Au bonheur des dames 547
Vamos todos para Pasárgada?
Não.Para Doha (a quem doer)
mcr, 19-11-22
Manuel Bandeira, avozinho de toda a grande poesia luso-brasileira, escrever o poema que vagamente refiro no título, confessando que foge ao mundo de todos os dias para ir morar noutro ideal, mais perto da poesia e seguramente da utopia.
O Sr. Presidente da República, vai por seu pé aplaudir a selecção ao país onde as mulheres, as minorias sexuais, os emigrantes e mais um gordo par de metecos não têm direito de cidade. Pelos vistos Sª Ex.ª que tem um gosto imoderado por falar de tudo e a todo o tempo, entendeu (versão benigna não especialmente credível) referir a propósito desta viagem o seu enorme respeito pelos Direitos Humanos afirmando que embora os defenda a outrance, a sua deslocação é um hino à portugalidade e um imenso amor pela equipa nacional. E vai, pelos vistos, a contragosto, a um emirato que se está nas tintas para estes e outros direitos, proclamando a sua existência com um grotesco, riquíssimo esforço para mostrar que mesmo num país sem futebol, este acontece na estação invernosa para provar que o Qatar existe.
Nada obriga, nem mesmo o mais extreme patriotismo, a ir de longada até ao deserto para ver a “equipa se nos todos” ou para, esganiçadamente, a apoiar. E não vejo, a menos que o dr. Rebelo de Sousa imite os jovens climático-frenéticos e se ponha a gritar slogans no meio da rua, na bancada ou, un extremis a dizer duas bem fortes a um qualquer emir que se lhe atravesse pelo caminho.
A selecção que não é feita de filhos família exaltados aguenta bem jogar apenas com o apoio caloroso de longe e com a garantia que os três mais altos representantes da república se reunirão numa sala do palácio de Belém ou na pastelaria vizinha devidamente paramentados com cachecóis verde-rubros e camisolas das quinas.
Ir ao Qatar mesmo com algum lacinho de DH na lapela é, de facto, fazer um intervalo n defesa dos direitos e dizer a quem vê que se é verdade que morrem uns emigrantes asiáticos ou se chibatam duramente s mulheres mis rebeldes (para não falar em tropelias mais fortes contra “desviantes” sexuais que, esses comem sempre pela medida grande...).
E não se diga que o presidente A ou o primeiro ministro B de países amigos também fazem essa triste romagem. Em princípio esses cavalheiros vão fazer largas negociatas e muitas e muitos milhões. Ora Portugal pouco tem para vender (excepto vinho que não parece ter especial êxito num país muçulmano) e como embaixador do torrãozinho de açúcar basta o Ronaldo mesmo se em declínio.
A menos que os três insignes cavalheiros sejam adeptos amantíssimos da bola e não passem domingo sem uma dose de estádio ou de televisão, no quentinho e com muitas pipocas (e uma cervejinha para afagar o palato e prevenir sede).
Eu não ouvi, da parte de ninguém, dos três citados, ou de autoridades desportivas ou clubísticas, uma crítica o milagre da escolha daquele deserto carregado de gás e petróleo e torres enormes, ricas e possidónias.
Ora sabe-se agora, sempre se soube, que esta escolha esdrúxula de país organizador foi banhada por um tsunami de dólares passados por baixo da mesa. Mais de metade dos comissionados para a escolha já foi banida e acusada de se ter deixado untar a pata voraz. Saíram das organizações futebolístico-mafiosas e agora viverão dos rendimentos mal adquiridos.
Mas desta história de mão estendida e rapace nada consta nos discursos oficiais.
It’s football, it’s football
Ninguém leva a mal
a vinheta mostra que, pelo menos no Qatar (es a fotto não foi "arranjada" ) as mulheres ocidentais não estão obrigadas a usar vestimta local para tomar banho. Todavia desconfio que a fotografia nada tem a ver com o médio oriente