40 Anos do jornal regional “A Verdade”
Na edição em papel do jornal "A Verdade", associo-me à evocação do 40° aniversário do periódico de Marco de Canaveses, recordando a sua história e a colaboração que encetei na edição número um a convite do primeiro director, o meu querido e saudoso amigo J.M. Coutinho Ribeiro, que foi também editor do Incursões durante vários anos:
"O jornal que tem nas suas mãos completa amanhã 40 anos de vida. A 21 de Janeiro de 1982 saía o número zero do novel periódico marcoense, que se assumia como jornal de intervenção e tinha origem num dos partidos políticos – o CDS – que então integrava a coligação Aliança Democrática, no poder no governo do país e na autarquia de Marco de Canaveses.
O primeiro director do jornal foi o malogrado Coutinho Ribeiro, então estudante universitário de Direito e que na altura dava também os primeiros passos no jornalismo de âmbito nacional, designadamente ao serviço do extinto “O Comércio do Porto”.
Apesar do jornal afirmar desde o início que pretendia intervir politicamente, e assim proporcionar um espaço de debate e reflexão que se afastava das práticas habituais da imprensa regional, procurava igualmente abrir as suas páginas a temas como o desenvolvimento local, a educação, a juventude ou o desporto. Também dava a entender que não procurava resumir-se a um jornal de cariz estritamente partidário, o que poderia limitar as suas ambições.
Com efeito, o número um de “A Verdade” dá a principal fotografia de capa ao então primeiro-ministro, Francisco Pinto Balsemão, e nas suas páginas alberga, por exemplo, artigos de opinião de jovens alheios ao CDS, mas que tinham uma relação próxima com o director do jornal. Um deles era Luís Pais de Sousa, então presidente da Associação Académica de Coimbra e que viria, anos depois, a ser deputado e secretário de Estado. O outro era o autor destas linhas, que estreava a coluna “Palavras da Juventude”.
Na verdade, o meu amigo Coutinho Ribeiro convidara-me para assinar uma rubrica que tratasse dos temas caros aos mais jovens e eu, do alto dos meus 15 anos, com responsabilidades recentes na Direcção da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Marco de Canaveses e na organização política a que pertencia, entendi que fazia todo o sentido aproveitar esse espaço no jornal.
A minha colaboração, contudo, viria a durar poucos meses porque cedo constatei que não podia continuar a colaborar com um meio de comunicação que se ia revelando como um instrumento na estratégia de conquista do poder municipal por parte do CDS e do seu líder, Avelino Ferreira Torres, precisamente em ano de eleições autárquicas.
O jornal “A Verdade” viria a ter, de facto, um papel importante no período de afirmação e consolidação do poder autárquico de Avelino Ferreira Torres e do CDS, nunca escondendo que era um órgão de comunicação subordinado a um projecto político. Nesses anos, inclusivamente, teve de conviver com a concorrência de jornais (e de projectos de jornais…) que foram surgindo a partir dos meios da oposição e que acabariam por se esgotar em função dos resultados alcançados.
40 anos volvidos, “A Verdade” fez o seu caminho e é hoje um projecto muito profissional, integrado num grupo de media, comunicação e marketing. Pude testemunhar isso mesmo nos últimos anos quando voltei a colaborar de forma regular com o jornal. A edição em papel mantém a sua periodicidade quinzenal e debruça-se essencialmente sobre a realidade de Marco de Canaveses. O site, que beneficia da parceria com o “Expresso”, e as redes sociais alargam a sua intervenção a toda a região do Tâmega e Sousa, onde é um órgão de comunicação muito respeitado, como ainda recentemente constatei ao fazer a moderação de debates entre candidatos a várias Câmaras Municipais da região.
O que se espera hoje de um órgão de informação regional? Agora como sempre, que seja fiável na informação que veicula, que seja isento e independente dos poderes locais, que ajude a reflectir e a encontrar respostas para os problemas do dia a dia, que dê voz aos anseios e projecte os êxitos dos seus conterrâneos, que aproxime as instituições das populações, que estabeleça um elo de cumplicidade entre os territórios e as pessoas que aí vivem ou que aí têm as suas raízes.
“A Verdade” tem procurado cumprir estes desígnios, mas, se tivesse de deixar aqui um desafio ao director e à administração do jornal, talvez recomendasse que dedicassem mais tempo e espaço às grandes questões da vida política, económica e social de Marco de Canaveses (e dos municípios do Tâmega e Sousa no caso do site). Problematizar, entrevistar, questionar, polemizar, ouvir o que têm a dizer as forças políticas no poder e na oposição sobre as grandes questões da actualidade e do futuro próximo é tarefa nobre do jornalismo. Tal como acompanhar de perto a acção das principais instituições, zelando em qualquer circunstância pelo interesse público.
Apesar do que nos vão demonstrando os dias de hoje, creio que os jornais em papel continuarão a ter uma missão primordial de informação, o que é ainda mais evidente em territórios com menor literacia digital. Num concelho que conta com uma larga tradição na imprensa, faço votos de longa vida ao jornal “A Verdade”, que soube tirar partido das novas plataformas e agora se declina também em meios que estão à nossa disposição num computador, num tablet ou num smartphone. Muitos parabéns!"