au bonheur des dames 579
Prender Putin?
(variações diversas sobre o tema)
mcr, 23-3-23
O sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros terá declarado que se Putin viesse a Portugal seria preso à ordem do Tribunal Internacional.
Suponho que esta declaração foi feita depois de uma pergunta de algum jornalista pois não estou a ver o sr. Gomes Cravinho armado em cabo de esquadra a ameaçar este mundo e o outro.
Por outras palavras, o Ministro limitou-se a dizer o que qualquer outro ministro da UE (e não só...) diria em caso semelhante.
Uma senhora comentadora leu isto e o seu meigo coração bateu fortemente. Prender Putin? Que descaramento! E e Portugal? Ai jesus, maria José!
De facto seria estranho que Putin aparecesse por cá, logo ele que não sai das muralhas do Kremlin sem um exército de guardas. É verdade que o amigalhaço Abramovitch (cidadão português por algum milagre especial da comunidade judaica do Porto) pode aparecer e que um outro oligarca está na lista (sempre portuense) dos injustiçados descendentes da diáspora de 1500!... todavia, é duvidoso que, fiado nesses exemplos, o ex-polícia secreto entendesse demandar o jardim à beira mar plantado.
O escândalo que a comentadora vê na declaração só existiria se o Ministro dissesse que Putin poderia vir, andar por aí, visitar os Jerónimos, comer uma sardinhada sem que ninguém o incomodasse. Há um mandado de captura a que Portugl está obrigado, ponto final, parágrafo.
Ainda sobre isto, amesmíssima comentadora vem agora criticar este pobre país por estar sempre do mesmo lado da História, isto é no Ocidente na comunidade dos países democráticos.
E choraminga baba e ranho por assim estarmos conrta a Rússia, a China, a Venezuela ou a Correia do Norte. É indecente alinhar contra este garboso grupo de países “progressistas”
E vem pela enésima vez lembrar o facto de Durão Barroso, enquanto 1º Ministro de Portugal ter estado a assistir nos Açores a um conluio americano-espanhol sobre o Iraque.
Eu não faço a mínima ideia sobre a posição da comentadora na época. Por minha parte achei estúpido e ridículo mesmo se Barroso se tivesse limitado a assistir e a fornecer bebidas aos outros porquanto, que eu saiba (mas posso estar equivocado) o português não assinou o texto final da reunião que concluiu pelo armamento perigosíssimo do Iraque.
Como se sabe, tal armamento, fundamentalmente químico não existia ao contrário do agora, atómico que presumivelmente o Irão terá. A invasão daquele feudo de um tiranete alucinado que chacinava curdos ou iraquianos (para não falar nos persas e nos do Koweit que ele invadiu e massacrou) com igual à vontade e displicência.
A derrota do Iraque, aplaudida por todos os estados árabes vizinhos foi um dos motivos ( mas não o principal) do aparecimento da seita do ISIS. Todavia, nos espaços muçulmanos de há muito que se sabia de grupos radicais sempre prontos a massacrar o judeu, o ocidental ou o chiita ou mesmo o sunita sem falar nos curdos, carne para canhão.
Que o desaparecimento da autocracia sanguinária de Saddam tenha dado mais hipóteses aos radicais não há dúvida mas poderemos supor sem margem para grandes dúvidas que o terrorismo fanático apareceria em breve. Aliás nunca desapareceu daqueles territórios...
Portanto, graças a Durão, Portugal escolheu o “campo errado”!
Pelos vistos rejeitou o glorioso caminho que originou o 17 de Junho na Alemanha, dita democrática, a invasão da Hungria, o esmagamento de Praga em 68 ou a invasão do Afeganistão pela URSS....Critérios!... No que toca à China, temos que o Tibete ou a região autónoma dos uigures não significa nada de grave... Nem o suave aniquilamento da democracia em Hong Kong...
É sempre bom saber que por cá, sobretudo despertados pela “intervenção militar especial” na Ucrania, se assiste a um sobressalto patriótico, popular e progressista contra quem apoia o país invadido... como a guerra (que não tem esse nome) continua depois de um ano da máquina militar russa andar a patinar nas zonas limítrofes do Donbass e da Crimeia, percebe-se a angustia dos que pensavam que aquilo era uma fervurinha, um passeio militar, coisa para uma semana se tanto.
Os putinistas portugueses, provavelmente saudosos dos tempos de Brejnev e do Gulag sempre a transbordar de gente para ser reeducada, devem andar a rebolar-se com a declaração de Cravinho.
E, sobretudo, a sonhar com o eixo sino-russo, vero paraíso dos trabalhadores, das classes populares, dos progressistas e de todos os povos amantes da paz.
Não deixa, porém de ser surpreendente o facto de serem justamente os maus da fita (Europa ocidental, Canadá e EUA) quem atrai os famintos da terra, os malditos, os perseguidos, os fugitivos climáticos, as vítimas de guerras civis ou de perseguições de toda a ordem.
Porque raio de razão não avançam sobre as imensas terras da China e da Rússia, esse sol da terra que tanta tinta fez correr. Pior: volta e meia cidadãos ingratos e traidores desses dois paraíso terrestres saem de lá e tentam à viva força emigrar para o lado errado da história.
Ora aqui está um mistério mais difícil do que o da Santíssima Trindade...