Estes dias que passam 38
Que apagou o archote da guerra.
A partir de agora, é certo,
A terra conhecerá repouso
Idomeneo, 1º acto, nº 3 coro, fala de dois cretenses.
Na minha cidade de Berlin, na cidade onde por duas vezes vivi tempos inesquecíveis, a opera de Mozart “Idomeneo” foi desprogramada pela Opera de Berlin. Vi, com estes que a terra há-de comer, uma senhora chamada Kirsten Arms defender o religiosamente correcto. Porque a certa altura, na ópera, se fala contra todas (insisto: todas) as religiões. Ou de como uma intelectual se demite de tudo o que deveria caracterizar a cultura. Mozart deve revolver-se na sua ignorada tumba. Até a chanceler Angela Merkel está espantada. E a grande maioria das organizações muçulmanas idem. Esperemos que o Conselho de Estado alemão passe a poder contar com a Frau Arms.
Em França um filme consegue finalmente mudar a lei. Trocando por miúdos: durante a 2ª Guerra Mundial, o exército francês contou com 350.000 soldados das colónias, desde a Argélia até Madagáscar. Os veteranos, sobreviventes, tinham pensões dez, vinte ou trinta vezes inferiores aos seus camaradas metropolitanos. O filme conseguiu relembrar ao Presidente Chirac esta pequena infâmia racista. Para o ano, antes tarde do que nunca, as pensões dos bicots e dos nègres serão igualadas às dos franceses brancos.
O comentador, que em seu tempo, entendeu que as guerras coloniais eram infames, afirmação que mantém, pergunta-se, entretanto, como português e cidadão, se os soldados africanos que se bateram por Portugal, salvando acaso algumas vidas mais brancas, recebem as pensões de guerra que lhes correspondem.
Antes que me esqueça: o filme em questão chama-se Indigénes e é realizado por Rachid Bouchareb.
Uma agencia oficial americana, do mais respeitável e establishment que há, veio, mais vale tarde do que nunca, reconhecer que a invasão do Iraque, onde não havia Al Qaeda, nem terrorismo de Estado, desatou uma autentica orgia de atentados, de constituição de grupos terroristas, enfim abriu a famigerada caixinha de Pandora. O Presidente Bush, aproveitou o ensejo para dizer: a) que não conhece essa Pandora mas que já encarregou a CIA de a identificar; b) que não sai do Iraque nem a tiro e que se está nas tintas para os relatórios e que enquanto os mortos forem maioritariamente iraquianos tudo irá bem.
Não é possível infelizmente propor Bush para algum State’s Council porque lá não há. Que pena, que pena...
Algumas leitoras e as colegas bloguistas comoveram-se com a edição anterior de “estes dias... “, a que tinha o nº 39, datada da quarta feira passada. Para regozijo delas aqui se informa que a dieta do escriba prossegue com grande coragem, determinação, sentido de Estado – mas não de conselho! – e que uma barreira psicológica foi ultrapassada. O peso desceu, abaixo de um certo número que, por pudor, não se refere. Menos 7 décimas e entrarei no sobre-peso grau 1. Ora toma!
nota final que nada tem a ver... O Conselho de Estado é segundo a Constituição Política da República Portuguesa um órgão eminentemente político, com funções políticas. Perceberm ou é preciso um desenho?