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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Coincidências

O meu olhar, 17.07.08

Não sei se já repararam mas de algum tempo para cá, mais propriamente a partir do momento que apareceu um investidor privado que se propôs construir uma central de energia nuclear, somos bombardeados, pontualmente mas incisivamente, com reflexões e opiniões sobre a instalação desta fonte de energia em Portugal.

Desta vez foi a propósito de, supunha eu, declarações de Vítor Constâncio. Ouvi essas declarações na TSF, aliás ocupou todo o tempo de notícias de um intercalar. Pensei na altura, mas a que propósito o Governador de Portugal se lembra de lançar esta questão… de novo? Afinal não foram declarações por iniciativa própria, supostamente, mas sim em resposta a uma pergunta de um jornalista. Todavia, como as declarações desencadearam um amontoado de reacções e reflexões e um tempo de antena assinalável, isto fez-me pensar se não teria sido “cozinhada” a pergunta. Má-língua? Talvez. Não sou propensa a pensar o pior das pessoas à cabeça mas quando as coincidências são tantas dá para desconfiar.

O custo do desperdício

ex Kamikaze, 13.12.04
"Tribunais desperdiçam lixo que vale milhares de euros" - título de notícia do DN

"(...) O montante desperdiçado ainda ninguém o conseguiu apurar, mas os vários oficiais de justiça ouvidos pelo DN admitem que possa atingir os 400 mil euros (80 mil contos)."

Já dava para renovar o parque automóvel do DCIAP e não só...

Não atam nem desatam

ex Kamikaze, 31.10.04
O Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) de Vilamoura a Vila Real de Santo António começou a ser elaborado há oito anos. Finalmente há a promessa de o aprovar até final do ano. A costa algarvia, entretanto, sofreu muitas metamorfoses. Há praias que quase desapareceram, vivendas de luxo que foram penduradas nas falésias e mais casas clandestinas que foram erguidas nas ilhas-barreira. Por outro lado, o reforço do cordão dunar e o desassoreamento da Ria Formosa, na zona de Cacela e noutros pontos mais frágeis do ecossistema, custou em 1999 cerca de dez milhões de euros.

A elaboração do POOC foi apresentada como uma panaceia para este troço da costa algarvia, mas agora que a legislação está para sair parece que tudo vai ficar em aberto.
A demolição das mais de 1500 casas de veraneio, clandestinas, ficará dependente de planos de pormenor e de requalificação, a elaborar não se sabe quando. Quanto às vivendas, hotéis e golfes junto ao mar, cada caso é visto com um caso especifico. De resto, nem seria necessário aprovar o POOC para mandar demolir as mais de 500 casas ilegais na Ria Formosa. "O POOC não apresenta uma proposta significativamente diferente da do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Ria Formosa (PNRF), não sendo necessária a aprovação deste plano para que se dê o início das demolições", lê-se no documento.

O ministro do Ambiente, na sua última deslocação ao Algarve, garantiu que até final do ano o POOC estaria aprovado. Já no que diz respeito a demolições, foi mais vago: "Vai abaixo o que tem de ir abaixo". Anteriormente, outros governantes tinham proferido, sem resultados práticos, idênticas declarações.

Mais informação no Público on line

Nem só da indefinição do POOC se fez a degradação da magnífica paisagem e ecosistema algarvios. Nos últimos anos, ao abrigo dos celebrados "direitos adquiridos", dezenas de condomínios continuam a emergir em ritmo cada vez mais acelerado (quais cogumelos alucinogéneos) entre a EN 125 e o mar. As suas grandes dimensões, as suas corres berrantes, as suas colunatas, frontões e tudo o mais que o binómio patos bravos/desenhadores tem como atraente, erguem-se inopinadamente no meio de hortas e do que resta dos laranjais, num cenário totalmente deprimente. Tudo (a gosto e) a bem da bem da saúde financeira das autarquias, esse embrião da sebastiânica regionalização.
Salva-se, por enqunto, o que fica para o interior da EN 125. No barrocal, até agora a salvo da gula dos grandes empreendedores, aposta-se cada vez mais no turismo rural de qualidade, em muitos casos (quiçá a maioria), por iniciativa de estrangeiros.
Entretanto, os empresários do sector hoteleiro continuam/rão a chorar em coro pela perdida galinha dos ovos de ouro, os particulares continuarão a anunciar profusamente, nos jornais, o arrendamento de casas nos meses de verão, sabedores que o fisco se está nas tintas, os empresários turísticos continuarão a apostar no turismo de massas que tornou um autêntico pesadelo, entre outras, a outrora magnífica zona de Albufeira e a classe média cada vez mais poderá adquirir a sua habitação de férias com vista para o matagal ou para urbanização idêntica. Nem Vilamoura, salvaguardadas as devidas diferenças, foge a esta lógica: a pura visão do imediato.
E venham mais 5 planos, para tudo ficar cada vez mais na mesma, se não se mudarem as GENTES e as VONTADES.

A cabeça de Nobre Gudes

ex Kamikaze, 29.10.04
Em 20 de Julho dei conta, aqui no Incursoes de notícia do Público relativa à proposta de Sidónio Pardal para a alteração do regime jurídico da RAN e da REN e que me parecia apontar no sentido da preparação de um golpe de estado ambiental”.

Ontem, no Público, dava-se conta que o Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CNADS) emitira, na véspera, um parecer negativo sobre tal proposta e que “ Os conselheiros fizeram a defesa da continuação das figuras da REN e da RAN, acentuando o seu carácter nacional, indo assim contra o essencial da doutrina defendida por Sidónio Pardal, que defendia a transferência da tutela sobre estas áreas para os municípios.” E que “ A Comissão Nacional da REN também já emitiu um parecer muito negativo sobre a proposta, considerando que as reservas eram nesta vistos "como regulamentos urbanísticos quando, na verdade, estas duas reservas devem ser entendidas como servidões, com o objectivo de assegurar a protecção dos recursos considerados fundamentais para a manutenção e preservação do equilíbrio ecológico e de uma estrutura biofísica básica, indispensável ao uso sustentado do território".

Noutro local do mesmo diário, dá-se conta que o ministro do ambiente, Luís Nobre Guedes afirmou, na abertura da 8ª Conferência Nacional da Qualidade do Ambiente, em Lisboa "O meu problema não é com os ambientalistas, é com os interesses", tendo lançado à sua plateia de estudantes universitários, professores e outros especialistas ligados ao ambiente, o seguinte repto: "Peço a vossa ajuda porque vou passar por maus bocados." E apelou à solidariedade dos jovens, universidades e da "gente do ambiente".
Sobre o "caos" do ordenamento do território em Portugal, o ministro reafirmou que o ambiente tem como principal opositor os "ilegítimos interesses". "Não tenho dúvida que tenho a cabeça a prémio", disse, acrescentando: "Os senhores vão ver o que vai acontecer quando eu decidir sobre a RAN [Reserva Agrícola Nacional] e a REN [Reserva Ecológica Nacional], porque têm interesses muito poderosos."

Que este ministro se tem revelado politicamente mais hábil que a maioria, concedo, mas sem esquecer que o ponto de comparação está abaixo dos mínimos. Por isso, como já referi a propósito dos encómios que lhe fez Miguel Sousa Tavares, por ora vou continuar a ver para crer, na terrível dualidade de não querer mal ao nosso putativo Rambo, mas poder ser uma benção para o país que LNG perca a cabeça...

"A inversão de Valores"

ex Kamikaze, 17.09.04
"O que ele (Luís Nobre Guedes) foi fazer! Devia, como disse Álvaro Barreto (em reunião partidária!), "ter esperado dois ou três dias", antes de divulgar o relatório (do inquérito ao incêndio na Galp em Matosinhos). Muito embora o ministro dos Assuntos Económicos afirme que não põe em causa as conclusões do relatório (e com que autoridade o faria, se não é perito na matéria?), ele acha que o modo como o relatório foi divulgado pôs em causa o ministro das Obras Públicas, que veio para o Governo directamente da presidência da Galp.

Ocorre perguntar para que serviriam os dois ou três dias de dilação pedidos por Álvaro Barreto: para tentar suavizar o relatório? Para restringir a sua circulação? Para se encomendar um "parecer" que o contrariasse? Para dar tempo ao ministro das Obras Públicas para se preparar psicologicamente para a revelação pública da incompetência da administração da Galp a que presidia de garantir a segurança de pessoas e bens que lhes estavam confiados? É um mistério, que, infelizmente, ninguém achou interessante esclarecer junto de Álvaro Barreto.

Aparentemente, os militantes do PSD-Açores, destinatários do desabafo, ficaram-se pela conclusão de que tudo não terá passado de uma guerra interpartidária, dentro da coligação governamental. Dentro do próprio Governo montou-se então, de imediato, uma campanha de "controlo de danos", com vista ao presente e, sobretudo, ao futuro. Não se podendo ocultar a mensagem, atacava-se o mensageiro. Recorrendo à central de autopropaganda e promoção da imagem há muito ao serviço do actual ministro das Obras Públicas, lançou-se uma campanha de desacreditação de Nobre Guedes, com a prestimosa colaboração do jornal "Expresso". Sempre recorrendo a "fontes governamentais" não identificadas, Nobre Guedes foi acusado de "precipitação", "falta de solidariedade governamental", "ânsia de protagonismo" e até - ao que chega o despudor! - de querer ser "um Carlos Pimenta do século XXI", como se essa história do Ambiente fosse uma questão do século passado, seguramente menos importante do que a defesa da imagem do ministro das Obras Públicas.

Eis o grau de perversão, de total inversão de valores, a que se pode chegar, passo a passo, na gestão da coisa pública! A verdade é menos importante do que a imagem construída dos ministros. A prevenção de acidentes que podem custar vidas e danos ambientais devastadores é menos importante do que a oportunidade e a solidariedade entre membros do Governo. A transparência na gestão dos interesses públicos é menos importante do que do que a manutenção da sagrada impunidade de empresas como a Galp ou da irresponsabilidade funcional adquirida dos gestores públicos. É a diferença, a enorme diferença, entre servir o Estado ou servir-se do Estado.

Apesar de tudo, é intrigante pensar por que razão os cultores do "abafamento" e da irresponsabilidade resolveram levantar publicamente este conflito, em lugar de o deixarem passar silenciosamente, certos, como estão, de que jamais comissão ou relatório algum poderia ter como efeito punir culpados. A razão é simples: eles acham que o ministro do Ambiente teve uma entrada perigosa em cena. E resolveram avisá-lo desde já que não pense em brincar aos Carlos Pimenta. Há aí muitos e poderosos interesses, aliás representados no Governo, que não esperam nem contam com um ministro disposto a enfrentá-los e em esquecera "solidariedade governamental". O aviso fica feito, a próxima guerra fica marcada e, ou muito me engano, ou já há vencido antecipado. "

(excertos da crónica de Miguel Sousa Tavares no Público de hoje)

Nota - gostava de, à conta deste episódio, poder depositar em Nobre Guedes toda a fé que deposita MST, mas sou mais de "ver para crer" e ainda vi pouco... estando por demonstrar, apesar da bem construída tese de MST, as verdadeiras motivações de LNG neste sucesso.

As nossas cidades

ex Kamikaze, 26.08.04
Um post de António, da irmandade do queijo, levanta um conjunto de questões polémicas sobre a matéria, a merecer séria reflexão, pelo que aqui se transcreve no essencial.
Entretanto, Luís Filipe Menezes inaugurou já e em força, o coro de protestos previsíveis, com imediato sucesso.
Tratar-se-á apenas do jogo de forças do costume ou o autarca estava, até, cheio de razão? Não conhecendo suficientemente o tema para poder opinar, deixo aqui um convite ao debate (talvez Gomez, por exemplo, possa iluminar-nos com as suas sempre esclarecidas opiniões).

Os Polis (Traumatizados)...
(...) O programa POLIS- Viver as Cidades, criado em 2000 pelo governo português na altura governado pelo Engº Guterres, tinha como principal meta a modernização e requalificação das cidades abrangidas. No início foram 18 , as localidades escolhidas, sendo as intervenções eram geridas pelo Estado e pelas autarquias e as restantes intervenções foram alvo de contratos-programa por ajuste directo.
(...)Ora o programa POLIS, com recurso a financiamento comunitário e financiamento directo via orçamento geral do Estado Português, decidiu investir , fazendo assim cumprir a lei das finanças locais, no que diz respeito ao endividamento das mesmas e , colocar o ónus do investimento e modernização das cidades para o Estado. Mas nem tudo correu bem e hoje passados 4 anos é legítimo questionar se os investimentos modernizaram de facto as cidades em causa ou se porventura tal modernização não se ficou por rotundas , umas pinceladas nas paredes e pouco mais ?
O Estado já contempla no PIDDAC, fundos para as autarquias, as autarquias fruto dos impostos municipais de imóveis complementam os seus orçamentos, mas a verdade e quer se queira quer não, as autarquias são autênticos mestres na arte de esbanjar dinheiro.
O verdadeiro problema é de facto na forma como se pensa o ordenamento do território em Portugal, pois chega a ser demagógico o Estado gastar dinheiro para a reaqualificação urbana colocando esses fundos nas autarquias e depois as mesmas autarquias aprovarem empreendimentos que ou constituem verdadeiros atentados ao PDM ou as mesmas autarquias procederem a alterações do PDM para aprovação de empreendimentos urbanísticos, cujas receitas irão providenciar importantes receitas autárquicas.
Por outras palavras, nenhum presidente de câmara contemplada com o POLIS, pode afirmar a pés juntos, que ao mesmo tempo que beneficiava do POLIS , não autorizava a construção de autênticos atentados ao ordenamento do território.
Atente-se assim aos seguintes dois exemplos do que o POLIS faz pelo país fora...Gaia - Desenvolvimento de operações de ordenamento de áreas edificadas, ou ainda por edificar, com o objectivo de promover a sua integração urbana e paisagística na frente ribeirinha.Leiria - Requalificação das margens do rio LisPara estes dois casos, são obviamente necessárias demolições de edifícios, mas alguém ouviu falar nelas ? Não, obviamente que não, e quem se quiser aventurar a consultar os sites do programa polis das diversas autarquias, verá que para além de jardins, rotundas, pouco mais foi feito.
Ou seja, o estado criou assim um instrumento que permite que as autarquias cumpram os seus programas pré-eleitorais - pois não é por acaso que o POLIS é criado em 2000 com eleições à porta em 2001 - sem ultrapassarem ainda mais os limites de endividamento.Por uma questão de responsabilidade política, se uma autarquia como Almada, permitiu a construção da forma que permitiu na Costa da Caparica, porque razão deve agora o Estado gastar no POLIS da Caparica, 48 Milhões de Euros, para a mesma autarquia de Almada, a seguir aprovar ao lado da face visível do POLIS na Caparica, um jardim de cravos de Abril, um prédio em condomínio fechado com 20 andares em frente ao mar ? É este o conceito de ordenamento ? Há ainda a forte suspeita que as autarquias utilizem o POLIS como forma de se financiarem de forma directa com as empresas que forem contratadas por ajuste directo. Ou seja nos projectos, os mesmos são sobreavaliados, e as autarquias contraem crédito junto das empresas locais para futuras obras. Será por isto que os autarcas se encontrem politraumatizados ?(...)

No DN -
Menezes ameaça e Governo recua

O Governo já começou a ceder na intenção de cortar verbas no programa Polis. Depois de uma maratona de reuniões e contactos com as autarquias afectadas, o Ministério das Cidades colocou água na fervura e diminuiu os protestos. O ministro José Luís Arnaut telefonou a Luís Filipe Menezes e garantiu os financiamentos previstos para a orla fluvial de Gaia. "Foi uma atitude sensata", disse, ao JN, o autarca.
Após a notícia de ontem do Diário Económico, de que o Governo projectava a reprogramação financeira do Polis, Luís Filipe Menezes ameaçou bater com porta e entregar as chaves da Câmara de Gaia. E como as intenções governamentais consistem em adiar para o próximo Quadro Comunitário de Apoio o financiamento dos programas em 13 das 39 cidades abrangidas (o que totaliza cerca de 118. 3 milhões de euros) outras reacções são ainda de esperar.
Entre os projectos de reconversão urbana que deixam de figurar no mapa das intenções a curto prazo, sobressai o Polis da Costa da Caparica, uma vez que, segundo os dados do Diário Económico, 33,2 milhões de euros dos 48,2 milhões de euros previstos na fase inicial para a concretização de vários projectos, foram riscados do mapa. Em 2006 se verá.
Para além do Polis da Costa da Caparica, existem outros cidades cujos projectos poderão ficar amputados, caso as ameaças governamentais se concretizem. Por exemplo, o Polis de Viseu, os financiamentos estimados em cerca de 12,6 milhões de euros, poderão ser transferidos para o próximo QCA e o mesmo sucedendo em Leiria (9,9 milhões de euros), Guarda (5,5 milhões de euros) e Gondomar (6,8 milhões de euros).
(...)
Em tempo recorde-se o que todos já sabiam: ao longo dos anos, os diferentes programas Polis sempre tiveram problemas financeiros, ameaças de cortes, sucessivas reprogramações. Os autarcas sabiam das alterações, mas andavam a tapar o sol com uma peneira. Estavam calados. As autárquicas falam mais alto. Desta vez, Menezes ergueu a voz e ganhou.

Ainda as outras polémicas

ex Kamikaze, 09.08.04
(...) "vale a pena olhar para o problema dos fogos de outra maneira. Não como um problema da nossa política florestal, mas como um problema do nosso mundo rural que ignoramos de forma sistemática durante todo o resto do ano (sintomaticamente o ministério responsável por avaliar os prejuízos dos incêndios é o Ministério das Cidades: será preciso melhor demonstração de como o nosso mundo rural não tem lugar no centro da decisão política?).

O mundo rural precisa de ser defendido dos efeitos nefastos dos incêndios, com certeza, e não tanto dos incêndios em si. Mas acima de tudo precisa de ser defendido da nossa visão diletante de viajantes e visitadores, que se incomoda com o aspecto lunar e desolador das áreas ardidas, mas se incomoda muito pouco com o beco sem saída da falta de empregos, de escolas decentes, de acessos decentes (não necessariamente de auto-estradas que ligam as principais cidades dos que por lá passam, mas de estradas decentes que acompanhem as necessidades de quem lá está), de apoio médico decente e de estímulo decente à iniciativa dos que lá estão." (...)

Mais no artigo de opinião do arquitecto paisagista Henrique Pereira dos Santos, in Público de 8/8.

Amigos do Ambiente

ex Kamikaze, 23.07.04
Em Janeiro de 1987, o CDS foi o único partido político que votou na Assembleia da República contra a Lei de Bases do Ambiente. Essa legislação, considerada então inovadora mesmo a nível internacional, foi o pilar de um conjunto de normas ambientais - nomeadamente o princípio do poluidor-pagador - e da responsabilização das indústrias pela degradação ambiental.
Aliás, o CDS manteve sempre, ao longo das três décadas de democracia, uma força política bastante discreta em matérias ambientais e, ao contrário dos outros partidos, não possui qualquer militante com um discurso pró-ambiental.
Isto apesar de Paulo Portas ter esta semana declarado que é «um partido que preserva a vida, respeita o ambiente».

In Diário de Noticias

Ambiente sombrio

ex Kamikaze, 23.07.04
O ambiente está bastante sombrio entre os técnicos e funcionários das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) após a decisão de Santana Lopes de criar dois ministérios que terão competências cruzadas naqueles importantes órgãos que gerem o ambiente, ordenamento e planeamento regional do País.

Apesar de o Governo de Durão Barroso ter estado, durante os últimos dois anos e meio, a reorganizar estas estruturas regionais - fundindo as antigas direcções regionais de ordenamento do território e ambiente com as CCDR -, a criação dos ministérios agora chefiados por Luís Nobre Guedes e José Luís Arnaut está a ser vista como uma forte ruptura política.

Recorde-se que as CCDR, tuteladas por um só ministério, eram apontadas pelo anterior Governo como estruturas essenciais porque as suas competências «agregam e integram as competências nas áreas de planeamento e desenvolvimento regional, ambiente, ordenamento do território, conservação da natureza e biodiversidade».

Com a criação do Ministério do Ambiente e Ordenamento do Território e do Ministério das Cidades, Administração Local, Habitação e Planeamento Regional verifica-se agora exactamente o oposto. «A lógica profunda desta decisão escapa-me, se é que ela existe», critica Viriato Soromenho-Marques, membro da comissão que recentemente apresentou a Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável. Para este professor universitário, «o País precisava de uma coordenação interministerial nestas áreas e a decisão não vai nesse sentido, pelo contrário».
Embora tudo aponte para que seja decidido, para já, uma tutela dupla das CCDR, esta nova reorganização terá como efeito imediato a suspensão da publicação da sua lei orgânica, cuja elaboração demorou cerca de dois anos. Mas, pior do que isso, a existência de dois ministérios obrigará a reequacionar a distribuição dos recursos humanos, financeiros e de equipamentos.

«Este é um processo administrativo e burocrático que será complexo e conflituoso, pois se uma fusão de duas estruturas de um mesmo ministério até pode ser fácil, a separação de uma estrutura para dois ministérios é complicadíssima», diz um técnico superior de uma das CCDR contactado pelo DN. «É como acontece com os casamentos e divórcios», acrescenta. Soromenho-Marques mostra-se bastante pessimista e diz que «as tutelas duplas, ainda mais em estruturas com o peso das CCDR, nunca deram bons resultados».

Aliás, o recente episódio que se viveu na Rua do Século - com José Luís Arnaut a ocupar as instalações do antigo Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente (MCOTA) sem avisar Luís Nobre Guedes - só vai tornar estas decisões mais difíceis, pois a relação entre os dois ministros, soube o DN, é actualmente de «cortar á faca». Mais confusas serão as decisões no dia-a-dia de assuntos que eram decididos pelo MCOTA. Com Arnaut a orientar as políticas urbanas das cidades e o ordenamento do território sob tutela de Nobre Guedes, ninguém sabe ainda quem terá competência para despachar determinados assuntos. (...)

In
Diário de Notícias

Golpe de estado ambiental?

ex Kamikaze, 20.07.04
Da autoria de uma equipa do Instituto Superior de Agronomia, liderada pelo arquitecto Sidónio da Costa Pardal, a última versão sobre um novo diploma legal para regular a Reserva Ecológica Nacional (REN) e a Reserva Agrícola Nacional (RAN) pouco ou nada modifica a versão entregue ao Governo há quatro meses e meio, reforçando, pelo contrário, as ideias principais.
Na proposta de Sidónio Pardal para a revisão do regime legal das reservas ecológicas e agrícolas nacionais, é defendida a
exclusividade dos Planos Directores Municipais na afectação dos usos do solo
.

A versão final, a que o PÚBLICO teve acesso, continua a defender a municipalização da REN, alarga o seu âmbito de forma a abranger as áreas protegidas e os sítios da Rede Natura 2000 - representativos da biodiversidade europeia - e deixa de incluir as zonas declivosas e as áreas de infiltração máxima.

A divulgação do primeiro rascunho, que era ainda um documento de trabalho, deu origem a fortes críticas por parte de vários sectores, que acusavam o Governo de estar a preparar um golpe de Estado ambiental. Confrontado com um manifesto posto a circular por um grupo de cidadãos, onde se contestava a forma como estava a ser feita a revisão do regime geral da REN e da RAN, o então ministro Amílcar Theias afirmou que o trabalho encomendado a Sidónio Pardal teria "de ser repensado, visto que o primeiro relatório apresentado não correspondeu inteiramente aos termos de referência definidos pelos serviços dos ministérios da Agricultura e do Ambiente".
Sidónio da Costa Pardal, arquitecto paisagista, opôs-se à criação da Reserva Agrícola Nacional e da Reserva Ecológica Nacional desde que estas chegaram à lei portuguesa, há mais de 20 anos.

Mais informação no Público de hoje.