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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

au bonheur des dames 509

d'oliveira, 05.07.22

 

 

 

 

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Obrigadinhos, meu Santo claviculário

mcr, agnóstico mas grato,  5-7-22

 

Já sei que um agnóstico não deve invocar os santos mas, no  meu caso, a coisa não é para menos. É preciso ter, la em cima, um protector, e dos fortes!, para me amparar numa desgraça que nos últimos anos tem sido frequente: perder as chaves de casa! 

As minhas relações e ralações com chaves, mormente a de casa são difíceis desde sempre. Ou pelo menos, desde que há quase cinquenta anos me instalei neste bairro. Comprei um apartamento que era a inveja dos meus amigos e que teve direito a três reportagens com várias fotografias em outras tantas revistas. Convém dizer que as duas primeiras decorreram antes da compra e a última pilhou-mede surpresa. Eu explico: dois dos arquitectos deste bairro (João Serôdio e Magalhães Carneiro) fizeram um andar modelo para os futuros compradores de casa no prédio onde primeiro morei. Com imaginação, talento e pouco dinheiro mobilaram um T1 de 81 metros quadrados (!!!) com elementos só de madeira, geométricos, pintados de azul (mesa, sofás, estante, cama, messas de cabeceira etc.) Tudo pintado de azul forte. A zona da cozinha ou, melhor a parte que a separava da sala, podia correr e esconder a cozinha graças a um engenhoso dispositivo eléctrico. A sala ficava ainda maior.

Dito assim, não tem especial graça mas infelizmente não conservei nem as revistas nem fotografias capazes. A verdade é que caiu no olho das criaturas das revistas de especialmente de uma mocetona, de carnes rijas, olhos risonhos e prometedores que, já eu era proprietário, me pediu para também ela publicar algo sobre a casa. Claro que, movido pela mais miserável licenciosidade, aceitei tudo, no que só fiz bem.

Depois ainda quiseram alugar o apartamento para cenário de um filme mas eu não apreciava o realizador (ou o argumento já nem sei...) e perdi a ocasião de ganhar uns largos tostões.

Ora foi nessa altura que começaram os meus desaguisados com as chaves. Por duas vezes as esqueci dentro de caso e só graças ao vizinho de baixo que tinham terraço e uma escada é que me safei. Comecei a fechar-me à chave o que me obrigava, quando saía a lembrar.me da chave. Nunca mais fiquei "fechado  na rua

Quando me mudei para a minha actual casa, depois de um voluptuoso negocio de venda do apartamento azul a um cavalheiro que ficou entusiasmadíssimo com a casa e pagou o que me pareceu ser um exagero (eu fizera um preço que considerava alto para depois fazer um eventual abatimento generoso. Não foi necessário: a criatura entrou, viu, entusiasmou-se e nem discutiu apesar de declarar que aquilo era “carote”. Era um filho único que saía de casa pela primeira vez e a parentela também achou “carote” mas não repontaram.

Nesta casa, continuei a usar o mesmo método de fechar à chave a casa logo que entrava e lá me fui aguentando sem especiais sobressaltos. Todavia, nos últimos anos perdi as chaves cinco vezes!!!

Convém dizer que eu uso um dispositivo parecido com um “mosquetão” que se prende numa presilha do cinto  o que, em princípio garante que não cai nem se perde. A verdade é que nas primeiras três vezes por mal preso perdi as chaves. Das duas últimas foi o próprio dispositivo, gasto pelo uso de muitos anos que permitiu que a argola caísse.

Com uma sorte inacreditável houve sempre almas caridosas que entregaram as chaves perdidas na tabacaria, no condomínio ou no café. Das duas ultimas vezes valeu-me um pequeno anúncio com o meu nº de telefone afixado depois do desastre.

Hoje, foi no correio: o mosquetão dividiu-se em dois e as chaves lá ficaram. Quando aflito lá voltei, o funcionário que meia hora antes me atendera nem me deixou falar: “vem por umas chaves?  Claro que vinha e depois de agradecer com muitas vénias e sorrisos corri para o meu antigo sapateiro agora detentor de uma casa que faz tudo, vende tudo mas, infelizmente, já não trata de calçado.

E descobri que o mosquetão estava mais que gasto a pedir reforma urgente. Veio outro, novinho em folha e uma chapinha com o meu nº de telefone  (cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém).

O melhor da história é que não precisei de anunciar a perda momentânea À CG. Evitei, S Pedro seja três vezes louvado, um sermão dos grandes, pior do que os do monsenhor Palrinhas, padre na igreja de S Julião, na Figueira e famoso pelos copiosos sermões que praticava.

Por três euros e meio estou preparado para quase tudo, incluindo novas perdas.

E poupando quantias absurdas de instalação de nova fechadura (também já aconteceu e que me custou umas largas centenas de euros...). Já que estou em boa maré fui à tabacaria fazer mais uma apontas no euromilhões. Quem sabe se a maré, a boa maré, continua?