o gato que pesca 1
Claro que vocês estarão surpreendidos com o meu nome. Em boa verdade o nome só me serve para cirandar no meio dos humanos. O meu nome de gato é, já se sabe, absolutamente impronunciável por vocês. Não é grave, nós os gatos sabemos desde sempre, que uma das vossas fraquezas é essa absoluta falta de entendimento destas coisas simples que qualquer gato sabe desde que nasceu. O meu hospedeiro propôs-me pois este nome de acordo com a mulher. Parece que Puff é um nome fácil. Assim não se esquecem quando tiverem de me pedir para vir almoçar. Por mim tudo bem se o almoço for coisa que se veja. Os hospedeiros costumam ter ideias absolutamente delirantes sobre o que um gato gosta de comer. Mas já lá iremos.
Antes disso vou explicar-vos porque falo em “hospedeiro”. Os humanos entre outros mitos igualmente pueris alimentam este: que são donos do mundo em que vivem (boa piada) e que podem ser donos de um gato. Como se um gato fosse um cão! Um gato, caros leitores, aceita um hospedeiro e é tudo. Alguém que se encarrega de o alimentar, de lhe dar uma casa, de lhe mudar a areia da retrete. Em troca disso deixamos que nos acariciem e nos forneçam material para aparar as unhas (reposteiros, sofás, maples enfim o trivial). Alguns humanos mais expeditos já perceberam isso mas, pelos vistos, não se importam: um gato dá-lhes status. O meu hospedeiro diz que um gato o faz esquecer por momentos os cavalheiros do governo. Eu deveria irritar-me mas percebo-o. Ele votou por ess a gente e agora tem vergonha.
Foi ele que teve a ideia de me convidar a escrever umas notas de quando em quando. Parece que neste blog há vários hospedeiros de outros gatos, o casal JSC-o meu olhar a dona Kamikaze, perdão Frau Kami, a administradora et j’en passe. Portanto preparem-se: volta e meia aqui virei dizer algumas coisas que nem sempre terão a ver com gatos (sequer os do senhor Fialho de Almeida) mas sobretudo com os humanos. Se em tempos houve um persa convidado a escrever umas cartas sobre os franceses do século XVIII não vejo porque é que, três séculos mais tarde, não deverá um gato, por natureza laico e pouco dado a puerilidades teológicas e salvíficas, dizer da sua justiça sobre um mundo bem menos interessante do que o da “ilustração”.
Aí ao lado poderão ver a minha fotografia. Apesar de perceber a emoção que ela pode despertar nas gatas convém dizer que só tenho dois meses e que, para já, não penso no sexo oposto. Há que dar tempo ao tempo.
Puff v.H.