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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 950

mcr, 28.11.24

Novembro mês de castanha(da)

mcr, 26-11-24

 

Durante muitos anos da minha vida, trinta e quatro para ser mais preciso, o 25 de Novembro era o dia da "Tomada da Bastilha", feriado estudantil em Coimbra, celebrando a "conquista" de um vago clube de lentes que foi transformado em sede da então novel Associação Académica. 

Nos largos anos passaos em coimbra, sempre desfilei no cortejo de archotes, geralmente reivindicativo, que percorria as ruas da cidade já noite bem entrada.

Todavia, chegado que foi o ano de 75, a data tomou outro significado. Pessoalmente, entendo que o 25 de Novembro significou um par de coisas mais do que evidentes para quem então vivia intensamente a política diária. Em breves palavras, o 25 de Novembro defendeu e confirmou o 25 de Abril. Sou quem viveu esses anos de brasa é que recorda a tentativa mal sucedida de   

assalto ao poder operada pelas franjas mais esquerdistas com um indisfarçável beneplácito do PC. 

Todavia, a partir da manifestação da fonte luminosa, momento em que o PS finalmente mostrou a sua real força na rua, havia já entre muitos militantes da extrem esquerda uma forte suspeita de que a aventura esquerdizante tinha os seus dias contados. O patético discurso de Vasco Gonçalves em Almada, o slogan "força,força , comanheiro Vasco nós somos a muralha de aço" era como se verificou mais um dobre de finados do que um anúncio de um qualquer Outubro bolchebique. O cerco do Parlamento onde uma maioria de praticamente 80% dos deputados reduzia o PC e o seu fiel aliado MDP a uma minoria  sem apelo nem agravo,  demonstrava que havia uma clara tentativa de conquista do poder em Lisbos sem qualquer correspondência real na província. 

Os militares moderados (e o grupo dos nove) puseram em cheque as poucas dúzias de oficiais alegafamente  "progressistas"  e revolucionários e o pequeno grupo de "comissários políticos" que subitamente surgiram.

O Presidente da República  (Costa Gomes)  logo que se deu conta do apoio dos socialistas e das restantes forças à direita destes,  não só afastou Vasco Gonçalves mas também manobrou no sentido de isolar e sibstituir Otelo, então chefe do Copcon e de o substituir no comando das principais unidades militares de Lisboa por Vasco Lourenço. Aliás,Otelo, movido uma vez sem exemplo por alguma racionalidade, afstou-se voluntariamente da projectada insurreição. 

Alvaro Cunhal que pouco antes garantira que a maioria parlamentar não tinha qualquer importância para a "revolução em curso" teve, também ele, o bom senso de conter as suas brigadas de choque que, entretanto, ainsa se juntaram em alguns locais à espera de ordem para constituir milicias populares e apoiar as forças militares revoltosas. Neste cenário, até Rosa Coutinho, o almirante "vermelho" terá contido os fuzileiros que se deixaram ficar nos seus quartéis. 

Em boa verdade o golºe foi mais um acto desesperado do que uma verdadeira tentativa de tomar o poder. Foi também um erro de cálculo e uma manifesta imprudência para não falar do completo desconhecimento do país em estavam. Mesmo que tivessem ganho Lisboa não tinham qualquer hipótese de ganhar o país.

O 25 de Novembro foi um aventureirismo, um "esquerdelhismo" (para recordar um epíteto que o PC dava aos grupúsculos à sua esquerda)  gritante.

Todavia, pelos vistos, ainda há quem faça o luto dessa jornada que foi patética em vez de heroica, insensata em vez de revolucionária. 

É, porem, bom que se afirme claramente ue de facto houve um golpe  e que foi contido por um contra-golpe. A versão actual que nunca houve acção golpista mas apenas mais uma intentona de Direita para abafar Abril é tão absurda como idiota. Os seus actuaisdefensores não perceberam ainda que se, de facto, a acção militar vitoriosa tivesse existido sozinha, Abril seria eventualmente mais uma memóris  e teríamos, na melhor e mais branda hipóteses, uma espécie de versão hungara de governo. 

Recordo-me de ao meio dia ter convidado um amigo vagamente novembrista para almoçar num restaurante onde se juntavam os socialistas mais aguerridos que, um tanto ou quanto estupefactos, nos viram entrar.  De facto, no Porto vários antigos camaradas meus (eu saíra há pouco do MES) entenderam "passar à clandestinidade" refugiando-se sem grande critério em casa de amigos onde poderiam ser facilmente  encontrados no caso de as forças vitoriosas (e para eles "reaccionárias") os quisessem procurar e deter. Aquilo era uma caricatura de Outubro de 17  onde se não avistava sequer um marinheiro de Kronstadt quanto mais um Lenin, um Trotsky ou um stalin...

Pelos vistos uns patetas de Direita que se tomam por radicais acham que tiveram algo a ver com a data. Não tiveram! Ponto, parágrafo! Excepção feita do terrorista MLDP lançador de bombas ou dos entusiastas de um cónego de Braga também muito activo, a direita saudosa de Salazar estava acagaçada e refugiada  em casa e não se mexia. Esperava que o temporal passasse. Quem ganhou foi Soares e Sá Carneiro e também Freitas do Amaral. 

O facto de o PC ter decidido não participar na sessão comemorativa, e de o BE ter apenas uma pessoa na sala mostra, quarenta e nove anos depois, que se consideram derrotados nesse dia, esquecendo-se que ao "borregar" um acto "revolucionário" não conquistaram sequer o direito de  virem agora afirmar que Novembro traiu Abril .

Sem Novembro, no caso pouco plausível de vitória daquele frenética e pobre intentona, poderíamos estar hoje a suportar uma espécie de Maduro ou um qualquer lacaio de Putin (isto, porém, é  tentar recordar a tese do nariz de Cleópatra e do seu eventual comprimento)  Pensar Portugal como uma Cuba ibérica ou como uma Albânia sem Enver Hodja  é um exercício fútil  até para os derradeiros abencerragens dessas duas aventuras nacionais, uma das quais finada e outra com sinais de má saúde. 

O que me surpreende (ou nem isso...) é o facto do partido vencedor de Novembro não ter sabido cortar o passo aos arruaceiros de direita. 

Quanto à AD,  começo a suspeitar que ainda não perceberam bem  que qualquer apagamento perante propostas do Chega não os favorece nem agora nem no futuro. 

Nem sequer os dois discursos marcantes na AR (Presidentes da República e da AR) retiram a formação política do estado de amnésia e anemia ideológica e política que manifestam. 

De qualquer modo, o país não pareceu comover-se excessivamente com a jornada parlamentar e, provavelmente, em Coimbra, os estudantes terão celebrado a sua "Tomada da Bastilha". Se o fizeram, honra lhes seja.   

 

 

estes dias que passam 950

mcr, 24.11.24

Ao Tribunal Internacional não basta parecer 

Tem de ser!

mcr. 24-11-24

 

O TPI emitiu ordens de prisão contra o sr Netanyahu e um falecido cavalheiro da direcção do Hamas

Nada a objectar salvo o facto de ser pelo menos surpreendente a ordem de prender o alegado palestiniano que roda a gente sabe que está morto.

A surpresa não para aqui. É que esta ordem que afinal visa apenas o primeiro ministro israelita parece ter acolhido o finado terrorista apenas para fazer prova de equidade.

Mesmo que um morto pese tanto quanto um vivo não é costume pô-los na mesma balança, Não é sério e permite toda uma série de especulações. 

Eu que tenho um pequeno  mas antiquíssimo ódio de estimação pelo israelita (disse israelita e não judeu para ver se me livro da acusação de anti-semitismo) fico com a desagradável sensação de que este mundo é um palco (cfr Shakespeare, “As you like it”, acto IIº) e que estamos tão só diante de um cenário ou seja que a ordem contra o israelita é mesmo só contra ele. 

Sei que um certo Putin também foi alvo da mesma medida, coisa que, pelos vistos, o não impede de viajar por meio mundo . É verdade que não foi ao Brasil mas mesmo aí tenho sérias dúvidas que um cabo de esquadra o fosse prender.

Que Israel ou o seu governo (aliás legítimo)  tem respondido de forma tremenda ao massacre de Outubro é uma verdade absoluta. Todavia, e já aqui o afirmei, neste duelo mortal não há inocentes. Desde 1948 que se trava uma guerra entre Israel e um punhado cada vez mais reduzido de países muçulmanos, que há crimes que nunca foram punidos e que uma certa “inteligentsia” progressista ocidental nem sempre mediu bem a sua indignaçãoo e bastas vezes optou por uma irrefreável simpatia  não excatamente pelos humilhados beduínos e pobres árabes mas sobretudo contra o chamado “imperialismo”. 

Também já aqui salientei que se os judeus (os poucos que escaparam...) foram para a árida terra do leite e do mel , foi porque ninguém os queria nos sítios onde viviam  (poderia falar da Inquisição ou dos pogroms do leste bem mais mortíferos do que aquela mas temo que já ninguém se arrepie. 

Em boa verdade, também ninguém se interessou pelos pobres camponeses palestinianos que foram vítimas não apenas do exército israelita mas igualmente dos restantes, desta feita árabes, que por várias vezes entenderam invadir o território judeu. Por mera comodidade também estes irmãos de fé meteram gente m campos de refugiados quando não os exterminaram metodicamente (Arafat, líder da OLP, afirmava que os militares jordanos teriam chacinado mais de 20,000 entre meados de 71 e meados de 72). Massacres semelhantes mas de menor dimensão terão ocorrido na Síria, no Líbano ou em Gaza (no caso poer militares egípcios). 

Lembraria, se valesse a pena, que o Egipto fechou completamente as fronteiras com Gaza cortando a única via de fuga  dos palestinianos que fugiam para sul. 

Eu tenho pelo TPI o respeito que merece um tribunal mesmo se pense que este só age de tempos em tempos. Não recordo que tenha perseguido dirigentes turcos que levam uma longa guerra contra os curdos, o mesmo ocorrendo com o criminoso presidente da  Síria que gralças aos amigos russos tem exterminado o seu próprio povo para não falar das minorias habituais (mais ua vez os curdos) que  o regime criminoso a que preside tem levado a cabo. 

Tanbém desconheço qualquer medida em relação aos fanáticos molahs  iranianos  que afogam em sangue os seus conterrâneos principalmente as mulheres. E deixo de lado os talibans afegãos  ou a seita eritreia que transformou o país numa prisão a céu aberto.  Poderia citar mais uma boa dúzia de exemplos em vários continentes  que, à falta de minorias,  vão forçando os seus conterrâneos a exilar-se. Se alguém tem dúvidas basta abrir a televisão à hora dos noticiários e ver caravanas imensas de deserdados a caminho da América do Norte  ou melhor das suas guardadas fronteiras que se irão transformar em mais guardadas ainda. 

Quanto ao malvado Ocidente que umas criaturinhas teimam em condenar diariamente basta lembrar os frágeis barcos carregados de gente que se fazem ao mar Mediterrâneo ou, pior, se possível ao Atlântico  numa fuga quase suicida de África (e de mais longe ainda). 

Só às Canarias aportaram no que vai de ano mais de 30.000 pessoas. Resta saber quantas ficaram pelo caminho em naufrágios. 

A mim o ue me espanta, é que ninguém foge para a Rússia, para a China, para a Índia  ou para outros BRICS-

O TPI, no caso de os seus membros consultarem a imprensa ou verem os telejornais, teria oportunidade de indiciar umas larguíssimas dúzias de notabilidades russas que diariamente advogam o uso de armas mais poderosas contra um país que invadiram. 

Isto para bão falar no caso extremo dos uigures do Sinkiang (chian) que são alvo de uma perseguição implacável por parte da autoridade chinesa. Estima-se em cerca de 20% a população uigure internada  em campos de reeducaço na zona de Xinjiang. 

Nada disto permite tirar culpas ao dirigente israelita. Porém causa alguma espécie  a miopia do TPI em relação a outras personalidades, governos ou países onde os crimes contra a humanidade parecem mais que provados. 

Finalmente: não consta que algum dirigente do Hezbolah  tenha conseguido chamar a atenção do TPI.  “Eppur simuove... se me permitem citar Galileu...

 

 

 

 

 

 

estes dias que passam 949

mcr, 22.11.24

De vezem quando...

mcr, 22-11-24

 

 

Uma excelente entrevista de António Vitorino (Público, 21-11) permite-me, desde logo, salientar um facto desta vez abonatório do Governo actual. 

Ao escolher Vitorino para presidir ao conselho Nacional das Migrações, o Governo não só foi buscar um homem competente, experiente mas também de outra obediência partidária. Louve-se o gesto pelo que ele tem de raro e de sério.

 

Dest feita a escolha nã recaiu num boy, algo de absolutamente incomum noa governções que se tem sucedido mas foi aproveitar a enorme experiencia (até internacional)de alguém que ao longo de um percurso político tem dado provas de inteligência, sensatez e probidade invulgares. 

Sou amigo de AV mas já nem me lembro de o ver. Por junto encontrámo-nos nos Estados Gerais antes da subida ao poder de Guterres e nunca mais nos encontrámos. 

E a propósito dos anunciados "estados gerais, versão beta, propostos por Pedro Nuno , Vitorino tem também uma opinião clara: É inutil e porventura ridículo voltar a usar uma expressão que fez o seu tempo e qie obviamente agora não se repetirá. Nem os actores dão  os mesmos nem os temas nem a circunstância. Usar o mesmo nome é mais um truque. um apelo subreptício para evocar uma época em que o Ps tinha uma política que não se ficava apenas pela conservação do poder a todo o custo.

De resto nem Pedro Nuno é Guterres, muito menos Soares, sequer Constâncio ou Gama. Falta-lhe mundo, cultura e uma sólida formação política sobre o que é ou o que deve ser a social-democracia. 

Voltando porém a Vitorino,  também é digno de registo o facto de ter aceitado um cargo seguramente de muito menor importância de quantos ele exerceu quer a nível nacional, quer, sobretudo, a nível internacional. E isso taambém diz muito da pessoa. 

Vamos lá ver se Vitorino leva o seu dificil barco a bom porto. E se não lhe põem entraves de qualquer espécie...

 

*nota que não tem nada a ver: pela 2ª vez em quase vinte anos apaguei um comentário imbecil e vergonhoso   (o que é espantoso em apenas cinco palavras!...). E serão, apagados todos os que eventualmente vierem do mesmo sítio e autor. Isto não é o moínho da Joana...

estes dias que passam 948

mcr, 20.11.24

mil dias de infâmia

mcr, 19-11-24

 

 

No dia seguinte ao ataque de Pearl Harbour, o Presidente Roosevelt pronunciou um grande discurso perante as duas câmaras do Congresso. 

Nessa alocução histórica Roosevelt  qualificou o dia do ataque como "dia da infâmia".

Creio que ao fim de mil dias de invasão da Ucrânia, poderemos qualificar de infâmia toda a acção russa que começou como operação militar especial, destinada, como se sabe, a durar entre quinze dias e um mês.  

ao fim dos primeiros três meses, a operação que começou no norte e a partir da Bielorussia estava fortemente desbaratada dando origem a uma retirada desordenada que, porém, deixou nas aldeias ocupadas um número gigantesco de mortos quase todos civis abatidos  à queima roupa.

Mudando de táctica a Rússia lançou novas operações militares a partir dos territórios do Donbass que anteriormente, desde 2014, eram palco de combates entre alegados independentistas russófonos e o exército ucraniano. 

Dessa época será bim recordar o abate de um avião comercial holandês que rumava para a Indonésia. 

Conviria, também recordar que nos combates que a partir de 2021 se seguiram a Rússia não só recorreu a um poderoso bando de mercenários, o grupo Wagner, como posteriormente enviou para a frente de batalha milhares de condenados por delitos de todo o género que, obviamente morreram em grande quantidade.

entretanto saíram da Rússia por todas as fronteiras possíveis centenas de milhares de pessoas, na grande maioria homens que não ueriam partecipar naquela guerra .

Ao contrário do que se passa na Ucrânia, a censura militar impede os cidadãos de saberem o que se passa nas frentes de combate e inclusivamente, desconhecer o número de baixas que parece ser terrível.

Também a tarefa de jornalistas ocidentais é quase nula não só pelo risco que correm (acusação de espionagem, propaganda anti-russa...) mas porque não conseguem entrevistar livremente quem quer que seja nem aproximar-se da linha da frente russa.

Leis posteriores à invasão punem com pesadíssimas penas quaisquer opiniões discordantes sobre a guerra, impedem manifestações para já bão falar na manipulação escandalosa de actos eleitorais

É bom lembrar que a Ucrânia (que nos tempos da União Soviética já tinha um estaturo especial e um lugar na ONU- o mesmo sucedendo à Bielorússia) se desligou pacificamente da URSS e, renunciou ao seu poderoso arsenal atómico que passou para a Frderação Russa, e viu garantida por uma série de solenes tratados (que a Rússia subscreveu) a sua total independência. 

Durante alguns anos, a Ucrânia (como ocorre na Bielorússia) foi governada por criaturas pro-russas, algumas das quais, de resto, vivem em Moscovo.

Todavia, a novel república que fora independente durante um breve período de tempo nos primeiros anos posteriores à revolução de Outubro, foi natural e pacificamente  dando sinais de querer aproximar-se da Europa sobretudo porque as vantagens de pertencer à União Europeia eram cada vez mais evidentes. Aliás, e a partir da data da independência centenas de milhares de ucranianos buscaram no Ocidente o trabalho e a riqueza que lhes faltava. Mesmo em Portugal estabeleceram-se quase vinte mil ucranianos.

À medida que a passagem dos anos e as tentativas cada vez mais crescentes de influenciar a governação da Ucrânia se tornavam evidentes mais e mais a população ucraniana desconfiava dos seus dirigentes até ao momento de os expulsar do poder. É bom recordar que todas as principais ameaças veladas da Rússia tiveram a sua origem depois do inicio da era Putin.

Quase dois anos antes da invasão, a Ucrânia foi a votos e elegeu com esmagadora maioria o actual presidente (que de resto vem de uma zona russófona que como as restantes sem excepção confirmaram essa mesma vitória. 

Nas poucas semanas que antecederam a invasão, havia em numerosos países ocidentais a convicção ou a suspeita  que a Rússia preparava uma acção qualquer. Porém por ingenuidade ou incompetência a ideia geral era que seria impensável um ataque militar. A própria Rússia por diversas vezes negou categoricamente qualquer intenção mais agressiva mesmo se, entretanto, já ocupara a Crimeia.

É verdade que mesmo hoje, três anos depois, ainda há uma maioria de países que não aceitam a operação russa, não reconhecem as fronteiras declaradas russas por ocupação militar e continuam a apoiar (pelo menos por palavras...) a independência ucraniana.

 

Também é verdade que os países ocidentais, nomeadamente a maioria dos aderentes da NATO, concedem apoio militar sempre tardio e sempre insuficiente à Ucrânia. Porém, a desproporção de forças é óbvia e o mesmo se passa com a população. A Rússia tem três vezes mais habitantes do que a Ucrânia e utiliza muitos dos súbditos mais pobres, vindas das repúblicas desfavorecidas (e são quase todas) ao mesmo tempo que poupam os cidadãos de origem russa.

Agora, pelos vistos, importou umas dezenas de milhares de norte coreanos  mesmo que se duvide da  vontade destes para combater num país distante por objectivos que provavelmente desconhecem. Eventualmente serão a nova carne para canhão da rússia e desconhece-se a sua aptidão para o combate visto a coreia do norte se limitar até à data a manter um enorme exército que não dá provas de eficácia desde o fim da guerra da Coreia. 

Não vale a pena tentar especular sobre os apoios à Ucrânia que no seio de numerosas famílias políticas alegadamente progressistas e  ocidentais nunca teve o mesmo grau de activismo que a causa palestiniana ou mais precisamente a solidariedade com o Hamas ou o Hezbollah grupos que, pelos vistos, não repelem os seus apoiantes estrangeiros.

Há dias, alguém dizia que o progressismo ocidental exclui árabes e negros dos defeitos de racismo, machismo e ultra-nacionalismo agressivo, Isso, essas acusações, só se aplicam aos homens brancos e ocidentais...

Não sei, e duvido mesmo que Trump saiba, se a Ucrânia vai ou não ser auxiliada na sua legítima defesa contra o imperialismo autocrático russo.

Sei, no entanto, que na hipótese de uma derrota ucraniana, as consequências para a Europa Ocidental serão devastadoras, sobretudo para todos os países da antiga área de influência (passe o eufemismo.) soviético.  

Esperemos que as actuais Democracias não sejam tão ingénuas (outro eufemismo...) quanto as que tiveram de enfrentar Hitler.

Slava Ukraini!

au bonheur des dames 621

mcr, 18.11.24

Um pranto por Maria Parda

(adeus Fernanda Dias)

mcr, 18-10-24

 

 

Ainda há poucos dias, o meu irmão

afirmava  que tínhamos tido uma sorte imensa ao chegar a Coimbra e à universidade em Outubro  de 1960. E isto não se devia a pena a termos vivido uma década de oiro e testemunhado algumas da mais importantes mudanças  que omundo (mesmo este ainda...) conheceu. Desde a eleição de Kennedy, às guerras da Argélia ee do Vietnam . à revolução cubana, ao desastre da "grande revolução cultural (mesmo se nada teve de cultural...) ou aos primeiros tempos da descolonização. A n´vel caseiro, foram os anos da mudança académica em Coimbra, do fortlecimento da oposição estudantil, da guerra colonial e de todos os seus efeitos. Junte-se-lhe o súbito aumento do turismo estrangeiro, a entrada maciça  das mulheres no mercado do trabalho  e paralelamente a primeira e incipiente "democratização" da universidade. Em 1960,  coimbra tinha 5000 estudantes, nove anos depois já ultrapassavam os 8000. E nesse número a entrada de mulheres na universidade tivera um aumento exponencial.  

É e aqui que chgamos à Maria Fernanda Dias (de Almeida Taborda pelo casamento com o António Taborda, seu companheiro de uma vida inteira. também ele dirigente académico, também ele expulso da universidade, advogado de todas as boas causas, amigo indefectível .)

No ano de 1960, a Associação Académica mudou de dirigentes. A mais de dez anos de direcções afectas ao regime salazarista , muitas vezes quase se confundindo com funcionários do governo, eis que uma nova geração irrompeu e graças a um mobilização extraordinária dos estudantes, venceu as eleições para a maior (e mais antiga) Associação de Estudantes do país. Foi a direcção Candal (assim se chamava o presidente eleito, mais tarde prestigiado advogado, importante lider da Oposição e depois, deputado socialista). Candal era apenas o "primus inter pares" dessa lista prestigiosa e prestigiada de estudantes . Apenas referirei que entre os restantes seis havia uma mulher (apenas uma!...) de seu nome Fernanda Dias, estudante de Direito. corajosa como poucos, inteligente como ainda menos, democrata e excelente actriz no TEUC (Teatro Universitário dos Estudantes de Coimbra). 

Em Coimbra, além da AAC, existiam diversos agrupamentos culturais estudantis que mobilizavam muitas  centenas de estudantes e que aliadas a estruturas informais mas tradicionais  na Academia, constituíram sempre o núcleo cultural e político da mudança profunda na massa estudantil.

E é bom lembrar, quase setenta anos depois, que essa geração, mesmo privilegiada pelo nascimento, pela educação e pela fortuna, comeu o pão que o diabo amassou, sofreu perseguições, ameaças de toda a espécie, viu muitos dos seus serem presos obrigados ao exílio durante anos, proibidos de aceder a um sem fim de cargos administrativos ou até à função pública. 

Esta geração, pelo menos os homens, apanhou com a guerra colonial , com as primeiras e duríssimas batalhas de Angola e deixou por lá um rasto de mortos  de que apenas quero referir o João Cabral de Andrade, méd.ico que já não voltou a Portugal , morto numa trivial estrada do norte de Angola. 

A História passa por cima de dramas individuais, de pessoas isoladas, de histórias de heroísmo, coragem, e dedicação para apenas fixar os grandes momentos.

De quando em quando, tento, sem grande talento e menor habilidade fazer o retrato de muitos amigos, companheiros, camaradas que involuntariamente (ou não) me fizeram quem hoje (ainda) sou. Sinto-me, cada vez mais, e mais dolorosamente, um sobrevivente que tem a estricta obrigação de testemunhar. E isso, e quase só isso, a razão desta minha teimosa permanência neste pequeno espaço onde vou escrevendo para eventuais e desconhecidos leitores, muitos ou poucos, pouco se me dá,  e, em boa verdade, uma que outra vez, chega-me desse lado  aí, um eco, um abraço uma pequena voz  que me obriga a continuar.

E hoje, melhor dizendo desde há dias, é a imagem da Fernanda nesse ano longínquo de 60 (ou 61. sei lá) no palco do Avenida a dizer o extraordinário "Pranto da Maria Parda" de Gil Vicente. 

A Fernanda era grande, voz possante, talento para dar e vender e "fazia" uma Maria Parda  extraordinária, vicentina, popular, inteligente. A comédia e a tragédia desse texto vicentino que apenas e, primeira leitura parece cómico, foi um dos grandes momentos do teatro que eu vi(vi) e notem que vi muito, do bom, do maus r do melhor por essa eurpa fora, às vezes em línguas que desconhecia  (e recordo o Piraikon Theatron, grego com duas sublimes tragédias ou uma récita sueca em que apenas descortinei a plavra "Pricessa", assim mesmo,  pelo menos ,assim a registei.  

Depois da actriz, conheci a rapariga, a colega mais velha, a profissional competente, a cidadã exemplar, a amiga. Com o andar dos anos, vamo-nos perdendo de vista e tenho ideia que a última vez que nos encontrámos foi no enterro do António seu marido  e meu amigo. Em envelhecendo vamo-nos isolando, perdendo por icúria ou preguça contactos , caras e amigos. subitamente a morte vm, e com ela um turbilhão de remorsos, recordações, gargalhadas antigas  ou a memória, também dela de momentos de aflição de que os nossos tempos de juventude não foram avaros. 

Agora a Fernanda  já não está. Resta um sorriso, uma palavra gentil o pranto inesquecível da Parda (que em Gil Vicente queria significar negra, que nessa época pré (des)Ventura já por cá mourejavam (e notem esta palavra. mourejar, sinal da mistura de raças e gentes)  pretos trazidos por alguma nau de torna viagem. 

Permitam, pois, este pranto agora meu, por alguém a quem devo uma alegria teatral, outras muitas amigáveis

E se aqui chegou alguém que leio uma vez mais o texto vicentino que em homenagando o Mestre, também há espaço para cumprimentar o actor que o ressuscita cada noite nas tábuas de um teato ode quer que seja.

estes dias que passam 947

mcr, 17.11.24

desabafos de um leitor que (felizmente!) não é 0peraário

mcr, 14-11-24

 

Este texto, se chegar ao fim (vim para Lisboa e esqueci-me do  carregador!...),  deve ler-se como sequência de "perguntas de um leitor que não é operário", homenagem enviesada a Brecht  e aviso a leitores apressados.

 E aqui vamos: 

é verdade que o orçamento do INEM foi, no ano passado cortado em quase 50 milhões de euros? 

Quantos elementos tem o quadro actual do INEM e quantas vagas há?

Apenas as cerca de 250 noticiadas? Quantas pessoas serão necessárias para que o INEM funcione sem percalços  e com segurança para os portugueses, nomeadamente os do interior que são os que mais morreram  durante os últimos dias?

Se for verdade o salário médio bruto de pouco mais de 1000 euros/mês quem é que acha que não há razão para greves no sector?

É ou não verdade que no passado houve (informação sindical) também mortes a lamentar por atrasos imprevistos no atendimento de chamadas?

Finalmente: vigorará ainda a velha sentença que permite atirar a pedra quando não se tem culpas no cartório, telhados de vidro e responsabilidades políticas por falta atempada de actuação neste (e noutros) sector?

 

Tudo isto sem deixar denotar que a senhora Ministra cada vez que abre a boquinha saem mimos do género "vou gastar 70% do meu tempo com o INEM" !!!

Considero uma feia )feíssima) acção a desfeita feita à Secretária de Estado que tnha o UNEM a seu cargo. Mais valia demiti-la.

Aliás, a referida secretária de Estado acha que aguentar com a afronta é bom sinal. Por muito menos as pessoas de bem batem coma porta...

 

nota a 17/11/24: obviamente o computador ficou aem bateria antes de se conseguir publicar o post!... 

 

 

au bonheur des dames 620

mcr, 08.11.24

Teresa Alegre Portugal

mcr, 8-11-24

 

Provavelmente, o nome dirá pouco a muita gente Haverá quem a tenha conhecido como Teresa Alegre, irmã do poeta ou Teresa Portugal mulher do António, enorme músico de Coimbra, auto entre tantas, da música da "trova do vento que passa", verdadeiro e belíssimo hino da minha geração.

Todavia a Teresa era muito mais do que irmã de um ou mulher do outro. 

A Teresa, como as estrelas, tinha luz própria e nunca pairou na órbita de outros mesmo grandes.

Conheci-a pouco depois de chegar a Coimbra já o marido e o irmão eram figuras conhecidas na Academia mas logo que pela primeira vez, falei com ela percebi que aquela jovem mulher (era dois anos mais velha  do que eu) sabia bem o que queria, como queria, tinha opiniões próprias, ousadas, mesmo que uma aparente sensatez e um tom pausado na conversa , a fizessem parecer modesta.

A Teresa, deixem-me dizê-lo já, era forte, cabeçuda, lutadora , bonita  e parecia ter jeito para tudo, sobretudo para o teatro, sempre o CITAC onde deixou uma bela marca como actriz.

Convenhamos que não era fácil ser mulher de um guitarrista do tamanho do António Portugal, excelente amigo e companheiro de tantas lutas ou irmã do Manel amigo também ele, poeta que se tornava notado, orador brilhante nas assembleias magnas e claramente um dos líderes da Esquerda estudantil coimbrã. 

(deixemos aqui uma pequena recordação de sua mãe, outra senhora notável que o Assis celebra num belo poema que alguma vez recitei em público numa das celebrações deste outro grande nome da poesia portuguesa e que também me honrou com a sua amizade ao ponto de me dedicar um dos seus livros.)

O acaso,  vida, a sua indisponibilidade para os jogos políticos fizeram com que ela tivesse uma carreira política cheia mas muito local. Foi deputada pelo PS mas fundamentalmente esteve ligada com vereadora à Câmara de Coimbra. Ignoro a razão porque nunca quis disputar a presidência daquela Câmara mas suspeito que não estava para compromissos  que uma presidência de Câmara implica.

A Teresa era de uma independência quase feroz, mesmo se a expressava com um sorriso amável, discreto e uma voz pausada (uma bonita voz, diga-se de passagem que nisso ela era muito parecida com o irmão...)

Conheci  um belo quarteirão de mulheres que me deixaram sempre a impressão que me ensinavam qualquer coia, que me melhoravam e que provavam com a sua vida e atitude aquela máxima atribuída a Mao Tse Tung (ou Zedong se preferirem) : as mulheres são metade do céu. Muitas ainda estão vivas mas aproveito o momento para citar a Helena Aguiar, a Fernanda da Bernarda ou a maria Manuel Viana , minha prima que praticamente vi nascer, crescer, escrever e morrer de um estúpido cancro depois da morte do filho Manuel num acidente ainda mais estúpido e cruel. Nesta minha longa travessia conheci outras na Alemanha, França  Itália, Espanha ou Holanda por onde felizmente andei o tempo suficiente para ganhar algum mundo e perceber melhor Portugal. Sou, de certeza, o pior feminista que conheço ou, pelo menos o que viu mais mulheres fora do comum, resignarem-se  de certo modo a uma quase clandestinidade que as impediu malgrado as suas qualificações, talento e inteligência,  malbaratando as suas capacidades  em gerir muito mais do que poderiam ter gerido. 

Incluo nesse grupo outra grande Senhora que conheci na mesma época coimbrã e que se chamava Maria( de Jesus) Barroso. E se a cito  com carinho e respeito é porque também foi através do teatro que tive oportunidade de a conhecer e falar com ela. Haveria de encontrar mais tarde e em circunstâncias mais agradáveis quando Mário Soares se candidatou  à Presidência da República. Maria Barroso que além de resistente, professora, deputada teve um forte papel como primeira dama  e mais tarde noutra funções Sobre s minhas amigas já citades tinha uma vantagem: vivia em Lisboa e isso pesa . Estava n o lugar certo e à hora certa  E tinha uma enorme coragem. 

quem me lê já conhece estas digressões um pouco fora o texto  mas julgo que apenas ilustram um par de pontos de vista e permitem pelos exemplos colocar no seu devido lugar tudo o que quereria dizer. 

Sou um leitor (e comprador, já agora) de jornais e revistas. Por isso espanta-me (ou talvez não...) o pouco relevo dado à morte da Teresa. Também essa escassez de notícias diz muito das razões da cris crise que afecta a imprensa escrita. ..

Morreu a Teresa há dois dias e só hoje soube disso. É tarde para o enterro mas nem por isso quero deixar bem claro que, para mim, seu amigo  antigo e infiel, foi uma honra, um privilégio, uma alegria  e uma imensa sorte tê-la conhecido

Um abraço aos familiares outro bem sentido ao Manel  e também a todos os que comigo tiveram a dita de conhecer e privar com a Teresa Alegre Portugal, uma grande Senhora.

 

(e já que se falou da Coimbra dos lavados ares permitam que recorde Judite Mendes de Abreu outra mulher que deu a Coimbra e à sua Câmara o melhor do seu talento e capacidades)

estes dias que passam 946

mcr, 07.11.24

The great american disaster

mcr, 7-11-24

 

Numa antiga série policial passada por uma qualquer tv podiamos seguir as aventuras de um policia americano que, por razões de protecção, fora enviado para Inglterra  para trabalhar na Scotland Yard temdo como prceira uma detetive inglesa vinda da aristocracia. Os métodos eficazes mas heterodoxos do americano irritavam o chefe inglês que lhe chamava "great american disaster", um trocadilho cpm o título de uma canção dos Bee Gees   (New York mining disaster, criada em 1967).

Por inexplicáveis razões isto veio-me à cabeça talvez por ser algo muito da minha juventude académica que foi um tempo feliz, violento e inesquecível.

Já não recordo a letra da canção mas a coisa ocorreu-me para classificar a rotunda derrota do partido democrata americano.

Faço parte dos que consideram Trump uma criatura infrequentável, um troglodita, uma aberração pouco sofisticada do mais delirante narcisismo que se pode encontrar. Isto sem falar no mau gosto da criatura, no machismo alarve,  ns negociatas, na fuga aos impostos e manifesta indigência verbal. 

Por todas as razões e porque com Kamala Harris a "minha" América seria mais agradável e mais previsível, sinto-me hoje completamente derrotado, sentimento que será partilhado por muitos europeus qu, todavia, não são votantes americanos. E foram esses (brancos, negros, latinos, emigrantes estabelecidos desde os cubanos aos portugueses, operários e lavradores e mais uma multidão de criaturas ) que deram a Trump uma tremenda vitória , algo que já não sucedia há mais de cem anos. 

É verdade que esta eleição começou mal para os democratas dado o péssimo desempenho de Biden num frente a frente e a tardia entrada em cena da vice presidente Harris na contenda.

Pessoalmente entendo que muito fez ela em pouco mais de cem dias mesmo se, nos últimos quatro anos tivesse passado despercebida (como de resto é tradição de boa parte dos vice-presidentes americanos).

Porém, nada disto absolve a elite democrata dirigente  que nos últimos anos tem dado mais destaqu a questões que para os americanos são, apesar de tudo, menores e sobretudo porque não foi capaz de contestar alguns êxitos do passado trumpista. Na verdade durante o mandato da criatura, a economia manteve-se bem (graças ao legado de Obama, é bom recordá-lo)  actualmente a inflação mesmo se moderada "comeu" parte dos salários americanos e pode ter suscitado alguma ruína no mundo rural. Isso mesmo terá levadoa uma fraca mobilização da população negra  que sobretudo nos Estados do Sal não se dignou ir às urnas. Outras minorias fizeram o mesmo em toda a parte o que acredita a teses que Kamala perdeu mais votos no seu possível campo do que a soma dos ganhos por Trump. Alguma da esquerda do partido democrata veio dizer isso, mesmo se também haja quem critique a mesma ala pelo seu radicalismo. Haris não conseguiu o apoio dos muçulmanos ou, sobretudo, sofreu a pesada influência dos protestos universitários adeptos da causa palestiniana, ou críticos da violência israelita. em Gaza, no Líbano e muito, muitíssimo, na Cisjordânia. 

Por muito que Biden tenha insistido com os dirigentes israelitas a brutal realidade é esta: OS EUA apoiaram com fornecimentos maciços de armas, e muita colaboração secreta,  Israel. Permitiram a este país (que obviamente tem direito à existência) o que até agora negaram à Ucrânia ou seja levar a guerra até aos locais de onde partem as bombas e os mísseis que destroem paulatinamente o país.

A campanha de Kamala nunca soube interpretar a questão económica nem foi explícita quanto a medidas concretas, reais e eficazes para diminuir drasticamente os efeitos perversos da inflação. 

Nem conseguiu explicar convenientemente os futuros efeitos do aumento verificado no PIB ou no emprego. 

É também provável que a América mais religiosa e conservadora ache as tradicionais propostas democratas  "pouco americanas" ao mesmo tempo que as intermináveis marchas dos refugiados económicos que atravessam o México em direcção à fronteira americana. 

É duvidoso que a imigração dos deserdados da terra  tenha especial efeito no anunciado aumento da criminalidade (que eventualmente poderia verificar-se sobretudo nas grandes cidades de maioria democrática) mas o agitar dessa ameaça tem claros efeitos na multidão menos educada (mas votante!...)

Por outro lado é provável que uma mulher ainda por cima "de cor" filha de emigrantes recentes e educados  não tenha tido o apoio esperado. Nem nas mulheres, nem sobretudo na comunidade negra afro-americana.

De resto, entendo que o partido democrata que tivera na perdida eleição da senhora Clinton. uma expressiva maioria popular e dera uma clara vitória a Biden, pode ter  menosprezado a campanha de Trump e mesmo não ter percebido a sua força e penetração no eleitorado.

Sei perfeitamente que um bom terço dos americanos não vota e que nestas últimas disputas ambos os partidos tentam fazer com que os seus eleitores e simpatizantes vão às urnas. Trump conseguiu maior mobilização e Kamala ficou muito atrás dos anteriores candidatos democratas. 

Em boa verdade, sai de cena (se é que sai...) com dignidade, educação bem longe do que se passou na eleição de Biden. Não sei se isso lhe poderá dar espaço para uma nova candidatura  mas convém lembrar que os democratas terão de fazer uma longa reflexão sobre as suas propostas. É verdade que ganharam em todos os Estados tradicionalmente democratas desde a costa oeste até ao nordeste. Mas não chegou e, sobretudo verificou-se um recuo de votos nos swing states, essenciais para quem quer ganhar eleições.

Finalmente, poderíamos duvidar do sistema eleitoral e da maneira com os "grandes eleitores" apanham tudo nos Estados mas enquanto não houver uma Emenda constitucional é algo que pode favorecer qualquer um dos concorrentes. Como já aconteceu. 

Portanto e em resumo, fui derrotado, coisa que, nesta minha longa vida, já me sucedeu muitas vezes. 

Não vale a pena fazer previsões sobre como Trump governará mesmo se não creia que fará milagres ou sequer que me agradará. No entanto muita água ira passar sob as pontes do Potomac  até ao momento da constituição do novo governo americano. 

Acendam uma velinha... Mal não fará e pode miraculosamente fazer algum bem (pelo menos aos fabricantes de velas...)   

 

estes dias que passam 945

mcr, 04.11.24

O  rei e o ministro timorato

mcr, 4-11-24

 

A monarquia espanhola não faz parte do meu modesto panteão de organizações favoritas. Não porque tenha saudades da República que nunca conheci mas apenas porque nasci nesta iíngua de terra desolada entre a montanha e a areia e seja pouco dado a iberismos de qualquer espécie.

  Todavia ontem fiquei (bem)  impressionado com a coragem dos Reis espanhóis que enfrentaram a multidão que os acusava de tudo e de nada coisa que se compreende numa gente subitamente reduzida à miséria nas vésperas do frio invernal  e da segura lentidão da reconstrução das suas cidades e aldeias. 

Convenhamos que os insultos a Filipe VI e a sua mulher Letícia (raio de nome ...) não tinham grande razão de ser. O Rei não tem poderes executivos de qualquer espécie ,pelo que não serianunca a instância política culpada da inércia indecente do poder central espanhol.  Mesmo se eu saiba que este tipo de máquinas demoram sempre a tornar eficaz qualquer ajuda. 

Porém, o que mais me poderia espantar (e espantou) foi o facto do sr Sanchez ter dado às de Vila Diogo logo  que os protestos começaram. Em primeiro lugar deixou o Rei sozinho a aguentar a chuva de impropérios que só ele merecia. Em segundo lugar, mostrou que a multidão o atemoriza mesmo se fosse duvidoso que alguém se lembrasse de lhe puxar a orelhinha murcha, 

Sua Excelência escafedeu-se,  mostrando que a duvidosa maioria que o aguenta no poder é mais do que artificial e que os seus dotes de governante não atingem os mínimos necessários para enfrentar uma provação  séria e dar alento a uma população que ainda nem sequer pode contar todos os seus mortos e desaparecidos. 

Sondagens  que desde há muito mostram a fraca possibilidade do PSOE actual ganhar eleições mesmo conluiado com partidos radicais e independentistas  já eram conhecidas. Presumo que, se agora, outra se fizesse seria verdadeiramente o sinal da debandada. 

A incapacidade política demonstrada por Sanchez  não é de hoje nem sequer se percebe como é que um indivíduo tão medíocre quanto alto  conseguiu chegar à Moncloa. 

Pelos vistos terá sido o Rei, farto da inacção governamental ,que insistiu em ir até à Comunidade Valenciana , coisa que um governante deveria ter feito logo no dia seguinte ao da tragédia. Mesmo que não levasse nada de especial o dever de um Primeiro Ministro é aparecer nos momentos difíceis e tentar mostrar solidariedade e compaixão. 

Ao fugir tristemente mas depressa, o Chefe do Governo de Espanha desonra-se e desonra o seu Governo. E, obviamente dá armas aos seus adversários conservadores ou radicais de Direita que, num país onde a "hombria" parece ser ainda um valor especial,  o torna uma espécie de balão vazio.

Quanto tempo durará e como durará? 

(algum leitor reparará que nada digo sobre a América. É para nõ tentar o destino nem despertar as Erínias e outras fúrias menores... eu,  claro, votaria sempre contra Trump mesmo que tivesse de pôr o voto no Capitão Marvel. Porém  senhora Harris merece estar nesta corrida e, perdoe-se o cavalheirismo de outras épocas, ela é mesmo  uma Senhora. 

E Trump nunca será sequer uma criatura e menos ainda um senhor... 

No país de Fulkner, Pound, Gillespie ou Ellington  como é que isto foi possível?)

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