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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

O leitor (im)penitente 283

mcr, 24.03.25

 

 

 

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Um agitador cultural como  há poucos, muito poucos, um amigo e um especialista em petisqueiras varia. : Francisco Guedes (de Carvalho)

mcr. 24-3-25

 

Conheci o Xico Guedes há cinquenta  e um anos, mais dia menos dia. ele a a Manuela Sinde, sua mulher, eram amigos da Luísa Feijó, minha amiga desde os anos de Coimbra.  Não sei do que teremos falado mas a partir daí criou-se uma sólida amizade, muito para além da política, dos livros , do dia a dia 

Juntos e logo nos primeiros tempos fizemos uma longa viagem invernal pelo Alentejo e Algarve. Essa excursão numa carrinha Volkeswagen, animada pela gritaria dos miudos Feijó/cunha e, todas as manhãs, criticada pela Teresa Feijó que se indignava por os outros "atamancarem os pequenos almoços (sic)",  permitiu-nos descobrir várias coisas de que, em homenagem ao Xico, apenas refiro um delicioso vinho da adega Mendonça herdeiros (em Borba) e o magnífico queijo de Serpa. queijo e garrafas de vinho etiquetadas à pressa pelo vinicultor, entupiram a bagageira. Depois, num restaurante onde se reuniam duas dúzias de amigos  e que chamava "farmácia Campos" impusemos esses vinho e queijo  a toda a tribo guedes de Carvalho, ao clã sisa e mais uns quantos. 

entretanto o Xico foi trabalhando em várias editoras, chegou a ter uma e depois revelou-se ao organizar primeiro as "correntes de Escrita" na Póvoa ,e mais tarde, em Espinho o festivl "Literatura em Viagem", dois êxitos absolutos que mesmo sem ele, conseguem resistir à usura do tempo. 

Colaborei muito neste último do qual me desliguei quando o Xico, por razões que desconheço, se demitiu.

O xico partiu para outras aventuras literárias (tradução, escrita de livros sobre gastronomia e pouco a pouco fomos deixando de nos encontrar tanto mais que a Manuela morreu. 

Há uns meses falamos ao telefone e ficáos de nos encontrar  "quando o tempo estiver mais quentinho". 

Hoje, a CG, que frequenta redes sociais deu com a notícia da morte (ocorrida esta manhã). como de costume o mensageiro foi o Manuel Valente que também era amigo e como editor sempre colaborou com as correntes e o Lev.

Não vou, não caio nessa!, dizer que esta morte aos setenta e cinco anos deixa um vazio irreparável na cultura nacional. Nçao faço essa desfeita oa xico  e que, aliás, é um nariz de cera  mas que comum.

O Xico faz falta à malta amiga que o conhecia e apreciava. à família obviamente ,ao João e à Francisca e aos irmãos.  Fica-me a sua memória , a sua voz, e a defesa intransigente de um certo estilo de vida (slow food, incluído).  E, como de costume, fico ainda mais só, doença de uma idade  que avança e já começa a parecer-me demasiada. 

 

O leitor (im)penitente 282

mcr, 23.03.25

Sem igual?

-Evidentemente, Antero de Quental!

 

mcr, 21/2/3-3-25

 

Amanhã. pela fresca madrugada, vá lá pela dez da matina, estarei na FNAC para comprar ", Prosas I, Coimbra 1857-1866" de Antero de Quental.

É o primeiro de três volumes que reunem toda a prosa de Antero e traz um selo de garantia absoluta. A  pesquiza, organização  dos textos e da responsabilidade de Ana Maria de Almeida Martins, uma estudiosa a quem se devem muitos outros volumes de Antero ou sobre Antero. Diria, sem qualquer receio que, ANAM é desde há muito a maior e melhor conhecedora de Antero, a mais devotada, a mais criteriosa (e a mas modesta) (empreguei o feminino mas quem me ler pode ter a certeza que no masculino não melhor.

Antero que Eça descreveu como "um génio que era um santo", texto absolutamente fabuloso do autor de "Os Maias", deixou na sua geração um rasto extraordinário que vai muito além da sua obra. 

O texto queiroziano aqui citado  poderá ser excessivo mas é um claro sinal da imensa estatura de alguém que poderia, se tivesse querido, ser tudo ou quase, em Portugal.

Eu, pobre de mim, comecei por lhe ler os "Sonetos" que alumiaram, e muito, a minha juventude liceal, Mais tarde devotei-me à "questão coimbrã" que, de resto, foi integralmente publicada sob o título "bom senso e bom gosto, a questão coimbrã" e organizada por Alberto Ferreira e Maria José Marinho (no 4º volume) A edição é da Portugalia   editora e é de meados de sessenta.

Com o passar dos anos a estima e admiração por Antero cresceram e fui comprando não só os livros de AMAM mas outros que tratavam de   Antero. E assim, no meu pessoal panteão literário ele enfileira com Camilo e Eça na escolha relativa ao  sec XIX não esquecendo Nobre e, sobretudo, Cesário Verde. E Garrett e Herculano obviamente (o primeiro pelas Viagens e o segundo pela Histíria de Portugal e alguns "Opúsculos".  Ainda aí cabem  Oliveira Martins, amigo fidelíssimo de Antero e o notabilíssimo Visconde de Santarém, um conservador que se zangou com D Miguel e se exilou em Paris onde publicou, uma vasta obra elogiada por todas as notabilidades científicas da época. Bastaria a colecção dos atlas reunida por ele  para o consagrar como um dos grandes intelectuais da História  portuguesa. 

 

Hoje, como pretendia, comprei o volume em apreço  mas o meu irmão quis dar-lhe uma primeira volta, descobrindo o nome de um dos nossos antepassados, Manuel da Cota Alemão, tio do nosso trisavô, josé que  que com ele se Jangou a tal ponto que abandonou o curso de Medicina quando apemas lhe faltava um ano para o concluir (de todo o modo isso ter-lhe-á permitido uma vida aventurosa, fartamente recheada deepisódios interessantes sem nunca o impedir de à falta de médico ser o clínico de companheiros de colonização no sul de Angola  para onde emigrou na sequência de um volumoso número de luso-brasileiros que sairam do Brail por dicordarem das autoridades locais e não quererem participar numa guerra contrao Paraguai. Graças ao Marquês de Sá da Bandeira organizaram-se quatro grupos que, em barcos portugueses, levaram para Moçâmedes uns centos de futuros colonos do sul de Angola.

 

Deixando estes apontamentos absolutamente marginais há que econhecer a Ana Maria Martins  (e à editora Tinta da China, também) que esta edição de toda a prosa de Antero em três fortes volumes é um momento alto na edição portuguesa e um contributo extraordinário para o conhecimento desse vulto cultural cimeiro do nosso sec XIX.

De AMAM autora prolífica e anteriana vale a pena ler tudo  mas se ealguma escolha pode ser feita, atrevo-me a recomendar a edição das Cartas e a " Fotobiografia".

Rui Feijó, amigo meu desde os anos 60 e posteriormente meu colega e meu "chefe" na Delegação Regional do Norte da SEC não pode deixar de ser aqui ( uma enésima vez!...) citado porque numa entrevista recentíssima Ana  Maria Martins torna-o responsável pelo começo da sua pesquiza e publicação da sua "anteriana". Todavia, por várias vezes ele me disse que o seu papel fora apenas (e já é muito)  o de indutor de algo que já pre-existia: o amor, o interesse, a generosidade e o afinco com que AMAM tem levado a cabo a sua tarefa evangelizadora de "santo" Antero.

Entre nós (Rui e eu) chamavamos-lhe "soror Ana das anterianas descalças" alcunha bem mais interessante do que a que ela cita  (a Antero de Quental). Direi que neste momento ela já será a Madre Superiora dessa comunidade anteriana. Madre laica, claro mas pedindo meças a qualquer  estudioso  ( e não são poucos!...) de Antero. 

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estes dias que passam 973

mcr, 15.03.25

Uma cultura política se desperdício

mcr,  16-3-25

 

Não, não vou referir-me ao penoso espectáculo da sessão parlamentar onde se discutiu (???) a moção de confiança. Menos ainda as trocas de galhardetes que ao longo destas duas últimas semanas se foram sucedendo.

alguns leitores terão conseguido assistir a tudo aquilo pois lá terão sentido que em período quaresmal convém sofrer para tentar  apagar boa parte dos pecados.

Nisto de sacrifícios oferecidos a Deus conheci dois exemplos perfeitos. Uma senhora dona de uma loja de móveis abstinha-se durante estes quarenta dias de comer chocolates que eu, maldoso e incréu, lhe levava propositadamente para a ouvir recusar sem unca confessar o motivo  da recusa.

O segundo é o do excelente e seguramente já falecido padre Cruz  capelão militar no que na época se chamava Lourenço Marques.

Cruz, amável eclesiástico a quem, por pura mas amigável malícia eu chamava padre Katz em lembrança de um dos extraordinários heróis do "Valente soldado Chveik"  (leiam Jaroslav Hasek, leitores, leiam um dos maiores génios literários do sec XX e da extinta Checoslováquia. hoje reduzida à República Checa) era um dos muitos companheiros de bridge de meu pai. Companheiro é pouco 

 pois o padre era um medonho viciado no jogo.

Durante a Páscoa, oferecia com mais que doloroso sacrifício um jejum absoluto à mesa de jogo. Chegado o sábado de aleluia eis que Cruz vencido o demónio das tentações aparecia reluzente, fresco e pimpão à primeira hora do perído de jogatana. Os amifos não apareciam ou se apanhados por ele escusavam-se. Não podiam, não lhes apetecia. tinham que sair, enfim, um rosário de desculpas que punha Cruz  crucificado e à beira da apoplexia. Aquele complemento de Sexta Feira da Paixão durava escassos minutos mas isso bastava para lembrar ao cléigo que os parceiros de bridge tinham por vezes um ataque de laicismo.

Terminado est apontamento pascoal, voltemos à vaca dria.

Dois meses, dois inteiros meses até que se chegue às urnas!

Países seguramente menos civilizados que Portugal despacham este assunto em escassas semanas e, uma vez realizadas as eleições o Governo constitui-se num período curto quando não é curtíssimo.

Não vale a pena por mais no desenho para se perceber quanto a coisa, entre nós, é lenta, pesada e cara

Uma segunda questão em que hei de insistir até morrer é o facto de a votação recairem listas e não serem uninominais. Isto resulta na completa desreponsabilização dos eleitos perante os eleitores  que, aliás no caso dos maiores círculos nem sequer conhecerem em quem votam. Votam num magote, enfendrado pelos aparelhos o que significa que não são escolhidos os melhores mas tão só os mais obedientes, osque não causam problemas nem têm uma eventual visão crítica  sobre alguma posição partidária...

No meu caso (cidadão votante no Porto) tenho pela frente a tarefa de pôr o papel em trint e seis criaturas (mais os suplentes) pelo que desafio quem quer que seja a afirmar que conhece perfeitamente ou quase (ou só um bocadinho)os felizes eleitos.

Também nisto somos quase únicos e o resultado vê-se.

Poderia juntar a esta penitencial lista mais um par de razões mas hoje é sabado, fim de semana se não chover, e os leitores tem mais em que se entreter. Aguentem a campanha que vai ser memorável  mas, pelo menos, compareçam no local de voto. há sempre o voto branco ou o voto nulo quanto mais não seja para não se assistir outra vez a uma gigantesca abstenção,

E, aproveitando a época, rezem para que não saia eleito outro amigo do alheio...

estes dias que passam 972

mcr, 12.03.25

 Não vale a pena chorar pelo leite derramado

mcr,  12-3-25

 

Ontem, como se já se sabia, o Governo caiu. Poderia ter caído  antes, caso o PS tivesse votado qualquer uma das moções de censura. 

Por razões mais que duvidosas, senão incompreensíveis, o sr Pedro Nuno Santos deixou  o Governo subsistir.

Parece que, apesar da impiedosa acusação à acção governamental, o PS entendeu prolongar uma espécie de agonia que seria coroada por um (mais um!...) inquérito parlamentar. 

Por outras palavras "a pátria estava em perigo mas convinha prolonga-lo para o naufrágio ser mais tremendo"

Não sei se "o terror das perninhas dos banqueiros alemães" alguma vez pensou que quando o mal começa o melhor é atalha-lo quantos antes para tentar estancar a infecção  antes que ela se transforme em septicemia...

O  Governo,  pouco dado aovauto-sofrimento, trocou-lhe as voltas com a apresentação de uma moção de confiança.

Resta saber, apesar das sondagens parecerem desfavoráveis ao PS, se novas eleições mudarão o cenário político.

Também não se sabe se, apesar do constante gotejar de escândalos, o Chega  vê chegado o fim pouco glorioso do seu percurso. 

No que toca à pequena multidão de extrema esquerda também não se avista qualquer espécie de progressão eleitoral.

Tudi isto verificado, a questão fundamental passa a ser uma: conseguirá o PSD aumentar significativamente a sua votação. É verdade que fez tudo o que lhe foi possível para isso.

Em boa verdade, a historieta da empresa de Montenegro, não ajuda muito mas também não dá muito pano para mangas a qualquer acusação séria de corrupção.

É verdade que a argumentação  baseada na transferência da empresa para espos casada em regime de  comunhão de adquiridas, mesmo legal, não diminui o património do marido, como este poderá ter (erradamente) pensado. O facto da referida empresa não ter distribuído dividendos  não diminui o mesmíssimo património.

Como sou pessoa generosa, ingénua e incapaz de ver o mal em tudo, tenho por mim que a maior culpa de Montenegro é o seu extenso desconhecimento das mais elementares regras jurídicas. O que, para um advogado é péssim. Ou então é burrice supina. Neste último caso não merece governar sequer uma freguesia.

De todo o modo, uma comissão parlamentar (e basta olhar para as que vão aparecendo) é uma perda de tempo e de dinheiros públicos. E inibe qualquer governação possível mesmo que apagada. 

Todavia, o parlamento gosta de brincar os detectives ou aos polícias e lafrões numa manifestação infantil de regresso a uma infância feliz, descuidada mas claramente inepta para levar o país para a frente.

O comentariado enterneceu-se com mais esta "abébia" para  dizer o seu par de inutilidades que, porém, rende muito cacau ao comentador...

Hoje uma senhora jornalista pouco versada em História, veio dizer que nem na 1`República houve tantas eleições legislativas em tão pouco espaço de tempo. Mesmo sendo verdade, conviria esclarecer a plumitiva que essa primeira e pouco gloriosa república teve cinquenta e um governos em pouco menos de 16 (dezasseis!...) anos.  E que nos intervalos ainda houve toda a espécie de episódios macabros como revoluções, golpes de Estado, assassinatos de políticos e muita, mas muita morte de civis às mãos de milícias terroristas, armadas , bombistas (a famosa "artilharia civil") que nos intervalos atacavam jornais, sindicatos, instituições religiosas  ou laicas. Não admira que tivesse caído sem um tiro frente a um general Gomes da Costa que saído de Braga em marcha lenta foi aceitando a rendição e ades\ão de todas as unidades militares no caminho de Lisboa derrubando o regime sem um tiro e aplaudido por algumas elites intelectuais ou sindicais que pouco depois obviamente se arrependeram. No rescaldo dessa  marcha lenta e fúnebre, um certo dr Salazar governou o país até cair da cadeira redentora mas podre onde se sentou. 

A ver vamos o que sai disto.

A primeira e grave coisa é que mais uma vez os portugueses são chamados a votar em molhadas de candidatos que por serem muitos nunca darão ao eleitor a possibilidade de pedir individualmente contas a quem senta o dito cujo em S Bento para só o levantar á ordem do chefe da bancada para dizer sim ou não. 

Enquanto este sistema não for modificado para outro baseado na eleição uninominal de deputados, nada feito.

Continuaremos a ter  uma assembleia em que nem sequer dez por cento dos eleitos é reconhecível como dignos de ali estarem. O resto votará sempre à ordem dos joãozinhos das perdizes nomeados pelos aparelhos para pastorear o resto dos par(a)lamentares...

Até que apareça um salvador e todos sabem o que "salvador" quer dizer neste pobre país .

 

 

 

 

au bonheur des dames 623

mcr, 08.03.25

entre marido e mulher 

mete a colher

 

mcr. 8-3-25

 

As leitoras e os leitores (se é que mereço tais plurais) sabem que o provérbio  de que socorro não é exactamente assim. 

Bem pelo contrário a segunda parte rezava "não metas a colher". Todavia, hoje, como aliás, sempre, foi meu entendimento que havia de meter não uma, sequer duas colheres mas um faqueiro inteiro, se possível o de 24 peças...

Não que eu seja feminista mas tão só porque, desde cedo tive um belo lote de amigas e isso sempre me preparou para  considerar que tratar mal uma mulher, considerá-la inferior, era mais do que uma cobardia uma falta ao que nos torna a nós homens mais humanos. Ou simplesmente humanos.

Tive a sorte de frequentar quase sempre liceus mistos mesmo se pelo menos nos intervalos houvesse recreios separados que o Estado Novo "protegia" as virtudes  com maior afinco do que a Igreja, ou as Igrejas para ser mais exacto.

Ainda hoje me gabo de ter amigas desde os tempos da escola primária ou do liceu até às da universidade e posteriormente da vida profissional.

E quando digo amigas, distingo-as das namoradas que, Deus seja louvado, também fizeram o favor de me aturar.

De quando em quando, lá me aparece uma "velha à conversa" amiga com quem me sento à mesa da esplanada falando de tudo um pouco  e sempre com largo proveito meu. De certo modo, acho que as mulheres olham para o mundo e para as suas bizarrias de um modo ligeiramente diferente do meu e que isso me abe perspectivas interessantes e estimulantes para o tentar entender.   

Por isso, p dia 8 de Março pouco ou nada me diz. Ou, mrelhor, irrita-me e infigna-me a simples ideia de haver um dia da mulher como se se excluíssem os restantes 364 dias do ano, esses sim devotados ao homem ou ao que resta de certas tradições patriarcais  que ainda relembram o dito "ao homem a praça, à mulher a casa". 

Isto para não citar o dito alemão (e eu ainda o ouvi um par de vezes nas terras teutónicas) que reservava às mulheres o clássico trio  "Kirche, Kuche,  Kinfer", o mesmo é dizer igreja, cozinha e crianças. 

Portanto, se antipatizo com a celebação não deixo de, à luz crua da realidade, verificar que a longa batalha das mulheres pela igualdade de direitos e deveres ainda vi  ter muito que andar.

São os salários que em condições iguais são sempre mais baixos, são a sobrecarfa de deveres no casal a cair sempre em cima da mulher, é a violência de género que por cada vítima masculina aponta vinte vítimas feminínas,

São os tribunais (e mesmo certas juízas mulheres) que decidem muitas vezes contra a mulher ou desculpam as malfeitorias masculinas  com uma espécie de conformismo com o sarro infame da tradição, enfim são  e há que dizê-lo sem receio, muitas mulheres que  aceitam passivamente um lugar mais que secundário na relação homem mulher. 

Tenho sobre a ideia de quotas por género muitas dúvidas quanto mais não seja porque a simples ideia de quota pode significar um favor, um entorse à igualdade, à competência e à inteligência.

E , convenhamos, basta reparar em certos pormenores para verificar que mesmo sem quotas, as universidades cada vez tem mais mulheres que homens. que certas profissões dantes consideradas exclusivo de homens são maioritáriamente exercidas por mulheres (médicos, magistrados, professores, investigadores científicos  -notem que, nesta lista, só empreguei, et pour cause, o masculino-).

Finalmente, costumo afirmar que não dou para o peditório "progressista"  que garante as virtudes endógenas da Esquerda como suporte único da igualdade homem mulher. Basta olhar para os setenta anos de socialismo real da URSS para verificar não só a falsidade do conceito como sobretudo perceber que durante esse período a causa das mulheres e a sua independência não passaram de uma caricatura.

E não é a actual China, a Coreia do Norte, Cuba ou a Venezuela que  poderão ilustrar tese contrária. Pelo contrário!

 

(seriam muitas as destinatárias  deste texto mas justamente por isso, entendi dedicá-lo à memória de duas amigas recentemente desaparecidas Teresa Alegre Portugal e Fernanda Dias Taborda, dois magníficos exemplos que, uma vez mais, quero recordas com fraterna ternura e indisfarçável carinho.

E junto-lhes a prima Maria Manuel  Viana e a amiga de infância Teresa Estrela Esteves. )

O título do folhetim remete para mais um apelo à solidariedade cidadã com as vítimas de violência de género. Que ninguém assobie para o lado ou passe fingindo não ver. Recusem qualquer solidariedade com o agrssor cobarde!

estes dias que passam 971

mcr, 28.02.25

Navegar em águas turvas.. .

(como de costume...) 

mcr, 28-2-25

 

A sombra do almirante Gouveia  e Melo  estende-se implacável no comentariado e nos candidatos  (efectivos ou virtuais). 

Sempre que se lembram, eis que assestam baterias sobre  o marinheiro e disparando à queima roupa salvas de pólvora seca. 

Eu sou pouco dado a fardas sejam elas as de escuteiro, de tropa ou de porteiro de hotel de luxo.

Vivi alguns poucos anos  entre fardas militares e mesmo que genericamente só quase tenha encontrado gente simpática sempre pensei que aquele mundo não era para mim.

Sou, provavelmente, um civil notório, um paisano até ao sabugo, mas isso não significa que despreze a classe militar, que a julgue inútil  ou inepta.

Só que, desde cedo, sempre pensei que para cada De Gaulle ou cada Eisenhower apareciam 5 Franco, dez Pinocher ou vinte Videla...

Quando, nos idos de 58, tinha eu 17 ingénuos e ignorantes  aninhos! (oh que saudades!....), Portugal foi riscado pelo cometa Humberto Delgado preferi-lhe, de início, a frágil figura de Arlindo Vicente, um advogado  com menos carisma mas, apesar de tudo, um civil. 

Estava farto de militares, fossem eles a sombra de Carmona ou a inerte presença de Craveiro Lopes, caído em desgraça  perante Salazar, um civil  matreiro, rural , inteligente e capaz de tudo para se manter no poder.

(e convém recordar que mesmo depois de ser levado para S Bento por militares, nunca se deixou açaimar por eles e, com paciente sentido de acção, sempre fez o que lhe apeteceu, como e quando  lhe apeteceu...)

 

Claro que entre Delgado e o homem de mão de Salazar, um almirante  esparvoado mas perigoso, se pudesse votar teria preferido o primeiro.

O tempo, porém, revelou as fragilidades de Delgado, a sua   profunda incapacidade política, o seu alucinado arrojo (que o levou à morte  numa terreola de Espanha, miseravelmente enganado por um agente da pide  de quem muitos, senão todos, desconfiavam) .

Todavia, a minha falta de empatia com militares, não vai ao ponto de, a exemplo de uma jornalista tonta., chamar a Gouveia e Melo "o almirante das vacinas".

É verdade que chefiou com  inegável competência o grupo de trabalho que logrou criar condições mundialmente  (insisto: mundialmente) conhecidas e  reconhecidas como exemplares no combate à pandemia. Porém, antes disso, teve uma carreira pejada de sucesso a pontos de chegar onde chegou. e de adquirir o prestígio militar de que goza.

Aliás, é esse prestígio (anterior e posterior à sua passagem pelas "vacinas") que confunde e exaspera um bom número de criaturas espavoridas com as sondagens que o dão como vencedor em todos ou quase todos os cenários eleitorais,

Estamos, entretanto, muito longe da eleição, desconhecemos quantos e quais serão os candidatos no terreno, não está ainda confirmada a candatura de Gouveia e Melo, pelo que os avisos de um par de pseudo Cassandras são (como na "batalha naval" dos meus tempos de liceu) "tiros na água".

Repito, como "aviso à navegação",  que não serei votante do almirante  coisa que só aconteceria se a  2ª volta das eleições se travasse entre ele e o cavalheiro Ventura ou outro do amesmo teor e substância. No entanto, e fazendo figas para que tal não ocorra, é tempo de pedir que a caça ao marinheiro não se transforme numa montaria falsificada  e cobarde. 

O homem merece respeito e, já agora, algum reconhecimento pelo que fez. Açém disso, estão já anunciados ou pré anunciados alguns candidatos que poderão ter um vago passado político de via reduzida mas que tudo indica que são menos dignos da Presidência do que Gouveia e Melo que, como ele próprio afirma, não tem nenhuma capitis deminutio  política ou cidadã.

(a menção "aviso à navegação" é roubada de um título de Joaquim Namorado, poeta, resistente, homem sábio e meu amigo) 

estes dias que passam 970

mcr, 27.02.25

no "reino da estupidez"

mcr, 27-2-25

 

Permito-me roubar a Jorge de Sena parte do título de um dos seus livros, para me perguntar em que país estamos. 

A história não mereceria sequer um comentário não fosse dar-se ocaso de um dos intervenientes ser (ou ser considerado por três basbaques) um "influencer". Só isso já consistiria numa pataratice absurda mas, ao que a televisão (SIC) conta, a criatura leva-se a sério e afirma-se "influencer".

De ser influencer é ser alguém capaz de seduzir (pela inteligência, pelo humor , pela beleza ou pelos seus feitos desportivos ou até pela crueldade ou dalta de escrupulos) umas dezenas, centenas ou milhares de cidadãos  de baixo QI e pouca ou nenhuma auto-confiança ou auto-estima,  já me parece (mau)  sinal dos tempos.

Todavia, no caso em apreço, anda por aí à solta uma criatura que além de se achar influencer lá terá um séquito de pobres diabos a beber-lhe nas  redes sociais, as palavras as ideias  sem perceberem o ridículo de tal condição.

Ora, numa sessão de palermices  de baixo teor (a crer que a televisão não tentou distorcer o teor da fraca conversa e pior figura da referida criatura influencer por conta própria)  a personagem confessou entre gargalhadas esparvoadas e momices de circo pobre que teria atropelado uma cidadã. A confissão, pelos vistos, trazia uma tal cópia de pormenores que rapidamente se soube ou se deduziu sem margem a dúvidas  que corrspondia a factos reais, a uma vítima real e a um lugar igualmente reconhecível.

A polícia ou o MP entenderam que, pelo menos, havia que abrir um inquérito tantojmais que a pessoa atropelada sofrera ferimentos de gravidade cujas consequências parecem ainda não ter cessado de a incomodar e afligir.

Pelos vistos  com a lentidão que o pouco ou nenhum bom senso  (nem vale a pena falar aqui de inteligência aparentemente inexistente) eis que a criatura influencer caiu em si. 

E vá de pelos mesmos meios usados para o cacarejos apalermados que produz, vir em alta grita proclamar a sua inocência.

Afinal não suceera nada, não atropelara sequer uma barata bêbada e tudo o que afirmara na televisão era apenas uma prova da sua delirante imaginação, gargalhadas e esgares incluídos.

A televisão parece não ter acreditado  nesté patético e pateta volte-face, voltou à carga, entrevistou a vítima do atropelamento real, a polícia lá se mexeu e o MP também,

Hoje a influente criatura está em África longe da eventual masmorra  onde deveria estagiar  porque, vejam bem!, sentiu-se ameaçada. Ameaçada não se sabe bem por quem pois a vítima apenas quer justiça, a políca apenas o quer identificar e ouvir e o MP tem vontade de se mexer quanto mais não seja porque havia uma queixa antiga, um processo e, frto de chatear políticos, entendeu lançar a rede ao encapelado mar da multidão influencer (verdadeira ou presumida).

Convenhamos que tudo isto cheira que tresanda, que a criatura gabarola devia dar com os costados na cadeia não tanto (mas também) para pagar a malfeitoria, a cobardia da fuga sem socorrer a vítima  mas ainda para ver se uns dias de repouso numa cela lhe permitem recuperar se possível algum tino já que não parece usar algo semelhante à inteligência..

E, já agora, pelos vistos, nem com tantos dados na mão, houve da parte da polícia e do MP  o cuidado de vigiar telefonicamente o eventual suspeito de atropelamento e fuga. 

Por cá, não só se entre neste jardim à beira mar plantado como se penetra no moínho da Joana mas também, e este não é o primeiro, sequer o décimo caso de alguém se escafeder para parte incerta quando percebe que a Justiça lhe está no encalço.

Arre!

    

estes dias que passam 969

mcr, 25.02.25

55 anos depois...

... a mesma impressão

mcr 25-2-25

 

Há 55 anos cheguei a Berlin depois de uma tormentosa travessia de parte da RDA por uma auto-estrada que bão devia ver obras desde o tempo do IIIº Reich. 

Obviamente, o meu destino era Berlin ocidental, já cercada por um muro infame  que se aprisionava os alemães ali residentes, condenava ainda mais os de Leste que durante o tempo daquele pesadelo aí deixaram quase mil mortos numa desesperada tentativa de fuga do paraíso "democrático" e protegido pelo exército soviético. 

Uma das primeiras coisas que fiz foi ir ver o lado de lá e o que e me deparou foi uma versão pobre, antiquada da parte pobre e antiga da minha cidade natal. 

Berlin leste, a montra da Alemanha (que só um mal inspirado jornalista francês  chamou "a Dinamarca dos países socialistas". 

É verdade que o lado ocidental da cidade era uma montra das maravilhas do Ocidente  mas nem isso caricaturava o desastre oriental. 

Todavia, Berlin capital da RDA era mesmo assim bem melhor e menos miserável do que o resto da República  "Democrática"  Alemã.

Convenhamos que, para castigo dos que levaram Hitler ao poder aquilo era, quinze anos depois do fim da guerra, um impiedoso castigo.

Entretanto o mundo lá foi mudando, o muro abriu uma imensa  brecha numa noite miraculosa e, pouco depois, o império soviético implodiu  gangrenado por contradições internas.

A lemha de leste foi incorporada na República Federal, perdeu imediatamente mais umas largas centenas de milhares de habitantes e, pouco a pouco, graças a uma gigantesca mobilização de capitais ocidentais, lá se foi reanimando  mesmo que ainda não se possa falar no fim da reabilitação daqueles territórios.

Interessa agora sublinhar que, desde essa época até hoje, o que fora um utopico e impossível Estado "socialista" se transformou numa  região que depois de quarenta anos de poder de uma coisa que, anedóticamente, se chamava "partido socialista unificado", vota agora, e cada vez mais, numa repelente nova versão do radicalismo de Direita que ainda não é nazi mas que, com o tempo, poderá voltar a sê-lo.

Foi nesta região ponto por ponto idêntica  a finada RDA, que a Alternativa  venceu (e cresceu).  

À semelhança de outras regiões onde o "socialismo real" floresceu (sempre à sombra do exército soviético , da polícia política, da proibição de partidos democráticos  e da sistemática repressão das oposições) eis a herança da falência de um mito político e económico.

Que numas eleições gerais a "Alternativa para a Alemanha" conquiste um segundo lugar (20% dos votos) suplantando o velho SPD (Parido Socialista Alemão) eis algo com que nós europeus teremos de lidar.

Mais extraordinário ainda, num mundo que subitamente parece ter mudado, temos que quem dirige esse partido, machista, conservador, xenófobo e pró-russo  é uma mulher(!) lésbica  (!!) que vive com uma oriunda do Sri-Lanka (claramente uma imigrante!!!).

Convenhamos que num país onde a imaginação  não caracteriza especialmente a sua gente, a coisa merece um breve apontamento ou pelo menos alguma incredulidade.

Ou, não fora dar-se o caso de isto ser grave, talvez merecesse um sorriso.

Pelos vistos não bastava o tiranete russo, os seus amigos norte coreanos e iranianos, a indisfarçável protecção chinesa ou o delírio absoluto de Trump. Aí está agora, bem fora do armário, o espectro de um fantasma que, uma vez mais, ronda a Europa 

estes dias que passam 967

mcr, 21.02.25

"no  melhor pano..."

mcr, 21-2-25

 

Desde há anos o "Público" apresenta na última página  uma tira de bd chanada ""bartoon", O seu aut,or Luís Afonso, tem graça, é innteligente e normalmente consegue acertar no alvo.Quando digo "normlmente" quero significar que nem sempre  evita falhas que ou se atribuem a uma forte ignorância da História ou, e pior!... , a  um envesgamento ideológico onde aflora uma um certo apeço pela história da defunta URSS e dos  vagos princípios que aí s defendiam sob  nome de socialismo real, científico, puro e sem compromissos de qualquer aspecto com a "burguesia".

Desta feita o habitual barman e o  freguês comentam o facto de a Europa ter de vir a enfrentar quer os russos quer os americanos. A conclusão  dos dois últimos quadrinhos é extraordinária e prova de má fé absoluta ou ignorância gigantesca.

Eis as frases finais: "a ultima vez  que a Europa entrou numa grande guerra teve muitas dificuldades" E  "salvou-se com a ajuda dos americanos e dos russos"

Vejamos: 

A URSS ainda antes de começar a guerra celebrou um tratado com a Alemanha nazi  que permitiu a esta ficar descançada quanto a uma eventual frente lestte, ao mesmo tempo que dividia com o seu aliado a Polónia e lhe permitia a ocupação dos Estados bálticos e mais tarde uma guerra preventiva contra a Finlândia que levaria à conquista de boa parte da Carélia. 

Por seu lado, a URSS permitiu ao seu aliado alemão a ocupação da Noruega, Dinamarca, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, França e pouco depois  dos Balcãs e da Grécia.

Quando os alemães dois anos depois invadiram a URSS logo ingleses e americanos se apressaram a fornecer quantidades gigantescas de armamento e material logístico

Deve-se, também, fazer referência ao facto da URSS ter sido completamente surpreendida com o ataque nazi. A isso, à impreparação das suas forças armadas (decapitadas por Stalin a exemplo do que acontecera com as estruturas políticas incluindo os comités centrais sucessivos do PCUS).

A URSS não veio salvar nenhuma Europa, mas tão só tentou, com escasso êxito inicial, salvar-se à custa do sacrifício de milhões de cidadãos que até (em Stalingrado, por exemplo) chegavam à frente de batalha desarmados esperando recuperar as armas dos soldados entretanto dizimados.

Nem vale a pena recordar que, finda a guerra, o império soviético ocupou meia Europa e conseguiu ficar com a Prússia Oriental, actual Kaliningrado.

Quanto aos Estados Unidos, é verdade que tiveram um papel muito importante na 2ª parte da guerra mas convirá lembrar que, só entraram na guerra depois do ataque a Pearl Harbour e, num primeiro tempo, apenas contra o Japão. Foi a demencial estupidez de Hitler que os empurrou definitivamente para a frente europeia quando sem especial exigência japonesa, entendeu declarar guerra aos EUA. É verdade que a América já fornecia enormes quantidades de material de guerra  à Grã Bretanha (que, de resto, os pagava...) mas Roosevelt teve,  anteriormente, bastante dificuldade em convencer os seus compatriotas a salvar a Europa e a Democracia.

Neste momento  uma tira como a que está a ser mencionada enferma de uma total falta de conhecimento dos factos actuais e dos que antes se referiram.

E, no caso em apreço, é bom lembrar qu a Rússia invadiu sem qualquer justificação plausível a Ucrânia; que Zelensky se mantém como Presidente da República por imperativo constitucional e que a Europa nãao só acolheu mais de três milhões de fugitivos como tem constantemente fornecido apoio militar e financeiro à Ucrânia. A miserável e torpe denúncia de Trump, um ignorante e um presunçoso, sobre a ditadura do presidente ucraniano é grotesca, falsa e apenas demonstra algo que sempre se soube: uma solidariedade vergonhosa com o autocrata do Kremlin que, vai continuando a suicidar os seus oponentes (desta vez foi um músico dissidente que caiu do 9º andar do prédio onde vivia...)

Sou um apreciador de Luís Afonso, a sua tira  é. de resto, a primeira coisa que leio quando diariamente compro o público mas uma que outra vez já verifiquei que nem sempre a verdade é o principal esteio do que desenha. ´É pena mas como de inicio  escrevi no melhor pano cai, de quando em quando, a nódoa.