au bonheur des dames 600
Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo
Mcr, 13-9-23
Convenhamos que esta me divertiu. Uma criatura que em tempos terá sido assistente na faculdade de Direito de Lisboa (que pelos vistos é um alfobre de casos raros, estranhos e curiosos) ciu na tolice de escrever um artigo sobre José Pacheco Pereira acusando-o de ser m “homem do Irão”, unha com carne com os ayatolas (até chamou “ayatolinho” a JPP, coisa que é ofensiva por todos os lados dada a junção do clerical ao pateta). Escreveu a coisa, esta foi repetida nas redes sociais em fontes que o mesmo colaborava e que, pelos vistos, dadas as suas notórias tendências para as fake news maliciosas, eram também (ou poderiam ser) obra do mesmo indivíduo.
JPP tem muitos anos de combates de toda a ordem em cima dos lombos, Já passou por muitas (e nem sempre gloriosas) batalhas mas que eu me tenha apercebido nunca o vi defender aquele covil de fanáticos chiitas e perseguidores de mulheres. A teocracia, tenha ela o sinal religioso que tiver é sempre uma blasfémia e um ataque à inteligência e Pacheco Pereira já deu provas de que burro ou parvo não é, bem pelo contrário. Ter-se-á irritado com a notícia e vai daí pespegou com uma acção em tribunal.
Mesmo aqui, em vez de perceber (caso eventualmente perceba qualquer coisa além de emporcalhar os outros) o mentiroso ainda apresentou uma lista de testemunhas que é de ir às lágrimas (quem quiser saber disto terá a maçada de consultar o Público de ontem e de hoje se é que não houve outros jornais a espojar-se nesta cretinice catatónica do emissor de fake news.
Claro que no julgamento, melhor dito antes mesmo de a coisa sequer aquecer o afirmativo criador do iranianismo de Pacheco “arreou”, “borregou” e desfez-se em desculpas garantindo (sem especificar) que só escrevera o que escrevera por ler apalermada em qualquer rede social e prometendo apresentar desculpas em toda a parte. Condenado a pagar 10000 euros ( Pacheco boa alma terá reduzido mais que substancialmente o valor da indemnização pretendida que ascenderia a 70.000 euros) ainda terá pedinchado para pagar mais tarde por não ter dinheiro. E lá dez a declaraçãoo que, no mínimo, se deve ler com uma mão no nariz de tal modo aquilo pareceu um balão de traques.
Qualquer cidadão, mesmo os que não apreciam Pacheco Pereira, deverá estar-lhe grato por ter resolvido pegar o touro pelos cornos. Claro que não houve tourada, sequer garraiada mas apenas uma corridinha frente a um vitelo ainda não desmamado. Não importa. Talvez isto fique para exemplo e escarmento de muitas outras tristes criaturas que por ai andam a repetir toda a sorte de burrices que lêem, ouvem, escrevem ou, meramente, imaginam.
Conheço mal Pacheco Pereira que já não vejo pessoalmente há pelo menos vinte anos. Sou seu leitor relativamente assíduo mesmo se agora me espante por não ver aparecer o volume 5ª da biografia política de Alvaro Cunhal. O 4º volume saiu (fui à estante certificar-me...) em Dezembro de 2015! E abrange a biografia de Cunhal até 1968. Convenhamos que para uma obra começada a publicar em 1999 (voltei a procurar na estante...), a coisa arrasta-se...Pelas minhas contas ainda morro antes de terminar de ler esta excelente História que. Aliás, e muito mais do que a biografia de Álvaro Cunhal.
Diz-se à boca pequena que o antigo e finado secretário geral do PCP tinha alguém que lhe ia lendo a obra de JPP e que terá mesmo afirmado que o biógrafo sabia mais da vida dele que o biografado. Oficialmente, julgo que lá das bandas do “Partido” ainda ce continua a dizer que nunca Cunhal leu uma linha da sua biografia , coisa que seria comum a toda a militância.
Fazem mal, e é por essa obstinada negação da história e da Cultura que, hoje, se vê como aquilo degenerou.
(“Álvaro Cunhal, uma biografia política”, José Pacheco Pereira, ed Temas e Debates (e também em colaboração com o Círculo de Leitores) Absolutamente imperdível)