lendo os jornais
mcr, 27-2-24
Não vou iniciar uma cruzada pelo respeito religioso da verdade e pelo cuidado com que se recolhem informações que depois se publicam. Todavia, algumas (muitas) vezes tais dados e informações ou são falsos ou necessitam de esclarecimento.
É o caso da Crimeia que Miguel Sousa Tavares diz ter sido um bónus de Ieltsin à Ucrânia quando esta se tornou definitivamente independente da União Soviética ou do que restava delas.
Não vale a pena ir demasiado longe para recordar que foi Nikita Krutschev (que não era ucraniano) quem entendeu que a Crimeia não podia continuar dependente da Federação russa, a centenas de quilómetros de distância. A medida, na altura (anos 60) foi apresentada como uma mera economia.
Na época, no houve qualquer objecção como também não se recorda discordância depois da independência. Para a Rússia bastava a base de Sebastopol.
Poder-se-ia vir aduzir que desde a conquista da península e dos territórios adjacentes , a administração estaria centralizada na Rússia czarista. Os territórios ucranianos tinham uma (in)definição bastante vaga o que justificaria a relação com a metrópole mais distante.
A segunda questão que o artigo de MST suscita é a insistência na "alma russa" e no facto da Rússia ter sido palco de várias invasões. Convenh que, tirando as invasões francesa de Napoleão e a nazi, a Rússia foi mais invasora que invadida. A começar pela Polónia, continuando pela Ucrânia cuja conquista se fez por etapas só terminando na época de Catarina a Grande. )Neste capítulo, ainda se poderia falar da "guerra da Crimeia que não passou de um pequeno episódio sem especial relevância e que só é lembrado pela carga da brigada ligeira. Do mesmo modo durante a guerra civil houve alguns esporádicos ataques de pouca monta levados a cabo em apoio às tropas "brancas".
É verdade que durante séculos a Rússia combateu tártaros e outros povos na sua caminhada para a Sibéria e para o Pacífico. O mesmo sucedeu com os povos do seu flanco sul que foram sistematicamente invadidos e conquistados.
Há teorizadores do imperialismo e do colonialismo que afirmam que essa foi uma autentica corrida colonial.
É duvidoso que boa parte dos povos não russos da Federação tenha pela "mãe Rússia" um exacerbado amor tanto mais que as condições de vida dessas comunidades não se comparam às dos territórios russos. Aida por cima a língua e a religião nada tem a ver com a da "mãe pátria"
Isto para não referir transferências forçadas de população cujo mais dramático exemplo é o dos Tatars da Crimeia.
Não se nega, evidentemente, o chamado "nacionalismo russo, sentimento que em alturas de crise é exacerbado até limites que surpreendem o "Ocidente" onde, de resto também ocorrem (a Polónia ou a Hungria , para não ir mais longe).
Todos os países se alimentam de mitos e o da "alma russa" tem mais força do que para ós, o da "saudade" lusitana.
É verdade que alguma da grande cultura russa tem reflexos dessa "alma" e se ancore numa diferença por vezes artificial com o "ocidente" que, apesar de tudo, foi sempre olhado como algo semelhante a um modelo de desenvolvimento. E Pedro o Grande ou Catarina (ela própria uma alemã) tentaram emular o que de melhor havia nas cortes europeias do seu tempo.
Por seu turno, o "ocidente" (sempre entre comas) também se alimentou , e muito, da cultura russa e sempre teve de contar com o poderio do império dos czares que quiseram desempenhar um papel na europa. A Rússia nunca este tão distante como a China ou o Japão ou, até, por vezes, os Estados Unidos quando lhes tocava a febre isolacionista.
Ou a Turquia que desde a conquista de Constantinopla (e de boa parte da Europa central e balcânica) também desempenhou um papel especial no imaginário europeu sendo, de resto, ainda hoje, bem mais desconhecida do que a actual Rússia.
Um outro texto publicado no "Expresso" (aliás apenas uma citação) merece severa condenação- O senhor Lula da Silva, presidente do Brasil, entendeu na sua enorme ignorância da História , afirmar que " o que está acontecendo com o povo palestiniano não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás existiu quando Hitler resolveu matar os judeus".
Estas palavras não denotam apenas uma ignorância supina da História mas são mais do que uma estupidez um ataque de má fé.
Não vale a pena lembrar ao senhor Lula da Silva, que a "Shoa" teve um alcance inacreditável e que se baseava na total negação do direito à existência do povo judeu, que continuava uma outra teoria mais vasta que qualificava de sub-humanos um número indeterminado de povos onde avultavam, por exemplo, os eslavos. E os ciganos. E os mestiços das ex-colónias alemãs que tinham escolhido viver no que eles consideravam uma mãe pátria.
Israel cujo nasciento, em 1948, também foi apadrinhado pelo Brasil , é, ao contrário do Reich, uma democracia- Imperfeita claro sobretudo em tempo e guerra. cometendo acções abomináveis de que, destaco especialmente o que se passa na Cisjordânia ocupado por colonatos ilegais e por colonos onde se encontram muitos criminosos protegidos pelo Exército israelita.
Nõ vale a pena recordar que os judeus alemães, os primeiros a sofrer a perseguição, eram na sua enorme maioria gente que lutara pela Alemanha Imperial, que ilustrara as artes, as letras e a ciência alemãs e que nunca (até ser tarde demais) pensara ser possível a concretização das ameaças dos nazis (e não apenas de Hitler, é bom lembrar).
É verdade que a resposta israelita ao ataque infame do Hamas (será que Lula da Silva sequer o referiu ou condenou?) tem características de desproporcionalidade evidentes. Mesmo que o Governo de Israel faça, como faz ou diz fazer, a distinção entre o povo palestiniano e o Hamas que quer a destruição de Israel e o fim dos judeus) mas que mesmo por meios ilícitos tenha sido votado pelos habitantes de Gaza que nunca ignoraram os túneis, os esconderijos, os depósitos de armas e quartéis sob escolas, hospitais ou mesquitas-
Israel já provou no meio do seu imparável avanço até Rafah que poderia ter aniquilado o dobro, o triplo ou o quádruplo da população já morta onde avultam, obviamente crianças e menores que, por seu tirno representam mais de sessenta por cento do total dos moradores da faixa.
Conviria, mesmo se, como é o caso deste cronista, se ande há anos a acusar as autoridades israelitas de perseguição aos palestinianos, ter bem presente que este enésimo e sangrento conflito é infelizmente mais um episódio de um uma guerra larvar que começou em 1948. Seria bom ter em linha de conta que há regimes, países "mandantes" dos Hamas, Jihad, Hezbolah e outros reconhecidos bandos terroristas que também deveriam estar no quadro de desonra dos fsutores desta guerra.
O senhor Lila da silva não é um vago cidadão de um qualquer país mas o presidente de um enorme país que tem ambições políticas universais e que quer ter ima palavra a dizer nos meios internacionais.
Isto que disse, e onde disse, deitaria por terra qualquer governante europeu que se atrevesse a dizer a mesma enormidade. Pelos vistos, no Brasil ou ninguém protestou ou se protesto houve foi silenciado. Nem sequer as chancelarias entenderam explicar tão diplomaticamente quanto possível e ao alcance da limitada cultura política e histórica de Lula, que a sua frase é aberrante.
Nem o cavalheiro da Venezuela também ele antigo sindicalista se atreveu a um dislate deste tamanho.