Au bonheur des Dames 350
Trapalhadas velhacas
O sr. Passos Coelho, ufano pelo triunfal desempenho à frente do Executivo, entende, na sua inultrapassável modéstia, que a Pátria necessita dele como nós de pão para a boca.
Vai daí, mesmo se contrariado, eis que se candidata a mais uns anos de sacrifício pela Grei. E apresenta, ou apresentará, um programa para o efeito.
Do que se sabe desse prodigioso documento, a Imprensa inferiu com extraordinária unanimidade que Coelho não quer o sr. Rebelo de Sousa para putativo candidato a Presidente da República.
Já se sabia que Coelho não morria de amores por Marcelo e que este lhe correspondia com idêntica ternura. Estranho seria que, depois desta desavinda relação, viesse Passos a dar o fatal passo de se encomendar a Marcelo, o crítico televisivo. Estranho seria que Marcelo, que desde há meses recusa obstinadamente encarar a hipóteses de se apresentar ao eleitorado, aceitasse o apadrinhamento da mediocridade que sempre detectou em Passos.
Mas uma coisa é a lógica e outra a “política” mesmo se à portuguesa ou seja em calão.
Confrontado com a notícia de que seria “persona non grata”, Marcelo não conseguiu deixar de reagir com ar de intenso sofrimento. Em vez de assobiar para o lado e fingir que a coisa não o aquentava nem arrefentava, eis que o “Professor”, tomou as dores do ex-futuro candidato e comentou o incomentável.
Na segunda feira, ontem, eis que os jornais titulam que Marcelo se dói de não poder ser o preferido de Passos (como se isso pudesse, mesmo, em Catrapum do Meio, ser uma contrariedade ou um demérito!).
Aqui para nós, leitores amigos: algum de vocês daria saltos de alegria por se saber ungido por Passos? Querido por Passos? Escolhido por Passos? Referido amistosamente por Passos?
Marcelo Rebelo de Sousa é, queira-se ou não, um homem inteligente. E culto. E, dizem, um excelente professor de Direito. Também não deixa de ser o irrequieto rapaz que inventava factos políticos, que intrigava como respirava, que dizia tudo e o seu contrário, que dava entrevistas a torto e a direito quando líder efémero e sem glória do PPD. Não há quem se lembre das suas pueris diabruras, do seu irrequietismo, da sua voracidade em afirmar-se?
Que Passos tenha cometido (mais) uma patetice que lhe pode sair cara, já nem é novidade. Que MRS, Ícaro decaído e pouco viçoso, caia na esparrela de responder à parvoejada e que se mostre triste por não poder voar mais alto do que as suas frágeis asas lhe permitem eis o que me diverte mais do que surpreende.
Às vezes a política “à portuguesa” consegue fazer sorrir...
Ainda no mesmo tom menor neste dó maior, temos a votação do “Referendo”. Convenhamos que anda por aí muita indignação despudorada. A começar pela questão do “direito humano” a co-adoptar. Eu sempre pensei que a questão de co-adoptar uma criança era não um direito do adoptante mas apenas da criança.
Pessoalmente, estou-me nas tintas, para quem toma conta do ser desprotegido desde que o faça com carinho, com responsabilidade e com dignidade. Estou faro de ver pais hetero indignos e canalhas para escolher estes e só estes a outros eventualmente homo mas decentes e honrados.
Agora, ouvir, como ouvi, alguns uivos sobre os direitos de uma minoria ameaçados pela maioria é que é demais. Não sei se os portugueses em referendo não aceitariam a co-adopção. Desconfio que, como eu, prefeririam a tranquilidade e o felicidade da criança, à orientação sexual dos seus educadores. Isto se se dessem ao trabalho de ir votar.
A segunda questão é essa mesmo: ir ou não ir responder ao referendo. Brandir a ameaça deste não ter audiência suficiente é uma infâmia e um convite à valsa perigosa de deixar cair o direito ao referendo na fossa das águas residuais da Democracia. Os cidadãos têm o direito de participar ou não na consulta e ponto.
Que a deputadagem de um qualquer partido se deixe intimidar pela direcção partidária a ponto de, como carneiros, votarem contra a sua “livre” (?) consciência, mesmo com pomposas declarações de voto, é algo que já não me espanta.
Num sistema que elege deputados ao quilo ou à tonelada, estes não passam de criaturas fungíveis que não representam nenhum eleitor em concreto mas apenas uma massa indiferenciada de cidadãos que ao votar numa quantidade também declaram não querer pedir responsabilidades a ninguém.
Ou seja: ver agora outros grupos parlamentares que querem este sistema, que defendem esta generosa irresponsabilidade dos eleitos, esta indiferenciação, protestar contra esta trapalhada é ridículo e sobretudo hipócrita.
Ouvir os indisfarçados apelos a Cavaco Silva, ao TC ou até, pasme-se!, à caríssima execução de um Referendo (se o referendo é caro então quão caras não serão outras propostas sobre medidas orçamentais ora em jogo no TC?) é um penoso exercício que só não indigna quem desistiu de ser cidadão. E de ser Democrata!
Deixemos para final, esta página cor de rosa de política estrangeira: o sr. Hollande, pai eventualmente extremoso de quatro filhos feitos em conjunto com a srª Ségolene Royal, companheiro atittré de uma senhora Trierweiler que faz (ou fazia) de Primeira Dama francesa, é apanhado disfarçado de rapaz das pizzas numa scooter, capacete enterrado na cabecinha meio calva, a visitar uma senhora actriz (como é da praxe, nestas comédias de boulevard) noite fora até às onze da manhã (caramba que “grasse matinée!”). Convenhamos: estamos perante um “forçat (sinon un forcené, digo eu, invejoso ) de la braguette.
Não que a coisa seja rara nos dirigentes da França, reis incluídos. Há mesmo um imortal Presidente, Félix Faure de sua graça, morto no campo da honra, ou melhor no “salon bleu” do Eliseu, devido a uma felação habilmente prodigada por Madame Marguerite Steinheil, doravante apelidada “la pompe funébre”, e apenas conhecido por esta “petite mort” que, no caso, acabou por ser definitiva.
Hollande, esperança dos adeptos do senhor Seguro, e só desses que sa saiba, poderá estar com uma popularidade condizente com os grandes frios que nos atormentam mas no que toca a êxito entre as damas, o homem resplandece. Merece a pequena frase de Rabelais: et deja il començoit a exercer de la braguette. Não é muito mas já é qualquer coisa.
* na gravura: Marguerite Steinheil, "la pompe funébre"