au bonheur des dames 575
Quanto mais se explica
Mais se complica!
ou
TAPar a verdade com uma peneira
mcr, 7-3-23
O subtítulo deveria ser tapar a burrice e não só a verdade. É que isto da TAP é desde a famosa reversão, a acrisolada defesa da companhia de bandeira, Portugal acima de tudo e outro pechisbeque vagamente esquerdista e totalmente patrioteiro, ultrapassa o entendimento.
Vejamos: países como a Bélgica, a Suíça ou a Itália há muito que desistiram das suas famosas companhia nacionais mesmo se qualquer destes países tivesse seguramente uma quota de mercado aeronáutico superior ao nosso. Mais ricos, mais importantes do ponto de vista financeiro e/ou industrial ou comercial, entenderam que não valia a pena o esforço.
Por cá, num arranco de bom senso, lá se descobriu que as sempre mobilizadas diásporas nacionais, os palop e outros destinos chegavam e sobravam para manter uma companhia.
É bom lembrar que mesmo no tempo do “Império” o transito Portugal África não cobria o prejuízo, o custo de um estrutura intercontinental que nas colónias derivava para companhias de lá que essas sim, dadas as distancias, as deficientes ligações por estrada e o reduzido movimento de cabotagem ainda poderiam explicar o investimento nelas.
Com o fim das colónias e o consequente surgimento de companhias próprias em Angola e Moçambique nada melhorou. Os restantes destinos (os da diáspora) sempre foram cobertos por companhias europeias maiores e mais baratas para já não referir o “low cost” que se foi impondo nas últimas décadas.
Todavia, uma ideia provinciana da grandeza pátria, directamente herdada do salazarismo, entusiasmou um par de energúmenos ideológicos que logo, por um milagre das rosas eleitoral, se apanharam no poder, entenderam dedicar-se ao verbo reverter.
Do que tem sido as reversões há por aí exemplos pungentes mas a história a TAP bate tudo.
E dez anos depois da heroica façanha nacionalizadora, eis que a brutalidade dos factos, o tsunami da realidade, o peso dos milhares de milhões desperdiçados, reergue a bandeirinha da privatização. Se esta vai ser a 51% a 70% ou total os cavalheiros que se arrogam de ser os nossos dirigentes nada dizem. Provavelmente, porque nada tem ou podem dizer, muito menos ter a humildade de pedir desculpas a um eleitorado que, pelos vistos em poucos meses se tem dissipado pelo menos nas sondagens.
No meio disto tudo, o drama de faca e alguidar da senhora Reis, o meio milho de euros pagos à socapa nem sequer é importante. Será revelador, isso sim. Revela, para j,á que no circuito ultra fechado, no bunker governamental (aparent rari nantes in gurgite vasto...) onde a falta de talentos parece também ela sofrer os efeitos da rarefacção , os sinais da mediocridade e do aparelhismo se reforçam.
No caso desta quase governante a coisa foi ainda caricata porque, uma vez defenestrada da TAP logo poisou na NAV e aí sem aquecer o lugar foi propulsada para o Ministério das Finanças. Tudo em poucos meses! É razão para perguntar onde estaria esse formidável talento, essa especial qualidade para estar sempre no pico das mais diversas ondas, sempre a surfar de sucesso em sucesso.
Agora, a Inspecção Geral das Finanças vem dizer que aquele pagamento foi ilegal, coisa que uma gigantesca maioria de portugueses já sabia ou suspeitava.
Por isso, o Governo fez rolar cabeças. Duas para ser mais concreto. É caso para dizer que os restantes membros da direcção da TAP ou não riscam nada, ou de nada sabiam. Que raio de casa onde a mão esquerda ignora o que a direita faz. Pior: o ex-secretário de Estado que deu o seu aval ao pagamento não terá dito nada ao Ministro!!! Alguém acredita neste conto de fadas?
À cautela, o dito Ministro entendeu demitir-se, coisa que causou sensação e rendeu um par exíguo de louvores. Que sentido de Estado!
Alguns portugueses menos entusiastas, e muito menos ingénuo,s apostam na hipótese do Ministro se ter demitido antes que o céu lhe caísse em cima se é que me permitem citar Asterix.
Alguém ouviu falar no sr edro Nuno, o terror das perninhas dos banqueiros alemães? Sequer no seu Secretário de Estado que deu autorização pelo menos tácita para o pagamento?
Seá que alguém acredita que a srª CEO da TAP despedida “com justa causa” não se irá defender com esta autorização governamental?
Esta história ainda tem muito caminho pela frente. Aos milhões evaporados juntar-se-ão mais alguns na indemnização.
O director financeiro da TAP continua de pedra e cal coisa deveras surpreendente. Então nem ele teria obrigação de dizer uma palavrinha ao Ministério das Finanças?
Quando esta “reversão” ardentemente aplaudida pela esquerda parlamentar, pelo sr Pedro Nuno e e pelo sr António Pedro Vasconcelos e pelos patriotaços do costume, ocorreu houve quem pasmasse. Fiz parte dessa tropa, entre outras razões porque me fartei de viajar pela TAP até me cansar, Pelo serviço, pela comida, pelos atrasos, pelo preço. Agora, pelo menos, pago menos e tenho melhores horários. E espero com curiosidade e alguma ténue esperança, que a Lufthansa peque naquilo. Pior serviço é impossível pelo que há tudo a ganhar por pouco que seja. E se possível sem o Governo português meter o bedelho na estrutura accionista. Assim não haverá afilhados para empregar. Já estou farto de boys. E de girls!