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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Au bonheur des dames 580

d'oliveira, 28.03.23

 

 

 

 

 

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Coimbra é uma canção ?

mcr, 28-3-23



Segundo notícia do “Público”, a Câmara Municipal de Coimbra quer fazer uma residência de estudantes na “Baixa”. Porém, não obtém em tempo útil quaisquer respostas dos ministérios com os quais há de estabelecer protocolos de vária ordem. A CMC garante que lhe caberá boa parte (a maior) do investimento mas como está a tentar reabilitar aquela zona da cidade, dispõe-se a abrir os cordões à bolsa.

A notícia é omissa quanto à localização  da futura residência estudantil pelo que eu arrisco um par de ideias de que, aliás, desconheço a pertinência mas que na pior das hipóteses são um lembrete para a tentativa de salvação de património que provavelmente entra na classificação de património atribuída à zona universitária cujo núcleo monumental se situa no que restou da “Alta” depois das obras feitas durante os anos 40/50/60 e que deram origem às faculdades novas de Letras, Medicina e Ciências.

Como disse, para lá da “Alta” há na “baixa” um núcleo importante de construcções universitários: os colégios joaninos  (de D João III) na rua da Sofia (ou da sabedoria). São eles em número de oito (!!!) o que só por si é extraordinário e ao que recordo estão todos de pé, miseravelmente ocupados por diferentes utilizadores. Num deles fui às  “inspecções” e já na altura doía ver aquela bela e enorme arquitectura sub –ocupada pela tropa.

Outro é a sede do Palácio da Justiça e os restantes tem todo o tipo de ocupações que poderiam ser transferidas para qualquer outro lugar caso se quisesse dar aos edifícios uma reutilização universitária como fora previsto pelo Rei.

(a propósito, fui aluno do liceu D João III, ssim baptizado em homenagem a um soberano que indubitavelmente foi um dos maiores mecenas da Universidade.

A estupidez nacional e o rancor republicano, desbatizaram o liceu dando-lhe o nome de um pequeno político republicano que seguramente é desconhecido de 99,99%dos portugueses.  Não foi esta a primeira facecia do regime inaugurado em 910 que também retirou o único grande santo português da toponímia portuense substituindo-o pela evocação de uma fracassada intentona (o 31 de Janeiro, cuja pequena multidão foi aí metralhada pelas “forças da ordem”. Se bem me lembro alguém (João Chagas?) terá mesmo referido que naquela infeliz bernarda “andariam uns dinheirinhos da polícia”, uma provocação, portanto na qual meia dúzia de exaltados embarcaram imprudentemente e sem quaisquer perspectivas de vitória  nem plano de qualquer espécie). A coisa era celebrada durante a “outra senhora” – eu próprio andei nesses folguedos mas a meu favor devo dizer que naquelas circunstâncias qualquer motivo era bom para desafiar o salazarismo. Não sei se a romagem ao cemitério ainda se mantem mas decerto será apenas uma passeata de gente idosa e pouco esclarecida.  )

A “baixa” de Coimbra ou pelo menos as duas ruas que da Portagem levam a Sta Cruz está num estado miserável. O projecto de converter esse percurso de poucas centenas de metros em rua para piões não parece ter resultado. Lojas fechadas, prédios esclerosados, uma escadaria no fim da Visconde da luz a dar acesso à praça de Sansão e  à Igreja onde estão sepultados os nossos dois primeiros reis terão contribuído para a agonia do que durante quase dois séculos foi o centro comercial da cidade. Nem os históricos cafés se salvaram, pelo menos quatro desapareceram.

É na continuação deste eixo que surge a rua da Sofia e os seus colégios agora convertidos e coisa nenhuma.  Desconheço se há planos para a salvação destes edifícios que com uma intervenção inteligente poderiam abrigar centenas de estudantes. Viltariam assim os colégios quinhentistas à cidade e é provável que a sua reocupação reabilitasse toda a rua e algumas transversais bem como o arruinado conjunto visconde da Luz/Ferreira Borges.

Há seguramente, outros antigos colégios na alta se bem que vários tenham perecido em incêndios e outros estarão agora reconvertidos em dependências da Universidade. Todavia, mesmo à distancia  de sessenta anos, ainda recordo três ou quatro casarões que na época já estavam desabitados sem uso como é timbre dos edifícios do Estado (como agora se vai cada vez mais sabendo).

Em2006, a revista “Monumentos” na altura editada pela direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais  (surpreendentemente  extinta e substituída pelo IRHU. Esta instituição foi também responsável pela edição de um boletim  que em mais de 130 números retrata e descreve os monumentos nacionais alvo de intervenção e restauro. Como colecção é preciosa e, como de costume, única e esgotada. E, claro, cara e muito procurada. Demorei anos a reunir a minha colecção!)

A revista que acima citei tem o nº 25 e ao longo de mais de 200  páginas fornece abundante e útil informação sobre estes colégios. Dela extraí a vinheta que ilustra este folhetim. Continua a publicar-se e vai no nº 39 (dedicado a Portalegre).  No deserto cultural sobre património é uma excepção que merece ser acarinhada.

 

 

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