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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Proselitismo desportivo

José Carlos Pereira, 09.09.16

presidente do meu clube esteve esta semana em Marco de Canaveses na inauguração da Casa do FC Porto, que alguns amigos colocaram de pé e aos quais desejo o maior sucesso. Mas num momento muito crítico, após a renúncia de um administrador da SAD e vice-presidente do clube e na sequência de três anos marcados pelo insucesso desportivo no futebol, que agravaram a depauperada situação financeira, Jorge Nuno Pinto da Costa parece não ter mais para comunicar do que uns ataques a jornais e comentadores por notícias falsas e críticas despropositadas. Um discurso que já não prestigia o clube e que nada adianta para ganhar o futuro.

Enquanto os sócios e adeptos do FC Porto ficarem satisfeitos com esta forma de comunicar e não sentirem a necessidade de um escrutínio mais rigoroso, temo que se continue a perpetuar no meu clube um modelo de governação fechado em si próprio e ultrapassado.

Uma conquista histórica

José Carlos Pereira, 11.07.16

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A vitória na final do Europeu de futebol frente à França conduziu-nos ao galarim dos países com grandes conquistas internacionais na modalidade. Depois de uma final europeia perdida em casa em 2004, que vivi no palco da decepção, o Estádio da Luz, e de outras cinco meias-finais perdidas, duas em mundiais e três em europeus, Portugal alcançou por fim o lugar mais alto.

Esta não foi a equipa que apresentou o melhor futebol, a que reuniu os melhores jogadores, a mais dotada e a mais querida de todas aquelas que Portugal fez alinhar nas grandes competições. Mas foi por certo a mais unida, a mais determinada e a mais alinhada com os propósitos de treinadores e dirigentes.

Creio que o grande artífice desta conquista foi Fernando Santos. Nunca se vira um grupo tão coeso e um reconhecimento tão grande dos jogadores pela acção do seu líder. Portugal, que costumava ser o país dos casos, das polémicas e das meias verdades nas fases finais, foi desta vez a imagem da tranquilidade e da assertividade.

Encheu-se a boca dos críticos por causa do futebol praticado, nomeadamente na fase de grupos, exigindo à selecção os floreados que ela não podia dar. Fernando Santos percebeu isso bem cedo e tratou de fazer prevalecer o pragmatismo, focando-se nos resultados e não tanto nas exibições. Resumiu bem a questão quando disse que não éramos os melhores do mundo, mas que também ninguém nos ganharia com facilidade. E as vicissitudes da final vieram valorizar ainda mais o papel do treinador nacional, que soube guiar a equipa de modo a ultrapassar os revezes e a tomar opções, arriscadas mas ponderadas, que nos conduziram à vitória.

O futebol português e o país estão em festa. Merecidamente. Uma festa que percorre cada canto do planeta onde há um português ou um descendente de portugueses. E foi precisamente dos emigrantes que veio a força suplementar de ânimo e vontade que muito ajudou à vitória dentro do campo.

Viva Portugal! 

As eleições no FC Porto

José Carlos Pereira, 13.04.16

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Decorrem no próximo domingo as eleições para os órgãos sociais do FC Porto. Jorge Nuno Pinto da Costa recandidata-se ao seu 14º mandato e tem a eleição garantida pelo facto de liderar a única lista candidata. Aliás, Pinto da Costa apenas contou com um opositor ao longo destes anos, o médico e empresário Martins Soares, que disputou sem sucesso as eleições de 1988 e 1991. Curiosamente, alguns dos nomes que acompanharam Martins Soares rapidamente passaram a acérrimos apoiantes de Pinto da Costa…

Nunca votei nas eleições do FC Porto e ainda não sei se o farei no próximo domingo. Creio que também só por uma vez subscrevi a recandidatura de Pinto da Costa, contribuindo para a recolha de assinaturas levada a cabo pela patusca Comissão de Recandidatura de Pinto da Costa, que virou, ela própria, uma “instituição”, com patrocinador e tudo.

Entidades com as características dos grandes clubes de futebol, tal como sucede com outras instituições sem fins lucrativos, que contam com milhares de associados, não fomentam a participação activa nem procuram o contributo da generalidade dos sócios. Na realidade, acaba por não haver um verdadeiro escrutínio por parte dos membros dessas associações ou clubes, cuja estrutura se limita a cumprir os mínimos com as formais assembleias gerais ordinárias que reúnem escassas dezenas de participantes. A verdade é que estas entidades vivem voltadas sobre si próprias e sobre a agenda e os objectivos das suas estruturas dirigentes.

Já intervim em duas Assembleias Gerais do FC Porto e em ambos os casos as minhas interpelações ficaram sem resposta. Num caso, ainda no velhinho pavilhão Afonso Pinto de Magalhães, na sequência dos reparos colocados pelo Conselho Fiscal aquando do início da construção do modelo empresarial do clube. Recentemente, sobre uma alteração estatutária votada praticamente sem discussão e explicação aos sócios. Acabei por ser o único associado presente a não votar favoravelmente essa revisão dos estatutos.

Pinto da Costa apresenta-se a eleições num momento de insucesso desportivo e de evidentes dificuldades financeiras do FC Porto, numa época em que o cidadão comum está cada vez mais intolerante perante falhas de ética, apropriações indevidas de dinheiro e manifestações injustificadas de riqueza. E quando não se ganha, sobretudo no futebol, tudo vem ao de cima. Os adeptos até podem perdoar certos desvarios que enxovalham o clube, mas passam a cobrar tudo quando não se vence. Pinto da Costa sentiu pela primeira vez, no final do jogo com o Tondela, que a bancada do Dragão deixou de o reverenciar acriticamente, imputando-lhe responsabilidades directas pelo estado do clube.

As sucessivas más opções ao nível da gestão desportiva, as finanças periclitantes, as decisões estratégicas tomadas ao nível da SAD que não são escrutinadas pelo clube enquanto maior accionista, os negócios que envolvem a superestrutura e a empresa do filho do presidente – que, por razões éticas, devia estar impedido de negociar com o clube dirigido pelo pai – tudo isso contribui para que Pinto da Costa mereça a crítica aguda de muitos. Se o presidente saísse da redoma em que se encontra e assistisse anonimamente a um jogo nas bancadas do Dragão perceberia o sentimento que percorre os adeptos do clube.

Haveria melhor opção para liderar o clube no próximo mandato? Admito que não. Mas Pinto da Costa arrisca sair por uma porta pequena quando poderia ter saído pela porta reservada aos maiores dos grandes, já que é credor do crescimento extraordinário que o FC Porto registou nas últimas três décadas. Admito que Pinto da Costa não queira privilegiar um sucessor e não pretenda imiscuir-se numa escolha entre pares, mas devia fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para deixar o clube preparado para qualquer liderança futura, venha ela de dentro ou de fora da actual estrutura. Como também devia criar condições para que os estatutos do clube passassem a incorporar uma limitação de mandatos a todos os dirigentes eleitos, como forma de conter os desvios naturais em quem exerce o poder durante anos sem fim.

Espero que os dirigentes que me merecem todo o crédito nos órgãos sociais que vão ser eleitos no próximo domingo, e que escapam ao inner circle de Pinto da Costa, possam ajudar a arejar as ideias dominantes e a fazer vingar a visão do adepto comum, que sofre e vibra com os resultados, mas que pretende acima de tudo assegurar as bases de um clube sério, forte, perene, independente e insubstituível na região e no país.

As eleições no ACP

José Carlos Pereira, 24.02.15

O Automóvel Club de Portugal (ACP) vai a votos no próximo dia 30 de Abril e já se conhece uma lista opositora à Direcção presidida por Carlos Barbosa, que há doze anos lidera os destinos do maior clube português. O ACP precisava desse exercício de vitalidade democrática como de pão para a boca.

Sou associado do ACP há quase vinte e cinco anos e nunca participei na sua vida associativa, situação comum à esmagadora maioria dos sócios, que procuram os serviços do clube, mas não encontram uma estrutura preparada para motivar e envolver os associados. A gestão do clube está centralizada na sede em Lisboa e é acompanhada por uma reduzida clique de dirigentes e associados.

Clubes e instituições como o ACP padecem habitualmente de falta de verdadeiro escrutínio por parte dos seus associados, o que resulta muitas vezes na afirmação de projectos pessoais de poder. É o que parece suceder com Carlos Barbosa no ACP. Foram inúmeras as vezes em que envolveu o clube em polémicas públicas, adoptando posições para as quais não tinha qualquer mandato dos associados. Carlos Barbosa fez do ACP um pedestal para a sua projecção política e mediática, acertando contas pessoais com quem não gostava ou de quem discordava politicamente.

Cheguei a escrever uma nota na revista do ACP, alertando que o clube não podia fazer julgamentos da acção governativa, pois esse não era o seu papel, nem os órgãos sociais tinham mandato para esse efeito. A simples existência de alternativa já permitiu vir a público denunciar essas atitudes, assim como opções discutíveis na gestão dos activos imobiliários do clube. Espero que este período pré-eleitoral seja esclarecedor e, por mim, estou tentado a contribuir com o meu voto para afastar Carlos Barbosa da presidência do ACP. Se continuar a querer fazer política, poderá sempre procurar outros palcos e oportunidades...

E lá se foi o Mundial!

José Carlos Pereira, 27.06.14

 

E pronto. A goleada frente ao Gana, que calaria todos os males, não surgiu e Portugal saiu do Mundial pela porta dos fundos, vítima das suas próprias debilidades e da teimosia (incompetência?) do seleccionador nacional.

Passando ao lado das questões técnicas da preparação e do planeamento da fase final do Mundial, por incapacidade para me pronunciar sobre as mesmas, é para mim evidente que Paulo Bento tinha a obrigação de conhecer, de fio a pavio, a condição física e técnica dos jogadores antes de publicar a convocatória. Apostar num número elevado de atletas com sérios problemas físicos ou com reduzida competição ao longo da época e em outros sem qualidade para estar na selecção só podia dar no que deu.

Uma equipa nestas condições necessitava de ter jokers super motivados pela época que tiveram ou pelos resultados que alcançaram, que ajudassem a compensar a menor disponibilidade física de alguns jogadores e surpreendessem os adversários. Antunes, na defesa, Tiago e Adrien, no meio campo, e Quaresma e Bebé, no ataque, poderiam ser alguns desses nomes. Bento preferiu fechar-se no seu grupo habitual, incapaz de lidar com a irreverência de que Portugal tanto necessitou neste Mundial. Mostrou também inabilidade para lidar com a retirada de Tiago, ao invés do que fez em tempos Scolari, que convenceu Luís Figo a regressar à selecção depois de uma primeira renúncia.

Temos de voltar a página e dentro de pouco tempo surgirá já o apuramento para o Europeu de 2016. Em meu entender, não faz qualquer sentido manter Paulo Bento em funções depois deste inêxito. Será, aliás, a primeira vez que um seleccionador português se mantém no lugar depois de fracassar numa grande competição internacional. Paulo Bento ficou “manchado” por este mundial e não parece talhado para conduzir a renovação de que Portugal necessita. Não se entende como é que a Federação decidiu renovar-lhe o contrato antes da fase final do Mundial, sem cuidar de avaliar os resultados nessa competição. Ou será que a FPF dá-se por contente com os apuramentos “à rasquinha”?!

Desespero

JSC, 17.09.10

D. Sebastião ventríloquo

 

Ilustrando o pântano de interesses em que, durante o seu mandato na Federação, se tornou o dirigismo futebolístico nacional, Gilberto Madail meteu a corda ao pescoço e os pés a caminho e foi a Madrid acocorar-se ante D. Sebastião, tentando, a bem da Nação, convencê-lo de que "é a hora!" e a manhã de nevoeiro chegou (ou, rigorosamente, chegará no próximo 8 de Outubro, data em que a "selecção de todos nós" e do empresário Jorge Mendes joga com a Dinamarca). A ideia é a de que o Desejado passe o "dar o nome" como treinador da selecção, orientando-a por correspondência ("à distância", explica o "Mais Futebol"), encarregando-se a Federação de arranjar uma barriga de aluguer local que dê a cara por ele nos treinos e no banco. A coisa funcionaria assim: o salvador da Pátria ventríloquo falaria em Madrid, nas pausas dos treinos do Real e, em Lisboa, o boneco mexeria os lábios e faria ouvir a sua voz e a sua vontade. Não faltam por aí bonecos, no futebol e no resto. Custa a crer é que Paulo Bento ou Manuel José, os nomes mais vezes referidos como estando nos planos da Federação, aceitem um tal papel

 

Manuel António Pina, JN

 

Ouvi as declações de Mourinho em que fala do convite "emocional" de Madail e da dificuldade em dizer "não" ainda que vá adiantando "acho que não vou", deixando para o Real Madrid a decisão final, que julga ser negativa.

 

Não apreciei aquela atitude de salvador da pátria do futebol "a custo zero", diz que até "paga a gasolina do carro" para se deslocar ao Porto. Mourinho perdeu uma boa oportunidade de ajudar a varrer com a porcaria de que falava Carlos Queiroz.   

Cortes cegos

O meu olhar, 07.09.10

 

 

Seria importante que o país tivesse uma direcção, uma estratégia e que esta fosse conhecida e assumida por todos os que quisessem envolver-se no seu desenvolvimento. E que as orientações estratégicas se desdobrassem nas diversas vertentes da sociedade. Claro que isto não é novidade para ninguém. É verdade para a vida profissional mas também pessoal de cada um de nós. É verdade para as empresas, associações, clubes, equipas. É verdade sobretudo para o país. É uma verdade conhecida por todos mas que ainda poucos põem em prática. Bom, mas não é directamente desta questão que quero falar mas sim de algo que é uma das consequências directas da sua não existência: os cortes cegos na despesa pública.

Sabemos das restrições fortes que foram introduzidas no orçamento da despesa pública para o ano de 2010. Os reflexos dessas restrições ainda não são visíveis por razões que se prendem com a dinâmica de gestão dos orçamentos de cada sector, mas quem está por dentro do sistema sabe bem do peso dos cortes e das suas fortes implicações. Ora, o que me está a parecer é que, com a ausência de uma estratégia, os cortes são feitos de uma forma cega, com a cegueira quantitativa, com percentagens de gabinete, sem olhar às consequências reais desses mesmos cortes.

Tudo isto para falar do desporto amador.  Recentemente soube de dois casos alarmantes: um que me é próximo, outro o da filha de uma amiga minha. Neste último caso uma jovem de 17 anos que obteve os mínimos para ir aos mundiais e que devido aos cortes orçamentais, a respectiva federação não teve dinheiro para levar esta jovem a representar Portugal. Outro, o do meu filho mais novo, que se esforçou tanto para entrar na selecção de Judo, o que conseguiu, mas que agora não tem competições internacionais ( mesmo que realizadas em Portugal), nem tão pouco estágios devido aos cortes orçamentais. Como eles milhares de jovens por esse país fora vêem o seu esforço bater contra uma porta fechada. É lamentável. É evidente que as verbas necessárias para o desenvolvimento do desporto amador são mínimas se comparadas com a maioria dos investimentos públicos. E estamos a investir em algo que, para além de contribuir fortemente para um salutar desenvolvimento dos jovens, ajuda á projecção do país.

Veja-se o caso de Espanha, de há alguns anos para cá optou por uma estratégia de desenvolvimento desportivo e os resultados aí estão: ganham em todas as frentes!

Claro que os cortes orçamentais agora ocorridos não a única razão para que as diferentes federações bloqueiem, até porque, todos o sabemos, é nos momentos de “vacas magras” que se conhecem os melhores gestores. Todavia, isso não retira a anormalidade do que está acontecer em Portugal com estes cortes cegos.