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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

au bonheur des dames 491

d'oliveira, 27.04.22

Cada cavadela cada minhoca

mcr, 27.04.22

 

Na falta de carne mais apetecível, ama articulista entendeu questionar um desfile  festejando o 25 A por este ser da iniciativa da “Iniciativa Liberal” e por, segunda razão, a embaixadora da Ucrânia ter participado nele. 

No que toca ao primeiro aspecto parece que só os organizadores da tradicional descida da Avenida da Liberdade tem direito a manifestar-se! 

Pelos vistos, e segunda a criatura,  esta “descida” é a única boa pois junta pessoas  e partidos de várias proveniências além dum grupo de antigos militares de Abril. Seria, portanto, uma manifestação “unitária” onde caberiam todos os que se sentem democratas e agradecidos pela chegada da liberdade. 

E assim sendo, não se vê a que título os militantes (ignoro se muitos se poucos) da IL se dão ao trabalho de desfilar festejando uma data que, alegadamente, eles entendem que qualquer pessoa poderia juntar-se, tem lugar.

Eu não vejo nada de mal no facto desta data poder ser recordada por diferentes grupos de pessoas que se sentem mais livres do que no tempo da outra senhora. De resto, e já o escrevi, também não condeno os que fazem do feriado  - e logo deste no prolongamento do fim de semana – um momento de evasão, de mini-férias, de descanso particular. 

Os feriados servem também para isso e boa parte deles não convocam seja quem for para as ruas, para a “luta”, para o patriotismo (o caso específico do Primeiro de Dezembro) para recordar as glórias passadas ou as comunidades (o 10 de Junho) ou o nascimento de um regime já secular (o 5 de Outubro). Duvido que o “Corpo de Deus”, o 8 de Dezembro por exemplo sejam apenas ocasiões para católicos militantes saírem à rua. Do mesmo modo os “santos populares” (que seguramente são os feriados mais partilhados –não incluo o Natal e a Páscoa que mesmo parecendo celebrar datas puramente cristãs são por todos aproveitadas-) não pedem maior esforço do que comer sardinhas, dançar nas ruas, encher-se de cabrito assado e tudo o resto (e mais não digo, eu que festejei o S João de todas as maneiras e sobretudo das que não entram no folhetim por via dos leitores mais pundonorosos, se é que os há e, havendo, não consentem que a carne, que é fraca, se liberte das cadeias que uma moral judaico-cristã mais pesada impõe).

Os feriados são momentos de fuga o quotidiano que é para isso que a democracia  e a liberdade existem.  

No caso em apreço, qualquer pessoa que se sinta grata pela data é d minha família, da minha tribo, do meu particular grupo de amigos. 

Todavia, nem sequer me digno censurar os que nesse dia se vestem de luto, fazem jejum ou cobrem a cabeça de cinza (isto no caso de haver quem o faça, coisa de que duvido pois sei, de ciência certa e segura que qualquer criatura indígena esquece a ideologia e ala que se faz tarde, para a praia, para o campo, para o que muito bem lhe entender. Por outras palavras nunca vi ninguém fazer má cara a qualquer feriado nem protestar  por não poder ir trabalhar para um qualquer patrão nesse dia).

A “Iniciativa Liberal” não quer,  ou não lhe convém, misturar-se com a Esquerda desfilante na Avenida? Está no seu direito e isso não lhe retira o carácter festivo mesmo se obviamente lhe define a orientação política

Como excatamete acontece com quem desfila entre o PC, o BE e alguns independentes de esquerda (incluindo alguns militares de Abril). Este desfile não é um desfile de todos os que se posicionam no campo das liberdades e da democracia mesmo que tente mostrar que e uma frente muito ampla. Nada disso deslustra qualquer organização ou pessoa que, de cravo ou sem ele, entende vir afirmar o seu apoio, o seu reconhecimento ao actual e bevindo regime político em que vivemos.

 

A segunda questão prende-se com o facto de uma embaixadora, a da Ucrânia entender mostrar o seu apreço pelo país que recebe milhares de ucranianos, que envia medicamentos e armas e autocarros para o país infamemente invadido. Claro que a srª embaixadora poderia enviar uma carta, pôr a florinha ao peito, cantar um fado ou a eterna Grândola.  Tudo para dizer do seu apreço à democracia e à liberdade, do seu agradecimento a Portugal e aos portugueses. Nada a impede porém de “fazer” a avenida “pedibus calcantibus” pois que, na minha modesta opinião nesta festa da liberdade cabem todos os que estão neste mundo de boa vontade. Sedesfila com a IL em vez do BE não tem qualquer importância: desfila com quem celebra! E basta (para não dizer chega que agora parece provocação mesmo se essa gente enche a boquinha com a democracia e com a condenação da Rússia invasora). 

A criaturinha de que falo e que comenta os factos quase quotidianamente tem uma insofismável vocação para polícia das consciências, de inquisidora ou até de guarda prisional. É com ela. Mas sair-lhe ao caminho é, seguramente, com qualquer democrata e sobretudo com quem no verdadeiro 25 A estava lá! E eu  com uma montanha de amigos que tentavam resistir ao Estado Novo, estava lá mesmo sem saber se a coisa correria bem ou para o torto.

Celebrámos o 25 A antes dele ser uma festa mas tão só um risco. Já demos para o peditório  de muito “adesivo” e, de mais ainda, de uma multidão de vira-casacas.