Da Prima, por causa desta, do primo desta, das paixões da carne que tanto atormentaram o Rei D. João V e dos seus amores barrocos

Teve de socorrer-se desse bem nosso conhecido, o incontornável Marcelo Correia Ribeiro, pois então, pessoa prestimosa, certamente incapaz de dizer não a uma senhora, galante que é, ou não pertencesse a uma geração de românticos, e que se apressou a entregar a carta a …Garcia, perdão, a DLM.
Pois bem, não vai aquela bela donzela, posta em desassossego, sem resposta (aqui não sei se hei-de pedir ajuda ao MCR ou ao Carteiro, que este último, aliás, anda-me cá com uns calores…)
Refere a mesma uns eventos ocorridos na época do senhor João Francisco António José Bento Bernardo, mais conhecido por D. João V O Magnânimo.
Pois é verdade: este nosso rei teve de enfrentar diversos problemas, tais como conflitos de trabalho (vejam bem que, afinal, estes não são apanágio dos nossos pobres políticos de hoje)…insubordinação de nobres e…eis o ponto, perturbações na disciplina conventual!
Mas colhe tempestades quem semeia ventos…
É que este nosso conspícuo Rei perdeu-se de amores por uma pobre freira, Madre Paula de seu nome, que frequentemente visitava no convento de Odivelas. Dessas visitas nasceram os chamados "meninos da Palhavã", para quem mandou construir um palacete aqui em Lisboa, que serve hoje de Embaixada aos nossos “hermanos”…
Aliás dizia-se de D. João V que era tão religioso que todas as suas amantes eram freiras…fraquezas, meus amigos, que eu aqui não estou a atirar pedras a ninguém...
Ora, destaquemos apenas os filhos “ilegítimos” (se o meu antigo Prof. de Direito da Família, Pamplona Corte-Real me lesse, desancava-me já em comentário…era e é muito pós-moderno…)
1. D. Maria Rita, filha de D. Luísa Clara de Portugal, que nasceu e morreu em data que se ignora. Foi monja do Convento de Santos, em Lisboa, e conhecida como a “Flor de Murta”.
2. D. António, nascido nesta nossa cidade de Lisboa, a 1 de Outubro de 1704; aqui falecendo a 14 de Agosto de 1800; foi sepultado no claustro do S. Vicente de Fora; filho de uma francesa e um dos três “Meninos de Palhavã”, por ter sido criado neste palácio.
Foi reconhecido em 1742, tendo obtido o grau de doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra. Esteve desterrado no Buçaco, por ordem de Pombal, de 1760 a 1777.
3. D. Gaspar, nascido em Lisboa, a 8 de Outubro de 1716; falecido em Braga, a 18 de Janeiro de 1789; filho de D. Madalena Máxima de Miranda. Foi o segundo “Menino de Palhavã”. Exerceu o múnus de arcebispo de Braga, de 1758 à data da sua morte.
4. D. José (nascido em Lisboa, a 8 de Setembro de 1720; falecido nesta a 31 de Julho de 1801; sepultado no Mosteiro de S. Vicente de Fora); ora aqui “bate o ponto”: filho da tal Madre Paula, freira em Odivelas. Chamado o mais jovem “Menino de Palhavã”, foi doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra e inquisidor-mor em 1758. Esteve desterrado no Buçaco, com seu irmão D. António, de 1760 a 1777.
(de referir a ajuda prestimosa da “minha” História de Portugal favorita – a de Joaquim Veríssimo Serrão, no caso, volume v - A Restauração e a Monarquia Absoluta (1640-1750), da Verbo. É que este não é daqueles historiadores que colocam avental para escrever…”topam, não topam?”…
Bem, com estes exemplos, é claro que o ambiente nos claustros não seria o mais propício à meditação à mortificação e à abstinência…
Mais a sério, os exemplos vêm sempre de cima, bons ou maus: se as classes dirigentes (ai o “pessoal ortodoxo”!...) não são um exemplo de honestidade e de probidade, adeus minhas encomendas!
Nos dias de hoje, já ninguém é obrigado a entrar para uma ordem religiosa, ao contrário do passado: tantas e tantas vezes, as raparigas eram verdadeiramente forçadas, por causa da legítima dos filhos varões, a entrar nos conventos…
Hoje, a vida consagrada tem outra dimensão: ela é composta por homens e mulheres que se sentem verdadeiramente chamados por Deus e que respondem ao convite do seguimento radical de Jesus Cristo: imitam a Sua vida, procurando testemunhar o absoluto de Deus e sublinhar a transitoriedade das coisas terrenas.
Mas também aquelas Ordens mais activas, nos dias de hoje, dedicam-se à divulgação da cultura, da educação, da saúde, no cuidado dos mais pobres.
Eu conheço muitos, e dou-vos, caros amigos, este testemunho.
O texto já deve ir longo…A Kami que me perdoe.
Quero agradecer a cartinha que veio pelas mãos generosas do nosso MCR; cá fica arquivada, no “disco rígido”.
Que venham muitas mais: servem de pretexto para estar aqui à conversa.
Do vosso,
dlm/c-m