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Incursões

Instância de Retemperação.

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Au bonheur des dames 456

d'oliveira, 20.07.18

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Ninguém liga ao coronel

mcr 19.07.18

 

 

Como sabem os leitores (e mais anda as leitoras) este título é uma meia paráfrase do de uma novela de Garcia Marquez (el colonel no tiene quien le escriba, que em português terá dado, julgo, ninguém escreve ao coronel).

Não venho porém falar do mundo de GGM, menos ainda das suas histórias extraordinárias, mas tão só de um senhor coronel , portuguesinho da costa, que prestou alguns bons erviços ao país mas que nos últimos dez/quinze anos passeia a sua robusta rotundidade pelos corredores de acesso ao poder e não consegue deixar de opinar sobre tudo o que lhe vem a alcance de tiro.

Normalmente, o senhor coronel dá tiros de pólvora seca ou, então, não acerta no alvo por razões que não descortino. Desta feita, multiplicou-se: ontem uma referência e hoje, tem direito a uma página do Público. Comecemos, muito de raspão, pela de hoje onde a sua laboriosa e pouco inspirada pluma deixa uns considerandos sobre uma eventual promoção do senhor tenente coronel Marcelino da Mata a coronel.

Este cavalheiro tem no seu currículo 5 Cruzes de Guerra (três de 1ª classe, 1 de 2ª classe e outra de 3ª classe) e, facto quase único, a “Torre e Espada” a mais alta e a mais rara condecoração portuguesa.

Ferido várias vezes, participou em operações de grande risco (incluindo a invasão de Conakri) e a sua biografia menciona uma operação em que se distinguiu especialmente e que resultou na libertação de mais de cem militares portugueses na Guiné).

Resta dizer que MM é negro  e cidadão português desde sempre.

Do senhor coronel Vasco Lourenço não consegui saber as condecorações militares, mas a existirem são seguramente inferiores à do cavalheiro “preto”. Estas coisas doem...

E doem tanto que numa enxundiosa e desgarrada redacção, VL alinha umas banalidades e ataca a promoção possível do seu camarada de armas. E do alto da sua condição de pai da pátria avisa as autoridades militares e, já agora, amotina o escasso público que faz o sacrifício de o ler para este medonho acto.

Pessoalmente, estou-me nas tintas para qualquer destes cavalheiros. Sou civil e paisano até ao sabugo e penei em sítios muito desagradáveis a minha desconformidade com o Estado Novo. Nada devo a qualquer deles pois o meu 25 de Abril começou aos trancos e solavancos ainda em 1959 durante a campanha de Humberto Delgado. Levo ao profissional das armas VL 15 anos de avanço na oposição à ditadura. Ou seja toda a minha vida de adulto (como aliás a dele que é da minha idade).

O que me admira é que nunca vi o senhor coronel Vasco Lourenço, levantar a voz façanhuda contra o senhor tenente coronel Marcelino da Mata desde que este, segundo, VL, começou a fazer tropelias na Guiné.

Bizarrias...

Deixemos este patriótico e maçónico queixume de Vasco Lourenço e passemos ao segundo tema onde, de novo, e impudentemente, ele se manifesta. Desta feita, a propósito da tristíssima vergonha do caso das armas desaparecidas em Tancos, o senhor coronel, sempre segundo o Público resolveu afirmar que o assalto aos paióis de Tancos não passou de uma farsa para acentuar os ataques ao Governo devido aos fogos do passado ano. Numa surpreendente declaração VL afirma que quem montou a farsa “são alguns dos mesmos que agora mais gritam contra a falta de resultados nas investigações”. E pede “sejam honestos!” pois se “o ataque ao Governo é  normal, admissível e legítimo” não pode valer tudo”.

O senhor coronel , segundo o jornal que reproduz estas declarações, sublinha que não tem como provar a sua teoria que contudo ainda ninguém provou que está errada (sublinhado meu). Ninguém pede a um coronel na reserva que saiba Direito mas já parece ser-lhe exigível além de bom senso alguma lógica. S.ª Ex.ª tem uma teoria que confessa não poder provar. Porém a bondade da teoria reside no facto de ninguém ter até ao momento provado que está errada!

S.ª Ex.ª é um monumento à Educação Nacional, ou pelo menos, à que era fornecida na Academia Militar. Então uma teoria (sem que qualquer facto a prove) está certa apenas porque ninguém se deu ao inútil trabalho de a rebater? E ninguém a rebate porque a teoria assim descalça e despida não tem ponta por onde se lhe peque e nem o mais espesso manto de fantasia a pode tornar sequer crível.

Suponhamos que eu jurava que o senhor coronel era um extra-terrestre saído de um Ovni poisado no claustro dos Jerónimos (ou na mata de Mafra, sitio eminentemente militar pelo menos para os milicianos que eram os que mais morriam nas selvas africnas). Suponhamos que o senhor coronel se irritava com esta xenófoba e planetária afirmação. E que pedia provas do que eu dizia. E eu, pimpão e parolo, retorquia-lhe: Tem Vossa Redundância provas que não é assim? Portanto regresse ai ignoto planeta que o viu nascer ou vá jogar o voltarete com um par de Irmãos que o aturem. E, já agora, deixe a política para gente com mais tino e os paióis na sua negregada solidão de sentinelas e de explicações.

E não misture os fogos (de que agora aprecem dezoito arguidos, tudo pessoal menor, nenhum responsável político, claro) que deixaram um rasto de mortos e dezenas de milhares de prejudicados com a até agora mais que comprovada (por declarações, por suspensões de militares que até vão a generais, e pelo patético gaguejar de um ministro incapaz e incompetente, por um monte de armas e munições miraculosamente encontradas) com esta anedota miserável que envergonha qualquer um e indigna ou faz rir meio Portugal e alguma Europa, pelo menos a que sabe desta novela que se arrasta.

 

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