A troika e a roda da sorte
O país caminha, aturdido, por entre os ecos da discussão sobre se Portugal vai ter uma saída limpa, um programa cautelar ou se recorre a uma terceira via após o final do programa de assistência económica e financeira. Ninguém sabe, neste momento, o que decidirá a Europa dos mais fortes sobre isso – sim, não seremos nós a escolher – mas o tema serve de mote para a discussão política dentro e fora de portas, nas vésperas da campanha eleitoral para as eleições europeias.
Como se não bastasse, o FMI acaba de vir dizer que a austeridade e os cortes serão para continuar, não deixando margem para dúvidas a esse respeito. O Estado tem de se reestruturar e reformar a sério e de caminhar para uma diminuição consolidada do défice orçamental.
Pois bem, como a reforma do Estado enunciada pelo vice-primeiro-ministro não passou de um guião a médio prazo, muito longe de se transformar numa realidade concreta, não surgiu melhor ideia aos nossos governantes do que insistir no aumento da receita fiscal. Se não vai a bem vai à força e então aí teremos em breve a caricata “factura da sorte” para premiar a abnegação dos portugueses na recolha de facturas.
Com esta opção, o Governo fez o trabalho de casa ao copiar modelos em vigor em países como a China e o Brasil, mostrando que se identifica em pleno com o desígnio “tuga”: o jogo, a sorte e o azar, o ganhar sem esforço, a invejazinha que nos faz olhar de lado para o carro artilhado do vizinho, tudo isso cala fundo à maioria dos portugueses. O Governo mais não faz do que procurar o pior que há em cada um de nós, lançando os portugueses na corrida ao jogo… à procura do carro topo de gama.
Melhor retrato do país e dos seus governantes era impossível.