A Direcção-Geral do Orçamento (DGO) proibiu todos os organismos da Administração Pública e as empresas públicas de assumirem qualquer despesa se não tiverem dotação orçamental disponível para cabimentar o correspondente encargo.
Até aqui nada de novo. A novidade está no tom que é usado para impor o cumprimento de uma regra tão específica e fundamental na contabilidade pública. Quem não cumprir, isto é, quem realizar despesas sem a prévia cabimentação, sofrerá sanções disciplinares, financeiras, civis e criminais. Esta responsabilidade pela execução orçamental será aplicada tanto aos titulares de cargos políticos como aos próprios funcionários da administração pública.
Os responsáveis pelos diversos serviços ficaram a saber, estranho é que ainda o não soubessem, que só podem fazer despesa com cabimento prévio. Ou seja, se não há cabimento não há despesa. Sempre foi assim e foi com a aplicação rígida desta regra que Salazar endireitou as finanças públicas. O problema (?) é que hoje a intervenção dos organismos públicos é bem mais ampla e complexa. Acresce a ausênciade de uma polícia política e a presença activa de sindicatos e partidos. Tudo mudou.
Estou curioso em saber se a orientação vai ser mesmo aplicada e em que medida. Pelo menos nos últimos 30 anos, todos, mas todos, os Ministros das Finanças conviveram com o não cumprimento desta regra sagrada e fundamental para uma gestão financeira equilibrada. O seu não cumprimento, por todas as entidades, levou-nos a primeira intervenção do FMI e colocou-nos agora nas mãos da troika.
Ou seja, a regra que tem presidido à gestão pública consiste em comprar primeiro e cabimentar depois, donde se ultrapassar, ano após ano, as dotações orçamentais. É assim que nascem e crescem os chamados buracos orçamentais.
Agora trata-se de saber como é que se pode passar de uma gestão financeira tão livre, com absoluta inversão da regra, para uma gestão tão apertada, com respeito pela regra da cabimentação prévia? Certamente que não será por golpe de mágica do Ministro. Ele deve ter alguma na manga que em momento oportuno nos vai revelar. Ou será que apenas está a tentar ver no que é que dá? Talvez seja mais isto.
Mas que é necessário e urgente disciplinar, financeiramente, os serviços, lá isso é.