au bonheur des dames 510
“Brasil meu netinho”
mcr, 6-7-22
“... ai Portugal que ensinaste
ao Brasil o teu carinho”
(Manuel Bandeira, “Portugal meu avozinho”
O título é uma alusão (cópia) descarada a um livro ou texto de um jornalista brasileiro, David Nasser, estrela maior do universo da revista ”Cruzeiro” (anos 40 e 50, sobretudo) e que escreveu um livro com o título “Portugal meu avozinho”. Isto quer dizer que se trata de leituras antiquíssimas, seguramente ocorridas em Lourenço Marques (actual e erradamente Maputo e que a mudar de nome deveria ser Xikunguine nome dado pelos negros autóctones da zona, cfr Alexandre Lobato ). Nasser tinha a língua afiada e inimigos poderosos desde Getúlio Vargas até à Junta militar brasileira dos anos 60 sem esquecer Leonel Brizola, um afogueado líder trabalhista de quem também foi irredutível adversário.
Explicada parte do título, a que vem o “netinho”? Pois sevida ao facto do sr Presidente da Reública mostrar aos quatro ventos um imoderado amor pelo “país irmão”. Um amor paternalista em excesso que permitiu a Santana Lopes (esse recorrente fantasma político) chamar-lhe 2neo-colonialista”.
Custa-me estar de acordo com Santana. É uma sensação pior do que uma dor de dentes aguda, seguida por cefaleias intensas, diarreia e mal estar geral. Todavia, nisto, e só nisto, o sr. Lopes acerta em cheio.
Os desvelos do dr. Rebelo de sousa pelo Brasil não conseguem mascarar um intenso sentimento paternal que aliás se exprime, bem, demasiado bem, nesta visita com entrevistas com sucessivos antigos presidentes. Convenhamos que, por mais que se meta mSarney, Temer, Fernando Henrique Cardozo e Lula ao barulho, só o último está ainda na política activa e é claramente candidato a eleições próximas. Os restantes, todos maiores de 80 anos, já não tem pernas para andar mesmo se, dos três só Fernando Henrique mereça menção honrosa.
Ao encontrar-se com o ex-dirigente sindical do PT, o dr. Rebelo de Sousa imiscuiu-se no processo político brasileiro. Mesmo com a atenuante de mostrar um farto desprezo por bolsonaro, um incapaz absoluto vagamente militar que, por milagre terá chegado a capitão, ex-deputado mais calado do que uma múmia egípcia durante a sua permanência no parlamento e levado ao poder por todos os saudosos da Direita militar e religiosa (Só no Brasil ...tão longe de Deus e perto do impossível!)
Convém lembrar que nisto de enternecidos olhares coloniais dobre o Brasil, MRS não está sozinho, bem pelo contrário. Só o neo-colonialismo mais extreme justifica um hediondo acordo ortográfico (que nem os brasileiros respeitam, como já não respeitavam os anteriores), o seguidismo acéfalo de toda e qualquer telenovela brasileira seja ela a “Gabriela” ou qualquer sub-produto actual. Ou, e lá chegamos esta espécie de benevolência por Lula que mostrou enquanto presidente todos os defeitos dos anteriores a começar pelo famoso “mensalão”. Não vou, sequer perder tempo a tentar saber se foi ou não corrompido com a oferta de um apartamento, ou se os juízes (e foram vários) que o condenaram e depois absolveram, estavam ou não metidos com uma qualquer agenda política . A verdade verdadeira é que o país adiado está entre varais: ou Lula ou Bolsonaro!
Deve ser uma punição de um qualquer deus que, ao contrário do que se diz, não é “brasileiro”. Aquela terra magnífica onde tudo se dá merecia outra sorte mas os ciúmes das divindades condenam-na a est temível escolha. Um militar ignorante e caserneiro ou um político capaz de permitir o que permitiu só para se conservar no poder.
O dr. Rebelo de Sousa voltará às terras de Santa Cruz para as comemorações da independência. Uma independência com a chancela de um príncipe ambicioso que depois se retirou para Portugal para defender o trono seu e da filha de um usurpador de baixo estofo e fracas capacidades intelectuais e políticas. Irá, o Sr Presidente, comboiar o coração do rei-soldado. A ver vamos como é que será o seu encontro com o outro, o vago soldado capitão que não é o da cantiga “rei capitão soldado ladrão...(menina bonita do meu coração, não quero ter coroa nem arma na mão, nem fazer assaltos com o meu facalhão”...).
Eu, que já espero tudo, temo o aperto de mão o abraço e algum convite para visitar Portugal “o avozinho”...
Ai!...