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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Ainda sobre as palavras

Incursões, 22.07.04
O que mais me entristece nas palavras é não poder dizê-las, é ter de ancorá-las à força entre o coração e a boca, num grito calado, porque tem de ser calado para não ser absolutamente ridículo, num sítio onde tantos podem ler as palavras que nem sempre podem ser ditas, porque há muito que aprendi que a malícia nem sempre está na mão de quem escreve as palavras mas no olhos de quem as lê. É por isso que tantas vezes fujo do mundo, para poder voltar ao mundo, porque tenho de voltar ao mundo e fazer-me à vida, a uma vida que raramente admite gritos que são ridículos. É por isso que tantas vezes me amarro ao silêncio e envelheço nesse silêncio e deixo que as noites, silenciosas, também envelheçam inutilmente. Prefiro assim. E já não tenho idade para mudar, embora saiba que o melhor seria mudar, e que teria tudo a ganhar se me transformasse num traficante de palavras.
Mas eu quero pensar que sou daqueles que não inventam um sentido para as coisas quando as coisas fazem sentido e muitas vezes quando nem sequer fazem sentido. Terei um coração frágil para o que me torna frágil, mas não ousarei simular, nunca! E sei que esta é a minha maior fraqueza. Não viverei o bastante para provar que esta é, também, a minha maior força. Talvez fique a semente, talvez não me estraguem a semente e talvez um dia alguém diga as palavras que ancorei entre o coração e a boca e elas não sejam ridículas.

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