A justiça que não se faz (por cá e por lá)
Decidi há muito não me pronunciar sobre o que vem a público da investigação que envolve o antigo primeiro-ministro, José Sócrates. Prefiro esperar para ver em que resulta essa investigação e os dados que vão, presumivelmente, suportar a acusação. Isso não impede, contudo, que vá fazendo os meus juízos de valor sobre o trabalho desenvolvido pela investigação, os respectivos timings, as fugas de informação e a cruzada de singulares assistentes do processo.
Soube-se entretanto que a investigação reclamou um prazo de mais meio ano para formular a acusação a José Sócrates. Prazo esse que poderá, eventualmente, vir a ser prorrogado em caso de justificada necessidade. Facilmente se percebe que uma investigação que se prolonga por mais de três anos nunca fará justiça em tempo útil a nenhum cidadão, muito menos a alguém que exerceu funções tão relevantes como as de primeiro-ministro.
Do outro lado do Atlântico, o Brasil está em chamas, com o derrube da presidente Dilma Rousseff na mira de vários sectores políticos e económicos. A recente divulgação das escutas telefónicas envolvendo a presidente e o ex-presidente Lula da Silva foi um dos elementos marcantes do processo em torno do impeachment da presidente, da investigação sobre Lula da Silva e da sua nomeação como ministro.
Perante a repercussão pública dessas escutas telefónicas, o juiz que as revelou veio agora apresentar um pedido de desculpas (!) ao Supremo Tribunal brasileiro. Diz o juiz que não teve motivações político-partidárias. Pois não. Isto depois de já termos sabido que o juiz que suspendeu a tomada de posse de Lula como ministro foi um participante activo nas manifestações políticas contra a presidente Dilma Rousseff…
Cada país tem o seu sistema e as suas regras. Como cada país tem o seu povo e os seus políticos. Mas, cá como lá, é evidente que o comportamento da justiça deixa muito a desejar com estes exemplos e esta conduta.