au bonheur des dames 480
Táxis e touradas ou vice versa
mcr 29.03.21
Manuel Sanchez llamó al toeo
ay nunca lo huvuera llamado
por el pico de una illarga
toda la praza arrastrado
se o leitor está a estranhar o titulo do folhetim peço-lhe que não se incomode. É que um novel ministro daquela coisa que por cá passa por Cultura, entendeu há uns tempos, ainda o inebriante perfuma do ministério não lhe atormentava a carninha e o coração exaltado, afirmar que não concebia viver num país “sem taxistas nem touradas”!
Poderia ter sido um desabafo brincalhão, um esquisito jogo de palavras, uma mera patacoada mas não. Por ais três vezes como S Pedro de que herda o nome, falou do seu acrisolado amor pela tauromaquia, pelo que devemos dar à inicial fórmula todo o seu peso e significado.
Perguntar-se-á que vem aqui fazer os taxistas. A pergunta pode ser boa mas a resposta, lamento muito, é pouca: não sei. Menos que o jovem ministro pense que os taxistas são os toureiros da estrada, ou que os toiros depois de corridos podem ser reconvertidos em motoristas de carros de aluguer, coisa, aliás, que se me augura dificultosa senão impossível, não atino com nenhuma explicação.
Em boa verdade, das vezes em que me foi concedido o sofrido prazer de ouvir o dr. Adão e Silva perorar, fora um tom de explicador de aritmética nunca lhe ouvi coisa profunda quer no capítulo do toureio quer noutro qualquer. Todavia, avia uma televisãoque lhe pagava os devaneios vagamente políticos, dois parceiros de conversa e, seguramente alguma audiência, espero-o.
Em boa verdade a minha constancia de ouvinte era, no mínimo, irregular, Era bo intervalo das séries policiais do FOX crime que eu fazia o zapping por um par de estações, evitando a profusão de novelas ou concursos idiotas. Portanto, não me vou alargar sobre a profundidade das elocubruções do sr dr Adão e Silva. Posso ter perdido momentos altos, algumas genialidades, acaso algum conselho para ganhar o totoloto, dada a pressa do zpping e a maia das séries policiais.
Ei-lo agora ministro. E ministro de um ministério onde o tema tourada escalda, agita, revolve, vocifera e condena. A agora única deputada daquela agremiação PAN já dez a habitual e esperada berrata, claro. Porém, na imensa solidão , os seus protestos caem em saco roto.
Eu, sobre touradas pouco digo: não aprecio, não frequento nem atinjo o supremo grau da arte. Claro que o defeito é meu mesmo se em pequeno, bastante pequeno, aliás, tenha assistido a uma ou duas lides no coliseu figueirense. Chateei a família, pedia para ir fazer xixi nos melhores momentos (se é que os havia) e cedo fiquei dispensado de ir ver maltratar um pobre toiro. Digo que, uma coisa apreciava. As pegas quando o toiro sacudia dois ou três valentões vestidos À ribatejana e os mandava pelo ar. Convenhamos: eu era impatrioticamente a favor do toiro e adorava ver o rabejador com as mãos cheias de merda taurina.
Confesso que esta minha pouca predisposição para a “arte de Linares” não é suficiente para me meter em manifestações anti-touradas pelo simples motivo que julgo, acaso erradamente, que a coisa em Portugal está em acentuado declínio. Mais uns anos e mor.re de morte natural. Ficar-nos-á Manolete (que aliás morreu em Linares, executado pelo touro “Islero” que bem merecia uma estátua) e o nome de uma toureira, porventura amazona, Conchhita Cintron, que depois de uma gloriosa carreira se dedicou à criação de cães de água portugueses. A esta senhora foi atribuída a “medalha do Mérito Cultural” o que só vem provar o bem fundado da escolha de Pedro Adão e Silva para o Ministério que atribui tal condecoração.
De todo o modo não invejo a sorte do ministro surpresa. Vai ter muito que tourear naquela nave de loucos. Vai ser-lhe necessário muito jogo de cintura, muito sangue frio e muita, mas muita, sorte. e não será preciso outro “isleñro” para o abater: no circuito cultural-artístico todas as noites são noites de facas longas...
Cá estaremos para apreciar as faenas.
*na epígrafe: estrofe de “Los Mozos de Moreón” belíssima peça da literatura popular espanhola