au bonheur des dames 567
Lembrando o antigo 31 (de Janeiro)
mcr, 31-1-23
Agrava-se a chinfrineira
Vai aumentando o zum-zum
Vem bomba, rebenta, pum
Depois mais tarde vereis
24, 26, 29 e 31
Ó larilólela
Como este não há nenhum
Tudo bate em Portugal o fado
Do 31
(fado do 31)
Os leitores desculparão mas não é fácil exaltar a arruaça de 31 de Janeiro que demorou o tempo que leva a ir da antiga Câmara a meio da rua de Santo António (hoje, e mal!, rua 31 de Janeiro. Que diabo, Santo António é o maior santo português e universal e a rua é das mais antigas da cidade e sempre se chamou assim mesmo que no seu topo a igreja se chame de Santo Ildefonso) .
Convém dizer que nesta minha apreciação da “revolução” do 31 de Janeiro não vai qualquer má vontade mas tão só uma crítica à total impreparação dos revoltosos ao estúpido sacrifício da arraia miúda que foi baleada ou morta, para não falar dos presos, julgados e deportados. Em tempos mais modernos isto seria “uma anarqueirada” (como a da Marinha Grande...) ou puro aventureirismo.
De todo o modo, quando me iniciei nas lides políticas, o 31 de Janeiro e o 25 de Otubro eram datas que celebrávamos com fervor, sob o olhar malsão da PIDE e das restantes autoridades. Um “viva à República” podia dar direito a uma detenção e a algum “par de safanões dados a tempo”.
No Porto, o 31 de Janeiro obrigava a uma ida ao cemitério do Prado do Repouso junto do memorial do evento celebrado. Também aí a “oposicrática” se arriscava a um par de cacetadas quando a coisa não morria logo no ovo antes mesmo de passados os portões.
Nessa mesmíssima época, pelo menos em coimbra, a rapaziada monárquica tinha a sua especial festa no 1º de Dezembro e durante anos a festividade consistia em ir ao palácio de S Marcos onde residia o pretendente ao trono.
Com uma diferença, e de peso!, ninguém era incomodado pela polícia. Não faço ideia de como as coisas agora se passam mas não tenho visto reportagens significativas sobre estas festividades civis
Por junto, a Esquerda (alguma dela)dá-se ao trabalho de desfilar na Avenida da liberdade de cravo na mão ou ao peito e. Se possível, ao som de “Grândola vila morena”, a imortal cantiga com que o Zeca festejou e agradeceu uma recepção seguida de pequeno concerto dele numa sociedade recreativa da terra.
Voltas que o mundo dá: o Zeca escreveu e musicou cantigas bem mais revolucionarias (Meninos do bairro negro; Vampiros..., por exemplo) e igualmente ricas musicalmente mas foi a Grândola que graças ao golpe militar (desta vez bem preparado e triunfante...) que ficou na memória colectiva e “marchista”.
Claro que, hoje, tantos anos depois, recordo as nossas celebrações juvenis e desafiadoras com um misto de benevolência e de saudade. E lembro os inúmeros amigos e companheiros desaparecidos que já são uma multidão que parece dizer-me que só falto eu para me juntar aquela sombria festa. Descansem que não falta muito para eu me juntar a vocês, malta amada e perdida.
(suponho que o fado do 31, referido na epígrafe não tem nada a ver com efeméride mas à vista da letra não resisti.)