au bonheur des dames 478
Se isto foi assim!...que desastre"
mcr, 28-o3-22
A deputada Constança Urbano de Sousa confiou ao Público que houve pressões fortíssimas (“ao mais alto nível” sic) por parte de “senadores do PS para que e não tocasse na lei dos sefarditas. Para tal moveram “mundos e fundos” para travar quaisquer alterações à lei que, de per si, era um amontoado de incongruências, uma caricatura péssima da lei espanhola e uma porta escancarada a doa a espécie de manigâncias.
Como agora se constata claramente a partir da nacionalidade concedida a om oligarca russo que, à vita desarmada não preenche nenhuma das condições já de si generosas para entrar no rol dos descendentes de judeus expulsos no século XVI.
Em boa verdade, apurar os descendentes de judeus portugueses que viviam em Portugal no reinado de D Manuel já não era fácil. Todavia, sabe-se com alguma exactidão que os proscritos se dirigiram para a Holanda, para Marrocos, para Veneza e, uma minoria, para Istambul. Sabe-se também que por altura da guerra havia uma comunidade judia alegadamente portuguesa no norte da Grécia, paredes meias com a Turquia. Há mesmo notícia que as autoridades nazs, confrontadas com a reivindicação de nacionalidade portugueses destes judeus terão contactado o governo português que terá feito orelhas moucas ao lancinante pedido de ajuda desta pequena comunidade que terá perecido nos campos de extermínio.
Há também, conhecimento de raros exemplos de famílias judias que conservavam patronímicos portugueses, falavam vagamente o “ladino” e, até, conservavam as chaves das casas que tinham sido obrigadas a abandonar.
Todo o resto é mais problemático. À uma porque passaram por Portugal, nessa mesma época grandes multidões de judeus “espanhóis”, expulsos pelos reis Católicos. Falariam igualmente o ladino ou a versão espanhola deste. Estiveram em Portugal alguns anos até serem de novo expulsos dadas as ambições do rei à coroa de Espanha. Distinguir uns de outros já começa a ser difícil numa situação que nunca teve nada de fácil.
Eu percebo, mesmo com alguma dificuldade, este arremedo de súbito arrependimento com cinco séculos de atraso. Bastou a Espanha dar om passo e logo por cá um tropel de generosas e ignorantes criaturas, o tentar imitar.
Como de costume, ao copiar a lei, esqueceram-se das necessárias condições da sua aplicação. Pode até ter acontecido que, como de costume em boa parte das leis que saem do Parlamento, nem sequer tenham previsto as consequências, as possibilidades de falcatrua, o labirinto das provas.
Digo isto com sincera pena pois sou amigo de três dos quatro visados por Constança Urbano de Sousa. A Maria de Blém foi minha colega de curso, o Manel Alegre é um amigo desde 1960 e o Alberto Martins um companheiro de várias lutas. Como é que eles caíram nesta esparrela é que não percebo. Como é que terão insistido tão veementemente na defesa de um dispositivo legal tão imbecil ultrapassa a minha imaginação. E entristece-me profundamente, mesmo que não creia que tivessem qualquer interesse menos legítimo nessa acirrada defesa daquele mau esfregão jurídico.
De resto, os resultados práticos da lei (90% dos nacionalizados foram-no por intermédio da comunidade judaica do Porto, agora em plena suspeição dado o caso Abramovitch: a imensa maioria dos “novos portugueses” não vive cá, não fala português, não tenciona vir a falá-lo e menos ainda a habitar solo nacional. São numa forte maioria cidadãos de Israel que ou estão apavorados com os palestinianos ou apenas pretendem o melhor de dois mundos e viajar pelo espaço Schengen com um passaporte português.
Ainda por cim, pelo que se vai sabend, as “provas” de ascendência portuguesaparecem mínimas se sequer a tl ponto conseguem chegar.
Impõe-se, pois, uma forte barrela, uma investigação a sério, um re-exame rigoroso de todos os casos sem excepção. Vai nisso, entre outras coisas, o bom nome do país, o combate à corrupção e à fraude, doa a quem doer.
Duvido, porém, que haja coragem política para dar este passo necessário e higiénico. Erguer-se-ão as habituais vozes contra os anti-semitas, as comparações com os anos da guerras mesmo se, até nestes, não tivesse havido um forte movimento nacional de apoio aos refugiads. Não foi apenas Aristides, cônsul em Borfeus, form pelo menos mais três diplomatas. Foram s populações das zonas de acolhimento dos fugitivos (desde a Figueira da Foz até às Caldas da Raínha, sem esquecer zonas fronteiriças (Vilar Formoso, por exemplo) que até clandestinamente, acolheram fugitivos. Bastar visitar os pequenos museus existentes para saber das histórias de solidariedade, ajuda de muitos portugueses decentes e humanos que abriram as portas da sua casa ou os cordões da sua bolsa par minorar a desgraça dos recém chegados.
É justamente em nome desses milhares de cidadãos desses anos difíceis que agora se exige um total esclarecimento desta história estranha e mal contada.
Por muito que pese aos “senadores” do PS e a quantos colaboraram na feitura de uma lei desastrada para não dizer palavra mais forte, muito mais forte.
*na vinheta filme Casablanca (Michael Curtiz, real) a actriz Madeleine Lebeau que no filme canta a Marselhesa. Esta actriz passou por Portugal como refugiada como acima se escreve. E torou-se famosa pela sua pequena mas fundamental interpretação no filme