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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

au bonheur des dames 623

mcr, 08.03.25

entre marido e mulher 

mete a colher

 

mcr. 8-3-25

 

As leitoras e os leitores (se é que mereço tais plurais) sabem que o provérbio  de que socorro não é exactamente assim. 

Bem pelo contrário a segunda parte rezava "não metas a colher". Todavia, hoje, como aliás, sempre, foi meu entendimento que havia de meter não uma, sequer duas colheres mas um faqueiro inteiro, se possível o de 24 peças...

Não que eu seja feminista mas tão só porque, desde cedo tive um belo lote de amigas e isso sempre me preparou para  considerar que tratar mal uma mulher, considerá-la inferior, era mais do que uma cobardia uma falta ao que nos torna a nós homens mais humanos. Ou simplesmente humanos.

Tive a sorte de frequentar quase sempre liceus mistos mesmo se pelo menos nos intervalos houvesse recreios separados que o Estado Novo "protegia" as virtudes  com maior afinco do que a Igreja, ou as Igrejas para ser mais exacto.

Ainda hoje me gabo de ter amigas desde os tempos da escola primária ou do liceu até às da universidade e posteriormente da vida profissional.

E quando digo amigas, distingo-as das namoradas que, Deus seja louvado, também fizeram o favor de me aturar.

De quando em quando, lá me aparece uma "velha à conversa" amiga com quem me sento à mesa da esplanada falando de tudo um pouco  e sempre com largo proveito meu. De certo modo, acho que as mulheres olham para o mundo e para as suas bizarrias de um modo ligeiramente diferente do meu e que isso me abe perspectivas interessantes e estimulantes para o tentar entender.   

Por isso, p dia 8 de Março pouco ou nada me diz. Ou, mrelhor, irrita-me e infigna-me a simples ideia de haver um dia da mulher como se se excluíssem os restantes 364 dias do ano, esses sim devotados ao homem ou ao que resta de certas tradições patriarcais  que ainda relembram o dito "ao homem a praça, à mulher a casa". 

Isto para não citar o dito alemão (e eu ainda o ouvi um par de vezes nas terras teutónicas) que reservava às mulheres o clássico trio  "Kirche, Kuche,  Kinfer", o mesmo é dizer igreja, cozinha e crianças. 

Portanto, se antipatizo com a celebação não deixo de, à luz crua da realidade, verificar que a longa batalha das mulheres pela igualdade de direitos e deveres ainda vi  ter muito que andar.

São os salários que em condições iguais são sempre mais baixos, são a sobrecarfa de deveres no casal a cair sempre em cima da mulher, é a violência de género que por cada vítima masculina aponta vinte vítimas feminínas,

São os tribunais (e mesmo certas juízas mulheres) que decidem muitas vezes contra a mulher ou desculpam as malfeitorias masculinas  com uma espécie de conformismo com o sarro infame da tradição, enfim são  e há que dizê-lo sem receio, muitas mulheres que  aceitam passivamente um lugar mais que secundário na relação homem mulher. 

Tenho sobre a ideia de quotas por género muitas dúvidas quanto mais não seja porque a simples ideia de quota pode significar um favor, um entorse à igualdade, à competência e à inteligência.

E , convenhamos, basta reparar em certos pormenores para verificar que mesmo sem quotas, as universidades cada vez tem mais mulheres que homens. que certas profissões dantes consideradas exclusivo de homens são maioritáriamente exercidas por mulheres (médicos, magistrados, professores, investigadores científicos  -notem que, nesta lista, só empreguei, et pour cause, o masculino-).

Finalmente, costumo afirmar que não dou para o peditório "progressista"  que garante as virtudes endógenas da Esquerda como suporte único da igualdade homem mulher. Basta olhar para os setenta anos de socialismo real da URSS para verificar não só a falsidade do conceito como sobretudo perceber que durante esse período a causa das mulheres e a sua independência não passaram de uma caricatura.

E não é a actual China, a Coreia do Norte, Cuba ou a Venezuela que  poderão ilustrar tese contrária. Pelo contrário!

 

(seriam muitas as destinatárias  deste texto mas justamente por isso, entendi dedicá-lo à memória de duas amigas recentemente desaparecidas Teresa Alegre Portugal e Fernanda Dias Taborda, dois magníficos exemplos que, uma vez mais, quero recordas com fraterna ternura e indisfarçável carinho.

E junto-lhes a prima Maria Manuel  Viana e a amiga de infância Teresa Estrela Esteves. )

O título do folhetim remete para mais um apelo à solidariedade cidadã com as vítimas de violência de género. Que ninguém assobie para o lado ou passe fingindo não ver. Recusem qualquer solidariedade com o agrssor cobarde!