Diário Político 201
os filhos da pátria que os pôs
Comecemos pelo risível, sub-secção “desprezível”. Um rapazola vagamente porta-voz da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito (de Lisboa) entendeu falar sobre praxes e a campanha do Ministério da Educação sobre essas aberrações.
Em primeiro lugar, releve-se que a dita associação não divulgará nem apoiará a campanha ministerial. Parece que as criaturas que a constituem consideram que isso seria um acto de vassalagem e um serviço feito ao Ministério. E elas não são criadas de ninguém. Ora toma lá!
Ignoro se esta associação recebe do Ministério subsídios, ajudas, sequer se ocupa instalações cedidas pela Universidade e mantidas com dinheiros públicos. Se, porventura isso acontece, aqui temos um salutar exercício de rebeldia bem paga.
Todavia, o ponto não é este. Parece que a AEFDL entende que a praxe é uma coisa boa, óptima e demonstrativa de uma consciência cidadã notável.
Por junto, o rapaz que depôs perante as câmaras acha que terá havido aqui e ali um ligeiro exagero, por exemplo as mortes do Meco ou o suicídio de Braga para nem falar dos espectáculos repelentes de praxistas e praxados pelas ruas e praças de Lisboa onde o soez convive com a mais genuína cretinice universitária.
Depois, sempre num tom apatetado, foi revelado que este ano os “dótores” irão levar a caloirada ao Banco Alimentar para eles lá fazerem qualquer coisa.
O palerminha parece ignorar que o voluntariado é voluntário e não é uma caravana de miúdos atormentados e desejosos de se integrarem na faculdade, guiados por uma cáfila de praxistas que faz a diferença.
Aliás, não contentes com esta palhaçada que o Banco Alimentar deveria imperativamente recusar por meras razões de decência, parece que também querem levar os caloiros a dar sangue. Obrigatoriamente! Isto é puro vampirismo.
Os senhores parlamentares, os senhores governantes e restantes responsáveis políticos e académicos assobiam para o lado.
Pudera! Vem das mesmas tristes universidades, dos mesmos grotescos rituais, da mesma miséria intelectual e cívica.
Não podem, muito menos querem, perder o favor da jumentude e das jotas, elas próprias, apanhadas gozosamente na armadilha das praxes e dos votos dos praxistas.
O que há cinquenta anos, e, Coimbra, era apenas um furúnculo tratável e só visível em certo meio edurante algum tempo lectivo, alastrou com mais força que o Ebola, mais feio e, se não é tão virulento, é incomparavelmente mais ridículo e demonstrativo de uma perigosa e contagiosa estupidez colectiva.
A praxe académica, juntamente com a violência das claques de futebol, tem de ser contida, desmascarada, e submetida à lei e ao respeito pelos direitos humanos. E denunciada como um atentado à inteligência.
Caso contrário, convém que a sociedade portuguesa se prepare para mais e maiores Mecos e mais e maior cobardia moral e cívica. Não é isso que provoca os escândalos bancários, a corrupção generalizada e imunda entre meios dos negócios e da política, os favores de ministros e ministras a amigalhaços políticos e familiares mas podem ter a certeza que a tolerância perante a primeira se repercute e engrandece perante os restantes.
Faz tudo parte da mesma ausência de valores, do mesmo chico-espertismo, da mesma caverna de Ali Babá.
d'Oliveira fecit