au bonheur des dames 416
“ Georgia on my mind...”
mcr, 5 de Janeiro de 2021
Algum leitor terá reparado que praticamente nada escrevi sobre essa anomalia mundial e americana chamada Trump. E não escrevi , não porque me faltasse motivo, mas tão só para não sujar (metaforicamente) os dois dedos com que escrevo estes folhetins. Rendo assim uma voluntária homenagem ao Manuel Fernando Magalhães querido amigo e colega, entre o 3º e o 5º anos no liceu de Lourenço Marques. (O Magalhães era um tipo notável, escreveu uma novela ainda nos 60s chamada “3x9=21”, Atlantida, Coimbra, 1959. O MFM era um aluno miserável a matemática. Lembro-me do professor lhe entregar os pontos de costas voltadas, mesmo se na generalidade das restantes matérias fosse razoável. Será por isso que intitulou o livro daquela maneira. Foi um grande jornalista, dirigiu “A Tribuna” um belíssimo jornal progressista – dentro do que era possível – em Moçambique, foi miseravelmente expulso do país depois da independência mas voltou lá mais tarde, já na época Chissano, que foi nosso colega de turma no mesmo período que referi acima, como correspondente da RTP. )
Esta referencia ao M.F.M. deve-se a que na noveleta já citada, aparece um tipo que depois de galar com o personagem central, revela que é militar, “Miliciano, claro”, reponta o herói. “Não, do quadro”. Nesta altura o personagem central desinfecta a mão com que o tinha cumprimentado com whisky. Por essa facécia o MFM deu com os costados numa cadeia militar, pois provavelmente estaria na tropa nessa altura
Ora eu, recorro a um gel poderoso para escrever este texto, no exacto dia em que na Geórgia se elegem dois senadores. Caso os democratas vençam essa eleição ficarão em paridade com os republicanos e, nesse especial caso, será a vice presidente Kamala Harris a desempatar as votações. Aliás, os candidatos democratas tem como adversários dois senadores implicados em escândalos gordos, mas na América trumpista tudo é possível como se sabe.
O título do folhetim remete para uma belíssima canção de Ray Charles que é natural desse Estado que durante décadas maltratou os negros e impediu a inscrição desses cidadãos como eleitores.
É por isso que, hoje, dia da eleição, a Geórgia está on my mind e é com o coração nas mãos que a tento trautear.
A Geórgia foi aliás palco de mais uma cena aviltante em que se ouve Trump tentar persuadir um responsável republicano georgiano a fazer batota e “arranjar” uns milhares de votos para dar o actual presidente como vencedor. O homem, honradamente, resistiu mesmo depois de Trump o ter ameaçado com um processo crime. Em boa verdade os processos crime intentados por Trump tem todos sido derrotados pela justiça americana, inclusive no Supremo Tribunal onde ele tinha uma maioria de juízes republicanos. Ora aqui está uma prova da decência das instituições jurídicas americanas que, neste caso, mas não só, bem poderiam servir de tema de meditação da senhora Van Dunem actual Ministra da Justiça cá. Pelos motivos que se conhecem e que já aqui foram abundantemente referidos.
Vão demorar anos e anos a esquecer os estragos que Trump causou à causa democrática mundial e americana. Um bom começo seria derrotar os dois senadores incumbentes da Georgi anão tanto por serem republicanos mas sobretudo por estarem envolvidos em escândalos que, mais cedo ou mais tarde, se chegarem a tribunal poderão acarretar-lhes penas duras. E depois, a Georgia votou maioritariamente Biden pelo que seria de esperar que essa feliz escolha se repetisse. Todavia, a sanha trumpista, a manifesta vontade de recorrer a quaisquer meios mesmo os ilegais pode estragar estas contas optimistas.
Leitores e amigos, lembrem-se desta canção de Ray Charles (que aliás é agora a música oficial do Estado) e usem-na como se fora uma oração para esconjurar esse vírus perigosíssimo que se chama Donald Trump
Ámen