au bonheur des dames 410
Sólido, líquido e gasoso
mcr 6/9/19
A dr.ª Catarina Martins é, ao que sei, licenciada em Letras e Línguas Modernas e terá sido actriz. Actualmente, aliás desde há vários, bastantes, anos, é política a tempo inteiro o que, provavelmente não lhe dará tempo para grandes e diferentes estudos especialmente os que dizem respeito à Pluviosidade nacional e ao regime meteorológico português mormente no “interior” do país.
Parece que, numa discussão sobre barragens, a líder do BE terá afirmado que nas barragens se perde muita água por evaporação. Até aqui nada de novo. No Verão qualquer superfície líquida perde água por evaporação.
Todavia, esta perda de água motivaria uma ojeriza às barragens e represas que na óptica de Martins seriam mais ou menos inúteis. Ou não justificariam os gastos na sua edificação e manutenção. Numa palavra haveria “barragens a mais”
Convenhamos que a tese é ousada mas não passa disso. Pessoalmente conhecendo-se o regime de chuvas neste país talvez valesse a pena ter ainda mais barragens que conseguissem reter mais água das chuvas abundantes no Inverno para a falta dela durante a longa estiagem.
Evaporar-se-ia mais água? É evidente. Mas haveria mais água para a agricultura, para beber, para combater os fogos.
Suponha-se que não há barragens. Qual o benefício que daí decorreria? Nenhum! A água das chuvas e dos rios correria mais livre para o mar sempre perto e perder-se-ia sem vantagem alguma para quem quer que fosse.
Eu sei, ou julgo saber, que a dr.ª Catarina Martins é do Porto, cidade que tem uma frente de mar e outra de rio que, durante séculos registou cheias catastróficas nas zonas da Ribeira e de Miragaia. Perderam-se bens inumeráveis, morreu gente e ainda são isíveis em certos locais ribeirinhos as marcas das cheias mais violentas.
Contudo, as barragens no Douro e afluentes e outro género de represamento permitiram regularizar o curso do rio, evitar quase todas as cheias e sobretudo as catástrofes a elas anunciadas para já não falar na melhor navegabilidade do Douro. E a água que a região bebe vem obviamente de captações no sistema fluvial. O mesmo sucedeu noutros rios, Mondego incluído. E há notícias de projectos para a bacia hidrográfica do Tejo. Nem se fala nos ganhos enormes registados com o Alqueva e nos ainda futuros na mesma zona.
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(ia este texto neste ponto quando, li na edição do “Público de hoje, quinta feira uma excelente coluna de reparos judiciosos às declarações tonitruantes da dr.ª Martins. Em substância dizem o que acima fui escrevendo e acrescentam dois pontos fundamentais. A água que se evapora num determinado ponto há de gerar nuvens que se desfarão em chuva noutro. O que chove em Portugal provem, ou pode provir, de evaporação de massas de água em Espanha, na Suíça ou noutro sítio qualquer. O que evapora voltará ao estado líquido sob a forma de chuva ou sólido sob a de neve que na Primavera há de transformar-se em regatos, ribeiras e rios. A água do mar também se evapora e, perdendo o sal, nessa operação também se precipitará em algum local do planeta. O texto aliás indica a exacta percentagem de evaporação por metro cúbico de água.
O nosso país tem uma orografia difícil. O Norte é montanhoso mas rico em chuvas. Estas se bem aproveitadas poderiam formar grandes reservas de água não apenas para criação de barragens hidroeléctricas mas mesmo de reservas de água que poderiam ser canalizadas para o centro sul e para o sul onde a falta de água é habitual. Há, aliás, projectos para isso embora o investimento inicial tenha até à data assustado os nossos decisores que nunca pensam no longo prazo. Países mais secos e desfavorecidos que o nosso já mostraram que isso pode (e deve) ser feito e os resultados estão à vista.
Todavia, pelos vistos, a dr.ª Martins com a candura do desconhecimento destas realidades entende o contrário. Vistas curtas e vagamente literárias sobre o país que habita e que é bem maior do que o Porto ou, actualmente, Lisboa, lugares onde, com água canalizada, este problema não se põe. Para já!