Entre as letras e as ciências
Todas estas teses são válidas. Mas há um elemento que não pode ser descurado: Portugal sempre foi um país onde se lê pouco. Jornais e livros. Por exemplo: uma das coisas que me angustia é chegar a um tribunal e ver que o jornal que o magistrado traz debaixo do braço é um jornal desportivo. E apenas esse. Angustia-me que imensos advogados que eu conheço não leiam um jornal diariamente e fiquem com ar interrogativo quando alguém fala na notícia do dia. Tritura-me a história que me contaram este fim de semana de uma professora de português que confessou que o último livro que leu foi "Os Maias", já lá vão alguns anos.
Maus sinais, penso, que sei pouco destas coisas.
Creio que foi hoje que ouvi o nosso primeiro-ministro dizer que o combate de Portugal terá de ser nas ciências. Talvez. Debitou números que nos colocam muito atrás dos outros países em questões de investigação científica. Acredito. E noutras coisas relacionadas com a ciência. Ok. O homem está para ali virado: para o choque tecnológico. Está bem. Aceita-se. Parece-me, contudo, que não haverá choque tecnológico que nos valha enquanto não ganharmos hábitos de leitura. De jornais e de livros.
E tudo isto leva-nos a outra questão: quando não se gosta de ler, não se pode aprender a escrever. E há outra questão: a maioria das pessoas que escreve na net, fá-lo, não porque gosta de escrever, não porque tem alguma coisa a dizer, mas porque gosta de computadores. Da tecnologia. Será que Sócrates está enganado quando estimula os computadores em vez das letras?

