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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

au bonheur des dames 414

d'oliveira, 07.04.16

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Sowinds, o esbofeteiro azougado

Que seria de nós, paisanos, se não houvesse, agora e à vista de todos, uma espécie de Joãozinho das perdizes em mais ridículo e menos pujante?

Temos, lá para as bandas do Ministério, um valentão que ameaça dar bofetadas a Augusto M Seabra e a Vasco Pulido Valente.

Ah homem d’uma cana!... Assim, sim. Quem se mete com o jota esse come forte e feio. Ainda não é a justiça de Fafe mas lá chegaremos.

Estou a ver o senhor João Soares a varrer feiras a varapau e a malhar em jornalistas a bofetão. Se Eça fosse vivo já o tinha retratado. E Camilo! E Fialho mesmo que para isso tivesse de estar de acordo com o autor dos Maias.

Estou a ver Soares, o autor de delicados romances nunca aparecidos em Portugal a chegar–se a S Carlos. Vê dois cavalheiros com ar de poucos amigos e fortes bengalas na mão: - “V.as Ex.as estão aqui por via do macacão do Seabra? É que se estão eu estou primeiro parta o esbofetear...

Ao valente, irei procurá-lo na Bertrand amanhã pela tardinha...”

Temos pois que um cavalheiro, miraculosamente promovido a Ministro da Cultura, demonstra com a sua conhecida virilidade que é homem para assumir a Defesa Nacional ou a Administração Interna, pastas que, como é sabido, exigem gente capaz e de mão firme.

Vê-se que alguma coisa aprendeu quando andou a brincar de guerrilheiro com o dr Savimbi lá pelas Jambas. E que, mesmo declarando-se pacífico, não lhe treme a mão justiceira quando se trata de agredir jornalistas que o incomodam. Por mero acaso, tais criaturas, ora visadas, são dois conhecidos e reconhecidos intelectuais com obra feita e longo passado descomprometido da constelação onde Soares, João se movimenta. Aliás, são críticos conhecidos do establishment onde o novel pugilista tardiamente revelado se tenta mover.

Um general espanhol de tempos idos que tinha a seu favor uma imensa brutalidade carregada de estupidez e de cicatrizes de guerra (faltavam-lhe um braço e um olho perdidos em combate), prometia (e terá cumprido na parte que lhe cabia) em alta berraria “morte à inteligência”. Ao mesmo tempo que prometia sacar do pistolão caso alguém lhe sussurrasse a palavra cultura, pensamento profundo de Goering que foi depois adoptado por muita e má gente, incluindo os habituais agressores de jornalistas e escritores.

Tem o valentão de Lisboa, portanto, bons mestres mesmo se lhe falta um passado militar, apesar de tudo corajoso e de vida muitas vezes arriscada.

Não sei se o dr Costa avaliza esta demonstração de afecto pela opinião alheia ou se deixa andar este elefante pela loja de louça por muito mais tempo. Por mim, o senhor Nurlufts (assim assina ele a sua produção romanesca em alemão) estaria a preceito noutras, mais modestas mas mais heróicas, situações, a saber cabo de forcados, policia de giro no bairro da Ameixoeira ou guarda prisional (tudo isto sem desprimor para quantos praticam estas profissões).

Numa famosa “latada” de Coimbra (Letras em 1962, a última que a censura tolerou...) circulava um cartaz que rezava o seguinte”há governos que caem pela força mas este cairá pelo ridículo” . Claro que não caiu e os responsáveis da latada foram dar com os ossos na cadeia da pide coimbrã. Não vou pedir a queda do Ministério por uma tonta fanfarronada de um dos seus membros mas tão só que o recolham a qualquer local onde estas tolices se curam.

Na “Cultura” está, esteve sempre, a mais!