carta a um incursionista momentaneamente ausente
Aguenta pá!
Aguenta aí os cavalos e não deixes que uma merda de um enfarte do miocárdio te deite abaixo.
Mesmo se o sacana vier acompanhado por uma infecção pulmonar, desgraçada e cabrona, não te rendas! Tu vales mais do que essas duas circunstâncias canalhas que, insidiosas e com pezinhos de lã, rondam pela calada dos teus cinquenta e tal anos para te levar do abraço dos amigos, dos beijos das (ai tantas!...) namoradas, do calor do teu filho que há-de estar, como nós todos, ansioso e preocupado, a contar as horas, a espreitar o rosto dos médicos, a rezar sabe-se lá a quem.
Aguenta, faz forças da fraqueza, lembra-te que ainda não fizeste tudo o que te competia, neste percurso de incerteza e angústia que é o teu, o nosso, o de todos, que nós, mesmo nesta aflição, estamos contigo, estivemos contigo e queremos vir a estar novamente contigo.
O Inverno vai como tu sabes, o país, idem mas para lá dos ventos que assolam a costa, do mar que teima em invadir o litoral, das chuvas que empapam solos e galgam estradas, há sempre ou irá haver algum sol que o mal não dura sempre. Aguenta, pá, lembra-te de ti e regressa desse coma induzido para nos contares como só tu o sabes fazer novas desse país onde agora estás.
Cá te esperamos.
Com ansiedade, com preocupação, com medo, com ternura e muita esperança.
Abraços
d'Oliveira e mcr