Feliz Páscoa!
Feliz Páscoa para todos os leitores e autores do Incursões!
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Feliz Páscoa para todos os leitores e autores do Incursões!
publicado às 20:00
Na edição online do jornal A Verdade publico hoje um artigo de opinião acerca do quadro político saído das últimas eleições legislativas:
"As eleições do passado dia 10 colocaram Portugal perante um quadro político inédito, na medida em que passámos a contar com três pólos políticos: PSD, PS e Chega. O resultado alcançado pelo partido de André Ventura foi verdadeiramente surpreendente e, com os seus 50 deputados, que representam cerca de 1.170.000 votos, o Chega passa a ser determinante nas contas à direita e terá um papel relevante na próxima legislatura.
As cenas caricatas dos últimos dias, em torno da eleição de José Pedro Aguiar-Branco como presidente da Assembleia da República, foram um aperitivo para os tempos conturbados que aí vêm.
A Aliança Democrática (AD), que ganhou as eleições à justa e ficou abaixo das expectativas criadas, prepara-se para formar governo. Espera-se que amanhã [hoje] Luís Montenegro apresente a composição do executivo a Marcelo Rebelo de Sousa. Ficaremos então a conhecer as suas apostas para um governo que lutará mês a mês pela sobrevivência, uma vez que os 80 deputados da AD, a que podemos juntar os oito deputados da Iniciativa Liberal (IL), estão longe de garantir uma governação estável e duradoura.
Terminada a especulação acerca da participação da IL, sabe-se já que o governo apenas incluirá representantes do PSD e do CDS. A presença da IL, que nas eleições também ficou aquém dos objectivos de crescimento a que se propôs, apenas se justificava na perspectiva de o PSD pretender aglutinar sob a sua alçada toda a direita democrática. Mas o perfil mais irreverente e irreflectido da IL acabaria por acrescentar problemas a um governo da AD que terá de ser coeso, determinado e alinhado nas suas políticas e iniciativas.
Luís Montenegro deve optar por concentrar-se na execução dos fundos europeus e do Plano de Recuperação e Resiliência, na gestão do excedente orçamental que herda do governo cessante e na resolução das reivindicações mais prementes. Desse modo, implementa as medidas mais populares e procura reforçar a empatia com os portugueses, com o objectivo de chegar à negociação do orçamento para 2025 numa posição mais favorável.
A via alternativa seria procurar desde o início uma confrontação com a oposição, designadamente na Assembleia da República, que conduzisse à queda do governo e a novas eleições em breve. A AD não vai certamente enveredar por esse caminho.
O PS perdeu quase 490.000 votos face a 2022, mas essa derrota acaba atenuada pelo facto de ter ficado apenas a cerca de 54.500 votos do resultado da AD. Foi a menor diferença de sempre entre as duas forças mais votadas numas eleições legislativas. Esse resultado e a circunstância de Pedro Nuno Santos ter escassos meses em funções como secretário-geral do PS não coloca em causa a posição do líder socialista, como se viu, de resto, nas reuniões dos órgãos nacionais do PS entretanto realizadas.
Pedro Nuno Santos esteve bem ao antecipar que não viabilizará moções de rejeição e que está disponível para concertar medidas direccionadas a determinados sectores profissionais. Como também fez bem em afirmar que o PS deve ser a alternativa à AD, não deixando esse espaço para a extrema-direita.
Caberá agora ao PS olhar para dentro de si próprio e encontrar explicações para a perda de votos verificada desde as eleições de 2022 e para as dificuldades em atrair o voto de determinadas classes etárias e profissionais. Os mais jovens, sobretudo, afastaram-se das propostas socialistas e isso deve interpelar seriamente os dirigentes do PS.
Jovens e menos jovens, descontentes, renitentes, habituais abstencionistas, saudosos de um passado distante e militantes do protesto, todos juntos formaram um caudal que resultou na grande votação do Chega. Construir algo a partir desse resultado será uma tarefa quase impossível para André Ventura. Por um lado, os votos que alcançou foram mais contra a “situação” e contra os ditos partidos do regime do que propriamente a favor das ideias e dos princípios do Chega. O país não tem um número tão grande de xenófobos, racistas e extremistas.
Por outro lado, se o PSD lhe fechar a porta, o que pode fazer Ventura com os seus votos? Política de terra queimada e obstrução sistemática ao governo? De que servirá, em termos práticos, ter votado no Chega? Os eleitores do Chega preferem soluções ou confusão e arrivismo permanente?
Lidar com o Chega, e sobretudo com os eleitores do Chega, é um grande desafio para PSD e PS. Se o PSD optar por se aproximar das reivindicações do Chega para se manter no poder, isso poderá ser um presente entregue nas mãos do PS. Ficaria mais fácil demarcar linhas vermelhas com os que transigem com forças que se guiam por valores políticos, humanistas e civilizacionais retrógrados e, na sua essência, anti-democráticos.
Os restantes partidos com assento parlamentar, com resultados e balanços diferentes no pós-legislativas, prosseguirão certamente as respectivas agendas, mas tendo presente que estão muito limitados na forma como podem condicionar a governação da AD. O xadrez, nesta legislatura, joga-se em três tabuleiros: PSD, PS e Chega."
publicado às 10:55
Águas de Março
mcr, 26-3-24
"são as águas de Março
fechando o" Inverno
Os leitores/as permitirão que adultere a letra da bela canção criada por Elis Regina sob poema de tom Jobim (anos setenta) pois, de facto estas águas agora caídas e que durarão, diz-se, até à Páscoa.
Se, de facto, é verdade que o dr. Aguiar Branco falhou a eleição para Presidente da AR, temos que as probabilidades de novas eleições crescem fortemente.
É que parecia haver um acordo tácito quanto a este político segundo o qual o Chega votaria a favor. Pelos vistos absteve-se, votando em branco como os deputados do PS.
Assim sendo, a guerra civil larvar na AR começa logo no primeiro dia mesmo que em segunda votação o candidato do PSD consiga a eleição.
Eis como o Chega priva a sua força e objectivamente aparece ao lado do PS, coisa que, de resto, irá ocorrer por muitas vezes, senão todas.
O PC pode estar descansado pois não terá grandes problrmas com a sua moção de rejeição anunciada há dias mesmo antes de se conhecer quer a composição do Governo, quer o programa
(prodígios da política à portuguesa!...)
Continuando a usar o poema de Jobim, temos que estas chuvas afora surgidas prenunciam um Abril de águas mil e prometem um Verão curioso mesmo se ainda agora entramos na Primavera.
Por outras palavras a política a que iremos assistir nos próximos dias ou semanas não vai ser uma seca, bem pelo contrário.
Luís Montenegro iria (ou ainda vai) herdar um superavit bem mais gordo do que as contas trapalhonas do anterior governo indicavam.
Ainda estou para perceber como é que um partido responsável começou por prever um déficit de 0,9 (out 22) corrigido em Abril de 23 para 0,4 e novamente alterado (out 23) para 0,8. Nada disto estava certo porque afinal o excedente (excessivo segundo César!....) atinge 1,2%!....
Convenhamos, recorrendo sempre à metáfora das águas de Março (e dos anteriores muitos meses) que estamos perante uma inundação de grandes dimensões mesmo se do ponto de visto do investimento público e da despesa do Estado a seca tenha sido no mínimo severa.
Os cidadãos, pelo menos os que vagamente se interessam pela gestão da coisa pública, perguntam-se que credibilidade devem conceder a quem andou perdido e desorientado nas finanças públicas.
O sr. eng, Guterres que também navegou em águas tumultuosas durante os seus mandatos, resolveu depois de uma aventura articulada com um senhor deputado apelidado 2o do queijo limiano" deixar as suas funções porque não queria passear-se no "pântano".
Isso permitiu um curto consulado do PPS que Santana Lopes rebentou com, de resto se esperava. E deu lugar a Sócrates esse famoso cavalheiro que deixou o pás (já não " de tanga" como Durão afirmaou mas nú no meio do deserto. Lá vieram os da troika, lá veio Passos Coelho (que por acaso ganhou duas eleições mesmo se a última ruiu perante uma extraordinária "geringonça" arquitectada, justo é recordá-lo, por Jerónimo de Sousa que na noite em que costa se mostrava de luto o ressuscitou) e durante estes últimos oito anos o país andou devagar, devagarinho, a disparar todas as suas desventuras sobre o anterior governo e a finalmente perder uma maioria absoluta do modo mais surpreendente mesmo se o número de tropeções de casos e casinhos (e "casoes"!) demonstrasse que algo não funcionava.
E este ponto leva-nos ao eguinte, a este último conselho de ministros a que o Presidente da República presidiu e que deu lugar a um espantoso numero circense em que Costa elogia "a relação fluida e solidária" e Marcelo, pelos vistos, aceitou risonho.
Alguém veio dizer que estamos perante dois "jogadores" de elevado gabarito. Se o jogo se chamar hipocrisia estou de acordo.
Na televisão comentadores não se entendem sobre a quem devem atribuir a "quebra" do acordo Chega PSD . Desculparão os leitores e leitoras mas a abstenção do PS acaba, como a mulher de César (o verdadeiro não aquela criatura que nos veio do anticiclone dos Açores) por "parecer mesmo que o não seja.
Ninguém, nem os partidos, esperava esta "coligação negativa" . Não será a única podem estar certos. Este parlamento andará (se durar) a navegar à mercê de ventos que provavelmente desconhecem e seguramente não sabem contornar.
Já alguém pensou no que, neste momento, se dirá na Europa sobre mais esta tropelia portuguesa. Como é que Montenegro sai na fotografia? Como é que Costa, ansioso, por um lugar europeu, aparece agora (pois ninguém ignora a influência que ainda tem no PS) vai ser olhado?
(em tempo: não conheço, não deverei alguma vez conhecer, o dr Aguiar Branco. Verifico, neste exacto momento que vai voltar a candidatar-se. Algum mérito tem pois a primeira reacção previsível seria retirar-se para o seu lugar.
Alguém volta a referir o dr. Francisco Assis que, porém, me parecer ter sido peremptório na recusa de qualquer lugar de destaque na Assembleia. Todavia, com idade que levo, já vi suceder tudo. E mais não digo...
Finalmente, começa a perceber-se como é que o Chega se irá comportar.
Neste exacto momento, o PS indica que vai candidatar Assis... Volto a dizer: " e mais não digo",,,
*a vinheta: há 3o anos, por ocasião da Páscoa, ofereceram-me este pequeno guache.Hoje, apareceu-me sem vidro protector ,,, ignorando-se quem causou esse pequeno desastre. Como sou um péssimo fotógrafo a iagem é bem pior do que o original mas quis celebrar uma dar redonda. E a praia da Apúlia é seguramente mais bonita do que o "pantano acima descrito.
publicado às 19:21
Há doze anos!
mcr, 22-3-24
Por razões que não vem ao caso andei a reler textos antigos aqui publicados. Ora a 19-1-2012 sob o título "o ovo da serpente" comentei um conjunto de gráficos do "Público" inseridos num artigo de São José Almeida de que extraio apenas dois parágrafos
Para quem se espantou com os resultados eleitorais deixo aqui cópia do que então verifiquei.
O resto do meu texto versa sobre questões conexas pelo que, se não for demasiado trabalho, vos envio para lá pois já nssa altura comentava a perda de influência de um par de instituições e o escândalo que é votar numa molhada de criaturas em vez de, como no resto da europa, se recorrer à votação uninominal .Esta pelo menos permitiria ao eleitor aferir da qualidade da pessoa que com o seu voto envia para o Parlamento
eis o texto velhinho de 12 anos
Hoje o “Público” traz a notícia das conclusões de um estudo sobre a qualidade da democracia. Abstendo-me de considerar o texto da jornalista S José Almeida, apenas me reporto aos dados mais relevantes que são juntos em gráfico. Assim:
Apenas 56% dos portugueses inquiridos entendem ser a democracia a forma ideal de Governo. 15% assume a preferência por um governo autoritário e há ainda, para além do vultuoso lote dos que não sabem, uns inacreditáveis 10% que acham que lhes é indiferente a forma de governo. Ou seja, e em primeira e precipitada conclusão: o bloco anti-democrático tem potencialmente 25% de vozes.
Num segundo momento aparecem as conclusões sobre o maior defeito da democracia em Portugal. Convenhamos entre a falta de confiança nos políticos, a acusação de falta de eficácia dos mesmos se reúne uma multidão de 30%. E se repararmos que a corrupção (e não é a do Zé mas a outra, a boa, a que dá lucro e poder) vem em 4º lugar com 10% obteremos um resultado perigoso e impensável.
publicado às 18:07
Nuno Júdice, um poeta inteiro (e um amigo)
mcr, 18-3-24
Atravesso as rosadas núvens da poeira
...
queixo-me do acaso (ao acaso) adormeço e acordo
com o barulho de grupos compactos de aves
Que penso da vida par aestar assim?---
(Nuno Júdice: "o autor in memoriam" in Critica Doméstica dos paralelipípedos)
abri ao acaso um dos primeiros livros do Nuno e saiu o poema que publico em excerto. Poderia escolher entre mais de trinta livros dele que andam espalhados, pelo menos por duas estantes diferentes segundo um critério a que já perdi a origem e o significado.
Quando o conheci, muito depois de uma boa dúzia e meia de livros dele, comprados, lifos, admirados , avisei-o que só o acaso nos reunia porquanto eu sou melhor leitor que conversador com autores. Não sei o que me terá respondido mas na verdade, conversámos bastante e mais ainda quando lhe revelei a quantidade de livros dele que já tinha. E se os não tenho todos (os de poesia...) é por pura preguiça, por os não ter encontrado a tempo ou por recear repetir títulos. Mesmo assim tenho por quase certo que a faltarem-me, faltar-me-ão poucos.
Não sei se o conheci via Eduardo Prado Coelho ou através da Maia Manuel (Viana) uma prima muito querida e escritora que também, como os dois já citados, também já não anda por cá.
Obviamente não foram muitos os encontros mesmo se, nos últimos anos no tivéssemos cruzado diversas vezes, quase sempre em livrarias. E recomeçava uma conversa inacabada que finalmente se dá por finda mesmo se, leitor empedernido, eu, volta que não volta, regresse a dos seus livros, às vezes por um poema, um verso ou porque dando de caras com o livro não resisto a abri-lo.
O jornal afirma que além de ser um autor prolífico teve a sorte (que aliás mais que mereceu) de chamar a atenção de editores estrangeiros que lhe traduziram um par de obras.
Nos últimos anos., o Nuno dirigia a prestigiadíssima revista Colóquio da Gulbenkian claro e da sua actividade de director-editor só se pode dizer bem. Levava a sério a função, tinha critério, gosto e bom senso qualidades que nem sempre se encontram reunidas.
É difícil propor a qualquer leitor uma ou duas obras no meio de tantas porém, talvez seja preferível aconselhar "Obra Poética. ma recolha de todos os seus primeiros livros ou, a Antologia pessoal. Provavelmente muitas das obras sobretudo as publicadas no século passado, estarão esgotadas.
* Obra poética 1972-1985 Quetzal ed 1991 (reunião dos primeiros dez livros de NJ )
**na vinheta duas dúzias de livros de NJ à sombra de um elmo Igbo (Nigéria)
publicado às 18:33
ai que frenesi!
mcr, 17-3-24
Desde sexta que ando numa angústia, num frenesi, num repelão, sem conseguir adivinhar o resultado das eleições na Rússia
.
Quem ganhará?
Só há um única incerteza: será que naquele país, tão espiritual, a IIIª Roma, o fantasma de Navalny, n\ao virá perturbar o normal e pacífico desenrolar das eleições. Eleições Livres, acrescente-se. Há mais três candidatos (entre os quais o apresentado pelo partido comunista que já não é um fantasma a afugentar a taiga siberiana diga-se em desabona de Marx e Engels) que num grave exercício de observância democrática já explicaram que não pretendiam ganhar as eleições.
Consta, nas isso deve ser boato, fake new, que ainda se falou em mais quase uma dúzia de pretendentes mas, pelos vistos, aquilo era tudo um bando de traidores, de pacifistas, que foram proibidos de se apresentar pelo governo que, no caso em apreço, apenas se limitou a a representar muitos milhões de russos indignados com essa espécie de agentes do Ocidente, da NATO, da Europa viciosa, enfim dos terroristas ucranianos.
E, em boa verdade, há que ter as máximas cautelas com essa gente. Refibarias russas a muitas centenas de quilómetros ardem atingidas por diabólicos drones, sabe-se que nas ruas dos territórios "libertados" há uma turbamulta de agentes inimigos infiltrados que pretendem impedir o livre exercício da votação. Felizmente os governos dessas regiões regressadas à mãe pátria, entenderam destacar soldados para os postos de voto, enquanto que brigadas de cidadãos "leais e honrados" acompanhados de agentes da polícia percorrem as ruas e vão de casa em casa recomendar aos habitantes mais relapsos (que os há!...) e aos outros o sagrado dever de votar.
Como estamos muito a ocidente, seguramente que logo à noite, à hora do noticiário, saberemos em que ficou este importante acontecimento e poderemos responder à angustiante pergunta: será que Putin foi eleito?
Até lá, vai ser um roer de unhas medonho...
publicado às 18:01
Viva a informação livre!
Vivam os jornais!
Vivam os os jornalistas!
Desde os meus dezoito anos que pago os jornais que leio. Até aos 35 anos procurava perceber nas entrelinhas que a censura não brincava em serviço-
Paralelamente assinava revistas (Seara Nova, Vértice e o tempo e o Modo. A elas juntava "Le Monde", e mais tarde o "Comercio do Funchal" onde, como na Vértice, cheguei a colaborar.)
Depois do 25 A continuei a ler jornais nacionais e estranjeiros e com o fim ou o declínio das revistas acima citadas comecei a ler mais orgãos estranjeiros (el páis, LÉxpresso, La República ou Charlie Hebdo de que era leitor desde os tempos da sua 1ª versão - Harakiri.
concomitantemente, gastei a mair parte dom nmeu dinheiro enquanto estudante e mais tarde nos primeiros anos de vida profissional em variadas revistas de pendor mais literário e/ou artístico. Delas conservei um bom milharde exemplares mormente números monotemáticos.
A minharotina matinal começa pela compra do Público antes mesmo de tomar o primeiro café. Sou um leeitor omnívro de imprensa e há um bom número de publicações que sigo desde o primeiro número.
Ler jornais e revistasé-me tão natural quanto respirar, esteja eu onde estiver.
or isso, hoje, não poderia estar senão com os jornalistas que estão em greve. Se houver "fundo de greve" e aceitarem alguma ajuda, cá estou. Não concebo o mundo sem jornais, radios e televisão. Muitos, variados, sem distinguir diferenças ideológicas desde que assumidamente livres e sem o ferrete da censura interna ou externa.
Os jornais, a imprensa foram sempre a marca distintiva da liberdade e da democracia.
Leiam jornais! comprem o vosso jornal. qualquer jornal. Verificarão que ficam mais ricos, mais capazes de perceber omundo e de, eventualmente, o melhorar.
publicado às 20:12
Querem repetir a velha "estória"?
mcr,14-3-24
Em meados dos anos 80, Cavaco Silva chefiava um governo minoritário que era minoritário. Os dois restantes partidos na oposição (PS e PRD, uma emanação tonta do movimento eanista) entenderam apresentar uma moção de censura. Melhor dizendo, foi o PRD (o terceiro partido mais votado) quem teve essa brilhante ideia. Na altura, o dr Mário Soares era Presidente da República e, fez tudo o que podia para convencer o seu antigo partido a não embarcar na aventura proposta pelo PRD. O resultado de tão estúpida e imprudente aventura foi oferecer de mão beijada a Cavaco uma maioria absoluta que, de resto, repetiu.
Não sei o que é que o futuro próximo nos reserva mas as expectativas que tenho s\ao muito baixas. O PC já avisou que vai apresentar uma moção de censura mesmo antes de haver qualquer Governo, qualquer programa, qualquer orçamento. Ao que se sabe, BE , PAN e Livre estarão disponíveis para se associar a tal voto. O PS até ao momento não parece entusiasmar-se com a ideia. Lá se lembrará do tremendo desaire dos "gloriosos anos cavaquistas" e pensará que atirar um futuro governo AD para a valeta poderá ter consequências imprevisíveis, incluindo a repetição dessa história.
Em boa verdade, acredito mais na tese de que Montenegro irá esticar a corda até provocar alguma tentativa deste teor do que vir PNS oferecer-lhe um pretexto mais se apresentar como vítima da velhacaria "de Esquerda".
Quanto ao Chega serve o mesmo raciocínio. Faço parte dos que pensam que este voto de um milhão e cem mil portugueses é mais uma manifestação de protesto do que algo sólido e pensado.
No que toca ao PC não consigo perceber a lógica da já anunciada moção, pelo menos antes de sequer se saber concretmente das propostas e das personalidades que a AD vai apresentar. Não pretendo dar lições a ninguém , muito menos, ao prtido que, neste momento deveria começar a fazer uma longa, demorada, exigente reflexão sobre as causas do seu acentuado declínio em todas as últimas eleições. Nem Beja escapou ao cataclismo! Poderei ter ouvido mal mas pareceu-me que nem o Baleizão o votou maioririamente...
Uma moda alentejana, aprendida na prisão de Caxias rezava assim
Ó Baleizão, Baleizão
ó terra baleizoeira
eu hei de casar contigo
queira o teu pi ou não queira
A pequena localidade perdeu mais de metade dos seus habitantes obviamente os mais idosos. Catarina Eugénia já ó é uma estátua no centro da terra. As condições de vida mudaram muito e sobretudo duvida-se que a CDU pudesse provar a quem por ali ficou que outra vida era possível.
É provável que, para além do chega (que à semelhança de congéneres na Europa vai ocupando paulatinamente territórios que durante dezenas de anos foram da Esquerda) outros partidos pareçam mais sedutores e mais prometedores. Em Lisboa, o Livre teve mais votos que o PC. Não sei se foi caso único mas esta mudança de votos pode significar algo de profundamente perigoso para os comunistas.
Aliás, recordo-me de nos finais de sessenta do século passado haver quem opinasse que a trágica ocupação de Praga, a prisão de Dubcek e o fim do chamado "socialismo de rosto humano" ou o triunfo do Solidarnosc na Polónia significava o fim da Revolução de Outubro e do Movimento Comunista Mundial. E, de facto, desde esse momento as coisas complicaram-se e de que maneira. Mesmo se hoje há quem ainda refira a China, ou o Vietname, Cuba ou a Coreia, fácil é e perceber que o "comunismo" há muito que não é nada do que eventualmente se anunciou e prevaleceu desde a fundação do Komintern até aos tempos da "guerra fria".
A menos que as caricaturas do "pensamento de Xi Jiping" , da dinastia vermelha da Coreia, dos actuais dirigentes de um par repúblicas sul-americanas, posam ser tomadas como algo de progressista e de esperançoso para os respectivos povos. Mas isso é assunto para futuro post se acaso valer a pena
publicado às 19:10
Gonçalo da Câmara Pereira, líder do PPM, veio ontem defender que a AD devia entender-se com o Chega. Nada a estranhar, pois não é muito o que separa Gonçalo da Câmara Pereira e André Ventura. Aliás, os dois ocuparam os primeiros lugares da candidatura conjunta às últimas eleições europeias na coligação Basta, que juntou o PPM, o PPV/CDC e o Chega, então ainda à espera de eleger os seus primeiros órgãos.
PSD e CDS-PP podem ter tentado calar e enclausurar Gonçalo da Câmara Pereira durante a campanha eleitoral, mas os seus valores e as suas ideias estiveram sempre lá. Muito próximo do correligionário André Ventura.
publicado às 19:20
Nenhum voto é inútil
(desde que metido na urna...)
mcr, 12-3-24
Quem, sem ser compelido mas apenas obedecendo ao que considera ser um dever de cidadania, se dispõe a sair e casa num domingo e ir perder algum tempo numa bicha para votar, demonstra bem que dá importância ao seu gesto.
Vote ele o que votar, mesmo se riscar todo o boletim por raiva, desânimo ou estúpida brincadeira, este cidadão (não há outra nem mais nobre palavra para o definir) el quis significar que leva a sério a res publica, e se sente membro de uma comunidade de homens/mulheres livres .
Todavia, e desde há muito, entendeu-se usar a expressão voto útil para significar que se concentrar os votos (e as vontades) numa solução governativa viável.
Nas últimas eleições AD e PS tentaram (sem qualquer êxito diga-se de passagem) convencer eleitores de outras formações partidárias a votar não com o coração ou com a íntima convicção, nutra fórmula aproximada mas capaz de produzir uma sólida hipótese de governo viável.
Ora, e os resultados estão aí, nem o Livre (que subiu fortemente) o BE ou o PAN foram beliscados e mesmo o PC perdendo votos e mandatos não terá visto todos os seus fieis debandar.
O PC está desde há muitos anos a sofrer de velhice acentuada (e nisto acompanha tardiamente os seus congéneres europeus já quase todos falecidos de morte natural) bem como de inadequação aos tempos que correm, a uma errada estratégia bem visível no seu encapotado apoio à Rússia putinista (onde as ruías do pc local apoiam servilmente o novo autocrata).
O PC sempre viveu de um par de mitos, entre eles o do Alentejo vermelho confundindo aí a fome de terra dos camponeses pores com uma mítica e heróica tradução portuguesa dos kolkhozes soviéticos (que aliás só existiram pela força doa ditadura do proletariado, pseudónimo do poder do partido comunista e do seu aparelho).
Mesmo quando, por pobre habilidade retórica, o "proletariado" passou a ser "os trabalhadores" e/ou "o povo", o partido nunca conseguiu chegar com eficácia à região norte e a boa parte do centro. Claro que conseguiu alguma implantação nas cidades mais importantes, nas zonas mais industrializadas através duma eficaz rede de sindicatos que mais nenhuma formação política foi capaz de criar e manter com a mesma eficácia
Desta feita, no capítulo dos mandatos, o "partido" desapareceu do Alentejo e perdeu a sua posição lisboeta para o Livre!
À direita, a IL manteve-se e cresceu até, enquanto o Chega multiplicou por quatro os seus mandatos e mais que duplicou a sua votação. Mesmo que se atribua este crescimento (ou boa parte dele) à diminuição da abstenção há aqui uma clara negação do voto útil (na AD. claro).
Os eleitores quiseram afirmar o seu desconforto, o seu descontentamento ou a sua raiva, nesta fortíssima manifestação de apoio a um partido que, claramente se declara como de protesto mas de protesto com evidente vontade de entrar na governação.
Isto também provou que a teoria do cordão sanitário não teve eco algum. coo não teve em França ou em Espanha,
as chamadas às armas do Livre ou do BE caíram em saco roto e não terão sido ouvidas pelo PS. Está, para já, afastada a hipótese longínqua de uma nova geringonça que, aliás, poderia ser morta à nascença sem sequer ser necessário qualquer acordo entre AD e Chega,
Até aquela bizarria que dá por ADN e que viu os seus votos multiplicados por dez (uma segura anomalia que nem sequer pode ser explicada pelo voto "evangélico" como foi proposto ) poderá vir a defender-se com um miraculoso entendimento de que apenas foi engordada pelo voto útil. Nada indica que tal tenha ocorrido porquanto a propaganda eleitoral do agrupamento "alternativo e nacional" não poderá ter sido tão forte que tocasse tantos eleitores, Por mim, e na mais generosa hipótese, a ADN poderia duplicar os seus votos. De todo o modo, quem se pode queixar é a AD propriamente dita que vê assim fugir-lhe três ou quatro deputados se os restantes oitenta mil votos lhe fossem dirigidos.
Em conclusão (provisória): o Chega com todo o horrendo e fétido lastro que arrasta e que se deve a um punhado de fundadores, transformou-se, por força das circunstâncias mais do que por inteligência política do seu líder, num verdadeiro partido de protesto e mobilizou mais de um milhão de portugueses.
Por muito que dê jeito a um par de criaturas, é impossível crismar esta turbamulta como partido fascista. Provavelmente nem se conseguirá juntar toda aquela gente, eventualmente pouco politizada, num partido conservador radical.
Este desgraçado país viu (vê) o SNS em pantanas,a educação sem professores numa crise de falta de pessoal docente que inevitavelmente se vai agravar nos próximos anos, o falhanço dramático da construção de habitação a preços moderados, duma inexistente política de defesa nacional (faltam soldados, faltam quadros militares intermédios, faltam navios ou, pelo menos, manutenção adequada dos que ainda navegam, etc.) para, piedosamente, não referir a agricultura, a justiça e as famosas infra-estruturas onde os anúncios se sucedem aos anúncios sem que se consigam perceber os resultados.
Percebe-se, portanto, o voto de raiva de centenas de milhares de cidadãos que, à falta de melhor ou de uma explicação decente, clara e razoável, se viram contra o "sistema" e contra uma AR onde as discussões mais bizarras ocupam o dia a dia dos deputados enquanto se ignoram as preocupações mais correntes dos paisanos.
Não pretendo com isto, ignorar os perigos de uma extrema direita organizada. Já me basta recordar como é que um país civilizado, politizado, com fortíssimos partidos de esquerda e um centro igualmente poderoso se deixou cair no regaço de um cabo austríaco, medíocre pintor (de "brocha gorda"!) se converteu num Führer enlouquecido, incontrolável, adorado por multidões ululantes que numa dúzia de anos levou um Reich que se pretendia milenar à mais pavorosa derrota deixando pelo caminho um rasto ignominioso de sangue e terror.
Porém, sempre é bom lembrar que ainda não chegamos a nada de semelhante e que o mau uso da palavra fascismo se transforma num mantra inerte e sem significado. Que pelos vistos não assustou os votantes do cavalheiro Ventura.
Talvez valha a pena moderar o uso de palavras inúteis e perceber que os votos só são inúteis para quem os pede e não os recebe.
publicado às 18:18