Com licença de Vossas Senhorias

Dessa herança me reclamo, mesmo sem desdenhar da cerveja, bebida de pobres no Império dos césares. A verdade é que em havendo dinheiro os sequiosos mediterrânicos nem hesitavam: venha vinho para os nossos copos, como diz a canção.
d'Oliveira é ainda uma modesta e sentida homenagem ao Cavaleiro de Oliveira, Francisco Xavier de seu nome, nado em Lisboa em 1702, filho do contador dos contos José de Oliveira e Sousa. Aliás FX sucede ao pai nesse pingue cargo como dirá a uma dama (ah as damas e FX...) "na minha pátria era contador dos Contos, aqui estou às ordens de V.M. como contador de histórias".
O Cavaleiro, pois era detentor desse grau na Ordem de Cristo, cedo se expatriou e faz parte desse pequeno grupo de ilustres emigrados que deixou mais nome e influência nas cortes europeias de Viena a S. Petersburgo do que na pátria madrasta. Conhecem-se dele livros indigestos e deliciosas cartas, em seu tempo publicadas e prefaciadas por Aquilino Ribeiro que lhe também escreveu exaltada biografia.
Para terminar convém dizer que referindo-se o Cavaleiro ao facto de ter sido queimado em efígie, em pleno reinado de D. José, disse: Nunca senti tanto frio na minha vida como naquele dia.
Como norma de vida deixou esta sentença que bem merece ser recordada: há que dar força à razão para que o acaso não governe as nossas vidas.
Voltaire não diria melhor.
Em segundo lugar, permitam-me que me sinta igualmente afilhado de Carlos de Oliveira, com quem brevemente privei e que tenho por um dos grandes autores da 2ª metade do nosso século XX. Atribui-se-lhe a bela canção heróica musicada por Lopes Graça - Terra pátria serás nossa:
Terra pátria serás nossa
mailo sol que nos cobre
terra pátria serás nossa
mãe pobre de gente pobre
Terra pátria serás nossa
mailos vinhedos e os milhos
Terra pátria serás nossa
mãe que não esquece os filhos
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E se a loucura da sorte
assim nos quiser perder
abre-nos teus braços de morte
e deixa-nos adormecer.
Tudo isto para ir publicando excertos de um diário escrito nos últimos 10/12 anos sobre este amor impossível e infeliz que se chama Portugal, feito mais de lágrimas do que de mar, naufragado entre índias imaginárias e ásperas europas. Para bilhete de identidade, creio que basta.