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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

au bonheur des dames 574

d'oliveira, 04.03.23

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Pôr-se a jeito

mcr, 4-3-23

 

 

O sr. D José Ornelas  (isto de dom a bispos é que me cheira a velho e relho bem mais do que muitas outras coisas com que se sobrecarrega a Igreja Católica) provou urbe et orbe que lhe falta jeito para ser porta voz. E conhecimentos jurídicos mas disso  há desculpa. 

Eu não sei porque não li o relatório da comissão indagante dos abusos, se a lista fornecida às autoridades eclesiásticas apenas tem nomes sem provas dignas de ser investigadas ou se, pelo contrário, aquilo é um camião de acusações fundadas, testemunhadas, comprovadas . 

Do que fui sabendo já verifiquei que de um determinado pacote de processos enviados à Procuradoria Geral esta já descartou uma quantidade substancial. Falta de provas, prescrição, morte dos acusados sei lá que mais.

Aceito, dada a minha maldita formação  jurídica todos esses argumentos da PGR mas faço notar que no reino de Deus a ideia de prescrição para acções nefandas  é de proscrever. Ou seja, o abuso de menores por padres, freiras, professores de religião e moral & assimilados há de ser analisado com rigor. Com o rigor que o pecado merece, que o não arrependimento exige, seja qual for a posição tíbia, cobarde, cúmplice, sacrílega (é só escolher o adjecto) doe eminentíssimos bispos com dom ou sem ele. 

Nem sequer falo pelo país, menos ainda pela Igreja (a que não pertenço) mas tão só em nome de uma ideia de decência, de civilização e lembrado de milhões de pessoas que acorrem às Igrejas, a Fátima, à extrema unção ou ao baptizado. O catolicismo é um elemento estruturante, indissociável da ideia de Portugal e até por isso merece ser respeitado.

Esta padralhada dissoluta é tudo o que é repugnante na sargeta por onde correm certas práticas indignas contra criaturas absolutamente indefesas. 

Todavia, a ideia de que a simples menção de um nome sem mais possa ter sido transmitida não me diz nada de bom. É evidente que não exijo provas esmagadoras, arrasadoras, definitivas mas pelo menos, e por muito que isso custe, há que arranjar testemunhas, vítimas que estejam dispostas (com todas as salvaguardas possíveis, que as há  e se não houver arranjam-se) a repetir nos tribunais eclesiásticos e nos criminais o que terão testemunhado ou declarado. 

Portanto, e primeiro ponto:  o clamor dos comentadores mais ferozes terá de ser acompanhado pela verdade dos factos. Só assim poderemos ir atrás dos padres pecadores, dos bispos cúmplices e da grande massa de crentes que sabendo ou desconfiando só agora escreve inflamadas cartas à hierarquia religiosa. 

Depois, este combate terá de ser travado nos seusestreitos e especiais limites. Para já trata-se de eliminar a gangrena, a ferida purulenta. Depois, caso as boas consciências o entendam necessário. É que vem a hora de ir aos dogmas, ao celibato, à posição da mulher e a tudo o resto.

Misturar combates nunca foi boa tactica militar e seguramente também não me parece ser útil no capítulo religioso. Claro que digo isto  como agnóstico mas sempre recordando que uma das bases em que assenta a visão do mundo tem muito, quase tudo, a ver com a fé dos meus pais, dos meus familiares, dos meus amigos e da esmagadora maioria dos meus concidadãos.

Ora tudo isto poderia ter sido dito  pelos bispos ou apenas pela referido bispo d. Ornelas.  O modo intelectualmente gaguejante com que o fez estragou muito ou quase tudo. E atiçou os críticos menos interessantes mas mais “interessados”.

De todo o modo, o que, enquanto cidadão deste país especialmente me interessa é a tramitação dos processos crime, das investigações judiciais. Este crime interessa tanto a Deus (ou aos seus representantes) como a César.

Conviria, mais tarde, mas sempre, continuar esta tarefa indo também investigar outras confissões e outras instituições onde é voz corrente terem existido crimes semelhantes. Barrela geral e forte, uma vez por todas!

Onde houver menores em situações que potencialmente são perigosas convém indagar. E seguramente que haverá surpresas se surpresa for a palavra adequada. 

Obviamente, num país onde um ex dirigente político anda há anos a tentar fugir com o dito cujo à seringa, usando de um modo inacreditável de recurso sobre recurso (e perdendo-os a mais de 90%  das vezes!!!) , onde um outro cavalheiro, em prisão domiciliária gem pela falta de “vinho corrente” confessa (tardiamente, em documento legal) que fugiu a obrigações fiscais porque tal era “pratica corrente e generalizada” no meio em que se movimentava, afirmando que essas aventuras eram conhecidas de “toda a gente” e alegremente praticadas ou desculpadas igualmente por “toda a gente”, julgando que essa confissão (tardia e inútil) poderá esconder com maior eficácia outros pecados maiores e mortais como a corrupção  e fazendo de nós todos, boquiabertos, uma récua de criaturas estúpidas, tudo isto , dizia, deixa muitas e sólidas dúvidas sobre a “justiça de César” vulgo portuguesa...

Andei, por três anos em colégios de padres ou com gestão de padres. Nunca vi, ouvi, sequer suspeitei, de práticas atentatórias contra os alunos mais novos pois eu caí por esses locais já crescidote, rebelde e aconselhado sempre a não renovar a matrícula o que era uma maneira “civilizada” de mandar um filho família procurar local mais adequado para dar asas à sua irrequieta adolescência.

Tenho amigos padres e ou profundamente religiosos. Eles tem mais que fazer do que tentar converter-me ou regressar ao rbanho do Senhor e eu não estou para discutir com eles o sexo dos anjos, a história pregressa da Igreja  ou as caves do Vaticano.

E, mesmo sabendo quão perigoso é dizer que desta água não beberei, com a idade (avançada) que levo não me parece que venha a sofrer o famoso e esquecido drama de João Barois se é que algum leitor ainda frequenta esse enorme escritor que foi Roger Martin du Gard. Este romance e “Os Thibault” são imperdíveis.

(também mencionei um livro de André Gide que igualmente merece uma visita ) 

*na vinheta: não resisto a meter um Siné. Vem dos meus vinte anos  que já não voltam...