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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

Ajudar a Grécia?!

José Carlos Pereira, 08.01.15

A Grécia mergulhou numa enorme convulsão política nos últimos anos, fruto da crise financeira que se abateu sobre o país e o resto da Europa. É certo que os gregos abusaram da sorte, ao longo de muitos anos, mas não é menos verdade que a Europa, com a Alemanha à cabeça, acudiu tarde e a más horas à Grécia, como se de um filho enjeitado se tratasse.
O pesado resgate financeiro não podia deixar de fazer mossa na estrutura política e partidária grega. Depois de muitas conturbações, a escassas semanas de novas eleições legislativas, o Syriza, partido nascido da contestação às condições impostas pelo resgate internacional, vai à frente na maioria das sondagens e pode mesmo vencer as eleições.
Dessa possibilidade até à enorme discussão sobre se a Grécia vai ou não cumprir as condições impostas pelo resgate e se permanece ou sai do euro foi um pequeno passo. Uns proclamam que a Europa aguentaria “deixar cair” a Grécia, outros apelam aos valores da comunhão e da solidariedade entre países irmanados pelo mesmo ideal europeu.
Pois bem, a Alemanha, com a maior desfaçatez, e certamente com receio das repercussões de uma vitória do Syriza, já veio dizer que, após as eleições, estará disposta a renegociar as condições de pagamento da dívida grega, independentemente do partido vencedor. Em cima da mesa poderá estar, nomeadamente, a extensão de maturidades do empréstimo ou a redução das taxas de juro praticadas. Falinhas mansas, curiosamente proferidas por uma deputada do SPD, que certamente pretendem influenciar a livre opção dos gregos, pois deixam entender, sub-repticiamente, que será mais fácil um acordo de princípio com o centro-direita da Nova Democracia do que com os “radicais” do Syriza.
Esta intervenção alemã, assim a modos como que “eu, que sempre desconfiei de ti, agora ajudo-te desde que tenhas juizinho”, é extemporânea e infeliz. Então se havia essa disponibilidade, para a Grécia e para outros países, como Portugal, por que não intervir mais cedo, aliviando há mais tempo a austeridade que se abate sobre os cidadãos e as políticas que dificultam o investimento e o emprego?