Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Au bonheur des dames 624

mcr, 30.06.24

Unknown-1.jpeg

muita água ainda vai passar sob o Pont-neuf

mcr, 30-6-24

 

Os primeiro resultados das eleições francesas  estão aí e uma primeira (e nunca rigorosa) avaliação permitem verificar duas coisas 

em primeiro lugar, houve uma corrida excepcional às urnas, coisa que não se verificou nas últimas europeias.

Suponho que há que remontar aos anos 70 do  século passado, altura em que a eterna extrema direita francesa esteve sujeita a um cordão sanitário que a Direita civilizada, o Centro e as Esquerdas.

(o PS crescia, o PC mantinha uma forte presença e a Direita ainda vivia dos rendimentos da figura de de Gaule.  A direita radical era presidida pelo pai da srª Le Pen, que, de resto, foi afastado das lides políticas pela extremosa filha)

Em segundo lugar há que ter em linha de conta o processo eleitoral a duas voltas, a possibilidade de candidaturas tripartidas, de desistências a favor de um dos dois restantes candidatos.

No caso que interessa, barrar o caminho ao lepenismo, não só é pensável que os adeptos de Macron e os republicanos se unam, mas também que haja desistências mútuas entre o Centro e a nova aliança das Esquerdas, cuja primeira (e inquietante) figura continua a ser o sr Mélenchon, criatura a quem, pessoalmente, jamais compraria um carro em segunda mão, Basta-me recordar as anteriores legislativas e que aqui escrevi na altura)

 

A complicada máquina eleitoral francesa, o facto de haver quase 400 hipóteses de duelo no próximo domingo  permite pensar que não obstante ser evidente um forte avanço da direita radical, nada está perdido para o campo democrata e europeísta (mesmo se à Esquerda também haja reservas importantes à UE e ao euro.)  

Sigo apaixonadamente as eleições francesas desde 1960. Posso dizer que raras vezes ganhei mas neste momento tenho o meu escalavrado coração nas mãos que também já não são tão seguras como foram. 

Vai ser umas emana agarrado à TV 5 e ao "Le Monde".

Se uma ida a Lourdes a pé fizesse milagres, estaria já na estrada mas a minha fé é ainda mais fraca do que os meus negros pressentimentos. 

De todo o modo até ao lavar das cestas ainda é vindima...

E acredito que  o velho Pont-Neuf , que só é novo porque foi a primeira ponte de pedra em Paris, já viu casos bem mais desesperados e resultados surpreendentes

(basta recordar a esmagadora vitória gaulista depois do Maio de 68 quando tudo parecia indicar uma vitória da Esquerda. Enganámo-nos redondamente!  E perdemos...)

Esperemos que (la Seine) 

se la coule douce

................................

en passant comme un rêve

au milieu des mystéres

des misées de Paris

(Prévert)

 

 

au bonheur des dames 623

mcr, 28.06.24

Unknown.jpeg

Costa deu à costa dos milagres

mcr, 28-6-24

 

 

O dr António costa nasceu com o dito cujo virado para a lua

em 1915 perdeu umas eleições mas acabou primeiro Ministro graças a uma fada madrinha  que na altura chefiava o PCP e que, já depois do socialista compungido ter declarado a derrota, lhe veio propor aquilo que depois se chamou geringonça.

Mais tarde, houve um enternecido Presidente da República que andou com ele ao colo a tal ponto que, pouco antes das presidenciais Costa proclamava-se seu fidelíssimo eleitor!...

Numa birra que ainda hoje parece representar o início da queda do BE e do PC, estes dois partidos entenderam chumbar o Orçamento (aliando-se "contra-natura" ao PSD). 

essa toliçada permitiu uma surpreendente maioria absoluta  que, mais surpreendentemente ainda, o PS desbaratou de forma inglória com mais de uma boa dúzia de casos e casinhos.

Entretanto, o MP abriu um processo a um par de pessoas  em bo meio de uma notória balbúrdia desprestigiante para a magistratura, houve alguém que conseguiu colocar a cereja em cima do bolo da incompetência mais gritante dos últimos anos da Justiça portuguesa. Um parágrafo insano em que se noticiava que o 1º Ministro era arguido num processo sem pés nem cabeça. 

Costa sentiu-se e demitiu-se. 

Até ao momento apenas foi ouvido como declarante (e não como arguido!!!...)o que diz muito do processo e dos processos de algum MP.

Todavia, verificou-se que um cargo de topo europeu estava ao seu alcance. 

Costa, se não tivesse isdo estupidamente acusado estaria a governar e nunca conseguiria candidatar-se a esse lugar  a menos que copiasse a atitude de Durão Barroso que entendeu que a maçada de governar a "fermosa estrivaria" poderia ser muito favoravelmente substituída por um pingue lugar longe da pátria madrasta. Neste caso a fada madrinha foi uma srª Procuradora Geral  da República que penosamente vai governando aquela barca sem leme nem velas que, aliás Costa e Marcelo  revelo de Sousa entenderam nomear.

Por aqui se vê como uma série de azares acabem numa gloriosa ascensão ao Olimpo da UE

Poderíamos falar de "derrota em derrota até à vitória final  ou de como não há mal que não acabe em bem. Há um ano sabia-se da vontade de Costa e da impossibilidade em a concretizar. Agora é o que se vê.

Cost vai para Bruxelas e arredores apetecíveis, a srâ Procuradora para a jubilação (e não para a reforma... o que tem o seu quê de caricato) o dr Rebelo de Sousa rejubila depois de o ter demitido , esquecendo o pedido da cabeça de Galamba, a srª`ex-presidente da TAP vai receber uma farta dose de euros porque afinal o despedimento com justa causa foi político  e a paisanagem pagante vai entrar em despesas

o dr Panfloss, cavalheiro muito cá de casa, é que tinha razão tudo vai bem no melhor dos mundos possíveis.

 

( Numa coisa o sr Presidente da República acertou: o optimismo irritante de Costa. além de provar a razão de Leibnitz, levou a melhor contra tudo e todos. É obra!)

* na vinheta: Candide e Pangloss

 

 

estes dias que passam 918

mcr, 27.06.24

o leitor desconfiado

mcr, 27-8-24

 

 

Um leitor entendeu contestar um texto meu onde eu referia que a universidade fornecia à PIDE cópia ou uma das fotografias obrigatoriamente exigidas no acto de matrícula.

Vê-se que o leitor sabe pouco do que se passava nos subterrâneos da repressão à liberdade nos anos escuros.

Aqui está uma ficha enviada para uma delegação da PIDE em Janeiro de 1969 ou seja antes da crise académica (que eclodiu a 17 de Abril desse ano) com a fotografia (ou cópia dela)   que fora entregue na Secretaria Geral da UC no meu segundo ano de frequência. 

Esta fotografia já tinha vários anos (eu teria 14 ou 15 à data dela) e na nota refere-se a minha primeira prisão (Maio de 1962) por ocasião da crise de 62

Efectivamente nesse ano, e no mês já referido foram detidos e enviado para Caxias 44 estudantes (4 raparigas) escolhidos entre os cerca de 200 que ocuparam a sede encerrada da Associação Académica. Como curiosidade: nessa altura (1962) fui fotografado em Caxias  e só uma péssima (e feliz) burrice policial  não deu pela diferença.

Pelos vistos, em 1969 (Janeiro) terei sido alvo de mais uma discreta vigilância e, por razões que desconheço, os Serviços Centrais enviaram para a Delegação do Porto  a ficha que junto ao texto. Todavia, nesse ano, eu ainda frequentava a faculdade de Direito, em Coimbra, cidade onde, segundo outra informação  policial, eu exerceria a minha  temível missão oposicionista!...

 

Imagine-se como seria a PIDE hoje com os meios que existem.

O leitor em causa, universitário e académico, achava impossível qualquer colaboração da Universidade com o sistema repressivo. Provavelmente não recorda pi desconhece que a U Lisboa tinha contratados seguranças (os "gorilas") que vigiavam estudantes, professores e pessoa; que em Coimbra havia informadores no pessoal, desde um bedel até vários contínuos e archeiros; que no Porto , muitos dos funcionários das secretarias universitárias tinham ligação como informadores, à polícia. Um dos primeiros casos de defesa política que tive foi justamente a defesa de um estudante de Economia (?) que durante s crise dos "coros universitários  invadiu umas sala de aula. O processo foi correcional e para pasmo de todos os meus três colegas e eu conseguimos uma sentença absolutória, caso único, que eu saiba, nestas lides.

Quem em 74 andava pelos 18 anos está agora (se vivo/a) à beira dos 70. Ou seja, testemunhas vivas e com memória começam a escassear. É por isso que se deve travar o passo às criaturas que nada sabendo daquele clima deletério se arrogam o direito de fazer comparações parvas e descabidas.  

Digitalização 6.jpeg

au bonheur des dames 622

mcr, 25.06.24

 

Há asneiras que estragam a melhor causa

mcr, 24-6-24

 

A drª Constança Urbano de Sousa, infortunada ex-ministra da Administração Interna, achou por bem citar a PIDE no que toca às escutas usadas em larga e desconforme escala. 

Segundo a citada tal uso desproporcionado de escutas “era o que a PIDE fazia”.

Eu não sei (e também não me dei ao trabalho de ir ver ) qual será a idade da autora deste dislate.

Aposto, dobrado contra singelo que se, porventura nasceu antes de 74, foi por poucos anos. 

Hoje em dia, verifica-se que pouca gente sabe como funcionavam as instituições do Estado Novo, mormente a censura ou a PIDE. 

Nos anos 60 e 70 (os únicos que posso testemunhar) a PIDE lá ia fazendo o que podia para saber o que se passava nos meios oposicionistas. É verdade que já havia “escutas” mesmo se, dado o atraso tecnológico até em relação ao que ocorria noutros países, as escutas fossem (felizmente) pouco eficientes. 

A PIDE recorria a outras fontes de informação notoriamente mais eficientes.

Em primeiro e destacado lugar, havia uma multidão de informadores (todos ou quase todos)  a soldo da polícia que forneciam abundante informação sobre cidadãos desconformes com o regime. 

Provavelmente, havia um número ainda maior de indivíduos que por seu livre alvedrio diligentemente denunciava conhecidos, vizinhos, familiares. No meio disso, devem acrescentar-se as denúncias  por vingança que, em algumas “memórias” de agentes da PIDE são referidas, também não eram poucas.

Uma outra fonte de informação largamente privilegiada pelos polícias era a obtida nos interrogatórios feitos a detidos e pode mesmo afirmar-se que tais interrogatórios (a maior parte das vezes com recurso a violência desenfreada ou aos métodos “científicos” do “sono” e da “estátua”) eram outra preciosa e abundante fonte de informação policial.

Aliás, e ainda neste capítulo, convém lembrar que, mesmo sem violência excessiva, bastava o medo. A policia recolhia assim farta dose de notícias sobre a vida da oposição e dos seus principais membros.

De cada vez qque a polícia identificava e prendia clandestinos conseguia abundante informação nas casas dos mesmos porque em algum lugar havia que manter os arquivos . as informações, os documentos necessários à acção política.

(lembraria ainda que no simples acto anual de matrícula nas universidades, os estudantes eram obrigados a fornecer fotografias  que obviamente engrossavam os ficheiros policiais. Ou seja, universidades e diferentes instituições públicas entregavam diligentemente ao aparelho repressivo meios importantes para despistar possíveis oponentes. Não recordo se, depois do 25 A se fez alguma investigação neste campo. 

Finalmente, e como aqui mesmo se ilustra, os CTT forneciam  uma extensa gama de serviços, advertindo as autoridades sobre cartas vindas ou enviadas por gente suspeita que, lá mesmo, dentro das estações eram abertas, copiadas e finalmente entregues aos destinatários sem que estes conseguissem perceber a violação da sua correspondência.

 

Tudo isto, este extenso arsenal de recolha de provas era acompanhado pelas detenções  mesmo quando nada, ou muitopouco, parecia haver contra os presos. 

Pela parte que me toca experimentei pelo menos duas vezes desse tratamento. A primeira pela PJ (que nunca foi inocente no que toca à repressão política) e que verifiquei durante a detenção sofrida em Coimbra, nos cárceres privados da PJ nos subterrâneos do Tribunal Judicial

Tive o raro e pouco recomendável privilégio de bater o recorde de duração de prisão de um estudante durante a crise académica de 69. Aliás, só fui libertado porque esta polícia apesar de tudo respeitava prazos processuais.

A segunda (4ª prisão sofrida) ocorreu em Caxias, depois de largos dias de estadia no último andar da sede da PIDE. 

Lá tive de fazer das tripas coração e aguentar duas longas sessões de “estátua e sono”. Ainda hoje, tenho por certo que o que me salvou de uma qualquer confissão foi apenas o sentimento de vergonha que me atormentava caso “falasse”. Em boa verdade, a PIDE também disparou para o lado no que toca à minha presumível culpabilidade. Quando percebi que me tentavam acusar de pertença a um grupo político que jamais frequentaria, consegui aguentar os restantes interrogatórios sem especial preocupação a pontos de um miserável inspector, de seu nome Tinoco, ter chegado à extraordinária conclusão de que eu era “um revolucionário por conta própria” sem ligações políticas a grupos clandestinos (sic). Saí dos quartinhos do último andar da António Maria Cardoso e fui estagiar por alguns meses na estância termal de Caxias.  Depois, deixando uma caução 50% superior aos restantes presos da mesma fornada fui mandado embora  para aguardar um processo que nunca veio (ou que o 25 A anulou).

Desculpar-me-ão esta nota biográfica mas apenas serve para provar que conheci bem, demasiadamente bem, as usanças das polícias. E digo polícias porque todas colaboraram na mesmíssima e despudorada máquina repressiva.

A senhora Urbano de Sousa faz muito bem, nunca as mãozinhas lhe doam, em apontar a canalhice (e estou a medir as minhas palavras) de andar anos e anos em escutas, como um vulgar cheira merda teimoso (e vicioso).

Poderia também referir o uso e abuso da prisão preventiva de que há bem pouco (caso da Madeira) tivemos prova insofismável

Poderia, igualmente, condenar a surpreendente constituição de arguido sem que este, durante meses, seja sequer confrontado com factos e provas do seu eventual delito.

Esta prática atira para a praça pública pessoas que podem ver a sua vida largamente prejudicada (e aqui cabe o caso de António Costa ou mesmo o de Miguel Albuquerque). 

A sanha persecutória de certas criaturas, protegidas pelo seu estatuto e definição de entidades judiciais, é agravada pela falta de comunicação de que há hoje abundantes exemplos.

Aí sim, poder-se-ia presumir de uma qualquer aparência de semelhança com os antigos métodos mas usar o nome da PIDE em vão é uma patetice, para não dizer um abuso ou, pior ainda, uma estupidez. 

Em Portugal há um determinado número de palavras e expressões cujo uso e abuso as faz perder qualquer utilidade e significado. A existência florescente do Chega prova à evidência que a acusação de fascismo não convenceu um milhão de portugueses. Também outro milhão fez ouvidos moucos à acusação de colaboração com o mesmo fascismo e com a direita radical, imperialista, capitalista e mais uns quantos “istas” que já não mobilizam ninguém. Aliás, também alguns, bastantes conservadores, acham que chamar comunista a torto e a direito tem eficácia. Não teve e continua a não ter.

Não faço ideia se a sr.ª Urbano de Sousa tem influência que se veja para dar aulas de ideologia a quem quer que seja. Confesso que a julgava retirada das lides mas pelos vistos, ainda há quem a entreviste. Curiosamente na mesma altura em que o Dia de Portugal  foi celebrado em Pedrógão. Pelos vistos, já ninguém, se lembra do seu papel naquela tristíssima história. 

 

Vivemos, apesar de tudo, num regime democrático. As instituições funcionam, os direitos humanos são respeitados mesmo se, como é o caso, se verifiquem disfunções  que poem e devem ser anuladas. Todavia, não parece razoável nem decente vir à baila com situações e métodos do passado para qualificar  um instituição que, seguramente, é útil, necessária mesmo se haja deficiências na sua actuação. Aqui a questão é mais de pessoas do que afirmar que tudo anda sem rei nem roque. Um cidadão anónimo e pouco informado poderá achar muito adequado falar em pide ou em KGB ou outra coisa qualquer. Uma ex-ministra, deputada, professora universitária não pode. A menos que, como outro sinistro professor de direito agora na política, também use de má fé. 

 

junta-se uma amostra de relatório de intercepção de correio feita pela PIDE. A carta e´ do signatário e estava endereçada a João (Granjo) Pires (Quintela), refugiado político em Paris.

Consta do  pro cesso 49256/S.R. referente a este escriba e foi encontrado por militares milicianos que tomaram a sede da DGS no Porto nos dias imediatamente posteriores ao 25 A. É pelas minhas contas o 14º processo de que fui alvo sendo que todos os restantes estão depositados na Torre do Tombo para onde este seguirá logo que o fotocopie devidamente

 

Digitalização 4.jpeg

 

o leitor (im)penitente 270

mcr, 23.06.24

Ler desenfadadamente

mcr, 23-6-24

Sou, para além da livralhada,  um leitor de jornais e revistas, E isso desde sempre. Logo que tive direito a mesada (sempre exígua a meus olhos e seguramente bem diferente do que hoje se concede a filhos e netos) comecei a comprar o jornal e rapidamente a coisa cresceu desmesuradamente. Em Coimbra, ainda caloiro já me aventurava no Diário Ilustrado, depois no Diário de Lisboa e arruinava-me com a "Seara Nov"a e a "Vértice". Pouco depois comecei a ler "Le Monde" e "L'xspress" na altura a mais importante publicação anti-guerra da Argélia.

Ainda hoje, andam cá por casa algumas dúzias de revistas francesas, italianas e espanholas multiplicadas por um número gordo de exemplares cobrindo variadíssimas matérias. No meio disto tudo, livrei-me de várias publicações m-l, francesas e italianas bem como de umas centenas de exemplares da jornalada radical dos anos 74 e seguintes que foram directos para a meritória organização do Zé Pacheco Pereira.

Num malfadado incêndio perdi o Comércio do Funchal o que me doeu bastante tanto mais porque com o jornal se foram duas gravuras de Picasso (assinadas e caríssimas...) e meio metro de dossiers carregados de textos meus  destinados a revistas pré 25 A e quase todos cortados pela Censura. 

Tudo isto, afinal, para chamar a atenção para um texto de Ana Sá Lopes hoje publicado no Público. ASL  toca o tema da comissão das gémeas e defende, bem, muito bem, a mãe que fez tudo o que pode para salvar a vida das crianças e proporcionar-lhes uma vida decente. como eu, ASL critica com dureza o papel inquisidor de Ventura e surpreende-se com o triste silêncio dos restantes inquisidores que, na prática, acabaram por apoiá-lo. 

Estou à vontade para referir ASL, pessoa que leio sempre e de que discordo muitas vezes. digamos que me desagrada um em cada três textos desta jornalista. 

O mesmo aliás, poderia dizer de inúmeros articulistas do Publico e do Expresso para só referir portugueses. 

Entendo  que um jornal, qualquer jornal deve  (ou pode) incluir na sua edição vozes divergentes da maioria ou simplesmente de leitores como eu. Mesmo discordando, acho que me ajudam a melhorar os meus pontos de vista e muitas vezes gostaria de os confrontar com a minha opinião mas isso com jornais é complicado (pelo menos para mim que já não estou para grandes incómodos...). Vale-me o blog onde vou dizendo o que penso, vingando-me assim de uma dúzia de anos em que escrevi sujeito a uma censura  que cortava direito.

Suponho que esta minha repulsa pela actual Comissão parlamentar não terá os favores de vários leitores mas conforto-me com a opinião de uma jornalista de que discordo um bom par de vezes.

Isto faz-me, desde há muito, perceber que leitores deste blog nem sempre concordem com o que vou escrevendo . Basta-me o facto de me lerem para lhes estar reconhecido como eu estou a todos quantos vou lendo, muitas vezes desconsoladamente nos jornais que compro. 

A opinião publica faz-se disto destes acordos e desacordos, desta fuga ao pensamento único, à "verdade a que temos direito" lema deum jornal que servia apenas um certo pensamento mais único que que o partido que o sustentava e que, obviamente, morreu em pouco tempo. 

E, já que estou com a mão na massa,  devo acrescentar que ao longo de uma vida já bem longa mudei de opinião mais de uma vez, abandonei muitos dogmas e verdades feitas a que fui adicto porque o tempo e a troca de opiniões me foram permitindo  corrigir pontos de vista, acertar agulhas, repudiar certezas absurdas. Basta ler lá mais para trás para perceber o que digo.

De todo o modo, tenho (ou penso ter) o cuidado de explicar ao que venho e de fundamentar as minhas opiniões. 

Esta foi uma das vezes que me permitiu mostrar que para além de discordâncias por vezes fortes há lugar para um elogio e um apoio.  

au bonheur des dames 620

mcr, 22.06.24

thumbnail_IMG_1594.jpg

Confissão de um (quase) inflo-excluído

mcr, 22-6-24

 

comecei a escrever beste blog em 2005, muito provavelmente, por esta época. vinte anos portanto. 

A coisa sucedeu por absoluto acaso, numa época em que os blogs estavam na moda. O meu amigo e companheiro de estudos desde o4º ano da faculdade, Manuel simas Santos já cá estava e com o beneplácito do Lemos costa e de mais outros residentes , ,convidou-me para integrar o primeiro grupo de Incursões.

Na altura, ao saber que isto era um blog de juristas, avisei que já deixara os ínvios caminhos do Direito há 30 anos e que já não dava (nem conseguia dar) para esse peditório.

Responderam-me com generosa amabilidade que  podia escrever o que bem me desse na real gana. 

E foi o que fiz, desmultiplicando-me em varias séries segundo os temas que me interessavam desde a mera divulgação cultural até |as notas de leitura (o leitor(im)penitente) e mais tarde entendi criar outro heterónimo (d'Oliveira) para escreversó sobre política numa espécie de diário (diário político). 

Na altura, havia um identificador dos bloggers onde além do nom de plume (mcr, e d'Okiveira) constav uma copiosa série de dados identificativos entrev quais o nome da criatura escrevente.

Mais tarde, vários anos mais tarde, o blog transferiu-se com armas e bagagens para o SAPO onde ainda hoje reside. 

Entre varis problemas perderam-se alguns textos meus que ficaram numa espécie de limbo sob a designação "incursões".

Todavia, não são muitos , algumas dezenas, talvez uma  centena, O resto continuou e basta ir a um qualquer mês ou ano para dar de caras com mcr ou d' Óliveira. Com, porém um problema. Quem fez a transferência do blog para a nova casa misturou os dois nomes e nunca mais foi possível separá-los convenientemente. 

Eu sou um info-excluído sans peur ni reproche. Nasci cedo demais para a informática e há coisas que nunca fui capaz de pesquizar no blog desde quantos leitores me aturam até à utilização de músicas ou à indicação de textos alheis que se podem sugerir com grande (dizem-me...) simplicidade.  Burro velho não aprende novas linguagens tecnológicas ou, no meu caso, ´demasiado preguiçoso  (para além de ignorante) para se dar a tais trabalhos. 

De todo o modo há um bom cento de textos que ao longo dos anos entendi terem especial responsabilidade para não se limitarem ao mcr pelo que tive o cuidado de assinar por inteiro mesmo sabendo, ou pensando saber que bastaria ir a uma secção do blog que diz perfil para saber quem é a criatura escrevente.

Aliás, durante todos estes anos, leitores houve que me reconheceram atrás das minhas iniciais  e que se me dirigiram em comentários. comentários que nunca censurei, e a que sempre ou quase sempre tive o cuidado de responder. 

Entretanto, um  leitor provavelmente recente entendeu acusar-me de escrever anonimamente!

Devo dizer que fiquei indignado pois tenho sobre o anonimato uma repulsa absoluta. em boa verdade, mesmo quando por motivos profissionais me aparecia uma denúncia anónima, a minha reacção era a de Cailo: "envia-la para o ventre da mãe terra pelo esófago da latrina 

Respondi ao leitor aconselhando-o a procurar na já referida secção dos perfis tudo o que quisesse saber sobre mim-

E quando depois de publicar a resposta entendi remexer na ferida e provar a esse leitor que falara de mais, eis que me dei conta que na versão actual do "incursões" os ptais perfis estão lá para enfeitar. Ou então não soube procurar convenientemente, coisa mais do que possível para um info-excluído do meu gabarito. 

Resolvi ir aos blogs mais antigos estacionados na outra plataforma e zás, lá apareço de nome inteiro mesmo se, quatro quintos do perfil tivessem misteriosamente desaparecido. Restam. à vista desarmada, apenas as divisas que me permiti adoptar. mcr, tem por divisa "à polícia e aos costumes diz nada!, e tem muito a ver com as minhas actividades políticas entre 1960 e 1974. Não serei grande personalidade mas gabo-me (e há 14 processos da PIDE nna Torre do Tombo para o provar) que este cidadão nunca citou ninguém nos vários e penosos períodos em que este detido e foi longamente interrogado. Devo, no entanto, dizer que nisto também se pode ter sorte e eu tive-a em dose dupla- A polícia nuca me apanhou no que mais importante eu fazia eeu também não era criatura para andar por aí a proclamar actividades clandestinas. Na generalidade, as quatro prisões que sofri deveram-se mais a atitudes públicas, manifestos assinados, presença em manifestações e reunião oposicionistas, do que a algo que também fiz mas que nunca foi descoberto. 

Havia num processo dos já citados um extenso rol de textos que foram censurados em várias publicações, mormente na revista Vértice e no "Comércio do Funchal" de que nem eu me lembrava, nem tinha ´cópia (e continuo a não ter...). Há mesmo, uma capa de um livro que organizei e traduzi  e que foi só pela capa imediatamente proibido. Convém explicar que no caso, o mérito é do capista que nunca conheci e não meu. O livro foi publicado à mesma pela Centelha, uma editora de que fui sócio e fundador. Vai agora a fotografia do livro a servir de vinheta.

Portanto e para concluir: Escrevi dois livrinhos, colaborei num terceiro deixei colaboração em jornais (expresso, O Jornal, Jornal de Notícias, Comércio do Porto e Comércio do funchal ) e fora um dos livros em que usei outro pseudónimo  apenas porque tal era necessário para um concurso) sempre usei o mesmíssimo nome.

A talho de foice (sem martelo...) A intensa actividade política que mantive até 1974, cessou gradualmente até aos começos de 80. apenas a mantive em contados casos, eleições de três amigos: Mário soares, Jorge Sampaio e Manuel Alegre em que fui apoiante desde o primeiro momento e "Estados Gerais do PS"  onde participei na qualidade de membro do Conselho coordenador. 

Agora, tenho por certo que já não tenho paciência nem idade para me envolver na política politiqueira ou mesmo na outra, na boa. As pessoas envelhecem e, valha a verdade, não tenho por desejo andar a dar o corpinho cansado ao manifesto. Agora sou apenas uma testemunha, espero que lúcida do que se vai passando. Mantenho este blog apenas porque não tive nunca paciência para escrever um diário.

na vinheta "Os panteras Negras", col Temas, ed Centelha, ainda com o nome de Nosso Tempo, sem data de edição, nem indicação de tipografia, mas com clara identificação dos autores eTradução de de Maria João  Delgado e Marcelo Correia Ribeiro que também aparece como responsável pelas notas  pela bibliografia bem como pela organização geral do livro. 170 aginas , 17,5x 12. 

 

estes dias que passam 917

mcr, 22.06.24

Exercícios públicos de virtude

mcr, 22-6-24

ver os noticiários dedicados à comissão das gémeas começa a tornar-se uma tarefa pungente. Ver o cavalheiro Ventura esganiçar-se em perguntas, que ele pretende profundas mas que não passam de mera fancaria policial, é uma mau exemplo de fogachada de artifício  inútil, pobre e de mais que duvidosas consequências.

eu nem sequer me vou preocupar com algo que já vai em três tremendos inquéritos e que for o preço do medicamento parece ter menos sumo do que um calhau rolado da praia. 

É verdade que as bebés se tornaram portuguesas num abrir e fechar de olhos; também é verdade que aparecem (e aparecerão. ainda) umas personagens que poderiam dar aulas da velha especialidade portuguesa - a cunha (leia-se, à sombra ou não do acordo ortográfico 

Também é verdade que, contra toda uma cultura e uma pesada tradição do SNS, o pistolão) as meninas foram pressurosamente atendidas e mais pressurosamente tratadas.

Parece, aliás tudo o indica , que não passaram à frente de ninguém.

Sabe-se que o "dr Nuno Rebelo de Sousa", filho de quem se sabe, terá enviado um mail ao extremoso pai descrevendo o drama de uma família que ele (Nuno) não conhece senão através de amigos. 

Que lido sem especial atenção tal mail parece uma tentativa de cunha, são poucas as dúvidas. Não se conhece - até ao momento...-qualquer movimento do PR em prol da "recomendação" do filho

suscita pouca dúvida algum envolvimento do dr Sales, na altura Secretário de Estado, na rápida resposta ao pedido de tratamento das duas crianças.

que o directi clínico do Hospital à altura terá sabido do caso não é sequer uma dúvida. Mal andaria o Hospital se um tratamento deste preço se fizesse sem conhecimento da hierarquia.

Não se sabe (eaté à data nada se provou= se o dr Sales ou qualquer outr pessoa com responsabilidades reportou o caso à Ministra e o mesmo pode dizer-se de um hipotética intervenção do 1º Ministro

todavia , consta que a Comissão virtuosa e isenta desde o nascimento de todos os seus membros de qualquer simpatia por cunhas sejam elas quais forem, poderá entender na vertigem das más tiradas teatrais de que tem dado prova notória e trist poderá chamar estas personalidades a de por, anto mais que isso daria azo a que se chegue ao Presidente da República (velha pecha do Chega que não descansará enquanto não puder dizer um par de coisas ao "mais alto magistrado da Nação", já que o não pode acusar de traição à pátria imortal dos egrégios avós)

Já deixei os ensinamentos colhidos na Faculdade de Direito no caixote do  lixo do esquecimento mas apesar de tudo vejo muito pouco futuro no inquérito do MP . Claro que pode sempre falar em favores (mas não em troca deles por qalquer outra cosa) em cheiro a abuso de poder mas daí até um processo vi uma distancia que eventualmente se mede em anos luz

No que a esta comissão parlamentar vai ouvir-se um chorrilho de vacuidades quanto à ética republicana mas pouco mais se poderá extrair deste fait divers que mobiliza pelo menos dois lideres partidários.

Não é de todo improvável que comecem a surdir à duvidosa luz do dia, histórias e historietas de "recomendações" de todo o género feitas pelas mesmas pessoas ou or outras próximas e influentes. 

Quem nunca meteu uma cunha que atire a primeira pedra

 

Note-se que não há notícia de nenhuma comissão para analisar o grotesco caso influencer, o súbito aparecimento de escutas miseráveis e ridículas que ninguém percebe para que foram conservadas ao longo de vários e inúteis anos.

Sobre isso há uma promessa jocosa: o MP vai abrir um inquérito. Porém, a pergunta a fazer é esta: quando o fecha? com que formidável resultado?

Já agora que estou com a mão na massa, pergunto-me se não seria possível punir o órgão de comunicação social que desse a notícia de algo cujo conhecimento público é proibido. 

Dir-me-ão que isso é matar o mensageiro e atentar contra a liberdade de informação mas aqui levanta-se a questão da recompensa (há sempre um preço ou a satisfação de um interesse privado ou político) ao informador.

De todo o modo, o que até ao momento resultou foi mais uma facada na perdida reputação do MP, da magistratura e, sobretudo, uma crescente desconfiança na Justiça.

E o mesmo se diga destas paródias ao venturoso Ventura

Ouvi-lo clamar virtudes dá para recordar a velha frase de Aquilino quando o quiseram julgar pela publicação de "quando os lobos uivam": quando os lobos julgam a justiça uiva!

 

 

Aparte que nada tem a ver com o que acima se escreveu: hoje o noticiário da uma da tarde deu os  primeiros 45 minutos ao futuro jogo Portugal Turquia ouvindo tudo e todos, repetindo vezes sem conta as mesmíssimas vacuidades patrioteiras e mostrando multidões fardadas a preceito aos urros por Portugal. Tudo isso não torna a comissão menos surpreendente mas compreende-se que ela de facto exista. É Portugal a restaurar o seu antigo esplendor

 

 

estes dias que passam 916

d'oliveira, 19.06.24

A culpa morre amancebada com o cocheiro

Mcr, 19-6-24

 

Há muitos anos, já, ainda os meus parceiros de bridge estavam vivos, e eu estava atrasado para a nossa partida dominical, resolvi ouvir o conselho de umas vizinhas e comer o que elas muito gabavam no pequeno restaurante da piscina. Arroz de pato à antiga, excomungado seja!

E em poucos minutos, comida feita, companhia desfeita, parti para a sessão de jogtinna.

Ao fim de meia hora, senti um enjoo que só me deu tempo de sair da mesa e correr para a casa de banho. Não alcancei o meu objectivo e vomitei todo o corredor da casa dos amigos que me acolhiam. Um horror! 

Fui para casa e durante di e meio nem saí, de tal  modo me sentia doente. 

Ao segundo dia arrastei-me até ao quiosque, comprei o jornal e lá vinha numa página interior a notícia de uma série de pessoas acometidas do mesmo mal ou pior, visto que algumas tiveram de ser hospitalizadas.

A empresa gestora do restaurante jurava a pés juntos nada ter a ver com o incomodo intestinal de uma boa dúzia de vítimas, coisa que me indignou de tsl maneira que, pela primeira vez na minha vida fiz uma queixa em boa e devida forma. P

Passaram dias, semanas, meses enfim, dois anos. Lá compareci no julgamento e para pasmo meu a condenação recaiu num jovem ajudante de cozinheiro, i+ou seja no último de quatro ou cinco responsáveis (proprietário da empresa, gerente, chefe de sala, cozinheiro...) A minha pouca fé na justiça esfumou-se ainda mais.

 

Narro este episódio de há quase trinta anos, porque acabo de saber que o sr dr Cabrita, ex-ministro da Administração Interna foi ilibado pelo Tribunal da Relação. O trabalhador  mortalmente atropelado pelo carro onde Sª Exª viajava repimpadamente no banco de trás. O chefe da segurança do sr Ministro também foi considerado inocente. Resta o motorista que, porventura por seu livre alvedrio conduzia a mais de 140 km hora se é que me lembro ainda. 

A presença de trabalhadores na autoestrada estaria sinalizada e é sabido que, normalmente, os motoristas do Estado são cuidadosos e só carregam no pedal por ordem expressa dos seus superiores que andam sempre atrasados. Tive durante anos um motorista e recordo perfeitamente o cuidado com que ele respeitava o código da estrada. Conheci outros que conduziam colegas meus e era geral o respeito pela lei e pela segurança dos passageiros. 

Também é verdade que aos Ministro se atribui sempre um profissional experiente, com provas dadas. 

Todavia, dois tribunais nõ conseguiram encontrar indícios suficientes para apurar responsabilidades pelo que, forçoso será concluir que, naquele malfadada ocasião, o condutor se tomou por um Ascari (nome de um famoso corredor conhecido pela sua temerária velocidade e morto por causa dela)e ceifou o desgraçado alentejano que ainda por cima produziu forte estrago no automóvel do Estado. 

A família da vítima, os “cidadãos auto-mobilizados” os seus advogados  e muita gente, como eu, simples paisanos, estarão agora a perguntar-se de não seria melhor, pensar em multar o desastrado cidadão atropelado por maus tratos a uma viatura do Estado, além do susto que terá pregado aos ocupantes da mesma.  

 

Claro que sobra um motorista do Estado cuja sorte desconheço

Às tantas sucede-lhe como ao jovem ajudante de cozinheiro a quem alguém ordenara que servisse um arroz de pato à antiga que sobrara de um casamento do dia anterior...

estes dias que passam 915

mcr, 17.06.24

A paz segundo alguns

mcr, 17-6-24

 

A conferência na Suíça sobre a situação da Ucrânia trouxe poucas novidades mesmo se cerca de 80 países subscreveram um comunicado final razoável . entretanto,  outros, entre os quais o Brasil, a África do Sul (tão respeitadora dos direitos palestinianos...) ou a Índia que, em tempos  não tão recuados, sofreu a agressão da China, entenderam que os moderadíssimos e legalíssimos termos da declaração final (que apenas retoma a Carta das Nações Unidas) feriam as suas íntimas convicções pacifistas, éticas e políticas. Eu, se fosse cidadão dos pequenos Estados situados nas fronteiras destas nações que parecem não distinguir agressor e agredido e respeito pelas fronteiras  aceites  e definidas por tratados, começaria a preparar-me para as consequências lógicas desta posição. O Nepal, a Guiana, o Botsuana  por exemplo estão demasiadamente perto e poderão ter dentro dos seus territórios algo que atraia a atenção de um chefe de Estado mais exigente. 

Por outro lado, começa a tornar-se perceptível uma outra ideia assás perigosa, para não dizer infame.

O fornecimento de armas a um país agredido, no caso a Ucrânia, é uma ameaça à paz!

eu, lembraria que logo depois da invasão da URSS pela Alemanha, os Estados Unidos e a Grã Bretanha prestaram uma ajuda maciça e fundamental  para a sobrevivência da URSS. 

Em boa verdade, nem os EUA nem Churchill tinham especial confiança na liderança russa  que não só exterminara um grande número de comandos militares competentes como também durante dois inteiros anos de guerra fornecera ao actual agressor toda a espécie de ajudas desde combustíveis até milhares de toneladas de metais estratégicos sem falar em alimentos (trigo)

Só assim, penso, a Alemanha conseguiu empenhar a totalidade dos seus exércitos para conquistar boa parte da Europa Ocidental. 

Não vou tecer considerações sobre o que teria acontecido sem essa ajuda  pois a História é o que é e não funciona por alternativas que nunca se concretizaram. 

Aqui, e agora, estamos perante uma invasão de um país, cujas fronteiras estavam garantidas por vários acordos , a começar pelos negociados pela Rússia, a pontos da Ucrânia ter renunciado às armas nucleares estacionadas no seu território. 

É verdade que em algum tratado, a Ucrânia declarou que não pediria a adesão à Nato e, de resto , essa ideia só começou a tornar-se mais evidente depois do inicio das hostilidades no Donbass e sobretudo da ocupação da Crimeia. E também convirá lembrar que a administração da Crimeia, foi transferida para Ucrânia durante o consulado de Krustchev que apontou uma evidência : aquele território dependia da Rússia, propriamente dita, e estava a mais de 500 quilómetros da fronteira dessa república soviética. Uma incongruência  que nos anos 60 era duplicada pelos enormes custos que a situação provocava.  

E, como já aqui referi um largo par de vezes, a Ucrânia (e a Bielorússia) tinha mesmo assento na ONU ou seja a própria URSS e o PCUS (agora tão servil perante Putin)  entendiam que este país tinha uma especificidade tal que até poderia (em teoria) votar contra  o país em que estava incluída nalguma situação  especial. 

A China, que esteve ausente da conferência, por esta não incluir a Rússia (que antecipadamente afirmou que não estava para tais maçadas) deveria meditar no facto de na véspera da conferência, Putin ter avançado com mais exigências territoriais ...

quanto aos participantes que "desparticiparam", pelos vistos as ameaças de Putin  ou não foram percebidas ou não se consideraram graves. 

Feitios... 

 

estes dias que passam 914

d'oliveira, 16.06.24

Brincar aos pobrezinhos

mcr, 16-6-24  

 

Hã muitos anos, ainda no tempo do “dono disto tudo”, correu uma frase de uma das suas mais próximas familiares a respeito das “casinhas” que o clã possuía na imensa Comporta. A senhora terá dito a alguém que naquelas terras alentejanas e nas casas onde veraneavam se brincava às casinhas de pobre.

Eu nunca passei na Comporta, ignoro a qualidade das ditas “casinhas” onde a família se aquartelava durante um par de dias de Verão mas tenho sérias dúvidas que esses alojamentos fossem sequer longinquamente, semelhantes às casas dos camponeses que lavravam aquelas terra. 

Claro que também desconheço o que é que a referida dama entendia por pobre ou casa de pobre.  

De todo o modo, não é disso que venho falar mas apenas de um suelto de jornal onde se informa o ex.mo público da tristíssima situação do sr Espírito Santo a quem o sadismo judicial provou de todos os bens. A pobre criatura vive agora da ajuda de uma filha generosa que lhe envia do estrangeiro uns tostões para conseguir sobreviver. 

Quando se diz tostões talvez, sem qualquer ironia, se devesse traduzir pela soma certa: quarenta mil euros mensais para ajudar os idosos pais a atravessar o deserto da velhice.

Abençoada filha que, com sacrifício, envia aquela modesta soma a quem anda atribulado pelos tribunais e pela voracidade dos jornalistas. Pelo menos poderão comer diariamente  o seu pão com manteiga, a sua sopinha e mais qualquer coisinha... 

A vida está difícil para todos, diz-se. Mais para uns que para outros, acrescente-se  que na pátria imortal não serão muitos os que, para aguentar o barco, dispõem desses antigos oito mil contos de reis.

É bem verdade que aquilo não dá para muitas estravagâncias mas o casal Espírito Santo também já não é novo  e seguramente já bão terá uma intensa vida social e respectiva despesa.

Não vou cair no populismo de afirmar que provavelmente 99,% dos portugueses  tem bastante menos para enfrentar o dia a dia.

Eu bem sei que, quando se foi rico, a ideia de não ter à mão uns dinheirinhos é pavorosa, Todavia, que diabo, quarenta milhardas, numa sociedade em que uma família se pode dar por feliz se tiver mensalmente um décimo dessa quantia, não são a negra miséria nem induzem o comentador ao dó.

Nem sequer me fazem tentar perceber de onde vem essa mesada mesmo se me dizem que a filha gentil está casada, bem casada, com alguém de largas posses. De todo o modo, a coisa anda por meio milhão ao ano e ninguém sabe quanto tempo o ex-banqueiro vai “andar por aí”

Porém, o tom, vagamente pesaroso, com que a notícia passou, como se para além da "violência" dos magistrados, da tragédia do Alzheimer (se verdadeiro...) e da curiosidade malsã da populaça, da bisbilhotice de uma certa imprensa  que, como no caso do leão moribundo, se ceva no cheiro a carniça, deixa-me absolutamente indiferente e a pensar na velha máxima, sic transit...

E nem sequer sei se a popular expressão “ cá se fazem e cá se pagam” é, no caso, verdadeiramente pertinente. Sobretudo porque a queda do banqueiro ainda não está acompanhada (alguma vez estará?) da reparação dos danos causados a uma multidão de depositantes que viram evaporadas as suas economias.

E ainda me resta saber, se neste feixe de processos judiciais, cabem todos quantos colaboraram conscientemente na imensa falcatrua.  Onde estão os funcionários de "balcão" que induziam os clientes a apostar em títulos instáveis e de grande perigosodade? Por onde andou a famosa (e cara...) inspecção bancária ? Ninguém viu nada? ninguém, ao menos, suspeitou? O Banco de Portugal nunca sentiu o cheiro a fumo, mesmo se o fogo ainda estivesse oculto?

 

Pág. 1/2