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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 933

mcr, 31.08.24

Preso por ter cão ( e por o não ter)

mcr, 31-8-24

No jardim à beira mar plantado a mesquinhice medra mis do que a merda bolsada pelos políticos.

O primeiro ministro não perdeu tempo em acudir ao local da tragédia no Douro. Fez o que devia e ai dele se o não tivesse feito tão rapidamente. 

Uma vez no local, entendeu meter-se numa lancha e navegar até à zona dos mergulhadores para, segundo ele, dar uma prova de apoio aquele esforço duro e perigoso. Alguém, na lancha fotografou-o e divulgou a imagem. Não ponho em questão que esse último toque teve mais de propaganda do que de piedade pelos mortos.

todavia é assim que a politica se move, É por isso, por exemplo, que quando alguém no duvidoso mundo da política quer dizer algo de sensacional se guarda para a hora nobre dos telejornais.

De todo o modo, mesmo dando por certo que na divulgação da viajem de lancha possa haver algum espectáculo, não vejo nisso mais do o costume e, convenhamos, do que os costumes mais admissíveis na chamada comunicação política. 

Não foi assim que os restantes políticos de outras áreas que não se terão lembrado de peregrinar até ao distante norte entenderam o passeio fluvial de Montenegro. 

Vai daí desataram numa berraria acusatória. Pelo que tive de ouvir nos noticiários televisivos foi maior a indignação que a comiseração pelos mortos. 

Pior, no "barulho das luzes" quase se subentendia que toda a acção de Montenegro fora mera encenação.

Estou à espera do que dirão sobre o dia de luto nacional. Aposto que, no mínimo ,se tentará murmurar algo que esteja próximo do "exagero". A menos que alguém de bom senso explique que a proclamação do dia de luto teve forte aceitação popular e terá calado fundo na região e nos elementos da GNR. 

 

Deixemos este triste aspecto da "nossa" política e passemos a outro tema: As eleições americanas.

Os leitores lembrar-se-\ao do escândalo que as declarações do chefe da bancada parlamentar do PPD  que por "não conhecer bem o pensamento da Kamala Harris tinha dificuldade  em optar por alguém. como se aquela anormalidade trumpesca não mostrasse, ao primeiro esgar, de que farinha era feita a personagem... Sobretudo, depois da experiência de quatro anos de presidência par já não falar das condenações e dos processos que enfrenta... Ou do ataque ao Capitólio.

Entretanto, leio no público uma declaração da criatura Pulo Raimundo, secretário geral do PCP que a propósito disse (e cito) "não  escolheria nem um nem o outro. Para mim não há dificuldade nenhuma.

Este pobre diabo revela a cada momento que passa. No afã de mostrar que é uma caricatura de proletário e um verdadeiro marxista leninista consegue dizer uma burrice que escandalizaria as cinzas de Stalin se lá chegasse o eco da sua voz.  Digamos que, nesta frase, se condensa o grau zero da inteligência política  e humana. Já não bastava ao PCP a sua pecha pelos ditadores de pacotilha bem visível no caso de Maduro onde conseguiu indispor o  "partido irmão"  mas uma declaração deste teor mostra até que ponto o autismo, a ignorância, a incapacidade política chegaram.  

Para terminar a "silly season" estas duas desoladas observações chegam e sobram. 

(antes que o nhabitual desconhecido, desate a comentar, convém recordar que nunca me passou pela cabeça votar à direita ou mesmo num PPd taavestido de soacial democrata. E não sou sequer fã de Luís Montenegro, que, porém, nesta tragédia, se portou decentemente. Como era seu absoluto dever.)

estes dias que passam 932

mcr, 30.08.24

Luís

mcr, 30-8-24

 

Despeço-me (provisoriamente...) do sr Luís, o proprietário do pequeno café e esplanada que se pira par férias (mais do que merecidas!) nestes próximos quinze dias. 

Vai ser horrível andar à procura de um local acolhedor para ler o jornal e tomar as duas primeiras bicas do dia! Provavelmente, a cerca de cem metros ou menos o  "Venha cá" ao fundo da galeria estará aberto mas eu é que não me habituo a essa pequena e breve mudança: falta-me a vista do jardim,  a plena luz diurna e solar, os rostos habituais daqueles a quem um vizinho de mesa chama "os habituais do centro de dia".

E, subitamente, começaram as coincidências: Um menino pequeníssimo e traquinas conseguiu evadir-se do carrinho e desandou esplanada fora explorando cada mesa. "Anda cá Luís..." murmurou, enternecida uma avó.

Entretanto, passou sem entrar um fantasma envelhecido que, costumava sentar-se à minha mesa quando um seu amigo me fazia companhia. Já não lhe recordo o nome mas nunca esquecerei o dia em que, consultando o telemóvel, anunciou que o Luís Neves tinha morrido há quarenta e muitos anos. Fiquei estarrecido. o Luís Neves, esse Luís, fora meu amigo de infância e juventude, Éramos vizinhos no Verão e durante quase vinte anos fomos do mesmo e inseparável  grupo de praia, Era o tempo dos imensos Verões de quase três meses, de milhares de jogos de futebol, nós contra o mundo ou pelo menos contra uma equipa de malta de Buarcos que andara comigo na escola primária. O Xico, irmão mais velho do Luís lá convencia o João S Marcos Amaro, o "Mantana", amigo certo que já não vejo há uns bons trinta anos, a criar uma equipa rival para tirar teimas futebolísticas.

Fomos caloiros no mesmo ano, eu o Luís, o meu irmão e o Alfredo Alberto (outro que também já cá não mora) mas a política académica e associativa lá nps foi afastando pouco a pouco até ao dia em que num estúpido e brutal acidente de automóvel, o Luís morreu. Digamos que foi essa a primeira vez que a morte nos bateu desalmadamente à porta. Subitamente, nesse dia que não esqueço o nosso grupo chorou copiosamente a chegada intempestiva da morte, uma desconhecida que ninguém esperava. 

E não é que numa mesa ruidosa se discutia acesamente o facto de Maria Luís Albuquerque ir para a Comissão Europeia, provavelmente para um posto honroso e apetecível, sobretudo pelo porque ela tem um currículo invejável  (professora universitária, deputada, Secretária de Estado e Ministra) para já não falar de um par de cargos no privado que a tornam forte candidata entre uma série de homens nomeados por governos que nem sequer apresentaram uma alternativa feminina ?

Coincidências demasiadas para uma sexta feira de Agosto, no ano do Vº centenários desse outro e gigantesco Luís (de Camões) de que tão pouco  sabemos  e que tanto nos deixou! 

E agora, enquanto desfio este relato da primeira parte desta manhã, vem-me à memória o rído que esta nomeação do actual Governo,  presidido por outro Luís, provocou. 

Eu que nunca votei PSD ou PPD, que não conheço o actual 1º Ministro ou a sua indicada Maria Luís, às vezes pasmo-me com a gritaria que se ouviu. Que a srª Albuquerque fora ministra de Passos Coelho e por isso responsável pela governação a meias com a troika em má hora trazida e provocada por um péssimo e alucinado Governo socialista cuja política levou o país à mais tremenda ruína post 25 de Abril, justificando a posteriori o diagnóstico de Durão Barroso (o país está de tanga, sic).

Pelos vistos, ainda hoje, ou já hoje, há quem leve a desmemória ao ponto de afirmar que um governo (aqui e por mim duramente criticado) poderia ter governado de outra maneira quando os credores nos batiam à porta e as agências internacionais nos tratavam como lixo. Que as criaturas do BE, do Livre, do PAN (do PAN, jesus Maria José!!!) regouguem contra percebe-se. Nunca passaram de pequenos ajuntamentos, sem experiência governativa, sem autarquias, sem sindicatos, sem real presença na imensa maioria das regiões do país, tudo o que trouxeram à discussão foi um penoso exercício de esconjuros  sem sequer distinguirem as capacidades da proposta comissária. Quereriam estas criaturinhas  que se propusesse alguém de "esquerda" sequer  "consensual" (e para eles o consensual é um mistério mais difícil dos que a Igreja ensina sejam eles dolorosos, gloriosos, gozosos ou luminosos) como se isso fosse possível ou sequer plausível no actual contexto político partidário.

Percebe-se que para o Pc este nome seja revulsivo mas, em boa verdade, p PC é contra a União Europeia, contra a sua influência e  existência. Neste capítulo apenas me surpreende que, apesar de tudo, o PC tente eleger deputados europeus ou aceite que o país receba ajudas económicas e financeiras desse detestável órgão,vera encarnação d capitalismo, (e já agora do imperialismo e de todos os restantes ismos com que, num rosário envelhecido e cada vez menos original, os comunistas rezam juntamente com a fraterna Coreia do Norte e outras potências "amigas"  cujos povos desfrutam de intensa felicidade, de amplos recursos e de um teor de vida absolutamente invejável, "democrático, patriótico e de esquerda")

Já o PS  que também entrou no coro  é mais difícil de entender. Então o Governo, este Governo, propõe Costa para as instâncias europeias e agora Maria Luís?

Teria o PS algum/a candidato/a mais óbvio/a e mais bem curriculado/a?

(já agora: nem sequer vou tentar enumerar as diferenças essenciais entre as políticas restritivas prosseguidas pelos governos em que MLA esteve e as famosas cativações que, em verdade pouco ou nada mudaram a vida das pessoas e os seus rendimentos.)

Bem que gostaria de ter metido nesta desgarrada algumas Luisas. E teria três excelentes candidatas, a saber a Novais, do tempo do Luís propriamente dito, a Feijó quase uma irmã e a "Ventoinha". Não perderão pela demora e até lá beijos muitos e sentidos.

 

(Coimbra, Latada  de Ciências, 1960. O Luís  é o primeiro e eu o segundo a contar da esquerda. Estava-se em plena guerra da Argélia e os grelados de Ciências entenderam mostrar o que sabiam sobre os recentíssimos camuflados usados pela tropa francesa.Os três restantes caloiros chamam-se *Santos da Cunha, Carlos Monteiro e Alexandre**

 

 

 

 

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estes dias que passam 931

mcr, 26.08.24

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Ligar o complicador

(usar o estupidificador...)

mcr, 26-8-24

 

Viver no Porto não é sempre coisa fácil. Os cidadãos bem que fazem pela vida mas a Câmara Municipal saudosa dos bons velhos tempos em que mandava e desmadava o pópulo ingrato e insubmisso, tem por norma complicar-lhes a vida. 

Desta feita, poucos anos depois de ter gasto rios de dinheiro a arranjar a Avenida da Boavista, entenderam "eles, os camarários" mancomunados com as gentes do Metro voltar a rebentar com a única avenida relativamente ampla da cidade e meter-lhe no meio um "metrobus, ou seja uma espécie de autocarro a mover-se em via dedicada que sai da rotunda da Boavista e desemboca na rotunda da "anémona" em Matosinhos e, paralelamente usar a avenida Marechal Gomes da Costa fazendo também por ali passar o referido metrobus. A coisa terá o aspecto de um Y e neste segundo eixo tambem entenderam as temíveis criaturas camarário-metrobusistas destruir um arruameto que era um dos mais bonitos e aijardinados da cidade. 

Convirá dizer, para quem não tem a azar de viver na cidade "invicta" que quer o percurso em Marechal Gomes da Costa quer o último troço da Boavista servem residências luxuosas ou ainda prédios de andares a preços classe média alta ou muito alta. 

A meia da venida da Boavista, está a zona dita do "Foco" nome popular dado a um bairro constituído por seis blocos de prédios e quatro torres entre os dez e os dezoito andares para além de uma igreja, um hotel e uma edifício também de escritórios a que no prazo de dois anos se juntaram duas dúzias de moradias de alto (altíssimo !...) preço e de pelo menos um prédio frente à Igreja (serão mais num futuro não muito longínquo  a ladear uma boa centena de metros da Avenida com previsíveis densidades bem altas).

O referido e mal denominado bairro do foco agrupa quatro centenas de habitações  extremamente amplas com um jardim ao meio. Há também duas galerias comerciais e um hotel desactivado que em projecto será requalificado para mais umas dezenas de amplos apartamentos

Poderá falar-se sem qualquer exagero numa concentração de alguns milhares de pessoas incluindo, empregados de escritórios, de lojas, cafés, restaurantes que por sua vez atraem um número apreciável de visitantes diurnos e nocturnos.

Este conjunto está em vias de ser classificado (e muito bem) com de interesse municipal dada a alta qualidade da arquitectura e da construção. o conjunto é servido por três arruamentos de boa dimensão, além da rua que lhe serve de ligação à avenida da Boavista e que também ela está preenchida por uma dúzia moradias, além das três ligações à zona do estádio do Boavista também ela cm prédios de habitação de dimensões mais reduzidas, algum comércio e duas escolas secundárias.

Do bairro em questão saía-se para a Avenida por uma ampla rua com três pistas: uma de entrada e duas de saía para poente e nascente. Esta última implicava obviamente o atravessamento da avenida.

Subitamente, num envergonhado sábado de Agosto, apanhando moradores e visitantes  em férias, eis que as duas saídas para a Avenida se destinam unicamente ao lado poente.

Esta direcção é justamente a que é (muito) menos usada pelos moradores que terão na sua imensa maioria os seus empregos nas zonas mais centrais da cidade. 

Entretantoa saída mais próxima para nascente ficará limitada a uma estreita rua que liga o estádio à avenida  ou, andando mais uns centos de metros a outra rua igualmente estreita  (r João de Deus) que eventualmente ainda desembocará na avenida da Boavista.

Hoje, na esplanada, o habitual grupo de frequentadores dividia-se entre o sarcasmo e a irritação. 

Genericamente todos concordavam com a falta de sentido desta modificação que empurrava todos quantos quererão alcançar as zonas centrais da cidade para "um par de quelhos" pequenos em que o efeito de funil produzirá quase constantemente bichas que nas horas de ponta das escolas se transformarão em horas de embaraço, buzinadela, exasperação e, sobretudo, de incompreensão absoluta sobre o bem fundado da alteração  da rede viária. Todavia a maioria ia mais longe e acusava a Câmara ou o departamento de trânsito de ignorância cavernosa e de burrice supina.

Eu, mais modestamente, ia sugerindo que a Câmara ou o tal departamento apenas cumpriam galhardamente o seu destino histórico de complicar, de chatear o indígena ou provavelmente de tentarem enviesadamente impor mais dificuldades ao trânsito automóvel propondo o uso de um metrobus cujos tresloucados responsáveis que finalmente já terão percebido que na zona terá poucos usuários.

No meio disto, um cavalheiro que, pelas dez da manhã já ia na segunda cerveja, bramia que "os ricos devem pagar a crise" 

"O gajo ou já está como há de ir ou é da UDP-

Ainda tenti dizer que a dita UDP estava defunta ou amalgamada no Bloco de Esquerda juntamente com ex-revisionistas e outros tantos trotskistas mas os protestatários nem me quiseram ouvir. 

Aquilo é tudo uma cambada!... (claro que o substantivo usado foi mais barroco, mais tripeiro e mais saído do coração mas isto é um blog respeitável que não gosta de ofender as mães e avós dos cavalheiros que num dia perdido de Agosto  nos pregaram a partida que acima se descreve.

Arre!

(ou em latim macarrónico: arrium porrium catanorum cunque!...)

Junta-se mapa elucidativo 

estes dias que passam 930

mcr, 21.08.24

os outros, sempre os outros

mcr,17-8-24

 

os outros são maus, mesquinhos, estúpidos, de direita de extrema direita, radicais de esquerda, da esquerda infantil, ultra liberais)  incapazes politicamente, contra o povo e as classes laboriosas, ou contra o proletariado se ainda o houver, racistas, colonialistas, homofóbicos e tudo o mais incluindo traidores à pária.

Claro que, no debate político. ou naquilo que por cá corre com esse pseudónimo, h\a mais um milhar de variantes.

Repararão os leitores (se os há nesta época tão balnear e calorenta) que aquilo a que agora assistimos é apenas a desqualificação a outrance do Governo pelos vencidos (mas não convencidos) das últimas legislativas.

Não é novidade, apresso-me a dizer para não ser tomado por agente do Governo. apenas acontece que, com um governo minoritário, são em maior número e com os mais variados propósitos, as farpas atiradas contra o Poder.

Vejamos um par de exemplos:

o dr Montenegro anunciou a criação de dois novos cursos de Medicina. Logo o sr bastonário dos médicos veio uivar que médicos é o que mais há mas que estão mal aproveitados.

(se eu quisesse ser maroto, poderia afirmar que este cavalheiro fala em nome de interesses da classe nomeadamente na diminuição de concorrência.  A mim, não me repugna um excesso de licenciados em Medicina ou então teria de citar o tremendo excesso de licenciados em ciências humanas, em direito para só citar dois casos onde pelos vistos não há numerus clausus) Obviamente, se de facto há médicos mais que suficientes conviria repensar as razões da sua falta no SNS. Retribuição insuficiente?, má organização hospitalar, falta de meios técnicos para acolher e tratar quem se dirige ao hospital?

Qual (já agora...) a razão do sucesso dos hospitais privados, a rapidez no atendimento e crescente procura destes serviços que, no entanto, custam bastante a quem a eles se dirige? 

Já o sr Pedro Nuno veio desdenhar afirmando que a medida só terá efeito daqui a dez ou mais anos... 

Todavia não se ouviu da parte dele a mesma crítica feita pelo bastonário. em que ficamos? há ou não médicos a mais? E como é que estão distribuídos? Porque é que no Norte se verifica uma quase total situação de urgências abertas?

 

O Governo anunciou um subsídio excepcional de 100 a 200 euros aos reformados, a pagar de uma só vez em Outubro.

Logo os costumeiros  e alegados defensores dos pesionistas coitadinhos juraram que a medida é a)  eleitoralista, b) insuficiente c) descontextualizada ou d) um penso rápido!

em relação a este último ponto vou tentar ver quantos pensionistas indignados se recusam a receber o  cacauzinho.

E recordo que durante os precedentes anos outros governaram e não melhoraram especialmente ou de qualquer outra maneira a vida dos pensionistas.

Também aqui seria bom tentar perceber qual foi a vida contributiva dos trabalhadores ora reformados. Salários baixos levam a pensões baixas. Porém, salários baixos permitiram a milhares de empresas funcionar e criar emprego. Portugal é desde há muito (ou desde sempre) um país com pequenas e pequeníssimas empresas e, aí bate o ponto, continua a sê-lo. quando por milagre aparece uma empresa sólida ebem dimensionada são tantas as dificuldades (incluindo as burocráticas...) com que esta se debate que chega quase a parecer miraculoso o seu aparecimento e crescimento.

Mas sobre o tecido empresarial do país o debate ou não existe ou é quase nulo.

Aliás, não deixa de ser notável uma recente petição apresentada à AR para eliminar o trabalho aos domingos e feriados  nas grandes superfícies. A mesma petição propõe que se diminua o número de goras de abertura nas mesmas empresas. A ideia qque parece favorável aos trabalhadores tem porém uma contrapoartida: a eliminação de emprego na ordem dos 20 a 30%  do número de empregados. E para onde bão estes eventuais futuros desempregados?

Será que os peticionários sonham com a reabertura do pequeno comércio de rua que, em muitos casos, vendia produtos piores e mais caros? E onde se estabeleceriam essas eventuais e duvidosas lojas se não há locais acessíveis e a preço razoável? 

Gostaria de salientar, mais uma vez, ue não sou dos que embandeiram em arco com as propostas do Governo actual como de resto também não dei pulos de alegria com toda uma série de medidas do anterior e longo governo de António Costa.

Assisto com escassa ou nenhuma surpresa aos gritos de indignação com a situação de centenas de milhares de imigrantes que se acumulam às portas da AIMA para obter dois ou três papeis que, provavelmente, a Iunta de freguesia poderia (ou deveria poder) emitir.

No meio disto tudo, aquela ajuntamento de patriotiros parvos e ignorantes quer um referendo sobre a imigração. sto num país de ondem saem anualmente 50.000 jovens e onde falta mão de obra para quase tudo o que do campo, do interior ou mal pago (ou as três coisas juntas)-

Consta que o seu líder (ou patrão ) tem um curso superior e, mesmo, um doutoramento. Por muito pouco que, actuualmente, estas referências académicas valham ( e cada vez valem menos e significam menos) custa pensar que aquela gente (que só pensa pela cabeça do cabecilha) não tenham ainda reparado que sem imigrantes isto vai ao fundo. 

Os leitres recordarão que a crise dessa malfadada instituição que trata (mal) dos imigrantes sucedeu  ao SEF. E sucedeu porque um ministro paspalhão e um governo desnorteado não conseguiram resolver um problema infame mas simples (o homicídio de um desgraçado imigrante ucraniano que só queria trabalhar cá). A experiência acumulada pelo SEF e a eventual rapidez com que resolviam situações de acolhimento foram deitadas para o lixo e criou-se uma coisa pomposa que mete água por todos os lados e que, diz-se, vai sofrer um par de greves nos próximos dias. em países menos dóceis aquilo já teria sido invadido meia dúzia de vezes por gente que espera e desespera e provavelmente haveria um par de funcionários espancados. 

Mas não, as bichas repetem-se diariamente, os pobres desgraçados maldizem a sua sorte e agora apanharão com uma greve de funcionários eventualmente cansados!

Isto das greves a propósito ou a despropósito começa a ser doentia sobretudo na ferrovia, ou seja na cp que só tem 17 (dezassete!!!) sindicatos. Basta um para parar tudo e com quase dúzia e meia a coisa é simples e bastam  pequenos  acordos para dezenas de milhares de trabalhadores suburbanos perderem horas e dinheiro e tempo, muito tempo, graças às paragens constantes de algo que n\ao tem conserto possível enquanto tiver o monopólio do transporte ferroviário.

Alguém entretanto veio acusar o Governo em funções (o que não significa exactamente funciona, ou pelo menos funcionar adequadamente...) de querer promover a alternativa privada porque terá havido uma eventual redução do número de comboios a comprar!

Convenhamos que comprar locomotivas e carruagens para estarem paradas demasiadas vezes não faz sentido nenhum. 

Estamos no Verão pelo que tudo isto , este pequeno bulício, pode não querer dizer nada. A estação é a silly seadon pelo que resta-nos aguardar por mais semanas e meia.

E para fechar com o bouquet final e estafado do costume eis que acabo por saber que o sr Presidente da República se acolheu a um modesto hotel de três estrelas em Montegordo para. ao que parece, sentir o povo perto. Que lhe preste... 

E que aproveite o mar quente  que este ano está a dar forte e feio.

(este post sai mais remendado do que devia ser permitido mas tenho andado uma roda viva  que só terminará hoje à tarde, altura em que irei apanhar mais um par de injecções nos olhos. Não é petisco que deseja a quem quer que seja mas é o está a dar...)

o leitor (im)penitente 271

d'oliveira, 15.08.24

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trabalhos redobrados

mcr, 15.8.24

 

estamos em pleno "ferragosto" que em Itália é dos feriados mais desejados e mais festejados. Por cá é dia da Assunção de Nª Senhora festa religiosa que com as férias passa quase desapercebida. 

Curiosamente, no dia anterior celebra-se o aniversário da maior e mais gloriosa batalha da nossa história. É extraordinário porque esta batalha durou pouquíssimo tempo, um par de horas digamos conseguindo apesar da despropcorção de forças uma clamorosa vitória que se tornou ainda mais evidente dada a desorganizada fuga dos invasores que foram chacinados sem piedade tendo mesmo muitos morrido às mãos de populares dos arredores.

Todavia, hoje, pelos vistos, a efeméride passa largamente despercebida. Chego a pensar que uma grande maioria dos portugueses desconhece não só adata da batalha mas até o dia em que ocorreu. 

E nem falo no desconhecimento de como tudo sucedeu .

todavia, não é da Batalha, da ida da Virgem para o céu ou sequer do ferragosto  que venho até aqui.

De facto, apenas queria referir uma das dificuldades surpreendentes deste leitor (im)penitente. 

Eu sou desde os primeirosdias do seu aparecimento um leitor da belíssima revista Colóquio (letras, que a outra a Artes já apenas um saudade)

Trata-se, sem qualquer dúvida de uma excelente publicação, mesmo se volta e meia a saída de uma edição se atrase violentamente. 

O que é mais surpreendente é o facto de por mais que se procure a revista não se avista. 

Desde que a livraria Leitura (outra imensa e desolada saudade) fechou ninca mais consegui encontrar no Porto a "Colóquio!. Nem FNAC, nem Bertrand, sequer duas ou três livrarias resistentes e notáveis a conseguem. Nada. Nada de nada. O deserto editorial .

Parece que a poderosa fundação Gulbenkian depois do esforço (e do custo seguramente elevado) não consegue levar a revista aos leitores interessados.

Eu referi o Porto mas agora que esyou por breves semanas em Lisboa descobri que, aqui também a revista anda desaparecida. Na Bertrand o último número de que se lembravam era o 111 enquanto que na FNAC do Chiado havia notícia do nº219 ou seja de um número editado há já um bom par de anos! 

Optei por me deslocar `Fundação e aí não consegui o exemplar pretendido mas saí ajoujado de mais quatro que não não tinha mas de que nem sequer tivera notícia.  desde o encerramento da Leitura deixei de a poder encontrar e comprar comodamente.

Entretanto e para enegrecer ainda mais a pílula, devo dizer que com muito trabalho consegui chegar à fala (telefónica) com uma simpática senhora da redacção, dado que nas restantes secções da revista nem vivalma atendia. A simpática criatura até me propôs tornar-me assinante coisa a que acedi dado que ela iria imediatamente contactar a aecção respectiva. Vão já dois meses e nada!... 

Eu tenho da Gulbenkian uma boa ideia eas melhores recordações desde o meu tempo de bolseiro para o curso de Direito Comparado da Faculté Internationalle pour l'Enseignement du Droit Comparé. Foram anos felizes, buliçosos com sessões em váios países e universidades onde fiz amigos que recordo com carinho.

Conheci pessoalmente vários responsáveis pela revista, entre todos o Nuno Júdice um poeta excelente que nos deixou recentemente. 

Custa-me verificar que a revista de indiscutível qualidade seja, neste país, praticamente clandestina, longe do seu lugar habitual nas livrarias. Alguém me disse que "a distribuição era um problema"

Um problema? Mesmo em Lisbos e no Porto com duas organizações livreiras do tamanho da Bertrand e da FNAC?  estão certeza a gozar com o pagode. 

Na livraria da Fundação aconselharam-me a tentar a compra "on line". Tenho porém o pressentimento que conseguir tal proeza é mais difícil do que meter uma lança em África (coisa que foi directa consequência de Aljubarrota, veem como tudo se junta?).

A única pergunta que se pode fazer é esta; quer a Gulbenkian vender a sua revista aos leitores? Ou basta-lhe editar os três números anuais e aguardar que alguém lá vá buscar um exemplar ? 

 

o último número da revista é, como de costume excelente eaté traz um presente: uma versão fac-simile de Cau Kien, livro de poemas de Fernando Assis Pacheco que com o título vietnamita descrevia a guerra de África vivida pelo poeta. Foi editado pela Centelha, uma editora coimbrã, nascida da crise de 69 e de que fui sócio. Curiosamente, foi est o primeiro livro do FAP que passou por uma editora a sério (ou quase que nós éramos sobretudo militantes mesmo se só de poesia editamos duas boas dúzias de livros...)

Convenhamos que para meio de Agosto, ferragosto (que saudades de um passado em Roma...) o folhetim mesmo merendo a ascensão da Virgem aos céus, que o dr Salazar transformou em feriado, tem alguma razão de ser

Boas leituras.

na vinheta o ferragosto italiano, fotografia pilhada, como de costume, na internet

 

 

   

estes dias que passam 929

d'oliveira, 10.08.24

sobre o sns e sobre a estupidez poltico sindical

 

mcr 10-8-24

 

(antes do mais: hoje, pela 1ª vez na minha vida, tive de contactar o SNS mais precisamente  a linha sns 24 Fui muito bem atendido, verifiquei que as pessoas que dialogam connosco são gentis, eficazes e educadas. Numa palavra: só tenho que dizer bem, aliás, muito bem. Delas e eventualmente do serviço no seu todo...

 

Convém começar pelas declarações esparvoadas da srª drª Mariana Vieira da Silva que, pelos vistos, ainda não percebeu que este Governo (que não teve o meu voto, é bom que o diga já) herdou uma situação que o longo  governo dela não só não resolveu mas permitiu que piorasse. Não é de hoje a crise nas urgências obstétricas e pediátricas dos hospitais a sul de Coimbra, basta ir aos jornais. 

Além desta luminária ouvi também um rapazola do BE que chamou incendiária à Ministra (que não conheço nem tenciono e, menos ainda, quero vir a conhecer. Convém lembrar que nos primeiros anos de Costa o BE ainda deu uma mãozinha a este e por isso não pode fingir que desconhece uma crise que já nesse tempo se avolumava.

Direi que em pouco mais de cem dias, por muito que se queira, nada se poderia resolver, sobretudo a falta de médicos nos hospitais onde as urgências abrem e fecham a horas incertas mas com pertinaz constância.

A dr`Martins poderá não ser grande cabeça mas não é a única culpada de algo que foi engrossando ao longo dos anos. Aliás até esteve brevemente ligada a altas instâncias da saíde no tempo do anterior executivo. 

Pior ainda é o comportamento duma criatura chamada qualquer coisa Bordalo e Sá e que, pelos vistos, é médica e presidente duma coisa chamada FNAM ou seja Federação Nacional dos Médicos. Se esta organização é grande ou pequena, divisora da classe ou não, não sei. Apenas recordo que no dia em que iria haver uma reunião sindicatos médicos ministério a FNAM marcou e cumpriu uma greve que não terá tido especial impacto.

Parece que o Ministério terá afirmado que senso assim não discutiria nada com a FNAM mas mesmo isso (que seria absolutamente legítimo ou obrigatório) não recordo se ocorreu. 

A criatura, Bodfalo e Sá veio dizer que era horrível que as grávidas dl Leiria eram obrigadas a fazer 200 quilómetros para parir quando afinal também tinham acesso assegurado a Coimbra que, se a minha geografia ainda vale, está a menos de sessenta.

Chama-se a esta afirmação  imbecil e falsa e de má fé. 

A srª Bordalo e Sá deve ter na sua especial bolsa de profissionais, um pancadão de obstetras a bramir por trabalho e perseguidos pela ministra que só não foi chamada de abortadeira pela senhora Bordalo por esquecimento.

Esta gentinha parece não perceber (ou percebe mas não o mostra) que este Governo ou outro qualquer fosse do sr Ventura, do pateta do BE  ou do Zé dos caracóis só deseja resolver um imbróglio que tem largos anos de existência e que foi amadurecendo e crescendo até à merda de hoje. Nem Trump, o das fake news, faria melhor.

O combate político começa a tentar habitar a sarjeta.

que os médicos são mal pagos, que não são numerosos sobretudo em certas especialidades que a administração hospitalar é uma piada de mau gosto, que ao longo de anos e anos as pessoas se habituaram a ir às urgências por uma canelada sem ferida aberta, é uma verdade.  Que o SNS desta gente cada vez mais parece condenado aos que não tem posse para fazer um seguro de saúde ou pagar os pesados 3,5& da ADSE é uma evidência

Ou seja,o salvatério pouco eficaz  de pobres e  do interior (que como Junqueiro diria são pobres de pobres pobrezinhos) apanham com o SNS e o resta da malta mais de 40% dos portugueses escapam para o privado...

Não vou sequer lembrar que o SNS está a debater-se com uma crise que atinge os congéneres da Europa e do mundo (onde os há e que são normalmente bem piores dos os de cá).

Que talvez fosse aconselhável recordar que neste domínio da racionalização de serviços, da organização da adequação de recursos e da remuneração aos médicos talvez valesse a pena ver o que se passa no medonho "privado".

E recordar que houve, in illo tempore, um par de ppp da saúde que até o tribunal de contas evidenciou como de grande qualidade...

Não proponho o seu regresso mas pelo menos que usem o que eles tem de melhorou seja na organização e na rentabilização dos recursos. 

Eu tenho por mim que, no calor da luta politico-politiqueira há gente a quem até daria jeito uma ou duas mortes de grávidas mas conviria perceber onde é que isso nos poderia levar.

claro que nem o patarata do BE nem a d. Marianinha nem a sindicalista feroz se lembraram deste facto simples: nas regiões onde há falta de médicos nos hospitais, há também falta de casas a preços decentes ou suportáveis pelo que muitos concursos ficam desertos por não haver concorrentes das respectivas zonas e ninguém estar disposto a pagar as rendas agora pedidas. Parece que o autarca de Oeiras no que respeita, pelo menos, a  professores entendeu e bem garantir alojamento a preços razoáveis ou, eventualmente, apetecíveis. 

O governo anterior (onde a D Mariana brilhou a grande altura) andou desde o primeiro ao último dia a jurar que tivera uma pesada herança. A gente do dr Passos Coelho  jurava que herdara de Sócrates algo bem pior que a legendária cicuta que vitimou o primeiro desse nome. Mas ninguém pudicamente se lembra desse cometa que está a tentar salvar-se de um julgamento que só a inépcia de certos agentes da Justiça  permite adiar.

Em Portugal a culpa morre sempre solteira ou então as vítimas coitadinhas apanham com um Alzheimer oportuno e cima.

Por outro lado a tonitroância que um certo Ventura usa e abusa leva o resto dos colegas ao desvario e à imitação. 

Finalmente, e nisto podem ver um recado, o sr Presidente da República parece dar-se ao luxo de marcar prazos  ao governo quanto à estabilização das urgências. Vem tarde e mal sobretudo neste domínio da saúde onde, sobre ele, correm desencontradas acusações quanto à marcação de actos médicos às duas crianças luso-brasileiras.

Tivesse Sª Exª mandado para o caixote do lixo o mail do filho (com quem agora estará eventualmente zangado...) e nada disto aconteceria nem aquela CPI  desastrosa e pouco educativa (e meço as minhas palavras...) não andaria a consumir tempo e televisões. E ainda temos um larguíssimo ano e qualquer coisa de professor doutor Marcelo. Muitos pecados havemos de ter cometido...

estes dias que passam 928

d'oliveira, 06.08.24

 

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O Verão, ou este Verão ...

mcr, 6-8-24

1 as urgências  para grávidas fecham sucessivamente.

As grávidas são empurradas para hospitais cada vez mais longe.

Parece que algumas tem sorte porque há um par de acordos SNS com hospitais privados.

A pergunta que qualquer cidadão faz é a seguinte: porque é que não há acordo com todos e se evitam deslocações de 200 ou mais quilómetros?

2 a palavra comboio em Portugal começa a ser mais rara do que o gato bravo que está em vias de extinção. 

Os programas arrastam-se, atrasam-se e cada vez parece mais difícil pensar em conclusão de trabalhos que deveriam estar finalizados em 2020!...

Pelo meio verifica-se que os concursos são lançados sem estudos prévios, sem planeamento de qualquer espécie e com preços e condições que não atraem ninguém.

Será assim que querem dotar o país de um tgv?

3 um leitor não identificado zangou-se com o meu últimopost sobre a Venezuela segundo a óptica (?) do PCP. 

entretanto o Partido comunista da Venezuela enfileira na oposição ao sr Nicolás Maduro, tiranete local , dá-o por derrotado nas urnas ao contrário dos cavalheiros portugueses do PCP que celebram a sua vitória e a sua "defesa corajosa e anti imperialista do povo venezuelano ou pelo menos do que ainda não conseguiu escapulir-se de um país  arruinado por décadas de poder chavista e bolivariano? Em que ficamos? Na versão lusa do paraíso ou na contestação do partido irmão da Venezuela? E o leitor desconhecido? Continua a ver o paraíso de Maduro ou a cruel realidade já o descoroçoou?

 

Au bonheur des dames 627

d'oliveira, 02.08.24

g3 - cópia

A gata Ingrid Bergman e já uma saudade

mcr, 2 de Agosto 

 

Há um deus único e secreto

em cada gato inconcreto

governando um mundo efémero

onde estamos de passagem

Um deus que nos hospeda

nos seus vastos aposentos

de nervos, ausências, pressentimentos,

e de longe nos observa

Somos intrusos, bárbaros amigáveis Bergman

e compassivo o deus

permite que o sirvamos

e a ilusão de que o tocamos

(Manuel António Pina)

 

 

 

Ao fim de dezassete anos de pura alegria, de mimo de prodigiosos saltos e correrias pela casa, a gata Ingrid Bergman esgotou as suas sete vidas

Em termos humanos era pouco mais velha do que eu e mil vezes mais carinhosa, bem disposta, aventureira e curiosa.

Decerto mofo, ela parecia mais dona da casa, estantes incluídas, do nós. Tirando o colo da CG que ela considerava o seu lugar de eleição para o sono das seus da tarde, havia no mínimo uma duzia e meia de poisos onde era possível encontrá-la deitada a dormir o sono dos gatos bem aventurados. Isto não contando com outros sítios para onde se esgueirava quando via um gavetão aberto, uma porta de armário mal fechada.

Nesses  momentos a CG corria a casa desesperada mesmo sabendo que a gata estava lá dentro e, em princípio, livre de qualquer perigo. Com o passar dos tempos inventámos um método para a encontrar mesmo se isso nos custasse bastante tempo.

Um dos segredos era pensar onde é que ela não poderia logicamente estar. Devo dizer que em trinta por cento dos casos era tio e queda. Estava exactamente aí nesse local que julgávamos inalcançável.

Os gatos são, sabemo-lo todos, curiosos e há mesmo um dito inglês  (curiosity kill the cat) que vem desde Ben Johnson e Shakespeare.

No caso da Ingrid, a curiosidade vinha a meias com o habito de dar as boas vindas a quem quer que nos batesse  à porta. Fazia amigos de quem quer que nos aparecesse tanto mais que, ao contrário da Kiki de Montparnasse, sua companheira de sempre, era absolutamente intrépida e, como o velho chefe gaulês, só receava que o céu lhe caísse na cabeça  ("mais ça ne sera pour demain!").

A idade avançada, um coração subitamente frágil e mais três ou quatro complicações, levaram-na sem sofrimento mas com aflição extrema da CG. na tarde de anteontem.

Uma gata que já era da família (dezassete anos) sempre a partilhar a casa e os dias connosco deixa um rasto de saudade  que vários amigos e familiares já começaram a partilhar.

Este Verão é como o nome de um grande filme de Zurlini, um verão violentoe faz-me lembrar que não é primeiro, sequer o segundo em que apanho subitamente com a notícia da morte de seres queridos mesmo se já esperávamos (desesperávamos...) má notícias. No caso da gata  ela não se queixava mas apenas ia murchando, ia-se afastando, passava longos tempos escondida debaixo de um pequeno maple como se quisesse preparar-se para morrer escondida de todos. morreu com várias pessoas à votla, eutanasiada, na veterinária. Recusei-me a despedir-me dela e menos ainda a vê-la morrer. quero conservar como última imagem dela  o breve momento em que para gozo dela a escovei na varanda à janela. 

Há um par de anos, li uma crónica de Eugánio Lisboa em que este  excelente crítico  referia a morte de uma gata que também acompanhava a família há longos anos- Agora percebo melhor o desgosto que se reflectia no seu escrito. Todavia, o Eugénio, já também cá não está  para eventualmente me ler

*na  vinheta as gatas Ingris Bergman e Kiki deMontparnasse, A A Ingrid é a amarela