envolvidos em mortalhas brancas, são além de bárbaras, o retrato de uma singularidade, de algo único que não justifica os bombardeamentos mas que seria impossível de não existir dada a pitramide de idades verificada no território.

Eu não vou aqui lembrar que em Gaza o Hamas não tenha sido votado mesmo se a população pode t~e-lo feito por medo, por raiva, por indiferença ou por ignorância. Ou seja, se alguém quiser falar de Governo legítimo do enclave terá de também saber que tal governo com todos os problemas que isso implica, foi votado pelos cidadãos agora bombardeados. Sem o voto deles, sem a aprovação deles, , ter  nunca o Hamas poderia ter preparado 5'00 quilómetros de túneis ter mobilizado dezenas de milhares de guerrilheiros, ter construído sedes, aquartelamentos, depósitos de armas sob escolas, hospitais ou mesquitas. Numa palavra a preparação militar do Hamas fez-se à vista de todos ou melhor nunca teria sido possível sem a população saber o que se passava, para que servia e quais as consequências de um gesto tão temerário como um ataque a Israel.

 

Deixemos, entretanto este cenário, e passemos a outro julgamento desta feita inexistente e contra um agressor caracterizado que sem qualquer motivo entrada por país dentro, mata até à mais de vinte mil civis (brm sei que em ano e meio e não em três meses, mas a população ucraniana está num território gigantesco, tem, apesar de tudo quem a defenda quem consiga repelir os invasores que, de resto deixaram em vários sítios o sinal da sua absoluta violência contra civis como se pode ver mas reportagens televisivas.

A pergunta dos mil milhões é esta: porque é que nenhum país, mormente a indignada África do Sul não acusa a Rússia. Não apenas de genocídio mas sobretudo de invasão incontrolada sem declaração de guerra, escondendo a palavra guerra debaixo da estupidez da expressão operação militar especial, envolvendo navios, aviação, misseis poderosos e centenas de milhar de tropas?

Ontem, uma manifestação percorreu as ruas de Lisboa. Nela marcharam garbosamente toda uma série de criaturas, responsáveis importantes de partidos  de Esquerda que nunca foram capazes de dizer a palavra invasão, ou guerra, nem muito menos de se lembrar que a Ucrânia é independente e que a sua separação (como a de muitos outras países ex-soviéticos) da Rússia foi por este país garantida, em tratados solenemente  assinados. 

Eu, apesar de tudo, consigo perceber os amigos da Rússia de Putin que eles provavelmente (e saudosamente) consideram filha da falecida União Soviética, uma potência que ruiu por dentro sem apelo nem agravo. E que não deixou especiais saudades, excepção feita de pequenas minorias que vão envelhecendo e deixando lugar a outras  de sinal contrário mas igualmente despóticas e liberticidas. 

Numa palavra, eu perceberia a presença de estas pessoas na manifestação pró palestina se as tivesse visto  já não digo a marchar mas a tornar pública a sua recusa à agressão da Ucrânia. Mas pelos visto há quem tenha semprre dois pesos e duas medidas para usar no dia a dia...

 

 

000-324g4z2.jpgpaisagem de Bucha (Ucrânia)

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