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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 908

mcr, 27.05.24

Quem governa?

mcr, 27-5-24

 

Há um par de dias, o sr Pedro Nuno Santos declarou com admirável candura que as medidas que o PS vai levando ào parlamento e consegue aprovar graças a um partido radical de direita (que o PS abomina mas "abdomina" no sentido em que vai comendo os detestáveis votos daquele providencial aliado), eram em voa verdade propostas do PS.

Tendo em linha de conta que o mesmo PS andou a governar largos anos afio sem atender a uma série longa como a espada de D Afonso Henriques sem jamais atender ao que agora chama justas reivindicações ( o caso dos suplementos à SP e à GNR é inacreditável sobretudo depois de uma senhora ministra que mais parecia descerebrada ter oferecido de mão beijada o famoso subsídio de risco à PJ - que em termos de risco profissional anda seguramente bem longe da vida dos que todos os dias enfrentam criminosos nas ruas ou nos campos).

No capítulo dos anos perdidos plos professores, o PS teve um par de ministros que sempre disseram não aos apelos, às greves, às manifestações, aos encerramentos inopinados de escolas. Subitamente, depois de derrotado nas urnas. eis que o último dessas luminárias ministeriais, um cavalheiro chamado João Costa veio apressado reconhecer a justeza das lutas dos docentes que ele combateu sempre e duramente. 

E por aí fora...

Eu, que nunca votei PPD e menos ainda qualquer formação à sua direita, começo a pensar que de facto há dois governos na pátria imortal. 

Com um ligeira diferença: a Oposição "unida que jamais será vencida" vai votando alegremente despesa sobre despesas sem cuidar de saber de onde virá o dinheiro.

E quando o Governo anuncia uma qualquer medida também ela a aumentar a despesa eis que se ergue  um coro a dizer que é "poucochinho" ou que beneficia ricos. 

O sr Montenegro vai ter vida difícil por melhores propósitos que anuncie. Até o aeroporto suscitou aquela pergunta imbecil de um deputado faltou à divina distribuição de inteligência. Disse a pobre criatura e em tom acusador que era preciso o Governo explicar o destino dos terrenos futuramente desafectados da Portela. Sendo certo que tal situação não ocorrerá antes de 15/20 anos dado que antes há outro aeroporto a construir e mesmo depois há que "limpar" os terrenos eventualmente disponíveis do velho aeroporto. E mais, entendeu desde já avisar que tais terrenos deveriam ir para construcção de casas a preço baixo. Com isto, também, disde ou pensou (ou provavelmente  nem sequer pensou) que a crise da habitação é eterna . Isto vindo de quem jura que com algum esforço e alguém a pagar tal crise se soluciona numa legislatura!....

Não vou afirmar que o PS subitamente mudou de trajectória política, mas apenas que lhe saiu a sorte grande: perdeu as eleições e deixou os sucessores a tentarem governar um barco que mete água por vários lados . Aliás, é pior: é o PS que vai baldeando mais água para o convés onde o PPD se debate... 

Também não vou pensar  no que sucederia se uma crise mais violenta levasse o país a eleições Se o PS ganhasse por idêntica (e plausível) margem à que agora deu ao PPD a governação p que é que diria de uma aliança deste com o chega para agravar as contas socialistas. Quantas vezes não ouviríamos PNS a bramir contra a irresponsabilidade do PPD? 

estes dias que passam 907

mcr, 18.05.24

Pérolas da Assembleia

mcr, 18-5-24

 

1 O Governo anunciou a escolha do aeroporto em Alcochete

Não se percebe bem se apanhou ou não os partidos de surpresa mas num primeiro momento nenhum se atreveu a contestar as razões que presidiram a tal escolha. em boa verdade era uma tarefa difícil  mais diíicil se tornou quando costa a saudou efusivamente.

Ao mesmo tempo, o Governo teve a prudência de anunciar um período longo até à conclusão das obras, melhor dizendo das obras que permitam um uso dessa estrutura, deixando para o futuro eventuais acrescentamentos ao projecto inicial, nomeadamente mais uma ou duas pistas.

Convenhamos que conhecendo Portugal como se conhece, dez anos nem é sequer especialmente vagaroso. Por mim, deixo-me pensar que ta coisa será mais demorada, talvez uma boa dúzia de anos. só a escolha do construtor vai dar pano para mangas com o hábito , de contestar tudo, de reclamar  que não é só lusitano mas que aqui adquire requintes de malvadez. 

Entretanto, o Governo prevê que o fluxo turístico continue imparável e, para o efeito, verificando-se que o Aeroporto actual está mais que sobre-utilizado, prevê obras que aumentem a capacidade de receber mais aviões, mais passageiros com mais eficácia e mais comodidade.

 

só quando o novo aeroporto estiver em pleno funcionamento é que se encerrará o actual. Depois do encerramento, havera que descontaminar os terrenos e isso também, e pelos motivos do costume, também durará um bom par de anos. com boa vontade, muito boa vontade, o s terrenos estarão livres num prazo de quinze anos. No mínimo!

Deixando de lado, alguns comentários imbecis, como a acusação de o governo se estar a comportar como um  "pato bravo", houve uma intervenção de um rapazola que merece atenção. A criatura veio esganiçadamente  exigir que o Governo diga o que vai fazer aos terrenos libertados. Se eles são ou não para construcção a preços acessíveis!...

convenhamos que, se daqui a quinze vinte anos ainda se andar a reclamar casas baratas, então mais vale emigrar rapidamente. 

Aliás, querer que um governo que não dispõe de maioria parlamentar e a quem não se augura tempo suficiente para sequer cumprir meia legislatura, diga já que destino se dará a esses terrenos, é obra. Ou então o rapaz que uiva acusações e ameaças a 15/20 anos de prazo acredita que o dr Montenegro baterá todos os recordes de governação. 

Só a falta de senso, a tolice, a ignorância e a incapacidade de encarar o futuro permitem que alguém, eleito(bem sei que numa lista do tamanho da légua da Póvoa)  venha exigir respostas a perguntas estúpidas.

claro que esta burrice é apenas combate politiqueiro,  e esconde a incapacidade do partido da criaturinha vociferante de. uma vez, uma só vez, ter quanto ao problema uma qualquer atitude.

 

2 Uma criatura cheguista entendeu contestar o prazo previsto (e eventualmente optimista) da construcção do aeroporto para vir dizer que a Turquia construiu um em metade do tempo. E isto, assegura, quando na Turquia os trabalhadores são madraços... E o governo algo de tosco, inculto e pouco eficiente.

Já não vou sequer pedir a alguém no parlamento que explique o que é a Turquia, pois manifestamente, por lá deve reinar um desconhecimento a toda a prova, provavelmente julgarão que aquilo ainda é o "doente da Europa"

O que os deputados ou alguns deputados entenderam é que se estava a ofender a Sublime Port ou a sua versão sec XXI. Que as afirmações do homenzinho que provavelmente nunca pensou a Turquia eram racismo, crime de ódio etc., etc...

E vá de apelar para o Presidente da AR para este, fustigar oparolo desconhecedor da turquia e de muitas mais nações, senão de todas, a exprobar a idiotice dita.

O Presidente da AR tentou explicar que as pessoas, mesmo os deputados daquele ajuntamento funesto tinham o direito de dizer o que pensavam e que bastaria alguém de bom senso para explicar ao estúrdio um par de verdades seja sobre a Turquia, seja sobre o modo como em Portugal se fazem obras públicas. 

De resto, é duvidoso que alguém saiba como foi feito o tal aeroporto, qual a sua dimensão, quais os horários de trabalho, a mobilização de meios e de trabalhadores, se há ou não o mesmo tipo de "contraintes" à construcção que há cá a começar pela prevenção de questões ambientais e a acabar no prazo e nas formas dos concursos públicos.

Nada disso ocorreu. Apenas a costumeira gritaria que era exactamente o que os cheguistas pretendiam e com a qual parece que remoçam e crescem. 

E toca dezupar no dr Aguiar Branco, pessoa que se recusa a ser o censor ou o mestre escola dos patetas que pululam por toda o lado, AR incluída. 

Nunca vi o dr Branco, nunca o votei mas desta feita prefiro-o a ele do que alguém que se armar em tutor do pensamento e entende que o único pensamento bom é algo que afunila o direito à manifestação da opinião e a converte lentamente em pensamento único.  Não darei para esse peditório e menos ainda para chamar a tenção para um partido que vive do escândalo, do reboliço e se propõe aparecer aos seus seguidores como umavirgem ogendida e atacada pela Esquerda ou seja por todos os outros mostrando que como a sinistra figura do ditador botas que está orgulhosamente só. 

quando se fala, e fala-se de mais e faz-se de menos ou nada, em cerco sanitário, a ideia que me ocorre é nem sequer responder aos energúmenos que guincham parvoíces . Não lhes respondam. Deixem-nos a falar sozinhos, que diabo.

Prossigam os trabalhos como se eles não existissem. Ou como se eles estivessem a balbuciar parvoeiras, como se fossem crianças a palrar. 

Ainda por cima ganha-se tempo e não se dava pretexto a respostas, réplicas que, como se costume só tem uma finalidade: escândalo e espectaculo na televisão e notícias nos jornais.

Não alimentem fogos de palha com combustível mais sólido que o fogo depressa se extinguirá.

 

O Incursões faz 20 anos!

José Carlos Pereira, 18.05.24

O Incursões cumpre hoje o seu vigésimo aniversário! Foi a 18 de Maio de 2004 que um poema de Eugénio de Andrade abriu as páginas deste blogue.

Nesta hora, recordamos aqui todos os antigos e actuais autores do blogue, particularmente aqueles que já não se encontram entre nós, como são os casos do advogado, jornalista e político J.M. Coutinho Ribeiro, durante muitos anos um dos principais esteios deste espaço, e o economista e professor universitário Carlos Pimenta.

A todos os leitores que nos acompanharam nesta caminhada de 20 anos fica o nosso reconhecimento e a vontade de que continuem a acompanhar-nos. Mesmo numa altura em que se anuncia a perda de relevância dos blogues, contámos no último ano com mais de 25.000 visualizações, o que só pode deixar-nos satisfeitos.

o leitor (im)penitente 269

mcr, 17.05.24

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Casimiro de Brito, 

poeta, português homem livre

 

mcr, 17-5-24

 

Conheci (só de leitura) Casimiro de Brito em 1968, quando publicou "Vietnam... em nome da liberdade" (Faro, 1967, colecção A palavra, nº8).

Claro que esta plaquette de escassas 13 páginas faz parte de extensa lista de "livros proibidos  no regime fascista" (cfr. livro com o mesmo nome editado pela comissão do livro negro sobre o regime fascista, data de edição : Maio de 1981).

São vinte as obras que fui juntando  deste autor e suponho que isso diz tudo sobre esta relação de amizade entre duas pessoas que nunca se encontraram.

Morre aos 85 anos  mas, espero-o, viverá nas obras que deixa, na alegria dos leitores, no prazer que a poesia traz.

quando reuni as obras de CS(que andavam espalhadas por três estantes diferentes descobri que há pelo menos três livros que não aparecem (Imitação do prazer; arte da respiração e Subitamente o silêncio) Por onde andarão? Será que emigraram para outra casa levados à força por alguma mafia como as que actualmente fomentam a passagem de mares, fronteiras e desertos?

*na vinheta a colecção onde se notam três faltas

 

estes dias que passam 906

mcr, 17.05.24

Justiça, uma longa, lenta e improvável marcha

mcr 15-5-24 

 

Sabem como se protelam julgamentos?

Recorrendo mesmo sem ponta de razão! Para toda a espécie de instâncias jurídicas, pagando o que for preciso e que Não é assim tão pouco Mas, para isso, pelos vistos, há sempre dinheiro, talvez um empréstimo de algum amigo ou conhecido 

Sem me querer gabar eis o que escrevi, preto no branco em 15 de Maio de  2018, ou seja há 6 longos, penosos, anos. Vai antecedido pela súmula das notícias ontem publicadas

 

 

 

Supremo rejeita pedido de Sócrates para afastar juízas que decidiram levá-lo a julgamento (jornais 15 de Maio, 2024)

O Supremo Tribunal de Justiça rejeitou, esta quarta-feira, o pedido de José Sócrates para afastar as juízas que decidiram levá-lo a julgamento na Operação Marquês, informa a SIC.

Sócrates defendia que as duas magistradas já não pertenciam aos quadros do Tribunal da Relação de Lisboa quando decidiram resgatar crimes anulados por Ivo Rosa.

 

 

Estes dias que passam 370

mcr 15.05.18

 

 

Força, força, camarada Sócrates

Nós seremos a muralha de aço

 

 

 

Algum(a) leitor(a) mais idoso/a recordará um patético slogan do Verão violento de 75 em que as “massas populares” (melhor: um punhado de criaturas que pensava que o era) aclamavam incessantemente o Sr. coronel Vasco Gonçalves durante o que se pensou ser um prelúdio ao assalto ao Palácio de Inverno.

A algazarra foi orquestrada pelos minoritários adeptos de uma cubanização da política portuguesa que pareciam entrincheirados numa nova linha de Torres com o epicentro na margem sul. E juravam que eram fortes, que representavam o país, ou os trabalhadores (ou os trabalhadores “conscientes”), ou qualquer outra coisa.

Poucos meses bastaram para se ver que nem sempre “uma centelha incendeia toda a pradaria” e o pouco que ardia era fogo de palha.

A muralha de aço era de barro e os muitos milhares que presumivelmente a constituíam desapareceram sem deixar rasto notável pese embora a mitologia neo-sebastianista que, ainda hoje, suspira por aqueles dias incandescentes.

O país real (bom ou mau, mas real) veio ao de cima e vive pacatamente 363 dias por ano, As excepções são as efemérides do 25 de Abril e 1º de Maio em que, no meio de uma indiferença bastante generalizada, há em algumas cidades marchas de cidadãos que reivindicam (contra quem? Contra o quê?) a “herança de Abril” e manifestam uma e outra vez o seu horror à “longa noite fascista”. E, no primeiro caso, o parlamento é engalanado, há discursos comovedores mesmo se repetitivos de ano para ano, e uma parte significativa dos deputados estreia um cravo vermelho na lapela ou a espreitar pelo decote.

Nada tenho contra este quadro tanto mais que, como muitas pessoas, sou de opinião que as sociedades necessitam de rotinas estabelecidas. Não deixo, porém de sublinhar que as festividades tem menor ou maior “quadro humano” consoante o tempo é ou não estival. Em havendo sol q.b e calor o povo deserta as festas e ruma às praias para aproveitar o feriado. Nada mais natural nem mais lógico. Nem mais humano.

 

Tudo isto me veio ao pensamento com a actual vaga de comentários acerbos sobre o sr. Pinho e o sr. José Sócrates. De repente, o partido que representaram no Governo, desatou numa jeremiada patética, num tilintar de cilícios, num discurso de desculpas e indignações que nos apontam cruelmente a proximidade d eleições.

Quem me lê, nunca aqui viu escrita qualquer condenação do ex-primeiro ministro socialista. Não que eu o considerasse inocente e limpo de toda a suspeita. Nada disso. Mesmo tendo votado, uma única e irrepetível vez, na criatura, só o fiz para esconjurar um outro fantasma chamado Santana Lopes. Que sucedia a um outro agoirento governante chamado Durão Barroso, escafedido a meio mandato para a Europa e para um posto que só lhe caiu em cima por os que mandavam terem achado que que ele, no leme, não estragava nenhum arranjinho a ninguém. E não estragou.

Todavia, uma vez desaparecido Santana do panorama, logo se começou a ver quem era o governante Sócrates. Autocrático, vaidoso, incapaz de permitir qualquer escrutínio à sua vida pública, aos seus diplomas (ai os diplomas, os exames ao domingo, o inglês técnico, a barafunda, a licenciatura que de repente deixou de o ser pelo não reconhecimento da Ordem dos Engenheiros), a vida acima das possibilidades, o despesismo em obras públicas de duvidosa utilidade e pesadíssimos encargos, a gestão danosa, a ideia de que para ultrapassar as contas públicas deficitárias se poderia continuamente recorrer a empréstimos, o alastramento descomedido das PPP, os sinais iminentes da crise que nos iria seguramente cair em cima, o inacreditável aumento da funçanata pública em vésperas de eleições, a tentativa de controlo dos media, os processos milagrosamente parados pela cumplicidade de certas instâncias ligadas à Justiça, tudo indiciava que no reino da Dinamarca lusitana havia algo de podre para não falar de esqueletos no armário. Mesmo quando, se demitiu forçado por um seu ministro das Finanças e derrotado sem apelo nem agravo na eleição seguinte, o sr. Sócrates não percebeu que se impunha, para salvação própria, um período de nojo, muito comedimento, cautela e caldos de galinha.

Nada disso sucedeu.

A criatura foi para Paris “estudar”. Com um empréstimo junto de uma instituição bancária que, à partida, o obriga a uma vida simples, frugal e serena. Nada disso ocorreu.

O homenzinho instalou-se no XVI bairro, o mais caro de Paris. Numa casa que, pelos vistos, agora se aluga a 1000 euros por noite, frequentando (segundo a imprensa da época) restaurantes caros (mesmo se os há bem mais caros em Paris) e uma prestigiada Escola.

De Paris, ao fim de um curto período, trouxe um livrinho parido segundo agora consta por uma mãe de aluguer, no caso um cavalheiro que é professor universitário numa faculdade portuguesa. A obrinha, modesta e inócua, foi alvo de uma campanha publicitária extraordinária e pareceu vender mais do que o finado Saramago. De repente, descobre-se que até isso, esses milhares de exemplares se compravam ao alqueire, ao quintal, à tonelada eram fruto de uma manipulação do mercado. E sempre por um pequeno grupo de criaturas que nem sequer disfarçavam o rasto. Tudo para satisfazer a ensandecida vaidade de alguém que alegadamente era o seu autor.

Durante o processo, descobriu-se que o famoso milagre da Rainha Santa tinha uma espantosa réplica nos nossos tempos. Um “amigo” (e que amigo!) financiara tudo desse as estravagâncias parisienses até à compra dos livros. E comprara bens da mãezinha de Sócrates. Casas e casinhas.

Não sei quem é esse benfeitor Santos Silva. De onde lhe vem o dinheiro. Quanto exactamente investiu nessa amizade à prova de bala, à prova de tudo.

Sócrates, entretanto, é preso à saída do aeroporto. Comoção geral! Condenação enérgica de amigos, companheiros e camaradas. E de muito povo, sempre ele. O dr. Soares visita-o na cadeia. Formam-se caravanas por todo o país socialista para o ir venerar a Évora. Cantam-se à porta da cadeia, cantigas revolucionarias ou quase. Senhoras choram comovidas. Sócrates amigo, o povo está contigo.

Os mais prudentes, de todo o modo uma minoria, refugiam-se no segredo de justiça e juram que são os procuradores e mais perseguidores que trazem cá para fora, gota a gota, pormenores cada vez mais escabrosos dos interrogatórios. E o mundo, aquele mundo, vai-se desmoronando: os processos contra outras pessoas –sempre bem coloadas – acumulam-se. O escândalo cresce. "O deserto” à volta de Sócrates, “cresce”, se me permitem citar Nietzsche.

As boas almas indignam-se não tanto com os eventuais espantosos e inauditos crimes mas com o que escorre cá para fora em cascata. O cúmulo foi a longa reportagem da SIC (da SIC e não do “correio da manhã”). Os jornalistas da estação falam em interesse público. Vicente Jorge Silva e Jorge Wemans – dois jornalista que muito prezo – falam, pelo contrário em jornalismo de sargeta. Será? Melhor: sem esta reportagem saber-se-ia hoje alguma coisa desta sórdida história?

Dizem-me: esta reportagem colocou o julgamento de Sócrates na praça pública. É verdade em parte. Todavia, uma coisa é a discussão política, ética e moral deste caso a todos os títulos escabroso, outra será o julgamento em tribunal. Se entretanto ocorrer no nosso tempo. Não há quem aposte o começo em data próxima e, muito menos, quem duvide que tal processo durará anos e anos. Por mim, que provavelmente já cá não estarei, a coisa nunca terá fim antes de 2030. E estou a ser optimista.

Conviria, porém, analisar melhor esta cambalhota dos amigos de Sócrates. Ao contrário da outra muralha de aço (que ainda hoje recorda melancólica o fim da “revolução”) esta nova espécie de arrependidos defensores do “animal feroz” (Sócrates dixit) vem agora a terreiro manifestar indignação, fúria, desolação. Aresce que foram enganados! Não viram, não ouviram, não souberam ler os sinais evidentes e estridentes do que homenzinho era. Há mesmo uma ex-namorada, jornalista de profissão que num inenarrável vómito auto-punitivo se despe em público e conta a desventura de uma vaga coabitação entre luxos estrafalários de que nunca desconfiou. O amor é cego! Ou parvo.

Com amigos destes, Sócrates não precisa de inimigos. Mesmo se, como se sabe, foi ele o seu principal inimigo e carrasco. Foi petulante, imprudente, impudente e, a la longue, néscio até dizer chega. Estou a vê-lo a olhar para a populaça que o aclama(va) e a pensar quão tonta ela era. E, finalmente, a desprezá-la. Terá dito para os seus botões: “todo o burro come palha, a questão é saber dá-la.”

O seu consulado foi uma septénio de hipóteses perdidas, uma navegação à deriva, um exercício de despudor que, entretanto, ainda não foi posto em causa sequer pelos recentíssimos “arrependidos” e pela sofredora Madalena atraiçoada.

A ex-novel “muralha de aço" nem sequer tem a dignidade da antecessora que, mesmo vencida, conseguiu debandar com certa ordem e recordar entre choro e ranger de dentes o ano ardente em que parecia poder conquistar o mundo.

E a procissão, podem estar certos, ainda só vai no adro. Como nas telenovelas os próximos capítulos hão de ser escaldantes.

(nota à margem: entre os indignados e ofendidos há gente que graças a um buraco na lei tem viajado de e para as Ilhas com dois subsídios que não se complementam mas antes se deviam anular.)

 

 

Au bonheur des dames 619

mcr, 15.05.24

À esquina de um passado reticente

mcr, 15-5-24

"saudade burra " diria o Fernando (Assis Pacheco) que em matéria de ternura não pedia meças a ninguém, aquele humor irradiante, que numa fotografia tirada na zona da Ria ele disfarçava com um manguito, encostado a uma bicicleta, sorriso largo a desdizer o gesto...

hoje acordei assim, com amigos velhos já desaparecidos, a saírem-me ao caminho, como se quisessem avisar-me que também eu, agora um sobrevivente cada vez mais só, estou numa marcha irremediável que muito provavelmente nunca me deixará ver o aeroporto ontem anunciado. Dez anos é muito tempo para um octogenário mesmo se veja à sua frente uma mãe e dos tios que juntos somam quase, quase, trezentos anos. E que ameaçam lá chegar...

Por crcunstâancias nada pertinentes, dei com o texto que republico, dezassete anos depois  e neste blog

Desta feita é o Manuel Sousa Pereira, desaparecido na guerra contra o covid que me bate, com insistência, à porta

ém memória deles e com um abraço mais que fraterno ao Manuel Simas Santos, colaborador deste blog em tempos que já lá vão, volto a republicar um texto com dezassete anos (e uns pós...) 

 

Au Bonheur des Dames 47

 

mcr 18.01.07

 

Três amigos conversam diante de chávenas vazias num dia feio, triste e húmido. Estão numa esplanada envidraçada praticamente deserta, frente a um jardim onde vagueia um perdigueiro atrevido. Discutem a vida, o mundo, eles próprios e as suas circunstâncias.

Basta olhá-los para saber que são barcos que viram muito mar, muitos portos, algumas tempestades e, porque não?, uma que outra brisa marinha, fresca e repousante, brisa com cheiros de terra próxima, um vago perfume de laranjais carregados, de acácias vermelhas, de terra quente depois da chuva.

Três amigos como três marinheiros, três pescadores reformados, olhos que viram os nevoeiros da Terra Nova, os sinos de bordo, as roncas do porto discutem o mundo, a vida, eles próprios.

E há alguma vivacidade, demasiada porventura, nos argumentos que trocam, nas interrupções, nos gestos vivos malgrado as cabeças já brancas como as barbas que, estranhamente, ou nem isso, todos usam.

Noutro tempo, noutro lugar, os ecos da conversa alimentariam a ideia de uma discussão apaixonada, quase colérica. Mas basta ver o cuidado com que se dirigem a um deles, o que espeta a orelha, com a mão em arco como se ouvisse mal, para perceber que daquela conversa está arredado o azedume, o escárnio, o sarcasmo. Há nas pausas que fazem, nos pequenos e raros silêncios que ponteiam uma afirmação mais vigorosa, uma subtil teia de carinho a fazer a sua caminhada.

A amizade é um percurso de obstáculos, semeado de saídas falsas, de becos, alguns alçapões. Exige a quem a pratica um constante cuidado, paciência redobrada e fôlego, muito fôlego. Os amigos, diz-se, são o sal da terra e como o sal necessitam de muita água salgada, algum vento, muito tempo, outro tanto de sol. E da constante labuta do marnoto, lavrador de minerais, alquimista humilde e necessário para que a onda nos chegue à mesa, e com uma pinga de azeite um pão, um tomate e duas sardinhas, nos faça descobrir o milagre quotidiano de uma conversa, com amigos, justamente, mesmo que seja numa esplanada deserta, num dia cinzento e triste, diante de um jardim no inverno, com um perdigueiro ao longe que corre sem saber que três velhos companheiros discutem o mundo, a vida eles próprios.

Depois levantam-se, um deles deixa umas moedas sobre a mesa, vestem os capotes, dirigem-se para a porta, abrem-na sem pressas e seguem lentamente passeio fora até à curva do caminho...

 

* Fotografia de grupo: m.s.p. e m.s.s com m.c.r.. numa esplanada 

 

o título deste texto só foi encontrado depois dele estar escrito: fica no fim que é para aprender!

 

 

estes dias que passam 905

mcr, 13.05.24

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...Zombam da fé os insensatos..."

(um agnóstico vê passar os peregrinos)

 

mcr, 13-5-24

 

Já por alturas das jornadas da Juventude dei aqui conta da gigantesca onde de fraternidade e relgiosidade simples que animava os meus (nossos) compatriotas. E espantava-me com o facto de nunca ter aparecido em Portugal um partido confessional à semelhança da Alemanha ou da Itália. 

É verdade que a DC morreu como, aliás, morreram todos os partidos fundadores da República Italiana post 25 Abril (também lá é dia de festa e de celebração) desde o gigantesco PCI até à DC passando por vários partidos socialistas e radicais mas na Alemanha continuam poderosos os dois partidos confessionais cristãos a CDU e a CSU dominante desde sempre  na Baviera.

São e não são o mesmo partido mas há notórias diferenças entre a CDU (federal) e a sua "filial" bávara, normalmente mais à direita e fortemente católica (eu que lá vivi alguns meses diria mesmo quase só católica  pois a região nunca aderiu à "revolução" protestante. E dou sempre como exemplo a substituição do Guten Tag (bom dia) pelo "Gruss Got" que, em tradução apressada mas fiel quer dizer "que Deus o saúde, ou ainda mais portuguêsmente (e á antiga) "salve-o Deus! 

Por muito bom alemão que se fale -não era o meu caso!- usar o Guten Tag indicava sem lugar a dúvidas um estrangeiro ou pelo menos um não alemão do Sul).

É verdade que, por cá, ainda está muito arreigado  o "até amanhã se Deus quiser" expressão que dá fé de uma fé antiquíssima e popular , mas partidos confessionais de base católica nunca existiram com base popular forte. É mais fácil ouvir falar de "evangélicos" a moldar movimentos políticos basta lembrar a eleição de Bolsonaro no Brasil. Por cá aventou-se a possibilidade daquele estranho partido ADN estar também enfeudado a gente da mesma banda mas nunca ouvi qualquer confirmação disso.

Todavia hoje apenas quero referir-me às multidões (e o termo não é exagerado) que em pequenos o grandes grupos se meteram `estada em marchas que muitas vezes ultrapassavam  percursos de cem ou mais quilómetro a convergir sobre Fátima (curiosamente nome de origem muçulmana!, o mesmo se diga de Mamede e dos vários São Mamede  que dão nome a igrejas e lugares deste país ...

Para um agnóstico que saiu da Igreja (se é que alguma vez lá entrou sinceramente) no fim da adolescência, o fenómeno chama cada vez mais a atenção  e questiona certas ideias feitas sobre uma alegada descristianização  portuguesa. É verdade que há uma crise de vocações sacerdotais, que os chamados católicos não praticantes pululam (pelo menos nas cidades maiores) mas quando chega a hora da verdade é ver como os enterros segundo o rito católico são frequentes. Como os baptismos ou mesmo as comunhões solenes. Nas estatísticas, ateus e agnósticos e ainda indiferentes (queira isto dizer o que se quiser..) são menos de dez por cento (sé que sequer chegam perto dessa percentagem).

Desta vez, diz-se, o número de peregrinos ultrapassou todos os recordes recentes e anteriores. 

Na televisão as reportagens, bem menores do que no caso de um casamento aberrante salpicado de violência de género e de "socialite", viram-se filas de peregrinos em todas as estradas a caminhar serenamente mas empolgados, cumprindo promessas de todos os tipos ou encomendando  pedidos para a sua vida ou futuro deles e dos seus. 

Nunca zombei destes espectáculos, destas pessoas crentes (e não uso a expressão crédulas) que em grupos saíiram das suas aldeias, vilas e cidades, enfrentando as chuvas, algum frio, os pés feridos de bolhas, o cansaço. 

E impressionou-me sobretudo a presença importante de gente jovem, de gente com todo o ar de ainda não ter chegado sequer aos quarenta, isto é a metade dos anos que carrgo.

E, de certo modo, creiam ou não, senti-me próximo deles, não da fé deles mas sua tranquila emas reoluta  vontade de afirmar valores que bem falta fazem em muitos círculos que se tomam por elites políticas, culturais, sociais ou outras. 

E relembro um post antigo em que citando a poetisa Noémia de Sousa, a "mãe dos poetas de Moçambique", escreveu um belíssimo poema também aqui publicado e que termina "Deixem passar o meu povo".

E é disso que finalmente se trata. E é isso que de facto representa Abril. E Maio que o mudou, esse Maio, maduro Maio que muitos anos antes o Zeca anunciava. 

estes dias que passam 904

mcr, 09.05.24

 A  semana em poucas palavras

 

mcr,  9-5-24

 

que um bando de canalhas se lembre de atacar uma casa, forçar a entrada e espancar os moradores (todos estrangeiros)  pode parecer, e realmente é, um crime. Seja e ódio ou não é um crime. Sejam os agredidos nacionais ou emigrantes, é um crime.

Como é um crime andar aos tiro contra uma criança que morreu, esfaquear até à morte um adepto do  outro clube ou até do próprio. 

Os crimes não se tornam mais odiosos consoante as vítimas mas sim consoante a sua específica gravidade e os resultados que daí decorrem.

 

que haja uns desalmados que exploram mão de obra estrangeira incapaz de sequer saber queixar-se por estar ilegal ou desconhecer a lei é crime e não parece ser especialmente diícil verificar as empresas onde labutam esses emigrantes, invadir os campos onde se amontoam de sol a sol, identificar quem trabalha, quem são os capatazes, os patrões, os hospedeiros, os proprietários das casas onde se amontoam pessoas em condições infames.

 

E não é apenas a GNR ou a Polícia quem deve estar atenta a situações que estão à vista de todos.

 Havia uma polícia para controle de fronteiras e  de pessoas que entravam no país. Não seria excelente nem foi capaz de eliminar um par de canalhas que recrutou. Porém, um, dois ou três crimes como o assassinio de um ucraniano que apenas pretendia cá trabalhar, nõ era motivo para acabar com uma corporação policial que estava treinada e eventualmente conseguia controlar sem especiais dificuldades uma situação de crescente procura de Portugal como local de trabalho. 

A medida brutal de eliminar essa polícia, o modo grotesco como o processo se desencadeou o tempo absurdo que demorou, tudo isso conduziu a esta inacreditável e vergonhosa situação de uma tal Agencia para as migrações que se mostra a todos os títulos incapaz de cumprir a missão para que foi criada. Parece que entram por dia mais de sessenta queixas contra essa aberrante agência e as televisões mostram filas gigantescas de gente desesperada para obter uns miseráveis papéis que permitam que os requerentes possam trabalhar, alugar casa, viver com alguma tranquilidade. 

Se é verdade que declarar intoleráveis  o racismo e a xenofobia, não menos verdade é que as boas almas que vociferam bem poderiam denunciar a tal agência e agir em conformidade. 

Aquilo, aquela instituição mal amanhada mas com nome pomposo e provavelmente muitos boys lá instalados já deveria estar a ser investigado pelo MP. Basta ver as filas para concluir que aquilo só serve para burocratas rançosos. advogados cheios de expediente que se aproveitam da necessidade dos que a ela acorrem  para tentar arranjar um atalho que justifique os preços que pedem para resolver o caso em poucas semanas sem o desconforto das filas as madrugadas perdidas, o espctáculo horrendo daquela pobre multidão. 

Um jornal noticia que há 500.000 pedidos de nacionalidade portuguesa! Meio milhão ?será que sequer 10% dos requerentes tem condições par aceder à nacionalidade portuguesa? Saberão falar português ao menos? Tencionam instalar-se permanentemente em Portugal? contribuir para a economia nacional ou o possível passaporte que querem obter serve apenas para, uma vez mais mostrar que Portugal é apenas um mero ponto de passagem para outras europas mais ricas?

A gritaria primária do Chga quanto à chegada maciça de estrangeiros tem uma correspondente numa outra berrata de alminhas sensíveis que ainda não perceberam que permitir a entrada desregrada de pessoas sem as poder orientar, enquadrar, proteger, ensinar a língua e a lei nacionais, apenas provocará ainda maior confusão e incerteza e criará, além do mais,  guetos que, à semelhança da França, mais tarde ou mais cedo explodirão e permitirão a um punhado de imbecis nacionalistas radicais proclamar que todo o estranho é um potencial criminoso.

Já agora: é ou não verdade que no Porto terá havido uma onda de pequenos delitos cometidos por emigrantes? Se houve como é que a polícia se comportou? Se não ocorreu nada de especial, será bom e urgente que tal verdade eja afirmada por quem o pode fazer. 

O silêncio sobre estas questões envenena a vida da cidade e potencia outras possíveis excursões armadas contra gente que nada fez mas  que tem contra ela a cor da pele, a ignorância da língua, uma religião diferente e a óbvia dificuldade em se adaptar a um país que lhes nega um par de documentos que seguramente poderão melhorar a situação em que se encontram. 

Será assim tão difícil?

 

estes dias que passam 903

mcr, 08.05.24

Vamos todos para a europa?

(fica Portugal vazio?)

mcr, 8-5-24

 

Eu devia falar da emigração, da verdadeira, da  que, parafraseando Rosalia de Castro, deixa a terra sem homens/ que possam semear o teu pão.  

Poderia, também perguntar porque é que tantos jovens profissionais com cursos superiores (pagos por todos nós) desandam para as "franças e araganças"  à procura de quem lhes pague decentemente.

Poderia, neste último caso, inquirir dos resultados de uma medida do anterior Governo que tentava demover a multidão que deixava o torrãozinho de açúcar acenando-lhes com umas fracas migalhas. Voltaram à pátria madrasta alguns? quantos?

Deixo essas questões para melhor ocasião porque hoje apenas quero referir alguns curiosos candidatos às eleições europeias.

Poderia começar pela AD já que lança para Bruxelas um jovem seguramente inteligente e talentoso a quem só falta algo que poderia  (que é!) ser relevante: prática política.

Claro que Sebastião Bugalho poderá surpreender e bem que o desejo, Não por simpatia partidária (que é nula) mas apenas por ele e pelo país que bem merece deputados europeus capazes. 

De todo o modo será interessante ver como é que um comentador se vai portar naquele circo de feras.

Se Montenegro queria surpreender a malta, atingiu o seu objectivo . Assim consiga atingir os restantes ou seja governar sem apanhar pela frente o mar encapelado das coligações negativas que, queiram ou não socialistas e cheguistas, está a ser  o pão nosso de cada dia.

E já que falei nos do PS, devo dizer que conseguiram ser ainda mais surpreendentes do que a AD.

Então não é que atiram para o meio da praça três recém eleitos deputados que nem tempo ainda tiveram para aquecer os seus lugares no hemiciclo!

Convenhamos: quem os elegeu e eles foram cabeças de lista em círculos importantes, não se irritará?

Todos sabemos que da cabazada de candidatos que cada partido apresenta nas legislativas, vários, muitos, e sobretudo os mais conhecidos ou os mais competentes só entram em S Bento por breves dias pois o seu destino é o Governo e um par de altos cargos.

(e deixam os seus lugares a outros tantos eleitos que normalmente só se distinguem pela geral mediocridade e que tem por tarefa levantar e sentar o dito cujo à ordem do dirigente da bancada).

Todavia, no caso em apreço, está/va) Assis prometido presidente da Mesa da AR nos últimos dois anos de legislatura; está bizarra craiturinha que ministrou a saúde nos tempos da pandemia amparada (e de que maneira) pelo almirante Gouveia e Melo e a sua excelente equipa de militares dos vários ramos. 

E já que se fala disso quero, outra vez, vir dizer quanto me assombrou o trabalho, a dedicação, o sacrifício e sentido do dever de médicos/as, enfermeiros/as, técnicos/as de saúde e restante pessoal hospitalar. E recordar que, mesmo feroz e estupidamente combatidos, houve um claro apoio dos "privados" da Saúde que responderam honradamente aos pedidos e solicitações do SNS.

Toda a gente recorda como a azougada ministra se referia a eles, situação que, subitamente, mudou quando já fora de funções veio renegar boa parte das tolices que antes bolsara.

Mas, nisto de surpresas, o PS não se ficou por aqui: não reaproveitou nenhum dos seus anteriores eleitos par o PE e as explicações frouxas pouco imaginativas dadas não convencem senão os mais fanáticos. Não foi uma limpeza foi um tsunami que levou um pobre diabo chamado Marques e uma excelente política de seu nome Maria Manuel Leitão Marques  que já mostrara o seu talento aquando ministra.

Diz.se por aí que esta jogada desta artilharia pesada eleitoral é consequência do receio de um mau resultado nas europeias.  Assis voltaria a salvar Pedro Nuno dado que é reconhecidamente um político capaz (e, no caso, com experiência pois esteve no PE entre 2004 e 2009).

Esquece-se. porém que há (havia) um compromisso solene com os que o votaram para a a AR e que, ainda há poucos dias se sabia que nessa casa estava destinado a presidi-la daqui a dois anos.

Não vale a pena perder muito tempo com os outros partidos, incluindo o PC que atira para a frente um destacado político que, porém, perdeu uma eleição importante há um par de anos De todo o modo, livra o actual Secretário Geral da sua incómoda presença mesmo se silenciosa. Tinha tudo para ocupar esse cargo excepto a origem e a situação de classe. A regra de ouro do partido deixa que qualquer operário mesmo já longe da fábrica ou da oficina, relegue qualquer intelectual mesmo brilhante. É com eles.

O BE empandeira a anterior líder para Bruxelas deixando assim tempo e espaço para a actual se afirmar sem essa perturbante sombra. É bom lembrar que a anterior estrela bloquista do PE regressa a penates. Escolha própria, Repescagem estratégica? A resposta importa pouco porque o BE não parece vira ter uma presença estrondosa em Bruxelas e Estrasburgo. 

O Livre meteu-se num pequeno sarilho dada a sua surpreendente mania de apelar a votos incontrolados, "de fora" (pelo menos do aparelho). Pior, tentou, mal e tardiamente, emendar a mão mas o escândalo foi tal que é obrigado e enviar um sr Paupério que, seguramente, não estava na lista de preferidos. 

Nãoé surpresa o escolhido da IL. Também aqui, independentemente das qualidades de Cotrim de Figueiredo que são muitas e reais, a sua ida para o exterior permitirá à nova direcção ir-se afirmando.

Não vale a pena tentar perceber quem é quem no Chega na lista preparada para a europa. Se o eleitorado continuar fiel, eles serão eleitos mesmo se ninguém lhes conheça percurso político, pensamento internacional sequer se são ou não criaturas que acreditam na Europa ou apenas devotos do sr Ventura. O partido poderá ser um balão de mau ar e muito vento suão mas não será ainda desta vez que rebenta. É pena, mas é assim mesmo.

Resta o PAN mas não parece ter especiais hipóteses neste prélio.  Não vale a pena perder tempo com este ajuntamento que, cada vez mais, se vai diluindo em pouca coisa ou nada. 

Nisto tudo, apenas há um problema: em quem votar?

o leitor (im)penitente 268

mcr, 07.05.24

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Bernard Pivot 

(o prazer de ler, de pensar os livros e de conversar sobre eles)

mcr, 7-5-24

 

Eu poderia intitular est post como " quando o bridge fazia um intervalo" para explicar como alguns amigos e parceiros de bridge paravam tudo na hora em que na TV5 aparecia o programa "apostrophes" uma deliciosa conversa sobre livros e autores dirigida por Bernard Pivot, um cavalheiro borgonhês, apreciador da boa comida e dos melhores vinhos, afável, culto (cultíssimo) educado, jovial  e leitor impenitente.

Nessa hora amena assistíamos maravilhados a uma conversa simples e amável sobre livros  de autores que, a partir desse momento se tornavam quase vedetas ao mesmo tempo que os livros em questão aumentavam exponencialmente as vendas.

nós mesmos, ou pelo menos eu, rapidamente encomendávamos um que outro livro e, ao passear pelas estantes cá de casa dou com inúmeros romances provenientes dessa viagem pela literatura ficcional. 

o mérito de Pivot era conduzir dom enorme facilidade uma conversa sobre temas por vezes obnóxios tornando a entrevista com o autor quase transparente. tusas aquelas emissões decorriam sob o signo da bonomia, da inteligência despretensiosa, do humor e do respeito pelo telespectador. 

claro que, de permeio, há mil historietas divertidas quase todas, como o "chá" com que Nabokov acompanhou uma sua aparição e que, mais tarde se soube ser um excelente whisky, ou a tremenda bebedeira de Bukivsky que quase saiu de gatas do palco, Houve ainda o caso de um reputado autor francês que entendeu relatar uma relação com uma adolescente  sem perceber que aquilo por muito escrito que fosse (e era!...) não escapava à classificação de abuso de menores. Aliás, nessa mesma sessão uma senhora qualquer coisa Bombardier (cuja escrita não se comparava nem de perto nem de longe o referido autor) entendeu, e bem, dizer-lhe na cara o que pensava do assunto.

A partir de um par de anos, o prestígio de "apostrophes" e de Pivot atingiu um tal patamar que havia editores (quase todos se bem me lembro) que anunciavam com enorme antecipação que o livro X seria alvo de discussão, aumentando desde logo a venda. A coisa chegou a um tal ponto que, certa vez, uma entrevista com claude Hagege fez disparar uma corrida a obra dificílima deste autor que teve, depois, de vir prevenir os  leitores sobre as características dessa obra quase reservada a especialistas. Lembro-me que, durante a conversa hagége se revelou um excelente comparsa e obviamente suscitou um profundo interesse pelo que escrevi.

Não recordo se foi nessa mesma emissão que "conheci" Raymond Devos, uma extraordinário autor, actor e diseur que conseguia ser um fabuloso "jougleur" da sua língua. Terei, até, um dvd onde todas as suas enormes qualidades são visíveis e apaixonantes. 

Pivot recebia com requintada urbanidade todos os aeus convidados e estará na origem do grande sucesso público de Marguerite Duras que, a propósito de "L' amant" se vê projectada para a grande venda dos seus livros e para a popularidade.

No meio do enorme número de convidados  (Soljenitsine, por exemplo e pela primeira vez em França) aparecem outras figuras desde Mitterand a  Paul Bocuse, um dos pais da "nouvlle cuisine" ou uma série de críticos ingleses ligados aos grandes vinhos franceses. 

Destaco por último alguns dos grandes convidados que Pivot muito estimava e frequentemente convidava: Jean d'Ormesson, Wiliam Boyd (Pivot promete devolver o dinheiro a qualquer leitor que não tivesse gostado de "Comme neige au soleil" !...)  ou Phippe Sollers. Por cá andam todos descobertos após recomendação desse homem que sabia ler, lia com entusiasmo, sabia ensinar a ler e sabia pensar os livros, a literatura e a vida sempre tornando tudo simples, divertido, apaixonante.

Morre quase aos 090 an0s deixando um rasto de alegria e de prazer. 

Felizmente, a frança reconheceu-o em vida, premiou-o, tornou-o famoso ao ponto de Pivot ter entrado na Academia Goncourt sem ser escritor ou escritor profissional.

quanto a mim, sinto esta morte como a de um amigo de longa data, um mestre de leituras, um descobridor de horizontes  revelados ao longo dos anos de "apostrophes" e de "bouillon de culture"  

 

* não sei se andará disponível a bela entrevista feita a Sofia de Melo Breyner Andresen. Vale bem a pena como vale a pena procurar todos os dvd destes programas que provavelmente ainda não estarão todos esgotados

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