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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Diário Político 203

mcr, 28.09.14

Um dia como os outros

 

Sem surpresa Seguro perdeu, e por forte percentagem (calculo), as eleições para (pasmemos!) “candidato a Primeiro Ministro”.

E comecemos por aí: houve muitas criaturas a babarem-se com a democracia desta consulta.

Eu, desculparão, sempre tive por certo que o candidato a 1ª Ministro é o dirigente do Partido. Agora, podem coexistir (o que não vai ser o caso) um candidato a 1ª Ministro e um Secretario Geral. Imaginam a confusão?

Em Portugal, é perigosamente habitual copiar as modas estrangeiras, os costumes políticos de fora sem haver, previamente, um claro estudo da sua adequação ao nosso sistema político.

No caso vertente, a aceitação do voto de “simpatizantes” (que, para o provar, apenas basta inscreverem-se sem ter de provar esse entusiasmo e amor ao Partido que os aceita como eleitores de pleno direito) leva a este incongruente resultado de haver um peso fortíssimo de “simpatizantes” face aos militantes.

Um militante pode, doravante, interrogar-se seriamente sobre a sua função no Partido. Anda por ali a pagar quotas, a assistir a chatíssimas reuniões de secção, a perder tempo a encher salas de comício, a gastar solas e tempo a colar cartazes, a fazer arruadas e depois aparecem uns cavalheiros que durante esses penosos momentos de militância estiveram repimpados em casa, no bem bom, sem sequer abrir os cordões à bolsa, mesmo se a espórtula é irrelevante.

Conheço muita boa gente que correu a inscrever-se como simpatizante sem ter no seu “histórico” uma contínua votação no PS. Aliás, toda a gente conhece.

Claro que pode sempre dizer-se que os militantes ainda são (serão?...) os únicos que podem participar nos congressos onde se define o programa politico, se elegem os órgãos dirigentes e, de certo modo, os candidatos a deputados e a edis camarários.

Mas se a teoria é eleger o “candidato a 1º Ministro”  com a mais ampla participação popular, que razão haverá para, com muito mais facilidade e “democracia”, se eleger o presidente da Junta, o da Câmara e até o deputado ?

E, nesse caso, onde fica a utilidade do partido?

O rapazote  Seguro abriu esta caixa de Pandora. Ele que a feche. Mas não fecha porque, neste momento esmagado pela maior derrota que em Portugal se registou, já não é ninguém, ou, pelo menos, muito pouco. Deputado, se é que não leva até ao fim a sua vis demissionista. Não leva, claro. Este é o seu emprego, o seu ganha pão e não será Costa quem lho tirará. Dá-lhe jeito ter Seguro pela trela parlamentar, à mercê, à sua mercê.

Seguro no seu patético discurso da derrota não deixou de mencionar as vitórias que obteve. Até nisso foi mal aconselhado. Bastar-lhe-ia lembrar a carreira de Ferro Rodrigues, um politico absolutamente melhor que ele, e com melhor currriculo e melhor história política ( o homem tinha sido um dos líderes da revolta estudantil dos anos finais do marcelismo...) que foi esmagado dentro do mesmíssimo Partido Socialista por um arrivista, vindo da Direita e chamado Sócrates.  Nem na saída, o Tozé acertou.

E agora, Costa.

Desta feita, a coisa não vai ser como na “quadratura do círculo” onde Costa estava placidamente sentado a ver a disputa entre os dois restantes membros desse círculo. Bastava-lhe estar calado e depois dos dois se tentarem trucidar, ele, Costa, tirava as castanhas do lume.

Agora isto vai ser mais sério.

Au charbon, monsieur Costa, au charbon.

Agora, há que mostrar ao país a nova política, o novo empenho, a nova via. Convenhamos que a seu favor tem a novidade, mas Passos não lhe vai fazer a vida fácil. Quem governa pode sempre fazer uns malabarismos, baixar um imposto, alargar um benefício e aproveitar o estado de guerra civil latente do PS. Costa teve uma maioria esmagadora mas os vencidos não irão perder as suas últimas oportunidades. Tiveram três anos para se entrincheirar e mesmo se é provável que haja deserções ainda podem dar alguma luta. Costa tem, no máximo, dois meses para arrumar a casa e começar a mostrar as suas alternativas e a sua “verdadeira” oposição ao Governo.  Convenhamos que a tarefa parece ser ciclópica.

De todo o modo, boa sorte!

 

d'Oliveira fecit 28.09.14