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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

au bonheur des dames 596

d'oliveira, 25.05.23

Epifânio

Mcr, 25.5-23 

 

 

Descansem as leitoras com a curiosidade espevitada pelo título desconsolado que, por única glória, de resto duvidosa, talvez refira sete criaturas com este nome de noite mal dormida que terão sido bispos (todas as sete?, Jesus que monotonia!) e, eventualmente, mártires. Também é verdade que com um nome destes pouco préstimo teriam para outras menos fatais actividades-

Não, este Epifânio é criatura do meu tempo de menino e moço, cruzou-se comigo nos tempos de liceu, era compincha de um tal Dagoberto  (outro nome de matar toda a possível ilusão) e como detestava o nome com que um pouco caridoso pai e um ainda menos amável padrinho lhe tinham arranjado, sempre que alguém imprevidentemente o nomeava entrava em modo de guerra e partia a bofetões na cara do desinfeliz que desconhecia os efeitos agressivos do nome no nomeado. “Epi, quê monte de merda? Ora repete lá ó cabrao mijado! “ E pimba, nova salva de chapadas na tromba do pasmado agredido.

Convém dizer, se é que não adivinharam que Epifânio era forte como um touro, não tinha medo de nada e mesmo contra três mais fortes ali estava ele sempre pronto para dar e levar. 

A carreira pugilista de E* (escrevo assim não vá o diabo tecê-las...) prosseguiu vida fora mas ao que se sabe, andará perdido pela Austrália ou coisa semelhante. Cá por mim viverá na ilha de Komodo (Indonésia) e terá como animal de companhia um daqueles horrendos dragões cuja mordedura além de fatal demora tempos medonhos a produzir todos os efeitos letais.

Mas, perguntará alguma buliçosa leitora, a que vem esta recordação de um mal baptizado criaturo de bravios humores e mão leve (leve o tanas e o badanas, que o tipo tinha chumbo nos dedos!)?

A resposta, como todas as respostas é de uma assustadora simplicidade. A culpa disto que se relata com fidelidade Fernão lopina, é de Shakespeare. Sim, esse mesmo, o bife que tinha queda para o teatro e nos deixou páginas esmagadoras e farta dose de frases muito aptas para citações-

Então é assim, naqueles tempos em que aliávamos a ignorância próprias de rapazolas com a petulância dos jovens machos ibéricos em flor, havia na Coimbra de lavados ares uma humanitária instituição que providenciava cinema ao ar livre por poucos tostões. Era o cinema dos bombeiros voluntários, frequentado pela gente moça da cidade e da universidade que, aquele espaço, se entendia às mil maravilhas, aplaudidndo freneticamente os filmes de cobóis, policiais e outros todoa já duramente castigados pela velhice, e pelos estragos de uma exibição que não tinha da de artístico. Aquilo que passava num ecrã duvidosamente branco era um cocktail de tiros, murros bombas e chapadas nas trombas fartamente aplaudidos pela matula que queria sangue. 

Ora, num desventurado dia (e eu estava lá!, fixem esta) passou uma versão da peça “Henrique V”

Os meus cultíssimos leitores recordarão que no 4ºacto,na cena 3ª. Há a famosa tirada “we the few, the happy few...”  com que o futuro rei brinda os seus companheiros prestes a travar uma batalha gloriosa embora mortal.

Porrazões desconhecidas esse trecho estava intacto e naquela noite estrelasa e estival aquilo soou como devia soar: solene e majestoso! 

O diabo é que alguém porventura estremunhado, lembrou-se de gracejar “Ò Epifânio estão a chamar por ti!”

Na escuridão e sem saber donde vinha a voz zombeteira, E* entrou em guerra. Murro à direita, patada à esquerda cabeçada em frente aquilo era um reboliço. Os agredidos assarapantados sem verem bem donde vinham aquelas mãos e pés violentos, desataram por sua vez a ripostar mesmo que em tom menor e o arraial instalou-se. A plateia (só havia plateia, figa-se) transformou-se em Aljubarrota com pitadas de Alcácer Quibir. O projecionista sem ver o que se passava continuava a deixar seguir a fita. O clamor do filme que seguia impávido, os gritos dos agredidos, as ameaças dos ofendidos, assumiu proporções de tsunami de bordoada com E* a dar e a apanhar força de bofetões. Um delírio. A coisa só terminou quando um bombeiro resolveu mangueirar a malta em fúria. Depois chegou a polícia  lá foi tudo rua fora prestar declarações na esquadra que, dizem os que viram, ficou alagada. 

No dia seguinte, o Diário de Coimbra, recordava aquele frenesi em frases crípticas pois a censura vigiava os costumes, os tempos e  os modos-

Houve mesmo um par de académicos obtusosque exigiram a realização de uma Assembleia Magna. Felizmente alguém lembrou que em férias a Academia só ronrona, pelo que fomos poupados a um tremenda chinfrineira que as magnas eram coisa fina!

 

Disto tudo ficou uma palavra “epifiu” que durou o tempo de um verão e serviu para atiçar de longe E*  e mais alguns brigões sempre prontos para “açapar”.

E porque é que eu, no final deste maio, madura maio, me lembrei de uma historieta que já tem barbas. Pois pela simples raão que o dr. Costa seja qual for a pergunta que lhe façam só tem uma reposta: “Populismo”, é tudo populismo”Nós quando as coisas davam para o torto berrávamos épifiu, epifiu (tendo o cuidado de verificar que E* não rondava por aqueles lados.

Eu percebo que para a hoste socialista na AR, a coisa seja recomendável. À falta de argumentos, dispara-se primeiro e pergunta-se depois quem vem lá. A caça aos galambuzinos é uma chatice medonha, os depoentes não ajudam, antes se atropelam, pelo que o melhor é disparar salvas de pólvora seca contra os contrincantes. O PC durante anos, a qualquer objecção, bramiam “provocação” ou “isso é fascismo!”

Costa, que durante anos viu o seu partido ser acusado de filo-fascista” lembrou-se do populismo, tese aliás muito em voga para não dizer nada de substancial. É o parlamento que está infectado por vírus satânicos e versículos idem aspas, aspas.

E como os rapazes do PC de antigamente, responde sempre com um futuro risonho. Isto agora aina não se vê mas a prosperidade está a chegar. O que os contraditors querem é montar um circo, para a oisa derrapar, o presidente mandar os deputados para casa e eleições outra vez. 

Costa não se chama Epifânio mas epifaniza que se farta. Com ele vamos entrar na terra do leite e do mel E entraremos tão mais rapidamente quanto menos os descrentes se possam fazer ouvir. Aliás, perguntas de descrentes não servem a nossa fé. 

Isto aqui é como “A casa de Bernarda Alba”: “acá no passa nada!” 

E como  se sabe, passou-se tudo e “mais não sei o quê!”