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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

Au bonheur des dames 422

d'oliveira, 28.04.17

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 mistérios gozosos

 

Não lembrava ao malacueco esta de o Governo dar uma folga no dia 13 de Maio. que diabo, o país é laico, este Governo afirma-se pujantemente herdeiro da 1ª República, da do Sr. Dr. Afonso Costa, renega (como Mafoma do chouriço) do beatério que, segundo alguns dos seus maiores entusiastas, inquinava o Estado Novo. Que eu me lembre, nunca Fátima, "altar do mundo", mereceu semelhante feriado.

Poder-se-ia pensar que o Governo pretende dar aos funcionários públicos uma oportunidade de ir ver o Papa ou de ir recolher-se na Cova de Iria para celebrar a entrada dos três pastorinhos na lista longa, longuíssima, de santos e beatos que povoam o orbe celestial.

Ou, de outro modo, e mais certamente, esta borla vai dirigida ao 4º Pastorinho, o Sr.   Professor Marcelo (Rebelo de Sousa), católico assumido e anunciado peregrino a Fátima. Sª Exª fica assim livre para faltar por um dia a Belém se é que ao Augusto Magistrado também se aplica o regime da tolerância de ponto. 

Nada tenho, bem pelo contrário, contra Fátima (exceptuado o mau gosto das construções religiosas e civis lá semeadas a esmo), muito menos contra o mais que maioritário povo católico (em que incréus como seu são uma imensa minoria) ou contra a visita de um Papa com que simpatizo fortemente. 

Todavia, esta medida extemporânea, esta excessiva generosidade em conceder feriados (num período que começou a 25 pp, continuará a 1 de Maio p.f., e se alongará brevemente com os santos populares, 10 de junho, Corpo de Deus etc...etc...) parece-me atoleimada, oportunista e fora de qualquer razoabilidade.

A César o que é de César, e a Deus o de Deus. Receba-se Francisco com a pompa e o respeito que merece não apenas por ser Papa mas também por ser quem é (e é muito).  Que o Presidente da República lá vá, plenamente de acordo. É o Chefe do Estado a receber outro Chefe de Estado. Ao fim e ao cabo, Portugal nasceu pela força das armas de Afonso Henriques e pelo reconhecimento papal , mesmo, se depois, foram vários os nossos reis que o Vaticano escomungou, pelo menos temporariamente. 

Não se faça, porém,  disto, desta visita, dos pastorinhos mais do que aquilo é. Sobretudo num país que impavidamente assistiu à defenestração de Santo António, o maior santo português, um dos grandes santos da Igreja,um intelectual de envergadura e um santo imensamente popular, cuja rua no Porto, chamada de Santo António desde sempre, foi rebaptizada para 31 de Janeiro, uma data pouco gloriosa, uma derrota  vexatória, uma jornada em que segundo conspícuos historiadores da época, andavavam por alí "uns dinheirinhos da polícia". Há no Porto imensas ruas que poderiam ter outro nome. A dois passos da do 31 de Sto António há a de Entreparedes que já nada significa para ninguém. Mas não, tinha de ser na rua onde uns escassos centos de amotinados republicanos foram varridos pelo tiroteio da polícia municipal deixando pelo caminho farta dose de chapéus e bonés. Santo António, mesmo tendo várias patentes militares e uma cidade a ele dedicada, foi varrido da toponímia municipal pelo mesmo republicanismo vesgo que apeou D João III, o grande protetor da Universidade de Coimbra, quiça, o mais importante na sua história para dar ao liceu com o seu nome o de um praticamente descnhecido e esquecido político da República. 

"É assim que se faz a história" e também, do mesmo modo atabalhoado, se fazem feriados. 

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