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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

au bonheur des dames 508

d'oliveira, 04.07.22

 

 

 

 

 

 

 

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Uma banhoca em Copacabana

mcr, 4-7-22

 

Em tempos que já lá vão eu era capaz de fazer duzentos e tal quilómetros para mergulhar por um dia/dia e meio nas incríveis águas do Índico. Esses quilómetros eram a distância entre Nampula e o Mossuril, frente à Ilha de Moçambique.

Mais propriamente, a praia onde aterrávamos tinha o singular nome de praia das Chocas e consistia num areal imaculado, com coqueiros até ao mar, meia dúzia de pequenos bungalows que a Administração alugava aos turistas. A praia estava semeada de “parrots” ou seja de pequenas e toscas construcções que consistiam numa cobertura de folhas sobre quatro ou cinco pais largos e grossos. A coisa servia para aguentar o sol forte e o calor intenso. As águas eram cristalinas, povoadas de peixes lindíssimos e ricas em lagostas.

Logo que nos instalávamos aprecia um pescador  que oferecia os seus serviços para o fornecimento de lagostas. Tinha apenas duas medidas, ambas a preço irrisório: lata grande e lata pequena. As latas eram de gasolina ou óleo para automóveis. As maiores davam para quase uma dúzia de lagostas as pequenas não ultrapassavam as cinco. Como normalmentese ia em grupo de amigos, tudo gente pronta a devorar tudo o que lhe aparecesse pela frente, o meu pai optava pelas latas grandes e, às escondidas dos outros, avançava uma gorjeta generosa.

Digo às escondidas pois havia sempre alguém que achava que “os pretos não precisavam de muito” e convinha não os apaparicar. O pater apreciador de boa comida e de bom coração não ia nessas cantigas coloniais. “Se queres ser bem servido paga bem!”

Era por essa razão, e provavelmente por amizade que durante todo o tempo em que viveu em Nampula (15 anos) tivemos o melhor cozinheiro da cidade, o “sr. Tesoura” (era assim que a minha mãe o tratava. Ela só tratava por tu o Mário, criado de casa que se embebedava tremendamente. O cozinheiro e o “mainato” (um autentico cavalheiro muçulmano) eram senhores. Claro que as amigas e olegas de canasta troçavam um pouco mas provavelmente a minha Mãe também só queria um bom serviço. E, na verdade, nunca tivemos outros serviçais. Eu e o meu irmão éramos tu cá tu lá com ele se eles connosco. Quando vínhamos de férias (para a estudantada do ultramar criara-se um regime de exames em Dezembro, prolongando assim a época de Outubro. Ou seja as férias de Verão duravam imenso tempo. Nós só regressávamos em Novembro já fartos de sol e África.

Tudo isto para dizer que eu compreendo bem a mania viajeira para o Brasil do sr Presidente da República. Ao mínimo pretexto, ei-lo que se passa para a antiga colónia. Desta vez, terá sido a propósito de alguma comemoração da independência: já que o coração de D Pedro 1V ia até lá, o Presidente mesmo republicano entendeu que deveria também ir.

(a propósito de D Pedro IV, circulava na nossa família uma historieta: um amigo do meu avô seria monárquico legitimista e, sempre que passava, na praça do nome do rei  onde este está de estátua equestre, resmungava, virando-se de costas. “Não consigo encarar o “safardana da mula verde””).

Portanto, eis que o dr. Rebelo de Sousa foi até ao Rio de Janeiro. Aqui para nós também eu iria se me pagassem a viagem. Uma vez na “cidade maravilhosa” entendeu o mais alto magistrado da nação  dar uns mergulhos em Copacabana, coisa que também eu gostaria de fazer apenas pelo amor da água e sem olhar para as jovens mulheres em flor naqueles biquínis reduzidíssimos. Só  pelo mergulho, claro!...

Todavia, o sr Presidente iria também almoçar com o seu colega brasileiro e mais tarde encontrar-se, sabe-se  lá porquê com três “ex presidentes” brasileiros.

Aqui para nós, pessoas intriguistas e de mau carácter, só um interessava, Lula mais que presuntivo candidato mesmo se as eleições ainda não venham tão cedo e as candidaturas serem apenas as presumidas (e no caso já absolutamente confirmada).

Bolsonaro pode ser (e é) aquilo que sabemos  (mas não dizemos para evitar processos de difamação...) mas não assim tão néscio que não perceba de onde sopra o vento. E, vai daí, com o seu habitual tacto diplomático, “desconvidou” Marcelo.

Este fingiu que a indelicadeza não existia e assobiou para o lado. E lá se encontrou com Lula da Silva o candidato que ainda não é candidato muito embora, à vista de todos, aja como tal.

E lá tivemos direito ao mergulho presidencial na hora nobre dos noticiários. E Lola lá teve o apadrinhamento que, de todo, não é apadrinhamento, do presidente português que, por nada deste mundo, se atreveria a meter o respeitabilíssimo bedelho nas eleições brasileiras...

*quem esperava que, na  vinheta,  eu pusesse Lula com MRS enganou-se: não quero imiscuir-me nas eleições brasileiras...