au bonheur des dames 437
Diga ele o que disser
mcr, 17-11-21
O senhor Ministro da Defesa irá muito proximamente depor na AR. Pelos vistos, até o PS se resolveu a disponibilizar tal ida à Comissão.
Anda por aí, em surdina ou mais aberta e ruidosamente, uma campanha tendente a desculpabilizar o Ministro enquanto, ao mesmo tempo se tenta chamuscar o Presidente da República e o Primeiro Ministro, culpados de reagirem a quente e a destempo.
Jornais e televisão tem destacado tais posições pelo que me abstenho de dizer mais sobre o tema da campanha pró Ministro.
Conviria, porém, realçar dois pequenos pontos.
O primeiro tem a ver com a pronta comunicação às Nações Unidas porque “alguns implicados” tinham feito parte da força que, sob os auspícios internacionais, tinha estado na República Centro Africana, outro Estado fantasma a juntar a uma já longa lista de países africanos incapazes de dirimirem os seus conflitos internos e sempre á mercê de golpes quarteleiros.
O segundo diz respeito aos alegados “pareceres jurídicos” que impediriam o Ministro de informar o seu superior hierárquico e, por via travessa, o Comandante Supremo das Forças Armadas.
Comecemos por aqui: o segredo de justiça diz respeito aos trâmites e ao miolo do processo e nunca ao facto de ele existir. De certeza que nem Costa nem Marcelo iriam pedir pormenores. Para já não falar na turva ideia de que, informados, iriam “pôr a boca no trombone”!...
Depois, pergunta inocente, se apenas havia uma vaga suspeita de malfeitorias (nada de comparável ao que hoje se sabe) a que título vem a excepcional cautela de blindar com os alegados pareceres algo que então não passava de um delito de pouca dimensão?
(nem vou perguntar se , de facto, existiam tais pareceres ou se os que que aparecerem são desse momento ou posteriores, maxime actuais e feitos numa fervurinha para abalizar o férreo segredo ministerial (não quero sugerir nada mas esta dúvida já corre por aí ,Não tenho razão especial para duvidar do Ministro mas nada, na sua atitude me faz ter nele uma ilimitada confiança. Já me bastou a trapalhada da falhada e tosca substituição do CEM da Armada).
Em relação ao primeiro ponto, estranha-se que haja uma comunicação “às Nações Unidas” que seguramente também não teria uma expressão e uma densidade especiais e o mesmo não suceda ao nível interno e sempre , e só, ao Primeiro Ministro.
O que se sabe, e é pouco mas substancial é que um par de mariolas, inteligentes e empreendedores, descobriram uma maneira rápida e eficiente de transladar uns diamantes da RCA para local mais seguro e civilizado, usando aviões da FAP e aeroportos militares nacionais. E que esse primeiro passos, terá desencadeado uma complexa operação logística com mais de sessenta criaturas, dedicada não só ao escoamento das pedras preciosas mas também a toda uma vasta gama de actuações criminais e financeiras em Portugal e no estrangeiro. Tudo obra de dois comandos que nada parecia predestinar para tão altos voos. Vê-se que ,na tropa, o elevador social, funciona com inaudita eficácia...
O sr. Ministro, decerto, explicará o que até este momento tem visos de inexplicável. Ficará sempre, a dúvida sobre a tão cerrada tortuosidade do procedimento e, sobretudo, sobre quem manda no Governo, sobre a autonomia dos ministros. Já se desconfiava que era grande e generosa (basta lembrar as alfinetadas de Pedro Nuno, o das “perninhas bancárias e alemãs”, ou as aventuras de Cabrita ele próprio um repositório de tudo o que um ministro não deve, nem pode, ser.
(se algum/a leitor/a pensar que estou a defender acirradamente Presidente e Primeiro Ministro, logo eu, que costumo “cortar-lhes na esfiapada casaca!, peço que se desiluda. O que acima disse é apenas a defesa das instituições e do seu modo republicano e democrático de funcionamento. No resto, mantenho sobre estes cavalheiros as mesmíssimas ou acrescidas reservas de sempre
hoje a vinheta saiu no fim. Não foi de propósito mas tem algo a ver com a lógica da actuação ministerial. (sinal de que o velho macbook air está a tornar-se cada vez mais humano...)