au bonheur des dames 490
Em que terra vivemos?
mcr, 26-4.22
Na intervenção que lhe cabia como representante do PC, a actual dirigente da bancada, veio (não se riam, por favor...) insurgir-se contra o “pensamento único” de que, segundo a excelsa criatura, o seu partido é vítima!
Pergunto-me se a pobre senhora acredita mesmo no que a mandam ler ou se estará apenas a divertir-se à custa do pagode tão enorme é a toliçada que solta boca fora.
O dr. Pacheco Pereira perora desde há anos, muito, nas televisões num programa que se chamou quadratura do circulo, circulatura do quadrado (oh imaginação!) e não sei que mais.
Esta longevidade televisiva deve ter-lhe dado a volta às meninges pois só assim se explica que tenha há dias afirmado, com um ar sério e profético, que há em Portugsl um movimento, muita gente, presume-se, que quer erradicar o pc da vida política ou mesmo da vida tout court. D política entenda-se, supondo que o bom senso a que JPP tem direito, ainda não o levou a asseverar que se pretende exterminar radicalmente o partido e os seus militantes.
Pessoalmente, dado o curso descendente e declinante daquela organização, em militantes, mandatos e influência (inclusive na rua), acho que a profecia do biógrafo de Cunhal (obra que começada em 1999, vai no IVº volume datado de 2015- há já 7 anos!..) tem frágil base e, sobretudo, não vislumbro por aí uma furiosa cruzada contra Jerónimo sequer contra a deputada Paula acima referida.
Aliás, basta um dos dirigentes comunistas aparecer para uma chusma de jornalistas e curiosos se precipitarem sobre ele não com intuitos homicidas mas apenas com a malévola intenção de descobrirem mais uma pérola marxista-leninista-jeronimista para gáudio de leitores e aumento de circulação do jornal.
A menos que se trate de uma metáfora tirada a ferros do espírito cintilante e jocoso de PP (que não é exactamente alguém dotado do que chamaríamos humor, sequer ironia) a frase parece idêntica à da deputada comunista na tribuna da AR e já acima referida.
A comentarista Afonso oferece mais outra pérola (vagamente artificial) no artigo “em cada esquerda um amigo” (Público) que de bom apenas tem a referência à cantiga de José Afonso que merecia melhor comentadora.
Eu já não tenho esperança alguma em campanhas de alfabetização política de adultos, mormente no que concerne à história da Esquerda. A verdade é que em Portugal não abundam textos sobre a história das Internacionais. E as línguas ditas estrangeiras resumem-se a um inglês básico que, provavelmente, não é usado para ler e estudar seja o que for.
Todavia, e partindo apenas da figura de Marx, esta senhora aperceber-se-ia de nunca houve uma (mas várias) Esquerda fraterna e sorridente para com as heterodoxias, as seitas, as correntes, os desvios. Bem pelo contrário e é por isso que me socorro do velho filósofo que zurzia sem piedade em qualquer criatura que nas mesmas fileiras ousasse discordar dele. (A coisa menos grave que me ocorre é a acusação de “utópico” a Proudhon). Depois é o que se sabe Kaustsky ficou para sempre “renegado”, Bernstein é “revisionista” e por aí fora. O PCF, tinha mesmo um extenso catálogo de insults um dos quais nunca olvidei “víboras lúbricas”. Vishinsky esse imortal procurador da URSS legou-nos uma extensa listas de apodos a adversários todos traidores, todos trotskistas, direitistas et j’en passe, de fino recorte literário político. Por cá também houve uma pequena diarreia de insultos que não foram apenas pertença do pc mas de todos os restantes grupos e “grupelhos” “esquerdelhos” que pulularam a partir de finais de sessenta. Geralmente eram apenas traduções de literatura política estrangeira especialmente chinesa ou albanesa.
(sobre este artigo de franciscana pobreza não vale a pena gastar mais cera. É igual ao que a senhora vem esforçadamente produzindo dia sim dia não na última página do Publico (ai que saudades do Rui Tavares...)
O sr Putin, um ex-oficial superior da ex- pide soviética, veio dizer (ou alguém por ele) que “o fornecimento de armas à Ucrânia, é contrário à paz e só vem prolongar a guerra e o sofrimento das pessoas”.
Isto, quase ipsis verbis, não vos recorda nenhuma declaração política recente?
Será que Putin pagou direitos ao PC pelo argumento?
E assim chegámos ao 63ª dia de intervenção armada especial que nunca foi uma invasão e menos ainda um acto de guerra.