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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

au bonheur des dames 477

d'oliveira, 27.03.22

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Os malefícios do tabaco

mcr, 27-03-22

 

Aproveito a boleia de Tchekov, apeaar de uma propagandista russa, mais imbecil do que é permitido, andar por aí a esbracejar que se quer destruir a cultura russa.

 

Quem destrói a cultura russa é quem faz o possível por sujar o rasto luminoso de escritores, pintores, músicos e bailarinos com uma guerra suja, provavelmente inútil e claramente inimiga da civilização.

Pela minha parte limito-me a aproveitar o título de uma pça em um acto do velho Anton, um dramaturgo genial e, sobretudo (a meu ver), um contista de excepção.

E a que vem esses malefícios agora reclamados pelo título do folhetim? Pois muito simplesmente a uma conversa com uma amiga fumadora ao ar livre fora da protectora esplanada onde, todos os fias me acolho para çer o jornal e aviar dois cafés.

Esta excelente e antiquíssima amiga (espero que ela me não leia ou então que perdoe o  “antiquíssima” que, de todo o modo, remete para uma amizade de mais de quarenta anos)´uma fumadora inveterada, transige em tomar café e palrar meia hora desde que possa dar ao pulmão. O que é extraordinário é que ela, entretanto ainda anda cheia de precauções anti-covid, pregou-me um autentico sermão quaresmal  sobre o bicho, o “rh” e mais um par de coisas que me assustaria se eu não soubesse donde vinha o discurso.

Claro que, os velhos pulmões e, quiçá, outras  vísceras minhas  que já tem uma idade sólida, ressentiram-se da frecura da manhã e eis-me e pingo no nariz que não me dá tréguas e que produz um caudal maior do que algumas das nossas barragens que sofrem a tal seca severa.

Já ando a tomar um par de mezinhas receitadas por uma conspícua mas jovem farmacêutica mas os resultados ainda demoram a chegar. Gasto lenços de papel à fartazana, papel de cozinha quando estou lá ou aré papel higiénico quando os lenços acabaram e estou longe de nova remessa. Isto sem galar dos guardanapos de papel da esplanada... Um desastre: o dique papeleiro para a minha enxurrada do nariz parece impotente. E não posso culpar ninguém, sequer os russos ou, como prescreve o sr Jerónimo de sousa, a NATO e a América que pelos vistos invadiram a Ucrânia por interposta criatura.

O mundo está depernas para o ar, o agressor passa a vítima, os de fora passam a infames comanditários das atrocidades e os que se defendem apenas tentam prolongar a guerra, o massacre dos seus cidadãos e as dores de cabeça do PCP que, obrigado a tantos malabarismos corre o risco de se estatelar no meio do chão.

E o Tchekov a pregar no meio do deserto dobre os malefícios do tabaco. Arre que já ter pouca sorte. Há um largo par de anos saiu ou esteve para sair um artigo sobre Tchekov em que este era referido como o autor da “mudinha”. A coisa causou pasmo e na tentativa de perceber o que queria o articulista houve alguém com mais vião e sabendo os tratos de polé da cultura indígena lá percebeu que o sábio nacional confundira duas palavras francesas (muette e mouette, respectivamente muda e gaivota. Afinal tratav-se de “A gaivota” um bela peça do malogrado russo que lida num franciú discutível e bastardo deu nessa confusão. Durante muitos anos, se calhar ainda hoje, há muita tradução (ou algo que passa como tal) que, em vez de ser feita da língua original, vem da versão francesa. Os russos, os escandinavos, os húngaros, os restantes eslavos e os gregos passavam todos pela refinadora francesa  que, já se si, não era segura, para a versão portuguesa. Um pagode!

É por essas e por outras que o meu pobre apêndice nasal pinga que repinga. Traduz a gentileza de me dar ao luxo de acompanhar uma fumadora ao frio das manhãs de Março.

Por aqui me fico que tenho de me ir assoar.