au bonheur des dames 581
Os dias seguem-se aos dias
mcr, 30-3-23
A AR aprovou a lei dita da eutanásia que agora, melhor pensada, assa a ser a lei do suicídio assistido.
Parece que alguns deputados mais assanhadinhos do PS ficaram desapontados. Eles queriam a eutanásia à viva força desse por onde desse, suscitasse as resistências que suscitasse.
As pobres alminhas nunca perceberam 8e jamais perceberão que esta nova fórmula os livra de sarilhos e nos livra a todos de mais uma discussão bizantina.
Vamos por partes: quem quer morrer mata-se. Ponto, parágrafo. Os casos que uma morte misericordiosa se impõe. Isto é uma morte por mão alheia por total e absoluta impossibilidade e sofrimento medonho e insuportável é uma quase raridade.
As criaturas humanas tem uma forte, e natural, aversão à morte.
Depois havia a extraordinária ideia de que os médicos, qualquer médico, estariam ansiosos para despachar os futuros de cujus.
Ora, por um lado, sabe-se que na sua gigantesca maioria, os médicos se mostram extremamente renitentes (e estou a usar uma expressão branda) para “executarem” os doentes em último grau.
E duvido que aprovada a versão mais radical (a dos desapontados e desconfortáveis)não se sucedessem em catadupa os casos de rebelião e/ou recusa.
Depois, só os tontinhos ignoram que, desde há muito, há uma prática “não dita”, nos hospitais, de, no caso de certos doentes num estado irreversível , se deixarem morrer com o conforto e humanidade possíveis.
Por outro lado, e abundando na tese do suicídio assistido, é uma verdade absoluta, que quem quer morrer suicida-se, podendo. Só em casos limite essa pessoa quererá ajuda.
A AR, de resto, tinha o sinal fortíssimo do Tribunal Constitucional e parece altamente provável que esta decisão evite novo aia-vem da lei.
(à margem: eu nem me dou ao luxo de perguntar quantos defensores da eutanásia já subscreveram o “testamento vital”, mas não duvido que neste momento sejam uma absoluta minoria, se é que algum o já se lembrou disso.
A segunda parte do folhetim serve apenas para animar algum leitor a ler a descrição do depoimento do sr Inspector Geral de Finanças sobre o caso Alexandra Reis. A minha excelente empregada já levou o jornal com ela pelo que não posso retirar da reportagem algumas pérolas da sabedoria de Sª Exª. Bastaria apenas esta:
O IGF presume que ao enviar um mail a pôr o lugar à disposição a engenheira quisesse significar “fiquem com o lugar e paguem-me a indemnização devida”. Sª EXª acha, presume, pensa mas a engenheira não disse nada disso, preto no branco.
Suponho que esta peça que, juro, não é humorística, estará disponível no Publico online.
O terceiro e último apontamento desta semana de fim de quaresma (e não de carnaval) é o que diz respeito às casas devolutas. Às setecentas e tal mil casas devolutas (sem contar com o que o Estado tem em condições miseráveis de abandono)
Pelos visto, afinal apenas pouco mais de dez mil apartamentos situados em zonas críticas das cidades com maior pressão urbanística e elevada procura de habitação, é que estarão em condições de serem arrendados coercivamente se, no prazo de dois anos (e não um) se mantiverem sem habitantes.
Já estou a ver os malabarismos de alguns senhorias , alugando falsamente a casinha desocupada que dois/três meses depois é abandonada pelo pretenso inquilino.
Curiosamente, hoje mesmo, os jornais afirmam que 2022 foi desde há muito, o ano em que maior número de contratos de arrendamento se celebraram (números do 1º semestre de 2022). Só na AML terão ultrapassado os 40.000. Faltam os dados de Porto, Braga, Aveiro, Setúbal e Faro e talvez Leiria e Coimbra. Ou seja podem ultrapassar os 150.000 os arrendamentos deste semestre. Finalmente parece que o arrendamento por estrangeiros andará um pouco abaixo do 10% do total e maioritariamente na AML e no Algarve.
(à margem e como um toque de humor: o BE sempre na ponta da modernidade e do progresso quer proibir “não residentes” estrangeiros de comprar casa. Salva-se o senhor Abramovitch que já é um português de lei. E, com ele, mais trinta ou quarenta mil criaturas que já estão nacionalizados graças à comunidade judaica do Porto )
Este folhetim deveria chamar-se “mons parturiens” dado o caso das 700.000 casas que ao invés dos peixes de Jesus, encolheram para 10.000. Mas desconfio que os actuais pais e mães da pátria e da mátria já não aprenderam latim pelo que que a evocação do mestre latino fica no metafórico tinteiro.