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Incursões

Instância de Retemperação.

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au bonheur des dames 514

d'oliveira, 26.07.22

Um centenário já está,  a ver vamos como será o seguinte

 

mcr, 26-7-22

 

fiz, como eventualmente algum leitor mais generoso terá reparado, uma pausa de alguns dias neste desenfadado quase-diário que vou deixando por aqui. 

A razão desta ausência é simples, a minha Mãe celebrou com forte estrondo o seu primeiro centenário e ameaça estar pronta para outra experiência semelhante mesmo que as probabilidades joguem contra ela.

Todavia, a old lady (é assim que eu e a prima Maria Manuel chamamos às respectivas nossas progenitoras) divertiu-se como uma cabinda, confessou que tinha gostado da festa que pouco mais foi do que um almoço de aniversário. 

Tudo isto foi engendrado pelo meu irmão acolitado e fortemente ajudado pela mulher e pela cunhada que se terão esfalfado em tudo o que era pormenor prática deixando-lhe a ele a “estratégia”. Traduzindo ele teve a ideia deu um par de palpites e depois as manas esfalfaram-se. O costume... 

Eu, vivendo a 300 quilómetros bem puxados, fui, como calculam, poupado a essas tarefas quer de estratégia quer de  táctica. Viver na província tem as suas vantagens. 

Isto de ser o mais velho dá vantagens especiais tanto mais que nunca troquei os direitos de primogenitura por qualquer prato de lentilhas. (aliás e aqui para nós nunca vi lentilhas, muito menos as comi e, com a idade que levo, tenho fortes dúvidas que alguma vez me cruze com tal legume cozinhado ou ao natural. 

Portanto acompanhado pela CG acomodei-me desde sexta feira na casa materna. Prestando serviços quase mínimos e preparando-me, mental e fisicamente, para a festa do centenário. 

 

 

Nesta família da parte da minha mãe há uma enxurrada de tios, primos e demais descendência que desemboca nos três netos do meu irmão. Melhor dizendo a minha mãe ainda teve duas crias, dois tios ficaram-se por uma (aliás um e uma) enquanto os dois restantes tios imbuídos de forte sentimento patriótico apresentam a conta de doze entre rapazes e raparigas (enfim entre sexagenários e quinquagenários...) que por sua vez tem feito alguns esforços (moderados, aliás) na defesa do património genético nacional. Essa geração está já toda na universidade. Não foi uma reunião demasiado grande na medida em que o meu irmão (que leva estas coisas com rigor milimétrico...) entendeu que a festa tinha de cair exactamente no dia do aniversário, dia útil o que, desde logo, impedia alguns familiares  de participar. Depois, outros primos estão espalhados por vários países (Grã Bretanha, Holanda, Cabo Verde, Angola e Alemanha) Desses apenas a minha sobrinha pode vir. A extrema idade  de alguns tios também os impediu de participar. (e quando falo de extrema idade atiro a coisa para cima dos noventa anos... o que acrescido a que vivem longe tornava tudo mais complicado. De todo o modo arregimentaram-se quase quarenta preopinantes entre familiares e amigos muito, mas muito, próximos. E houve quatro faltas mesmo na hora de soar o gongue. O covid atacou uma cunhada, dois primos e uma sobrinha (que vinha expressamente de Sheffield na Inglaterra para os anos da avó. Já é galo! Pior do que isso. Na manhã do dia da festa fez um desses testes manhosos e deu positivo. Na tarde do mesmo dia mas já recolhida voltou a testar e afinal deu negativo. Bem feito para quem tem a mania de andar sempre a tentar o diabo ... 

Aqui para nós, eu temia que a minha Mãe não adorasse a surpresa (isto digo eu pois às tantas, já desconfiava que ela, para essas coisas, até parece ter um pacto com o Maligno). Depois, a excelente Senhora que ainda vive sozinha (!!) está óptima de tudo excepto uma surdez  valente, má visão e uns pés que ela jura que estão demasiado gastos. No resto prova que a velhice é apenas um  estado de espírito. Memória de ferro  e apetite devorador, boa disposição, muito bom senso, enfim ela é, e desde há muito a matriarca da família.

Portanto, apesar da caminhada, parte dela em cadeira de rodas (foi a segunda vez que vi tal peça em uso...) estava radiante.  Medalha de ouro com palma para o meu  irmão e menção mais que honrosa  para as suas coadjuvantes. 

Que dizer mais do que isto? Que encontrei barrigudos, de cabelos brancos, meninos que conheci ao colo das mães, que tive a enorme alegria de ver duas amigas e de recordarmos juntos que nos conhecemos e amamos há 75 anos... 

Ou que conversei animadamente com uma prima que já vai no segundo ano de faculdade, filha de um primo direito que vi nascer! E que gosta de ler!!!...  E leva a sua amabilidade  até ao ponto de me ir lendo por aqui.!

Claro que as famílias dão para tudo mas é neste tipo de reuniões que temos as maiores surpresas e pensamos no que diriam os nosso que já cá não estão se nos pudessem agora ver.

Quanto a centenários este foi o primeiro muito embora tenha havido já fartas ameaças que se tem dissipado na praia dos noventa e muitos anos.  

À cautela combinei com as minhas amigas já referidas que urge levar a cabo uma reunião dos meninos que brincaram na praia da  Buarcos nos anos 40 e 50 mesmo sem a desculpa de uma data redonda. Se tudo correr como espero ainda será este ano. E lá, na Figueira de onde viemos todos ou quase sob a batuta do Nelito Pinguel que, mesmo viajando, neste momento, pelos mares do Sul está já notificado que tem de começar a preparar tudo. 

Temos de provar a nós próprios e uns aos outros que ainda estamos vivos e capazes de fazer a festa. 

 

 

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